"Não tem aliança, não tem apoio. Ele nunca conversou comigo, nem eu com ele. Fora disso, é viagem interplanetária."
Heloísa Helena, sobre a manifestação de apoio de Anthony Garotinho a sua candidatura
Alexandro Gurgel
O POETA BOB MOTTA
O poeta trovador,
trova dor e trova amor.
O poeta cantador,
canta dor e canta amor.
Seu matuto coração
- que de rimar não se cansa -
aposta vingar a esperança,
qual semente em rico chão.
Cantando a vida e a lida
de um povo e de seu lugar,
vê a Poesia, guarida,
no peito de um potiguar.
Neide de Camargo Dorneles
Como satisfazer uma mulher
acaricie a fala massageie os lábios cante seus cabelos suporte a ânsia alimente o pensamento dê banho em sua sombra ria do nada sorria sem motivo estimule a invenção console o pensamento abrace a sua alma excite cada poro pacifique a mordida proteja no seu corpo seduza a cada olhar ligue ontem corresponda antes antecipe hoje perdoe sem motivo sacrifique-se por tudo assessore antes do pedido mostre-se igual sem perceber fascine sem palavras respeite a cada toque encante sem querer eleve e se ajoelhe defenda-a dos seus medos faça planos juntos enfatize o comezinho faça serenata ainda que em silêncio agrade naturalmente mime e goste de mimar nine-a em seus caprichos se banhe na sua saliva se perfume no cheiro dela elogie o seu batom faça uma surpresa a cada olhar acredite cegamente santifique-se pela presença dela reconheça seus incometidos pecados seja gentil e educado mas a pegue firme atualize-se na sua cor predileta aceite sem ressalvas presenteie mesmo sem presentes peça o impossível escute e adivinhe entenda o que não foi dito leve a qualquer lugar bonito e único acalme suas dúvidas mate por ela qualquer obstáculo morra por ela a todo instante e momento sonhe com ela acordado prometa e cumpra se entregue como condição para viver se comprometa e seja inteiro alivie seus pés sirva a sua boca salve a noite o dia a tarde prove as suas coxas agradeça a cada sim dance com ela olhe nos olhos presentes em todo o seu corpo escove os seus pêlos seque os seus pêlos dobre os seus joelhos lave as suas coxas passe a sua perna em suas pernas guarde essa mulher cozinhe qualquer coisa idolatre essa fêmea ajoelhe-se e sorva-a e diga que a ama todos os dias de antes e de depois e volte ao começo e faça tudo de novo + 10 vezes + 10 vezes + 10 vezes + 10 vezes + 10 vezes + 10 vezes + 10 vezes + 10 vezes + 10 vezes.
Antoniel Campos
Vinte anos sem o mestre
Luís da Câmara Cascudo era, sobretudo, cioso das suas responsabilidades como escritor e jornalista, procurando fazer todos os registros de suas pesquisas com fidelidade. Seus biógrafos relatam que ele “desconfiava da interpretação apressada, por saber que, quando se cava um poço a primeira água sai barrenta”.
O mestre Cascudo era considerado uma das maiores autoridades em folclore nacional. Nascido no Rio Grande do Norte, sempre morou em Natal, exceto no período em que estudou Medicina na Bahia e no Rio de Janeiro, terminando por se formar em Direito em Recife, pois naquele tempo não havia faculdades em Natal. Exerceu várias funções. Foi jornalista e até deputado estadual e durante vários anos lecionou em escolas e na faculdade de Direito de Natal.
Ele começou a se interessar pelo folclore quando ainda era um menino. Dizem que ele tinha um ouvido especial para os “causos” que eram contados por vaqueiros, cantadores sertanejos, pescadores, rendeiras, enfim, tudo que emanasse do povo e que representasse tradições, hábitos, crendices e superstições, tanto da área rural quanto da cidade grande. Sem esquecer de suas incursões nos terreiros de macumba, nas praias para estudar costumes e portos de jangadeiros, além de inúmeras visitas para o sertão.
Na África, pesquisou os hábitos alimentares de regiões colonizadas por portugueses, que motivou um estudo sobre a herança culinária deixada pelos escravos no Brasil, gerando informações que se transformaram no livro História da Alimentação no Brasil.
Cascudo escreveu cerca de 190 obras, sendo a Antologia do Folclore Brasileiro considerada uma das mais importantes. Ele morou num casarão defronte ao rio Potengi, que amava, em meio a livros, obras de arte, objetos sacros e outros que ia recolhendo durante suas viagens de pesquisa. Na porta daquele ambiente que misturava o passado e o presente, a inevitável placa: “O professor Cascudo não recebe pela manhã”.
Obra - O seu primeiro livro foi Vaqueiros e Cantadores, publicado em 1939, que juntou poesia sertaneja e literatura de cordel. Outros famosos são Dicionário de Folclore Brasileiro, Geografia dos Mitos Brasileiros, Civilização e Cultura, Literatura Oral no Brasil, Locuções Tradicionais do Brasil, Contos Tradicionais do Brasil, Prelúdio da Cachaça e História dos Nossos Gestos.
É importante destacar que Cascudo trabalhava como jornalista desde 1918. Aliás, o seu “debut” foi exatamente no dia 18 de outubro daquele ano no jornal A Imprensa, que era de seu pai, o coronel Cascudo e que circulava desde 1914. Depois ele trabalhou no jornal A República e escreveu crônicas para vários veículos de comunicação, sempre com novos nomes para seus espaços de crônicas, tais como “Ensaios Literários”, “Cartas do Rio”, "Notas de História”, “Biblioteca” e “Actas Diurnas”, considerada a mais importante de todas.
Comunicação - O escritor mantinha uma constante comunicação com a cidade e o Rio Grande do Norte. Ele chegava a todos os níveis de leitores. Falava do tempo, da terra, dos homens, das lendas, de literatura, de arte, de boemia, enfim, abordava assuntos diários e alcançáveis que seus livros, mais específicos, não traziam. Sobre isso, alguém escreveu que “o livro seria, talvez, a sua torre-de-marfim, aberta apenas a iniciados”. Mas, melhor do que falar em Cascudo é ler Cascudo, por isso, abaixo emprestamos uma crônica da série “Acta Diurna”, publicada a 25 de setembro de 1943, em A República, e intitula-se O Tonel das Danaides:
“As Danaides eram cinqüenta filhas de Danão, rei de Argos. Seu irmão, Egito, tinha cinqüenta filhos. Mandou a filharada masculina casar com as primas. Danão não queria o casamento. Combinou com as filhas um plano.
Os cinqüenta recém-casados tiveram a mais estranha noite de núpcias de que há notícias no mundo. Foram todos assassinados pelas esposas. Só escapou um, Linceu, poupado por sua mulher, Hipernestra.
Júpiter condenou as Danaides às penas do Tártaro, que era o Inferno daquele tempo. As Danaides enchiam um tonel sem fundo. Séculos e séculos, sem pausa, sem descanso, interrupção, as moças carregavam água, despejando-a no barril furado.
Teodoro de Banville contou o fim dessas Danaides, na Lanterna Mágica.
Os Titãs venceram os Deuses. O Tártaro ficou sem chefe, despovoado de sofredores, todos perdoados.
Astperio anuncia a terminação da sentença:
- Acabou vosso suplício. Largai essa penitência. O tonel está cheio.
As Danaides pararam, pela primeira vez, há milênios. Enxugaram a fronte, descendo as bilhas infatigáveis. E dizem confusas e desapontadas:
- Está cheio o tonel? Pois bem! Que havemos de fazer? Já estamos habituadas com o trabalho contínuo, mesmo inútil.
Não perguntem, pois amigos, por que escrevo sempre, com ou sem leitores, com ou sem compreensão, estímulo ou tolerância. Deixem-me com o meu barril sem fundos. A tarefa finda significaria o repouso incômodo, a displicência, a preguiça mortal.
Por isso, mesmo sem ter ofendido Apolo, encho, obstinado e tranqüilo, a talha imperfeita, escondido num recanto de província. Quando não mais ouvirem o rumor da água agitada, não se dirá que Júpiter sucumbiu.
Será que, para sempre, desfaleceu na morte, o braço humilde do trabalhador...”.
Leonardo Sodré
“Repórter eu já fui. Lembro-me que, quando íamos entrevistar, nossa liberdade era grande. Se o homem não dizia nada, a gente inventava.”
Luís da Câmara Cascudo (30 de dezembro de 1898 - 30 de julho de 1986)
"Nestes 20 anos de encantamento, sinto que sua ausência
é um engano... Ele continua andando por esta cidade,
que ele tanto amou, frequentando
o Beco da Lama, a Ribeira e a Cidade Alta."
Daliana Cascudo
No Cantão da Tatajubeira
No Cantão da Tatajubeira
Encontrei o meu amor
Era feia, desengonçada
Cheirava que nem fulô
Debaixo da gameleira
Na Praça da Alegria
Passava a vida inteira
Em profunda calmaria
No Cantão do Potiguarânia
Na velha Rua da Palha
Cantavam e encantava
Praieira dos meus amores
Dos fundos da Rua Nova
A lama sempre escorria
No beco da boemia
Você sempre sorria
O ponto, o Grande Ponto
Chegou muito depois
Foi ponto e contraponto
Do amor de nós dois
Eduardo Alexandre
Imagem de Cascudo
— Já consultou o Cascudo? O Cascudo é quem sabe. Me traga aqui o Cascudo.
O Cascudo aparece, e decide a parada. Todos o respeitam e vão por êle. Não é pròpriamente uma pessoa, ou antes, é uma pessoa em dois grossos volumes, em forma de dicionário que convém ter sempre à mão, para quando surgir uma dúvida sôbre costumes, festas, artes do nosso povo. Êle diz tintim-por-tintim a alma do Brasil em suas heranças mágicas, suas manisfestações rituais, seu comportamento em face do mistério e da realidade comezinha. Em vez de falar Dicionário Brasileiro poupa-se tempo falando “o Cascudo”, seu autor, mas o autor não é só dicionário, é muito mais, e sua bibliografia de estudos folclóricos e históricos marca uma bela vida de trabalho inserido na preocupação de “viver” o Brasil.
Agora, mandam dizer de Natal que vão comemorar os 50 anos de atividades culturais, os 70 anos de idade de Luís da Câmara Cascudo, o que é de inteira justiça. Bater palmas ficou muito sem sentido, depois que, na televisão, artistas se aplaudem a si mesmos, fingindo que aplaudem os acompanhantes ou o público, êste último convidado perenemente a aplaudir tudo e a todos. O govêrno auto-aplaude-se, imitando o nôvo costume, e o Brasil parece uma festa... encomendada. Vamos esquecer o convencionismo publicitário, diante das comemorações a Cascudo. Êste fêz coisas dignas de louvor, em sua contínua investigação de um sentido, uma expressão nacional que nos caracterize e nos fundamente na espécie humana.
Lendo agora o vasto documento de Joaquim Inojosa sôbre O Movimento Modernista em Pernambuco (também dois tomos em véspera de quatro), vou encontrar o jovem Luís da Câmara Cascudo, nos longes de 1925, tangendo a lira nova. Não é surpresa para mim, que o saiba poeta modernista, não arrolado por Bandeira em sua antologia de bissextos. Em carta que Inojosa reproduz (seu livro contém, muita coisa que vale a pena conhecer, como retrato intelectual dos anos 20), o futuro autor da Geografia dos mitos brasileiros manda-lhe dois poemas modernistas para serem publicados no Recife. Eram de um livro que em Agôsto se chamava Bruaá e em Novembro do mesmo ano passaria a intitular-se Caveira no campo de trigo. Nunca se editou êsse livro. O poeta Cascudo permaneceria inédito, sufocado pelo folclorista e historiador.
Êste cronista sabia da fase poética de LCC por haver recebido dêle, eram eras remotas, um Sentimental epigrama para Prajadipock, Rei do Sião, um reino “governado em francês”. Como também lhe conhecia êstes Lundu de Collen Moore, que marca suas preferências nativistas sôbre os mitos importados de Hollywood, é bem típico do nosso modo de dizer em 1929:
Os olhos de Collen Moore
olhos de jabuticaba
grandes, redondos, pretinhos...
mais porém
são olhos de americano,
meu-bem.
Eu sempre prefiro os seus,
meu bem!
Olhos de ver no cinema,
só lembra a gente espiando
e depois é se esquecendo,
meu-bem.
Eu sempre prefiro os seus,
meu-bem!
Ôlho de gente bem branca
que não mora no Brasil
fala fala atrapalhada,
meu-bem,
é ôlho de terra boa
mas porém
eu sempre prefiro os seus.
Meu-bem!...
Tocando o verso inicial pela prosa, Cascudo não abandonou “mais porém” a poesia. Em sua paixão de brasileirista, vista-a no lendário, nas tradições, na espiritualidade primitiva e lírica de nosso pessoal. E registra-a com êsse amor de tôda uma vida fiel à sua terra e sua gente.
Carlos Drummond de Andrade
Luís da Câmara Cascudo:
50 anos de vida intelectual - 1918/1968
Ao atingir os 50 anos de atividades intelectuais, Luís da Câmara Cascudo confessa não compreender que interesse possa ter uma confidência sua, como escritor "profissionalmente provinciano", sobre seus métodos de trabalho e os antecedentes de sua incurável enfermidade de amar os livros.
Mas nada pode recusar ele, autor, a quem tantos anos dedicou a expor sua bibliografia, revelando-a a ele mesmo; a quem se colocou a serviço de sua velha e teimosa obstinação livresca.
Volta-se para o passado e começa a incursão na infância. A difteria promoveu a anjos do céu seus três irmãos. Por isso e a partir de então, seus pais o cobriram de asfixiantes cuidados defensivos, tentando libertar da lei da morte o terceiro rebento, magro, triste, amarelo e distraído como certas consciências. Todas as coisas apetecíveis e sedutoras faziam-lhe mal. Evitar sol, sereno areia seca ou molhada, vento da tarde, cabeça descoberta, luz da lua, pé no chão, fruta quente, banho frio, pisar na grama; brincar de correr, de pular janela, cavalo de carrossel, comida de lata, brincar com menina, bolo de tabuleiro, água de maré, pingo de chuva; pegar em rabo de lagartixa, encangar grilo, catucar pinto, puxar rabo de gato e outras tentações - eis o código proibitivo de vida-menino que lhe era imposto.
Restou-lhe o direito de ver livro de figuras, colecionar estampas de santos e ouvir estórias de Trancoso, enquanto menino e rapaz, da ama Benvenuta de Araújo e, homem feito, da inimitável Luísa Freire, sua Sherazade analfabeta.
Aos seis anos sabia ler. Não sabia como aprendeu e nem para quê. Os livros enchiam-lhe a casa: presentes dos pais e dos amigos destes. Coleções, álbuns, revistas aos montões.
Esse ritmo, acelerou-se no tempo. "Annante cum fuoco". Foi o primeiro menino, em Natal, a possuir um quarto para a biblioteca que era visitada, gabada, aludida nos jornais por gente grande. Dispensável é, pois, salientar a gabolice infantil e a natural afetação do " leitor de calças curtas e gravata crisântemo".
O pai não o orientou, jamais, para tornar-se um homem prático, industrial, comerciante: uma dessas criaturas surpreendentes que sabem as quatro espécies de contas de alto manejo, para ele impossível.
Fê-lo, porém, estudar três anos de Latim com João Tibúrcio (1845-1927), mestre das gerações, lento, gordo, irônico, suficiente. Latinos e gregos compareceram nas velhas encadernações simpáticas. "Graecum est, non legitur". Aprendeu o alfabeto e a transpor para letra romana o correspondente grego. O Latim era disciplina dominical, porque o professor ia almoçar em sua velha, ampla, alpendrada e desaparecida chácara, na rua Jundiaí. As "sabatinas" tornavam-se risonhas, saboreadas das curiosidades lidas nos poetas e historiadores da Roma Republicana e Imperial. Empurrado para ler os gregos, deve a isso a sua predileção etnográfica, deparando no milênio a contemporaneidade local. Descobria que a farinha de peixe da Amazônia era conhecida dos babilônios; que o costume de estirar a língua já fora anotado em Tito Lívio. Superstições ouvidas na cozinha doméstica estavam em Horácio, Tácito e Suedônio, em Aristófanes e Xenofante.
Como 98% dos brasileiros, teve uma formação desordenada, confusa, alagante. Lia tudo, alternadamente, com a facilidade que possuía o seu pai de mandar buscar livros na Europa. Eram obras indicadas pelos amigos letrados, livros lidos sem muita percepção.
A História foi a sedutora inicial e o amor fiel inarredável, ensinando-lhe a velhice das novidades e a universalidade do regional.
Em 1922, aprendeu a ler o Inglês para acompanhar os viajantes pela África e Ásia. A informação ampliou-se pelo conhecimento dos grandes continentes misteriosos.
O primeiro artigo veio em 18 de outubro de 1918, publicado em A Imprensa, jornal de propriedade e direção do seu pai, o Coronel Francisco Cascudo (1863/1935). O jornal durou de 1914 a 1927. Nele, a geração de Luís da Câmara Cascudo espelhou vozes, "limando na pedra o bico da pena potiguar, riscando todos os assuntos sabidos ou deduzíveis".
Em 1921, surgiu o primeiro livro: Alma patrícia, "estudinhos de críticas sem examinar a gramática dos poetas". No livro, havia uma curiosidade: o final do volume inclui uma notícia bibliográfica. Era a primeira. João Ribeiro, Afonso Celso, Alberto de Oliveira e Monteiro elogiaram-no.
Pedro Alexandrino dos Anjos (1872/1917), seu antigo professor de literatura, tinha profunda desconfiança das citações. Habituou Cascudo a ir verificar nas possíveis fontes. Esse hábito tornou-se mania. Cascudo deixa de citar se não pode consultar a fonte original. Despreza citações em Segunda ou terceira mão. A experiência que adquiriu em 50 anos de pesquisa contínua provou "que a frase lida no original do texto tem, às vezes, significação bem diversa. E as em idiomas estrangeiro, sofrem identificação fatal".
Para Cascudo, a leitura diária, normal, inevitável, posta no rumo utilitário do conhecimento é uma capitalização insensível e normal. Enriquece o leitor sem que a memória perceba o lento acúmulo da riqueza disponível. Naturalmente, afirma ele, o dilúvio determina a escolha limitadora das águas para a navegação. E assegura que não se deve abandonar a visita amorosa aos velhos, às vezes esquecidos autores que guardam fundamentos indispensáveis à orientação ou aferição das derivas.
Zila Mamede
In Luís da Câmara Cascudo: 50 anos de vida intelectual - 1918/1968
Fundação José Augusto, 1970.
"Quando nos dizem que há uma influência síria ou iraniana sobre o Hisbolá, respondo: ainda maior é a influência dos EUA sobre Israel."
Émile Lahoud, presidente do Líbano
Um sábado à flor da pele
Mais uma vez, a magia da sala escura ganha o acompanhamento luxuoso das letras. Neste sábado, dia 29, a Livraria Bortolai, em parceria com o Cineclube Natal, abre suas portas para a quarta edição do Projeto “Cinema e Literatura”.
É dentro deste ambiente convidativo, que os cinéfilos terão o prazer de assistir “Razão e Sensibilidade”, do diretor Ang Lee. Ao término da sessão, haverá debate com a platéia. A programação começa às 19h, no auditório da livraria, na Avenida Afonso Pena, 805, Tirol. O acesso é gratuito.
A escritora inglesa Jane Austen (1775 -1817), apesar dos poucos romances que escreveu, deixou como herança um estilo inconfundível. Ou seja, soube como ninguém observar e retratar com brilhantismo a sociedade de sua época. A versão cinematográfica de “Razão e Sensibilidade” deu início à febre da "Austen Mania" no cinema. Pouco tempo depois, outro livros da autora também ganharam vida na telona: "Emma", "Persuasão", "Orgulho e Preconceito" e "Mansfield Park".
Em “Razão e Sensibilidade”, Ang Lee conta a história da Sra. Dashwood, uma viúva que é obrigada a entregar as terras em que vive ao filho mais velho do primeiro casamento de seu marido. Diante da nova realidade, ela e as três filhas têm que se mudar para o campo e se adaptar a um novo padrão de vida. O filme ganhou os prêmios da Associação dos Críticos de Nova York 1995 (Melhor Diretor e Melhor Roteiro), Festival de Berlim (Urso de Ouro), Globo de Ouro (Vencedor de Melhor Filme de Drama e Melhor Roteiro) e Oscar 1996 (Melhor Roteiro Adaptado.
SERVIÇO
Livraria Bortolai
Avenida Afonso Pena, 805, Tirol
Tel: 3201 – 2611
FICHA TÉCNICA
Filme: Razão e Sensibilidade
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 135 min.
Ano de Lançamento (Inglaterra: 1995
Direção: Ang Lee
Roteiro: Emma Thompson (adaptação do livro de Jane Austen)
Elenco: James Fleet, Tom Wilkinson, Harriet Walter, Kate Winslet, Emma Thompson, Gemma Jones, Hugh Grant, Alan Rickman
Livro: Razão e Sentimento
Autor: Jane Austen
Editora: Nova Fronteira
Edição: 2006
Outros livros do autor: "Orgulho e Preconceito" (Martin Claret, 2006); "Persuasão" (Francisco Alves, 1997), “Emma” (Nova Fronteira, 2002)
José Correia Torres Neto
SÁBADO NO SEA WAY
20:15h - Luiz Gadelha
21:30h - Valéria Oliveira
Cascudo
O Núcleo Câmara Cascudo de Estudos Norte-Rio-Grandenses, da UFRN, tem a honra de convidar para o lançamento do livro Leituras sobre Câmara Cascudo, de Humberto Hermenegildo de Araújo. Trata-se de uma coletânea de artigos publicados em revistas especializadas, assim como de participações em congressos e seminários.
O lançamento acontecerá no dia 29 de julho (sábado), às 18 horas, na Livraria Siciliano (Midway Mall).
Que tal preencher seu Sábado com mais arte?
Interagindo entre as possibilidades do diverso e do inverso, um grupo de artistas e produtores culturais está organizando um dia de encher olhos e seduzir ouvidos com a arte produzida na esquina do Brasil.
Quer participar? Dia 29/07 (sábado), a partir das 15h, é só você ancorar na Ribeira (prédio por trás do Banco do Brasil, em frente à Receita Federal) pra conferir uma mostra de curtas metragens, exposição de artes plásticas, exposição fotográfica, oficinas de Origami e papel e carvão, dança do ventre, intervenções teatrais e muita música.
De quebra, ainda leve umas 'quinquilharias' pra Feira do troca.
Venha!!!
15h – Abertura e formalidades - quem é quem nessa bexiga!
15:30h – Mostra de curtas, com vídeos de gente do RN
17h às 19h – Oficinas e visitação às exposições. Intervenções e recitais
19h – Chill out e outras cositas com Sammy (Agregados)
20h – Brigitte Beréu - MutuM
Plena de todos os sentidos
me entrego ao nosso momento:
que tem a duração de um passeio
que acontece entre palavras e paredes
que é único e raro
que é segredo!
Renata Marques
Vareite, seu Clárqui Quente!
Adispois de num sei quantas luas sem dá nutiça e nem rodete nessa catraca de doido, folgado qui só dentadura de véio amolegada na boca e mais à toa do qui sindicalista da CUT no guverno de Lulinha, porém, mais ligado do qui fio da COSERN e xórti de rapariga se amostrando em Ponta Negra, tenho a lhe dizê qui passei esse tempo todim me enchendo de livro aqui no Rio das Quintas.
Fui a várias cigarreiras e em todas elas comprei dois, três jornais do sul do país pra mode ficá mais desarnado, despachado, todo letrado e sabido. Garrei a lê, tomém, o véio revoltado e rabujento Ugo Vernomentti; os causos do cumpádi Leo Sodré (direto dos Unáites Esteites Ófi Mossoró); as escrevecenças de Dunga - "a alma mais penada do beco" - e a caluna toda chique de Ailton Medeiros, dando banho de cultura e ciença das coisas qui se assucede na terra dos cariocas.
Meu gosto por leiturança chega dói nos óios, seu Clárqui. Comprei uma ruma de cordel lá no sebo de Raminho Balalaica e li, com muntcha sastifação, "O Menino Que Nasceu Com Duas Cabeças E Quatro Bocas", de Pedro Quaresma dos Santos; "A Vida Triste De Zé Pancada", de Minelvino Francisco Silva; "A Queda Do Skylab E O Medo Do Povo", bem como "O Eclipse E O Cometa Kohoutek", ambos de José Francisco Soares. Li, tomém, "Satanás Trabalhando No Roçado De São Pedro" e a "Negra Da Trouxa Montada No Bode Preto", todos dois de José Costa Leite. Duma botada só li, ainda, "Antonio Silvino E O Negro Currupião", de Francisco Alves Martins; "A Estória do Homem Que Deixou A Mulher Por Uma Jumenta", de Joaquim Batista de Sena; "Os Prantos De Cacilda E A Vingança De Raul", além do afamado "Banho De Copacabana", todos dois de autoria do alagoano José Pacheco da Rocha. Tudo isso sem contá com vários discos de roedeira de Bartô Galeno, uns carimbós de Pinduca e um compacto da pernambuquinha Kátia Cilene cantando "Manchinha No Lenço".
Tomém tô revendo, no meu video cacête de duas cabeças, o filme "O Ébrio", de Gilda de Abreu, a mulé de Vicente Celestino. Só num dô conta de mode vê inté o fim, apois as águas dos zóios cumeçam a pingá de quatro em quatro, feito colírio Moura Brasil escorregando na cara de maconheiro.
Acho qui todo cu-de-cana devia de assistí um filme desse. Num sei pruquê num passa na Grobo. É de premeira e merecia de sê agraciado com o "Priquito de Ouro", lá no festivá de cinema de Gramado! Tresontonte passei na calçada da venda do "Genro" de cumádi Juvita, lá no antigo Peixe-Boi, hoje Gramoré.
Eita lugazim qui num me seduz. O povo de lá tem a triste mania de cumê e ficá alevantando os quartos, soltando bufa rasteira e espiando desconfiado pros ôtros... parece arte de quem comeu pirão azedo com cangulo estragado. Pense num povim mal-inducado pra gostá de fazê fita! É por essas e ôtras coisas qui prefiro ficá no meu "inzílio", aqui no Rio das Quintas, bebendo e ceiando dentro de casa pra mode num tê aborrecimento dessa qualistria, apois eu quero é paz.
Mas toda sexta-feira, quando largo da roleta, desço lá no Gancho e vô direto pra venda de Galego de Bilinha, tumá celveja gelada com rabo de tanajura frito passado na margarina. O povo "gelésse" acha uma d-e-l-i-i-i-i-i-c-i-a!
Lá eu sô amigo do garçon e tenho um reselvadozinho em riba da laje qui dá pra vê os "Detalhes De Um Pôr-Do Sol" tão arretado, qui num tem Nabocóvi e gota serena nenhum capaz de fazê pouco e butá defeito. Ah, se êle visse as calanguinhas qui aparecem por lá... num tem "Lolita" com vestido de chita e calcinha queimando arroz qui bote elas no chinelo!!!
Agora é só esperá o xôu de "Marisa aos Montes" no Alberto Maranhão, lá na "Ribeira véia de Guerra", visse? É cuma diz aqueles velsos da musga de "Zito Borborema E Seus Cabras Da Peste", qui era tema do programa "Patrulha da Cidade", lá na "Rádia Cabujalves":
- "Sou escurinho, doutô, mas freqüento a sociedade".
Rocas Quintas
"Eles querem vir comer o filé mignon que nós colocamos na mesa? Vão ter de roer o osso que nós roemos."
Lula
Alexandro Gurgel
Espaço Empreendedor
Felipe Cabral debaterá no Espaço Empreendedor experiências do carnaval de Olinda como atividade que movimenta a economia local e integra as agremiações e comunidades envolvidas.
A Agência Cultural SEBRAE / SESI em continuidade às atividades do Espaço Empreendedor, realizará mais um encontro com os agentes culturais da cidade. Desta vez, o palestrante será o produtor cultural e carnavalesco Felipe Cabral, organizador do Bloco da Saudade, Empreendedor do Clube de frevo Escuta Levino e Coordenador Artístico do projeto Olinda é! Caranaval do Brasil. Serão esperados produtores culturais, carnavalescos, técnicos de instituições culturais, comerciantes, artesãos e demais interessados na temática.
O encontro ocorrerá no dia 27 de julho e terá como objetivo principal evidenciar intercâmbios e experiências com o carnaval de rua enquanto atividade geradora de emprego e renda, informações sobre atividades já realizadas, suas potencialidades, dificuldades, responsabilidades coletivas e resultados, bem como outros aspectos que apontem para o fomento desta importante atividade cultural.
O Espaço empreendedor é uma iniciativa da Agência Cultural SEBRAE / SESI para a aproximação dos agentes culturais e econômicos do Rio Grande do Norte, possibilitando assim, um espaço para a troca de informações, apresentação de propostas coletivas, palestras, bate-papos presenciais e outras formas de comunicação que promovam o fortalecimento do empreendedorismo cultural.
Data: 27/07/2006
Hora: 17:00 horas
Local: sede da Agência Cultural SEBRAE / SESI - Solar Bela Vista
Av. Luís da Câmara Cascudo, 417 - Cidade Alta
Informações : 3201.1131 e 3215.4990
agenciacultural@rn.sebrae.com.br
www.agenciacultural.com.br
CONTABILIDADES
Minhas queridas dúvidas
Acorrentam-se às velhas certezas
Juntas embelezam minha respiração
Fazem parte do meu cotidiano
Nivelam minha inspiração
Minhas descuidadas afirmações
Propagam-se pelo ar, evaporam
Algumas inocentes; outras indecentes
Duram o tempo certo, dissolvem-se
Desequilibram meu coração
Deborah Milgram
O BECO COM OITO PÉS A QUADRÃO
Léo já chegou namorando
E Hugo fotografando
O Dunga sempre pintando,
A SAMBA em reunião,
Pra resolver a questão
Que virou um rebu danado
A história do pé quebrado
Com oito pés a quadrão
Rosélis trouxe uma flor
Dizendo que era pra Clô,
Jornalista de valor,
Pra acabar a confusão.
E de todo coração,
Pediu pra deixar de lado
A história do pé quebrado
Nos oito pés de quadrão
José chegou todo prosa
E Meire querendo a glosa
De uma rima famosa
Que teve repercussão,
Segurando em sua mão,
José estava indignado
Com a história do pé quebrado
Dos oito pés de quadrão
Antoniel entregou a Tadeu
Um papel que ele leu,
De uma rima que escreveu,
Com singela perfeição,
Mas disse de antemão,
- Estou ficando arretado
Com a história do pé quebrado
Em meus oito pés a quadrão
O Barba chegou de "finim"
Se encostou lá num "cantim"
Só pensando no "chinim",
Quis entrar na discussão
E disse: Já tô com tesão,
- Isso me deixa tarado,
Essa história de pé quebrado
E os oito pés a quadrão
Mário chegou de repente
Ainda meio descontente
Por causa do deliqüente
Que roubou seu violão,
Mostrando indignação
Disse: Tô eletrocutado
Com a história do pé quebrado
Nos oito pés a quadrão
Pe. Agustin muito calmo
Com um livro na mão a palmo
Descreveu um lindo Salmo,
E recitou uma oração.
Com o livro ainda na mão,
Disse: Eu não fico calado,
Com a história do pé quadrado
Nos oito pés a quadrão
Ainda ressabiado,
Ele olhou pra todo lado,
E neste lugar sagrado
Abriu o seu coração.
E dando a sua benção,
Ele deu por encerrado
O assunto do pé quebrado
E acabou a confusão.
Chagas Lourenço
CUT a caminho da degeneração
Tribuna do Norte
25/07/06
Ao me despedir da presidência da Central Única dos Trabalhadores - CUT/RN, cargo que ocupei no período de 2003 a 2006, fiz uma retrospectiva do que foi o nosso mandato. Na ocasião, também fiz uma advertência: a nova direção da Central não tem o direito de encaminhar o debate em defesa da reeleição de Lula e de Wilma de Faria para os governos federal e estadual, respectivamente.
Entendemos que a reeleição de um governante só pode ser reivindicada quando se está exercendo o mandato de forma coerente, com ética e com moralidade e se foi efetivamente magistral no exercício do poder. O que definitivamente não é o caso de ambos governantes. Lula assumiu a Presidência lançando uma cruzada contra a corrupção e que as reformas exigidas pela sociedade seriam feitas por auxiliares competentes, escolhidos nos quadros funcionais de carreira. Hoje, vemos que há uma grande distância entre o discurso e a prática.
O que se esperava da equipe econômica era que os impostos fossem mais elevados aos que têm condições de pagá-los e que a aplicação desses recursos fossem feitos com correção, equidade e licitude. A reforma econômica não foi feita porque o governo Lula aderiu aos ditames do capital ao privilegiar os banqueiros, os especuladores e ao grande capital nacional e internacional.
Sem recursos financeiros da reforma econômica não houve condições de alavancar a reforma agrária de qualidade para o atendimento aos trabalhadores. Lula certamente não fará em um possível segundo mandato, pois está alinhado ao neoliberalismo destruidor dos anseios populares.
Também não foi feita uma reforma política consistente. Ela viria para acabar com o fisiologismo e com o aluguel de partidos na véspera de eleições. O que se vê são os partidos inescrupulosos negociarem favorecimentos eleitorais, enquanto os partidos constituídos com embasamento ideológico são prejudicados pela instituição da Cláusula de Barreira.
O governo Lula ainda tentou fazer uma reforma sindical baseada no reatrelamento do sindicato ao governo central. Para tanto seria criado o Conselho Nacional de Relações do Trabalho, com a finalidade de manipular e controlar a estrutura Sindical. Esta reforma ainda não é uma realidade devido à crise política gerada pelo Mensalão, que envolveu o governo Lula e o Partido dos Trabalhadores - PT.
Os serviços públicos funcionam em um estado caótico. Os acordos firmados pelo governo Lula e Wilma de Faria com o funcionalismo só saem por meio de pressão e greves. Algumas categorias, tais como magistrados, ministério público, tribunais de contas e o poder legislativo são privilegiadas com aumentos salariais. Situação contraditória com a maioria do funcionalismo, que fica com migalhas.
Não há razão de um sindicato de luta, uma federação, uma confederação ou a central sindical para apoiar a reeleição de governos que são aéticos, imorais, fisiológicos e que produzem e ampliam a dilapidação do patrimônio da sociedade de forma tão vil e grosseira.
O papel da CUT, como de qualquer entidade que se reivindique como vanguarda operária, é de construir o movimento sindical autônomo, independente, de luta e em defesa da classe operária. Se a CUT prosseguir com estes apoios irracionais e irresponsáveis, ela vai caminhar para sua degeneração.
Santino Arruda
“A resolução do caos transformaria o Brasil num tedioso inferno de problemas resolvidos.”
Josias de Souza
GRAFITE
Imprimindo sua doce voz
Para suprimir minha confortante dor
Comprimindo seu prazeroso grito
Para restringir meu calado choro
Resistindo à sua explícita indiferença
Para afagar a minha estimada existência
Quase desistindo,
Declaro
Aqui e agora,
Gloriosa independência
Deborah Milgram
O caminho de comprar livros
Ainda lembro, no encantamento de minha juventude, de quando descia para a Ribeira em busca das novidades da Livraria Clima. Saía do colégio de bolsa nas costas e sol a pino. Descia a ladeira do Baldo embalado pelos gestos falsos da gravidade que mostrava a sua verdadeira intenção quando eu passava por baixo do viaduto e subia pela Rio Branco.
O cansaço esticava em légua e meia a ladeira ingrata. A calçada da esquerda era a que me proporcionava a melhor visão do majestoso e esquecido prédio da TVU. Dava uma paradinha no Cinema Nordeste para ver os cartazes das matinês e encontrava, vez por outra, alguma loira de olhar sedutor em uma posição meio desinibida que escondia seus fartos seios com as mãos, resguardando-se por trás do vidro da vitrina.
Voltava a Rio Branco e aproveitava para cortar caminho pelas ruas posteriores ao Churchill para ouvir a melancólica poesia que as pedras desalinhadas dos antigos calçamentos me segredavam. Atravessava correndo a Junqueira Aires até parar na calçada da Capitania. As brechas da velha fachada sem cor, juntamente com os restos das pequenas construções que se avizinhavam, deixavam-me encarar, do outro lado do nada, o rio Potengi.
Num pulo já estava no pátio da rodoviária. O ruge-ruge de pessoas e ônibus era o prenúncio do partir e do chegar. Velhos, crianças, feirantes, cestos de frutas, feijão, galinhas amarradas pelos pés, vendedores de amendoim, cobradores e seus trocados por entre os dedos, motoristas e seus cafés, apitos de fiscais. Era um sem-fim de imagens em breves segundos. Ônibus de porta de manivela esperavam malas, bagagens e bagulhos que se entocavam um a um em seu subsolo.
Meu passo sem medo cortava as plataformas dos intermunicipais e dos interurbanos. Alguns homens e mulheres sem-destino olhavam aquele reboliço em busca de alguns trocados ou, com um pouco de sorte, um trago a mais.
Entrava na Dr. Barata em busca da Livraria Clima. Ainda na porta procurava as estantes do lado esquerdo. Lá findavam as minhas buscas. Cheguei a passar horas folheando os livros e procurando aqueles que se encaixavam com a mesada semanal.
Esbaldava-me com tantos livros. Foi lá que conheci as letras de Alex Nascimento (Quarta-feira de um país de cinzas) , Celso da Silveira (50 glosas sacanas), Tarcisio Gurgel (Os de Macatuba), Deífilo Gurgel (Os dias e as noites), Waldir Reis (Nós sofre, mas nós glosa), José Alexandre Garcia (Acontecência e tipos da Confeitaria Delícia) e tantos outros escritores.
Amealhei alguns trocados economizando no lanche escolar, para conseguir comprar alguns livros. Hoje, quando passo em frente da antiga Clima, sinto a saudade do trajeto Alecrim-Ribeira. Sinto que minha disposição já não é a mesma e não consigo mais ver as estantes do lado esquerdo onde me encantavam o buscar e o revirar livros. A velha rodoviária ainda permanece com aquele cheiro de esquecimento. Nunca deixará de ser velha. Talvez por já ter nascido assim.
Enfileirados em minha estante descansam os antigos exemplares. Guardam o meu carinho e alguns segredos em suas letras. As folhas soltas, marcadas, relidas, fazem um trajeto que nunca sairá de minhas lembranças. Uma lembrança que nunca será substituída...
José Correia Torres Neto
“A Síria tem de forçar o Hezbollah a parar de fazer essa merda.”
George Bush, numa conversa privada com Tony Blair, durante a cimeira do G8
"Meu marido e meus primos ainda estão lá, um país encantador que, infelizmente, está sendo palco desse terrorismo barato que está assustando o mundo todo".
Joheina Mankara, residente em São Paulo, que voltou do Líbano com medo do bombardeio israelense.
Alexandro Gurgel
Encontro da Samba, sábado passado, no Bar de Aluízio
RITUAL
Cobro
A cobra
Descubro
A coberta
Desperto
E me cubro
Com a incerteza
Dessa roleta-russa
Deborah Milgram
Informes Samba
A entidade está legalizada juridicamente: CNPJ, certidões junto à Secretaria Municipal de Finanças, Ministério da Fazenda e Secretaria da Fazenda.
O Pratodomundo está já sendo encaminhado pela comissão de cultura (Civone, Dorian e Julinho). Será em outubro. Já nos reunimos com Eduardo Viana do Sebrae, temos audiência marcada com Dácio Galvão da Capitania das Artes e, lógico, também procuraremos a FJA.
Foi criada também uma comissão para encaminhar o Projeto Social (Prof. Bira, Aluízio Matias e Carlos Albérico). O rascunho foi enviado à lista para subsidiar a discussão dos membros, que por ventura estejam motivados a contribuir. Infelizmente, não foram muitos, mas a reunião, no real, foi muito boa como as fotos podem demonstrar.
Está sendo construído o Site becodalama.com.br Conseguimos o domínio próprio no Portal das Dunas, que é propriedade de um dos nossos conselheiros, o Mário Manga Rosa.
A diretoria continuará realizando a reunião mensal oferecendo sempre atrações culturais com música ao vivo, exposição de trabalhos de artistas da comunidade, lançamento de livros, etc. como forma de estimular a participação de todos nas discussões dos projetos, democratizar as decisões e descentralizar as ações.
Foi acatada por aclamação dos presentes a intenção da diretoria em cumprir e fazer cumprir o estatuto no que diz respeito ao pagamento da contribuição social estipulada em R$ 2,50 a mensalidade ou R$ 30,00 a anuidade ou a forma de pagamento que o sócio achar mais conveniente, desde que pague.
O Jornal da SAMBA deve ser lançado em agosto. O jornalista responsável será o companheiro Alex Gurgel, que, diga-se de passagem, tem demonstrado espírito público divulgando e participando das nossas reuniões.
Ubiratan de Lemos
Diretor Executivo - SAMBA
A Biblioteca sagrada da minha mente
Por força de circunstâncias que não pretendo relevar ao leitor curioso (que leitor não é curioso?) fiquei temporariamente afastado de minha Biblioteca. A principio a separação dos meus livros me doeu na carne, acostumado que era a qualquer momento consultar algum deles ou simplesmente contemplá-los imperais, harmoniosos, arrumados verticalmente nas estantes de madeira.
Contudo, passados alguns dias longe da minha Biblioteca (sempre com B maiúsculo, como vaticinava mestre Borges, sábio maior desta entidade mágica e sagrada denominada biblioteca) a dor amainou. Não que a paixão (ou amor) pelos meus livros tivesse desaparecido com a distância (como acorre com tantos amores ditos eternos...) mas sim pela descoberta, ou percepção (talvez revelação) que minha Biblioteca na verdade não é algo apenas físico, mas que existe prioritariamente em minha mente. Ela não precisa estar perto de mim meus olhos para existir. Ela existe em mim. Pra levar o raciocínio metafisicamente mais longe, minha Biblioteca só existe porque eu existo; eu morrendo, a Biblioteca também não mais existirá.
De forma que a revelação fez com que eu veja e sinta meus livros a toda hora, estando em min há nova casa ou não. Consigo visualizar cada um dos meus...livros (leitor curioso, não importa o número de livros de uma Biblioteca, oito ou oitenta mil, o que importa é a relação - necessariamente doentia - entre o leitor-dono e a Biblioteca). O raciocínio apresentado entre os parênteses acima leva à constatação de que a minha Biblioteca só existe enquanto minha, posto que foi a aquisição particular de cada dos livros que a compõem que a torna uma Biblioteca. Ou seja, minha Biblioteca em mãos alheias não passará de um amontoado de livros. Da mesma maneira que a Biblioteca de Câmara Cascudo só o era enquanto ele estava vivo e tornando viva a sua Biblioteca. Após sua morte, a Biblioteca de Câmara Cascudo passou a ser uma peça de museu, estática, pois que ninguém mais poderá acrescentar um livro nela. Idem com a biblioteca do felizmente ainda vivo José Mindlin. Sua Biblioteca só existe porque ele existe. A morte do primeiro acarretará na morte da Biblioteca enquanto ente sagrado, vivo, dinâmico.
Contemplando com os olhos sempre argutos da mente a minha Biblioteca, evoco livros que só existem como o são para mim. Como o exemplar de “O Jardim do Éden” de Hemingway, comprado em um sebo da avenida Ipiranga, quando eu morava em São Paulo no início dos anos 90. Como não identificar o triângulo amoroso do livro com aqueles dias chuvosos e com a fumaça paulistana? Cada vez que leio o livro – e o fiz várias vezes – evoco aquele sebo (qual o seu nome? Não lembro...) e aquele período de minha vida.
Vejo com minha mente meu exemplar de “Os demônios de Loudun”, de Huxley, comprado há meia década no Sebo Vermelho, de Abimael. Capa brega, livro quase caindo aos pedaços, mas cheio de marcações dos antigos donos e lido em uma época admirável da minha vida.
Vejo ainda outros livros. Possuo três exemplares de “Dom Casmurro”, um deles, mais recente, de capa dura, mas para mim Capitu é mais Capitu e Bentinho mais Bentinho quando leio a edição da Ática em papel jornal comprada na livraria Universitária ainda nos anos 80, com papai ainda vivo. Salvo engano, compramos o livro, cujo nome me parecia enigmático, lanchamos na finada Lojas Brasileiras, fomos ao Café São Luiz, onde eu podia assistir a papai em ação com suas anedotas e gargalhadas e por fim, fomos para casa onde comecei a ler a obra prima machadiana. Claro que aos onze anos não entendi todas as nuances, mas o livro, de capa preta com um desenho multicolorido, ainda está nas minhas Bibliotecas (a real e a da minha mente).
Nesta Biblioteca da minha mente estão até mesmo livros que já se foram. É o caso de “O homem que olha”, de Moravia, que emprestei para meu amigo Cláudio em 1989 e ele perdeu em um bar durante uma bebedeira. Mas, para mim, o livro continua lá nas estantes, ao lado de “1934”, “A romana” e “A ciociara”. E se tiver que recuperá-lo, quero que seja da mesma edição da Nova Fronteira, com a mesma capa azul e branca. Vejo também na minha estante o clássico hardcore “Albertine no inferno”, que está há um par de anos em poder da amiga jornalista Vilma Torres (desculpe a cobrança pública, mas para recuperar livros, como no amor e na guerra, vale tudo!) Ah, os livros emprestados que jamais voltaram para Biblioteca...filhos queridos que se foram...que os amigos me perdoem, mas como alertou Cid Augusto em um artigo, ladrão de livros vai para inferno...
Continuo de olhos fechados então e navego na minha Biblioteca sagrada, nas marcações que fiz com marca texto (geralmente cor laranja), nos endereços e telefones riscados nas páginas em branco dos livros, nas notas fiscais esquecidas dentro de exemplares. Velejo no mar dos poetas que admiro, Pessoa, dos Anjos, Castro Alves... e me afogo nos versos das poetas por quem sou eternamente apaixonado (Cecília, Florbela, Zila, sempre elas...) e me perco nos braços e olhares de Capitu, Oriane de Guermantes, Diadorim, Lady Brett Ashley... por fim me vejo da Biblioteca de Babel, hexagonal, sagrada, labiríntica, como escreveu Borges, que sem ver, a tudo via.
Acordo do sonho então, satisfeito como quem acorda de uma noite de amor carnal. Minha Biblioteca pode até ser incendiada, como aconteceu com a de Alexandria, mas, jamais terá fim, por estar sempre dentro de mim. Em nome de Jorge Luis Borges, amém!
Cefas Carvalho
"Quando a água recuou, todo mundo começou a gritar que vinha um 'tsunami'. Agarrei a minha mulher e meus dois filhos e fomos para longe da praia, de moto. Ficamos com muito medo. Esta noite ninguém dormiu. Nossa casa fica muito perto do mar e, de longe, vimos como ela desapareceu debaixo de uma parede de água negra."
Deny Mulyani, pescador indonésio
Hugo Macedo
Confirme
Se recebeu um arco-íris de presente
Confirme o que sente
E vê se não desmente
O que ainda não disse
Vê também se não desmente
O que de se bem querer não Kiss
É apenas para entender
E não se desfazer
De todo meu bem querer
Confirme
Se além do arco-íris
Existir uma lua
E com ela meio deserta, meio nua
Uma velha rua
E sob ela, a sombra da lua
Nossos corpos a planar
De mãos dadas, em pleno ar
Confirme
Se há algo melhor
Que essa estranha e insustentável
Sensação de leveza
Que só o amor dá
Confirme !!!
Cristina Tinoco
GREENWICH
Foi num desses verões
Tropicais,
Peles queimadas pelo sol,
Rostos reluzentes
Sonhavam com outro presente
Acompanhavam
Foi num desses verões
Tropicais
Na calçada fervente
Almas em trânsito
Pararam, olharam,
Evaporaram
Foi num desses verões
Tropicais
De repente duas bocas
Doces sensuais
Emudecem, umedecem
Estremecem
Deborah Milgram
O amor
Uma praia deserta, uma barraca, um jovem casal apaixonado, muitos beijos e carícias em meio à luminosidade de um final de tarde e nenhum dos dois cabe em si de tanta felicidade. É uma cena da novela das sete, onde o casal protagonista irá enfrentar muitos desafios e desencontros, antes de ficarem juntos e viverem felizes para sempre.
O amor. Ah... o amor! Tão lindo e tão contraditório é o amor. A sua busca pelo ser humano é a mesma busca pela felicidade. Encontrar a metade da laranja, o outro pé do chinelo, a alma gêmea e ser feliz é tudo o que se quer desde sempre, pois “ainda que eu falasse a língua dos homens e dos anjos, sem amor eu nada seria”. E do amor “falou-se tudo e tanto e sigo e segues entendendo quase nada”.
Há quem acredite no amor predestinado, escrito nas estrelas, amor pra vida inteira, que se perpetua e não acaba nem com a morte. Há quem acredite no amor do aqui e agora e que devemos amar tudo e tanto quanto for possível e dane-se o resto. Há os que amam tanto que por medo de perder transformam o amor em posse e prisão até que ele acabe e vire dor.
Há também os que acreditam que estão fadados a amores impossíveis, do tipo “quando é a minha hora nunca é a sua vez”, e para esses não tem jeito porque o sonho sempre acaba doído e tarde. Há, ainda, os que preferem o anonimato dos amores escondidos. E há, também, os que como a minha sábia vizinha, acreditam que não há amor que sobreviva às dificuldades impostas pela miséria e “quando a pobreza bate à porta, o amor sai pela janela”. Como Fernando Pessoa, há os que pensam que “ninguém ao outro ama, senão o que de si há nele” e nesse caso amaríamos no outro o nosso próprio reflexo.
Eu, romântica que sou, acredito em muitos tipos de amor, mesmo nos proibidos, e que cada um ama conforme a sua capacidade de amar. E que em troca do amor que damos, não recebemos, necessariamente, a mesma medida. Acredito, também, que o amor pode acontecer a qualquer um e em qualquer tempo e lugar e que chega desavisadamente e se instala, soberano, dentro de nós. Que ele, o amor, está fora de todos os códigos que conhecemos e que por vezes parece ter vontade própria e nos transforma em títeres. Nada é estranho, nada é proibido aos que amam. A experiência inigualável do amor é a mágica do conhecer e do descobrir dentro de si e do outro, lugares e sentimentos nunca antes visitados.
Faço parte daquele grupo que pensa que é o amor que colore a vida, nos dá viço e gosto de viver. Que é quando amamos que ficamos mais interessantes, nossos olhos brilham mais, ficamos mais criativos, motivados e sentimos prazer e nos realizamos.
Quando não amamos ficamos como plantas impedidas de ver luz e sentir o calor do sol, e por isso os nossos dias, independentemente da estação do ano, são frios e a vida é um filme em preto e branco. Sabemos que as cores estão lá, mas não as vemos, não estamos sintonizados com elas, pois estão escondidas em meio à bruma triste do nosso não sentir.
Acredito no amor que vê no ser amado a beleza que os outros não conseguem ver. No amor que está além da idade e que o tempo não acaba, como aquele que Rubem Alves descreve entre a Menina e o Pássaro Encantado, cuja história termina assim:
“Muito longe dali, o Pássaro se olhava no espelho e chorava os sinais do tempo gravados no seu rosto e a única coisa que via era sua própria imagem. De repente, entretanto, algo passou bem no fundo a sua alma, como se fosse um Vento Leve, bem leve; ou um raio de sol crepuscular; uma pequena chama de fogueira no frio das montanhas; um sonho bonito, em meio à noite... E ele se lembrou da Menina. Onde estaria ela?
Deixou sobre a mesa o espelho e saiu 'em busca das marcas da sua Ausência', no perfume das flores, no gosto dos frutos, no quarto vazio... Havia por todos os lugares a presença da sua Ausência. E naquele corpo, por tanto tempo morto dentro do espelho, o Desejo cresceu, o rosto sorriu, as asas se abriram e o que era pesado voou... ressuscitou...
E cada um deles (pássaro e menina) partiu, ignorando o que o outro fazia, em busca do reencontro... O feitiço fora quebrado. Estavam apaixonados. Voavam leves, ao Vento, com as asas da saudade... E ambos traziam, no brilho dos olhos, os sinais da juventude eterna que os anos não conseguem apagar... Porque os que estão apaixonados, não envelhecem jamais...”
Ah....não é mesmo lindo o amor? Mas nos tempos de hoje, somente um amor e uma cabana não bastam para que alguém seja feliz. Pode ser contraditório, mas nesses casos, até o meu romantismo exagerado tem limite.
Neide de Camargo Dorneles
Antiga guloseima é vendida nas ruas de Mossoró
"O homem do cavaco chinês - estranha massa de farinha de trigo, parece que feita exclusivamente para aguçar a fome - com um baú cilíndrico às costas e a agitar o característico triângulo numa inconsciente aplicação prática da ação do som sobre a secreção salivar, vibrava nesses tímpanos e espremia nossas glândulas salivares enquanto anunciava:
- Ôie o cavaquinho chinês".
(O Jornal. Rio de Janeiro, 03/09/1950 - Brandão, Téo, em Boletim trimestral da Comissão Catarinense de Folclore).
O vendedor de cavaco chinês era inevitável nas ruas da infância. Ele passava todos dos dias tocando um triângulo de ferro, oferecendo a guloseima que parece um casquinho de sorvete, mas que é muito mais gostosa. E é barato. Até hoje é muito barato. Em Mossoró, ele custa R$ 0,20 centavos a unidade, sendo oferecido no formato de uma casquinha gigante parecido com as de sorvete. Delicioso e aceito por todos. Noutras cidades, como Natal, ele é vendido chapado dentro de saquinhos de plástico. A informação é do único fabricante mossoroense do produto, Manoel Maria Marinho que, aos 28 anos, casado e pai de dois filhos, sobrevive apenas disso. Aprendeu o ofício ainda adolescente "com um vendedor chamado Josimar".
Depois, conheceu "seu Francisquinho", 102 anos, que lhe vendeu a primeira prensa, que ele chama de "máquina" e que calcula ter uns 120 anos, considerando que ele já há havia adquirido de outra pessoa, no início de sua carreira de fabricante de cavaco chinês. Ele imagina que Francisquinho foi a primeira pessoa a fabricar o produto em Mossoró, no início do século passado.
Não é fácil encontrar muitas informações sobre a origem do cavaco chinês. Na Internet quase não tem nada. Poucas citações lúdicas, mas Manoel Maria diz saber que "cavaco significa raspa de pau, coisa pouca e que teria sido inventado na Índia, porque pessoas muito pobres precisavam aproveitar o máximo do pouco que tinham para distribuir em casa". "Por isso - enfatiza, - o cavaco chinês, que não tem nada de chinês, é tão fino e delicado".
A "fábrica" é nos fundos da casa de Manoel, que produz e vende juntamente com apenas um vendedor, Marcos Roberto da Silva, 27, também casado e pai dois filhos. Produz em média 300 cavacos por dia, das seis até as 12 horas, almoça e depois sai para vender nas regiões próximas da sua casa, que fica no bairro Belo Horizonte.
Perguntado por que vendia tão barato, explicou: "Dependendo do freguês, pode ficar um pouquinho mais caro".
Ele tem uma clientela fiel e normalmente vende toda a produção. "Tem gente que vem de Areia Branca e outras cidades, mas eu não dou conta de fornecer para muita gente porque eu não posso perder a qualidade do produto". Realmente, ele trata com carinho todo o processo de fabricação, inclusive usando luvas e procurando evitar o máximo de contato de pessoas quando está assando a massa, que manuseia de forma artesanal. "Aqui somente uso água, farinha de trigo e açúcar e cada cavaco é feito individualmente nas prensas novas e na velha que foi de seu Francisquinho", explica.
O TRIÂNGULO E A LATA - A lata, como chama o cilindro que os vendedores usam para transportar o produto, é absolutamente igual em todos os locais. Os vendedores de cavaco chinês sempre a usaram e são reconhecidos de longe. Mas, existe um componente interessante: O triângulo feito de ferro que, segundo Manoel Maria, é usado para chamar a atenção termina servindo para criar estilos musicais. "Eu toco mais compassado, diz, e ele, (Marcos) toca mais fininho, mais rápido".
Curiosidade - Manoel Maria afirma que "muita gente não sabe o que é um cavaco chinês. A gente sai tocando, chamando a atenção e as pessoas perguntam: O que é isso? Não é casquinha de sorvete? Outros perguntam pelo "recheio". E não vai botar nada aí dentro? Outros somente querem tocar o triângulo e terminam comprando o produto que é feito em fogão a carvão, lentamente".
As pessoas mais novas ficam curiosas e quando provam gostam do gosto do passado de muitos que, fora o cavaco chinês, conheciam poucos outros doces. "Muita gente importante, comerciantes, industriais, gente mais velha, vem até aqui em casa para comprar. Usam em aniversários, ornamentam tortas, esse tipo de coisa"... Encerrou.
Leonardo Sodré
“Quem é bonito, é bonito. Nem só, como também.”
Marcelus Bob
Musa bailarina
Arlequim e Colombina
no bloco tocam pistom
botam pó rouge e batom
confete com serpentina
minha musa bailarina
teu perfume eu vou cheirar
um bom fumo vou tragar
longe daqui, aqui mesmo
tem cerveja com torresmo
na piscina azul do mar
João Gualberto Aguiar
Com vertigem e perícia
Sob as torres de Gaudí,
Acredito no amor como acredito em Deus
- com vertigem e perícia.
Caminho pelos subterrâneos e revejo lendas
- fábulas que negros olhos me mostraram.
A beleza permanece com as faces lanceadas.
Como lhe falar da estupidez humana?
Tenho comigo o sudário marinho.
É com ele que sou puta e sagrada.
Celebro nesta noite
uma vida de pontiagudas adagas.
Porque estou só nestas ramblas
consigo contemplar certos mares
e certas sedes escandalosas.
Marize Castro
Homens: Príncipes ou Sapos?
Cá entre nós, mulheres – e que os homens não nos ouçam -, não deve ser nada fácil ser homem hoje em dia.
Você duvida? É só prestar um pouco de atenção e perceber a avalanche de receitas que circulam por aí, ensinando como entendê-los como se eles fossem seres de outro planeta que aterrissaram diretamente no mundo feminino. Nunca se viu tanta tentativa de explicar o quanto e como são “diferentes” de nós, mulheres. E nós corremos para as livrarias porque queremos que nos digam “Por que os homens fazem sexo e as mulheres fazem amor” (aliás, o livro é interessante!), queremos entender as nossas diferenças de “Homem Cobra, Mulher Polvo” (e não é que faz sentido?!).
Incansáveis que somos, estudamos psicanálise e devoramos a teoria junguiana para ficarmos especialistas em anima X animus. E a ciência conseguiu provar por a mais b que a mente masculina funciona de forma diferente da nossa e por aí vai. Mas, por favor, não estou aqui negando o valor inestimável da psicanálise, o maravilhoso avanço da ciência, nem dizendo contra as obras em questão, pois, afinal, sou uma mulher do meu tempo.
O fato em questão é que crescemos (a minha geração) acreditando em conto de fadas e que se fôssemos boazinhas, um dia, um príncipe valoroso-lindo-rico-sedutor-fidelíssimo bateria à nossa porta e nos levaria para o seu palácio encantado. Um dia o homem-príncipe surge na nossa vida e nos apaixonamos perdidamente. Só que a história passa a ser diferente quando descobrimos que ele é cheio de imperfeições, não é e nunca vai ser aquele que idealizamos e, sabe o que acontece? Sim, você sabe tanto quanto eu, que quando se apresentam desencantadamente normais, os príncipes viram sapos.
Queremos um homem maravilhoso e irresistível como Dom Juan De Marco, do filme (e que atire a primeira pedra quem não tenha se arrepiado inteira ao vê-lo se aproximando, com olhos hipnóticos, da mulher na outra mesa, pegando-lhe a mão e beijando-lhe cada um dos dedos, ai, ai...) e queremos que ele nos seja fiel e é aí que a porca torce o rabo (um Dom Juan fiel? Jamais). Queremos um homem que seja protetor, que pense na família, na casa, adivinhe nossos pensamentos, que seja ardente e um excelente amante que nos enlouqueça na cama e que nos surpreenda todos os dias e que entenda a nossa TPM. Queremos, sim, encontrar o homem que sonhamos e não devemos desistir disso.
Há muita gente feliz com seu parceiro ou com sua parceira. Mas o nosso ideal precisa ser coerente para não se tornar irreal. Ou estou completamente equivocada?
Se você é mulher como eu e ainda estiver lendo esta crônica, não pense que isto é um tratado a favor do machismo, tampouco um habeas corpus para ser distribuído a cada homem no intuito de absolvê-los dos inúmeros golpes que levamos, muito - mas não tudo - por conta da herança cultural da qual fomos/somos vítimas. Nada, também, justifica um defeito de caráter, seja ele feminino ou masculino.
O que quero, na verdade, é louvar as diferenças quando imagino quão insuportável seria se os caminhos dos nossos pensamentos fossem os mesmos, se homens e mulheres “funcionassem” da mesma forma. A vida seria chata, previsível, maçante e nada ou muito pouco seria acrescentado de um para o outro. E porque somos diferentes, somos instigados, desafiados o tempo todo. Penso que é por isso que o jogo do amor existe e que por isso conquistar e ser conquistado é tão gostoso.
Por mais que nos esforcemos não podemos nos adivinhar, apenas nos sentir e é isso o que realmente conta. Não sou contra os manuais de “entenda o seu homem agora mesmo”, porque, afinal, a intenção é aproximar - além de vender, é claro. Mas sou a favor de sermos essência, essência feminina e essência masculina, sem grandes estresses nem neuroses. Somos seres, homens e mulheres, imperfeitos, que se complementam e crescem juntos. E para isso fomos feitos. Ainda bem.
Neide de Camargo Dorneles
“O prefeito cometeu um equívoco. A Ribeira nunca foi o berço da Cidade de Natal. Ela foi fundada em 1599, no local onde hoje é a Praça André de Albuquerque, na Cidade Alta. Por muitos e muitos anos, aqueles aceiros onde se ergueu a primeira igreja (e a matriz de Nossa Senhora da Apresentação está lá, mais do que quatrocentenária) foram o primeiro lugar povoado da capitania. A primeira povoação, o primeiro aglomerado, as primeiras casas. Depois ergueram o prédio da Cadeia, com o Senado da Câmara em cima, e o sobrado do Governo. Era a Rua Grande, olhando para o Rio que corria no pé do platô, lá embaixo, aonde mais tarde viria a ser o Passo da Pátria.”
Woden Madruga
Hugo Macedo
Detalhe da Matriz de Nossa Senhora da Apresentação, que tomou lugar da capelinha ao derredor da qual nasceu a cidade do Natal
FOME DE VOCÊ
Ah, se você chegasse agora
Certamente eu não iria olhar
Qual a hora
E iria te abraçar
Te cheirar, te acarinhar
Te morder e te ninar
Até me saciar.
Ah, se você viesse logo
Certamente eu nada iria dizer
apenas te morder
E querer te comer
Com a fúria de uma antropófaga
Primeiro a tua orelha.
O lóbulo tenro, molinho
Iria desfibrá-lo todinho
qual pássaro fazendo ninho.
Depois teu pescoço
longo, durinho
Tão cheio de osso.
Depois teu peitinho
pequenino, bonitinho.
Ia ficar só o furinho
Ah, e tua barriga
macia, comprida
Viraria uma grande ferida.
Descendo mais um pouquinho
Ao céu, ia encontrar o caminho
Mas não te comeria.
Aí a coisa se inverteria
A caça viraria caçador.
Ah! Meu amor!
Tudo não passa de devaneio
Por não te ver há tanto tempo
Que já ando assim
Doidinha e a fim
de te comer e de te querer
Pertinho de mim numa noite sem fim.
Dentrinho de mim
Você sendo eu, eu sendo você.
A gente se fundindo até se perder
Neste paraíso, que sem aviso
Nos leva pra terra do além
Da dormência, da indecência
Do amor, do não pudor.
Ah, se você chegasse agora meu amor!
Cristina Tinoco
MEU HOMEM
Afundas em mim
E te faço líquido
Mergulhas em mim
E te sinto ser
Moras em mim
E te conheço homem
Defeitos e efeitos
Da educação, da discriminação.
Navegas em mim
E te guio capitão
Ao porto seguro
Da paz, da comunhão.
Habitas em mim
E te faço Deus
Completo, sereno, maneiro.
De corpo inteiro
Meu Deus
Meu trovão
Meu Diabo
Minha Alucinação
Explodes em mim
E te sinto universo
Fagulhas de vida
Transformadas em versos
Te amo tanto
Que enlouqueço
Entre teus braços
Teus pêlos, Teus desvelos
Te amo tanto
Que me desespero
Pois te quero
Te quero
Como o mar quer o luar
Para lhe pratear
Como o céu quer as estrelas
Para lhe cintilar
Como a flor quer a abelha
Para lhe polinizar
Meu homem
Minha paixão
Minha outra metade
Minha complementação.
Cristina Tinoco
Cristina Tinoco e Eduardo Alexandre
Destino de gado
Ah, agora eles descobriram as comunidades do Orkut!
Até o começo de outubro, nossas caixas de e-mail gmail ganharão centenas de mensagens ”Participe da comunidade de sicrano deputado 0609-00 = Zero”.
Quanto tempo tiveram antes? Podiam ter enviado mensagens tipo: atendendo apelo da comunidade, consegui que fosse aprovada a lei que pune todas as indecências, com a ressalva das sexuais consentidas e prazerosas, e aplaude todas as virtudes dos humanos bons de coração e até os nem tanto de juízo, mas merecedores por caráter, ações nobres e/ou gestos de generosidade.
Mas não tem importância.
Não darei importância a elas, as mensagens/convites para participar de tais comunidades, até porque cansei de ser massa de manobra e voz usada para fins que até podiam ser verdadeiros, mas que se viram traídos – os fins.
Por isso, estou afim mesmo é de assistir o jogo sorrindo, contemplando de fora todas as macaquices dos estripuliantes contendores, senhores de todas as virtudes e de todas as soluções.
Como não participarei das comunidades das buscas de votos, comprometo-me a não perder uma sessão sequer de programa eleitoral gratuito. Catalogá-los-ei entre os meus favoritos de todos os dias, para a discussão vespertina e noturna, se necessária e producente, de todos os dias nos bares galhofeiros e acirrados do Beco da Lama.
Espero com essa propaganda, que faço questão de receber, mudar de opinião cética, cheia de descrédito e de desalento.
Eu precisava acreditar em Deus e não consegui.
Por não acreditar em Deus, procurei acreditar no seu criador, o homem, mas ele se me tem mostrado pior do que a antítese criada por quem o homem criara – o anjo mau, também conhecido por Satangoz, no dizer matuto do meu Nordeste.
Vou tentar, pelo menos. Vou me plantar diante da tela mágica e tentar que os discursos dos marqueteiros lidos dos teleprompteres pelos candidatos me convençam a sair de casa no dia combinado para dar meu voto a alguém.
Não vou deixar de votar. Vou escolher um nome em cada alternativa que me for posta. É o que quero: vou, mais uma vez, fazer fé.
Declarar em quem vou votar, até posso. Como até posso me indispor com amigos e trocar tapas pelas minhas convicções – embora isso eu repudie.
Sinto que nunca estivemos tão sem alternativas; tão em descrédito com o porvir que já parece tenebroso de véspera e, pior, em marcha acelerada para o destino do gado ao abate que se faz próximo e sabido.
Mas vou, não me recuso: briguei pelo jogo.
Eduardo Alexandre
"Não estamos fechando por medo, mas porque todos os clientes foram embora."
Antônio Calixto Pinheiro, garçom do Genésio, bar na Vila Madalena (zona oeste), um dos principais bairros boêmios da classe média paulistana.
Hugo Macedo
Sindrome da abstinência
Entre ter-te tão pouco
Ou não ver-te mais
Sou mesmo exagerada
Amar-te: jamais
...
Face ao silêncio
Mais uma vez calamos
Frente às palavras-punhais
Emudecemos
Mediante a Distância
Sofremos
O Silêncio
É castelo
Modorra, mordaça
Amarras de sentimentos
Vislumbre de momentos
Momentos delícias
Momentos tormentos
Momentos calados
Anulados
Não realizados
Face ao silêncio
Esmorecemos
E não vivemos
Crys
Em Crysi s
BILHETE DA EUROPA
O Outro Lado das Notícias
The day after
Possivelmente não serei o único, nesta semana, a usar a expressão “O Dia Depois”, título de um filme que hoje significa e é usado por jornalistas e editoriais para resumir uma data importante de um evento mundial.
Durante semanas esquecemos não a guerra, mas as “guerrilhas” urbanas no Iraque, na Somália, na Tchetchênia, no Timor, no Oriente Médio e Índia. Saíram das manchetes os escândalos com políticos e grandes empresas aqui na França, A380 e o “dopping” de ciclistas antes do Tour de France. E como no Brasil, é a globalização da crise moral que nosso planeta está afundado, conseqüência da inépcia e corrupção das elites políticas da esquerda e da direita.
A ilegítima agressão cometida aos Poderes Constitucionais, à Constituição de alguns países, ao Charter das Nações Unidas, aos Direitos Humanos, agressão essa por parte das lideranças políticas, dos poderes econômicos e militares numa incestuosa associação da imprensa e de algumas religiões e seitas religiosas, marcará indelevelmente a história da humanidade no início deste Século XXI.
Foi suficiente olharmos nos painéis de propaganda nos estádios europeus palco dos jogos da Copa para nos apercebemos o quanto estamos submissos à força do marketing e por que não dizer, da importância dos investimentos para assegurar posições de liderança nos mercados internacionais tão competitivos.
Nos casos dos torneios de tênis com prêmios aos jogadores e no caso do basquete na liga americana e futebol no resto do mundo, os salários pagos justificam, queiram ou não, a presença de milhares e milhares de torcedores nos grandes eventos.
Por conseguinte, criticarmos os salários mirabolantes de alguns atletas é ignorar a realidade da capacidade desses mesmos atletas e torneios de gerarem uma movimentação milhões de dólares no mercado de produção e comercialização. Certamente as multinacionais recuperam seus investimentos, milhares de trabalhadores nos cinco continentes trabalharam fabricando bolas, camisetas e afins.
É lógico que somos nós que pagamos quando compramos esses artigos promocionais e nos beneficiamos das transmissões e da ampla cobertura da imprensa e do acesso à mágica da rede Internet.
Foi a Copa ou a cozinha?
Por outro lado os telespectadores de todo o mundo devem ter ficado surpreso de constatar como a globalização racial é uma realidade. Habituado que estou a assistir os jogos da primeira divisão e das Copas Européias, eu não me surpreendo.
Em alguns países nórdicos como a Suíça, a Alemanha, Inglaterra e mesmo na Suécia, há alguns nativos da raça negra lá nascidos ou por adotarem a cidadania dos mesmos, representam a raça dos seus países de origem.
Nada de menos que oito na seleção da França, dando a errônea impressão de um sentimento de integração, após as grandes arruaças em Paris onde centenas de veículos e lojas foram incendiadas. Finalmente seria bom lembrar que dois ou três brasileiros que adotaram a cidadania de outros países jogam em seleções disputando essa Copa, três técnicos são brasileiros e há ronaldos para todos os gostos.
Como nas embalagens de sabão ou refrigerantes, há o modelo Ronaldo gigante, o tamanho médio do Ronaldo da seleção de Portugal e naturalmente o modelo econômico, Ronaldinho. De econômico este nada tem, pois segundo revelado pela Revista Forbes, ele faturou o ano passado US$ 25 milhões.
Na verdade não é na copa que escrevo essa crônica sobre a Copa, mas assistindo na sala, a salada racial dessas seleções.
A copa com que os romanos comemoravam vitórias é também o lugar onde privilegiados que somos, podemos comer nossas refeições. E é na copa que podemos assim saborear a salada de culturas, das raças, da música e das cores e confraternização dos atletas de trinta e seis nações do mundo.
Os italianos famosos por serem os inventores da pizza se mostraram também vorazes comedores do chucrute alemão, das cozinhas africanas e da Tchecoslováquia e como não poderia deixar de ser, da famosa especialidade francesa, o Coq au Vin regado com um bom tinto italiano.
Réquiem para um mito
Lamento como não poderia deixar de o fazer, a derrota da França.
Pior do que a nossa derrota na Copa do Mundo de 1950 é essa derrota que se tornou na verdade, o Réquiem para um Mito.
“Réquiem aeternam don eis.” Em português, Daí lhes o repouso eterno – é a dura, dolorosa e traumatizando realidade que o povo francês enfrenta após a expulsão do seu ídolo.
Alguns órgãos da imprensa francesa no sábado chamaram a jogadora de tênis Mauresmo... a Rainha da Inglaterra. Francamente, rainha de Wimblenton ainda poderia ser. Depois de oitenta e um anos, pela primeira vez uma francesa conquistou esse título. Na técnica e na concentração. Porém foram esquecidas outras campeãs que ganharam não um, mas dois, três e quatro Wimblentons.
A imprensa francesa classifica Zidani o maior jogador de futebol de todos os tempos. Melhor que Platini, Backebauer, Maradona, Ronaldinho e nosso Rei Pelé.
Assim sendo vemos que um genuíno patriotismo pode extrapolar a lógica, os índices e a história. Mestre do “tico-tico - no fubá” com dribles desconcertantes, porém falta ao Mito, o coração de um Platini, a força de um Backanbauer, as arrancadas de um Maradona, os lançamentos em profundidade do Ronaldinho e os recursos, de todos esses, resumidos no talento do Rei Pelé, um eterno Planeta cercado de estrelas na constelação dos jogadores do mundo. Como sabemos as estrêlas desaparecem...
A agressão feita pelo Mito, a segunda mais grave falta nas regras do futebol, após uma agressão ao árbitro, sua recusa de cantar o Hino Nacional Francês e seu recorde de doze expulsões, sendo uma na Copa de 1988 e duas nessa Copa de 2006 mostra que o Mito tem um dossiê que mostrou o caráter frágil de um ser humano.
Escolheu para seu funeral, uma audiência de mais de 100 milhões de espectadores, anulando assim a mágica e inalienável imagem que ele deveria ter mantido para milhões de jovens e crianças da França.
Triste, com vídeo ou não, se o Mito não tivesse sido expulso e a França tivesse ganhado a Copa de 2006, milhões de esportistas o mundo estariam gritando “mutreta, foi tudo acertado pelos poderes econômicos.” Afinal é um finalista que chegou à final com o menor total de gols marcados, sendo que um legal; mas o do Brasil foi inexistente (Henri é que tropeçou na perna do jogador brasileiro e dois pênaltis por faltas dentro da área da seleção da Espanha que não foram dados.
Sendo assim... quem ganha nos pênaltis existentes (1) e nos dois que não foram acordados aos adversário deveria aprender também a perder nos pênaltis mal batidos, no caso do jôgo contra a Itália.
Politicamente, como o presidente Lula e o Presidente Chirac, ambos teriam se beneficiado em caso da vitória do Brasil ou da França nessa Copa de 2006 como seria o caso em qualquer país.
Nesta salada de interesses seria adicionar a cereja ao bolo da sobremesa onde ambos os políticos estão com índices de popularidade de mitos ou estrelas cadentes na constelação dos políticos desse mundo conturbado em que vivemos.
Coincidências e controvérsias
Nesse mundo de coincidências e controvérsias, os fatos se acumulam.
O grito de guerra dos franceses, ALLEZ LES BLEUS, deixou de ser lógico desde que eles jogaram de uniforme branco e quem dominou o terreno foi a equipe da Itália, toda em azul.
Premonição maldita: dois dias antes da final o técnico francês afirmou:
"O grupo viveu junto e morrerá junto". No comment...
A FIFA que nomeou o Mito, melhor jogador da Copa 2006, abrirá um inquérito sobre a agressão cometida por Zidani. No comment
Joel Conrado - França
FLUXO
Mediterrâneo
Nele encontro
Um ponto visível
Inapalpável,
Sorte, destino, darma, azar, karma
Que importância tem?
Basta a onda cobrir com espuma
O sentir, o saber, o ser
A certeza de haver
Um eterno bem-querer
Deborah Milgram
Um teste vexado
Estava entediado na hora do almoço. Silêncio total na redação quase deserta. Sonolento, lia os "Re" do grupo de discussões e brigas do Beco da Lama. Nenhuma adjacência. Somente as respostas rápidas sem muitas novidades e dezenas de fotos enviadas por Alex Gurgel. Mas eis que, de repente, chega um e-mail que prometia, com o título: "Testando para ver se chega".
Finalmente, não era um novo "Re", uma nova foto, um elogio velado. Era uma coisa nova. E o que poderia significar "Testando para ver se chega"? Um mote laeliano? Um teste suicida de um revólver amalucado? Uma poesia de Anton? Alguém bulindo na paciência de Dunga, o primeiro e único do Beco? Serrão querendo mudar a logomarca da Samba mais uma vez? O que poderia ser, meu Deus?
Preparei-me para abrir o e-mail. Será que eu devo? Devagar, apertei o 'enter'. Com tanto carinho que a mensagem foi vindo devagar, aos poucos, como aquelas chatíssimas mensagens com bonequinhos. Mas não foi assim: surgiu branquinha, branquinha, sem nada dentro.
Olhei estarrecido, como às vezes olho para algumas telas em branco, antes de botar pincel. Não tinha nada. Então, cheguei à conclusão que o narrador de "Chuva de Bala", que transformou a resistência heróica de Mossoró na “Terra de Lampião”, quereria mandar algum tipo de recado. Quem sabe, em código. Talvez, lançar, imprudentemente, ainda a dois anos e muita coisa do pleito da Sociedade dos Amigos do Beco da Lama e Adjacências, sua candidatura, como já fez da vez anterior, e teve apenas uns 10% dos votos válidos.
O que será que ele quis dizer com a brancura?
Parei de me concentrar. Um e-mail em branco pode significar muita coisa. A imaginação de Alex é fértil até demais, e ele poderia estar codificando algum tipo de desafio lúdico para a sua coleção de textos; para o seu blog e outros endereços.
Pois bem, caro avançado jornalista: aceitei seu desafio e respondo ao seu branco, aguardando que outros façam a mesma coisa das mais diversas formas possíveis, até com fescenismos.
Seu branco é meu branco, e tenho dito!
Leonardo Sodré
Resposta de Crys Tinoco
ao e-mail teste de Alex
Seu branco vai voltar recheado de preto.
Seu Alex: Isso é coisa que se faça?
O beco andando assim, assim... tão sem as poesias de Anton, tão sem palavras, com tantas imagens e poucas legendas.
Cadê aquela chuva de poesias, crônicas enaltecedoras, glosas provocadoras, declarações disfarçadas, brigas anunciadas?
Cadê todo mundo que parece que, de repente, ficou com preguiça de digitar coisas que saem do coração, dos lampejos da razão ou dos riscos e risos da alucinação?
Esse Beco anda quieto, sombrio, parece até que anda chovendo muito nele, e todos estão aproveitando a chuva para outras coisas menos coletivas.
Que pena...
Ou...
Que bom!
Depende do lado que você escolhe para ver.
Uma bela e aconchegante tarde de chuva para todos
Crys
Um rio nunca é o mesmo
Vejo um texto de Renato Sabbatini onde lembra uma das frases preciosas do confucionismo que diz que ao mergulhar nossas mãos duas vezes seguidas em um rio, nunca as estamos mergulhando no mesmo rio. Lembra, também, que Heráclito (o famoso filósofo grego) comungava dessa linha de pensamento que concebe a realidade como algo em fluxo contínuo de mudança.
O simbolismo evocado pelo rio e suas metáforas são alegorias perfeitas utilizadas em todas as épocas e culturas para representar o ciclo da vida humana. O homem e o seu desejo de saber-se.
É nesse tipo de divagação que me encontro nesse final de tarde, sol se pondo no horizonte do lago. O dia esteve abafado, calor escaldante, poeira grudando na pele. Agora venta forte e a natureza se agita. Sentada na área da velha casa observo três imensos plátanos que sacodem suas folhas de uma forma tão interessante que parecem tremer, trazendo-me à mente um dos poemas de Cecília Meireles, que diz: “o vento é o mesmo, mas a sua resposta é diferente, em cada folha”.
Na outra margem uma plantação em diversos tons de verde se perde no horizonte. Na linha do horizonte, mais à direita, o pôr-do-sol. E venta ainda. As árvores nervosas entregam folhas secas ao vento parecendo uma chuva dourada. Esse espetáculo da natureza dá um tom onírico à paisagem. Apuro o olhar para ver melhor o que ao parecer, se transforma: um cenário absolutamente incrível, de um sonho onde chovem folhas douradas num final de tarde róseo-violeta. Minha imaginação não conseguiria produzir uma cena tão linda. Só mesmo Garcia Márquez na sua mítica Macondo enquanto chovem flores amarelas...
Ao olhar demoradamente para as águas do lago pergunto a mim mesma se o lago também é rio. Acho que não, respondo, pois em sendo lago, não deve ser rio... E se for? Talvez seja um rio que foi impedido de chegar ao mar... Concluo que não sei nada sobre lagos, mas que a minha ignorância não impede que desfrute de sua beleza generosa. Um lago com pequenas e audazes ondas que ignoram força maior que essa.
Ondas que são a resposta do lago ao vento que de tão poderoso revolve as águas e nada, nada se assemelha a elas. Debate-se o lago movido pelo vento e estoura em pequeninas grandes ondas na margem barrenta. Ainda assim, são mansas ondas.
O lago é um rio que descansa? Também acho que não, pois no lago as águas cumprem seu destino de ser lago. Águas que não vão tornar-se mar – a não ser por alguma evaporação transmutada em gotas de chuva que não adivinhariam nunca de onde vieram... A natureza não precisa de definições, nós é que nos inquietamos.
Definir-se rio é saber-se mansidão de nascente, força adquirida no caminho, vigor acumulado, poderoso em sua foz. Definir-se rio é saber-se a caminho do mar para ser totalidade. É saber-se micro, uma partícula no seu destino de fundir-se ao macro para ser totalidade.
Nem sempre sou rio. Às vezes sou o rio que conduz o barco, às vezes o barco que navega nesse rio. Às vezes, navegante desse barco em rumo que acredita certo, outras vezes à deriva (“rimando, rimando, rimando, pra quem sabe um dia tocar as margens de sua doçura” – diz o poeta). Às vezes, sou a margem que contém o rio, e, às vezes, a água que transborda e feito louca vai à solta e perde o rumo e se perde no caminho.
Outras vezes, sou desse rio a água assustada com o próprio ritmo e que sem comportas se encaminha à corredeira. Às vezes sou a própria corredeira. A surpresa. O susto. O medo da queda. O prazer do risco. Êxtase de cascata transformada em branca espuma, gozo explodindo em bolha e bruma... (tudo é poesia?!)
Agora é quase noite e já parou o vento. Calmaria. A paz é tanta que eu poderia ser somente porto. Um porto talvez seja a parte mais generosa e amorosa de um rio, lago ou mar, pois que permite ao barco e ao navegante cumprirem o seu destino de sair e de chegar. Um porto não pergunta sobre destinos e vive a plenitude de acolher.
“Se um veleiro repousasse na palma da minha mão/ Sopraria com sentimento e deixaria seguir sempre rumo ao meu coração/Meu coração, como a calma de um mar/Que guarda tamanhos segredos/De versos naufragados e sem tempo (...).”
Neide de Camargo Dorneles
"Pela primeira vez criamos vida utilizando espermatozóides artificiais.”
Karim Nayernia, professor da Universidade de Newcastle, Grã-Bretanha
Maravilha inevitável do amor
Maravilha inevitável do amor
Que une sem saber do passado
Que pune sem viver do pecado
Que ensina vida nova, toda razão, toda prova
Vem desembocar num rio de verdades...
Queira amor, queira!
Deixa dor, deixa
Coração, cabeça, corpo inteiro
O amor é verdadeiro
Sair do chão, sentir paixão, lembra o infinito
Desse sentimento tão bonito
Que de tão grande às vezes dói
Mas, constrói no ser
O que de mais sagrado é!
Viver de pé, sem cair
Só sentir, mesmo com dor
Essa "maravilha inevitável do amor".
Pedro Mendes
Mesmo virtualmente
O que corta
Une
O que dói
Cura
O que silencia
Grita
O que esvazia
Supera
O que pertence
Desaparece
O que sobrevive
Luta
O que completa
Ilumina
Deborah Milgram
Sem saída
Na sombra da fome,
A noite escura,
Amarga da vida,
Morre.
Menino e homem,
A cruz de cada um,
O eterno querer,
Que toca e não passa.
À silhueta de um lobo,
De uma maneira tal,
Tristemente anda,
Pelas escuras veredas da vida.
Docemente impiedoso,
Tenta encontrar guarita,
Acaba entrando,
Num beco sem saída.
Roselis Medeiros
Não me mandem cartões virtuais
Outro dia, encontrei uma amiga e ela cobrou:
- Você não respondeu ao cartão virtual que lhe enviei. Não o recebeu?
Respondi que a mensagem deve ter chegado, sim, mas que não abro mensagens como aquelas.
Alguém deixou um recado para você. Alguém enviou um cartão para você. Coisas assim, não abro.
Pode até doer o coração e aguçar a curiosidade, mas já perdi arquivos preciosos na memória do PC por conta de vírus vindos nessas mensagens.
Essas são coisas engendradas por espíritos de porco que nos impedem, muitas vezes, de receber belas mensagens e até convites a reflexões amorosas com alguém. Mas eu prefiro não arriscar.
Assim, solicito que não me mandem cartões uol, terra, seja de que provedor for. Gosto das palavras. Quem quiser me enviar uma mensagem, use suas próprias palavras que vou ficar muito mais satisfeito. E não vou ficar frustrado por não abrir a mensagem.
Não precisa vir com flores, beijos, desenhos de corações entrelaçados.
Prefiro apenas as seguras palavras de um e-mail particular, individualizado, que a frieza de um cartão suspeito, talvez para prejudicar, que me leva a abri-lo pela ansiedade de encontrar ali belas palavras de amor.
Não. Não abro mais cartões virtuais, apesar de toda a ansiedade que a curiosidade deixa.
Eduardo Alexandre
“Lula e seus companheiros poderiam ter aproveitado os episódios do mensalão e do caixa 2 do PT para se reconciliar com antigos valores que pavimentaram sua ascensão ao poder - mas não foi isso o que ocorreu. Apenas se tornaram mais cínicos.”
Ricardo Noblat
Alexandro Gurgel
Maria Dália
DUNGA TEM TODA RAZÃO,
DÁLIA NÃO É UMA FLOR?
Ela é mesmo um tesão
seja no Beco ou na lua,
ante a linda foto sua
Dunga tem toda razão.
Se por consideração,
sejam apreço ou amor
a turma lhe faz louvor
e Alex a fotografa,
não é mesmo uma graça,
Dália não é uma flor?
Maurílio Eugênio
Alexandro Gurgel
Antoniel Campos, Hugo Macedo, Mércia Carvalho, Léo Sodré, Padre Agustín, Dália, Dunga, Júlio Pimenta, Plínio Sanderson
A Vida é um sonho passageiro por isso vamos sonhar...
Que cantem os poetas,
Que digam os loucos,
O que disserem,
Mas o sonho tudo pode,
Basta acreditar.
Por isso creio,
Espero, amo e sonho,
Lembro e esqueço,
Durmo e acordo,
Sou rainha e sou rei,
Oh, sonho! oh, ilusão!
Oh, Deus! eu clamo:
Ajuda-me a sonhar,
manter o vôo que me eleva...
Ave leve num mundo novo.
Roselis Medeiros
Alexandro Gurgel
Em cima: Hugo Macedo, Antoniel Campos, Aluízio Matias, Cabrito
Embaixo: Dália, Dunga, Carlos Tourinho
Acho-te
Acho-te em cada momento,
nas palavras que me rebentam na boca
como frutos maduros, roxos.
Acho-te no frio
que a maresia empresta,
nas vagas
selvagens, salgadas.
Acho-te em cada olhar,
procurando o mais além,
nas águas tímidas
vertidas de olhos perdidos.
Acho-te nas planícies
que não alcanço,
na imensidão dos pensamentos
guardados,
Acho-te
nas folhas brancas
que esperam meus dedos,
Acho-te no cheiro
da minha pele,
onde passaste, brincando,
Acho-te
no esplendor de um dia de Sol,
no mistério das noites enluaradas,
Acho-te no sentido
da vida,
Acho-te
em todos os pedaços.
Roselis Medeiros
Alexandro Gurgel
Dália e Dunga
Paixão
Onde estão ancorados os teus olhos?
E a tua boca que me devora?
O teu lugar é aqui,
Nos meus braços...
Sinto saudades de ti,
Te penso,
Te imagino,
Estarás pensando também em mim?
Sentindo aquela dorzinha no peito?
Tateando no escuro da tua solidão,
Algum ponto do meu corpo para te apoiar e te lembrar?
Sinto que me queres,
Mas me perco no rumo deste silêncio...
Ouço a tua voz no cálido vento, que anda lento comigo, sonolento,
triste tormento...
E no eco deste momento posso sentir o cheiro da tua pele...
Fingir que não estou só...
Sentir que na certeza absoluta te quero.
Roselis Medeiros
Alexandro Gurgel
Augusto Lula, Maria Dália, Plínio Sanderson
Visita de uma flor
Exilada em São Francisco, Califórnia, dedicada à educação de sua filha Juliana, de nove anos, Maria Dália tem acompanhado diariamente o que é postado aqui, no Alma do Beco.
Ficou com água na boca, saudosa dos prazeres gustativos de outros tempos, quando da realização do Pratodomundo, o Festival Gastronômico do Beco da Lama.
Quando da realização do Carnabeco, no início de dezembro, o seu desejo era estar conosco, na folia do sábado que prepararia o I Réveillon do Centro Histórico.
Do seu Seridó, para o Réveillon do Beco, veio, especialmente convidado para a noite, nada menos que Elino Julião, nosso maior forrozeiro.
E ela lá, na terra do cinema, computando dias para voltar à terrinha, rever os amigos e degustar a buchada de Mãinha e outros sabores do seu nordeste brasileiro. Sons. Cores. Céu.
E veio o carnaval e ela, de longe, acompanhou todos os preparativos para a festa maior e mais esperada: o I Carnaval do Centro Histórico de Natal.
Queria estar aqui, conosco, na festa momesca.
E veio o Dia da Poesia e mais saudades bateu junto ao seu coração pleno de sensibilidade. Estivera conosco quando da inauguração da Praça da Poesia, em outra data dos vates natalenses e relembrou, lá longe, os recitais, as apresentações dos nossos músicos. As performances. Os passeios poéticos.
Quando a notícia de que haveria eleições para a escolha da nova diretoria da Sociedade dos Amigos do Beco lhe chegou, quis participar, votar por Internet. E sentiu o desejo de assinar o livro preto de filiações à Samba, quando aqui chegasse.
Terminado o período escolar de Juliana, ela não contou conversa e aterrissou em terras de suas saudades.
- Quero ver, rever a todos, e conhecer quem ainda não conheço. Quero conhecer o novo presidente da Samba, e comer a buchada de Mãinha.
Foi o primeiro desejo.
Mãinha só faz sua buchada se encomendada na quarta, para recebê-la na quinta e prepará-la de véspera, na sexta, para só servir aos fregueses a famosa iguaria no sábado.
Como chegamos atrasados com a encomenda, a cozinha campeã do Pratodomundo recusou-se a antecipar etapas e não aceitou para o sábado passado servir o prato dos desejos da nossa fulô do Beco. Ficou para uma outra oportunidade.
Mas a visita aos amigos do Beco foi feita e a turma acorreu com alegria e felicidade para recepcionar aquela nossa leitora de longe e de todos os dias. Muitos se dirigiram ao Beco para recebê-la e fazer-lhes as devidas homenagens.
Sobre o encontro/reencontro tão esperado, sensibilizada, ela anotou no caderno de saudades que fez questão de trazer para o momento, para os autógrafos em poesias ou desenhos de todos:
- Foi uma tarde agradável e divertida no Beco da Lama. Nazaré nos recebeu de braços abertos. Fiquei super emocionada com a receptividade de todos. Revisitei os antigos amigos e conheci outras figuras maravilhosas. Dunga, como sempre, muito acolhedor. Conversa vai, conversa vem... e muitas poesias. Espero ter o prazer de voltar ao Beco e desfrutar de outra tarde maravilhosa. Beijos para todos. Adorei... adorei.
Eduardo Alexandre