segunda-feira, julho 14, 2008

ARPEGE

Marcus Ottoni

"Daqui por diante seremos mais rigorosos, não mais para proibir a propaganda extemporânea, mas para tratar os excessos verificados durante a propaganda."

Geomar Brito, juiz eleitoral

Ribeira

Tons de um solfejo

Eduardo Alexandre

Recebi o sol pela manhã.

Estendi a rede no terraço, de onde se vê um horizonte de mar.

A Estrela d’Alva ainda teimava. Renitenciava no céu.

Deitei.

Da cozinha, vinham o cheiro do café e alguns tons de um solfejo.

Era uma melodia triste:

um frevo de exaltação.

Lá fora, um cão assombroso passava.

Clarins desfizeram o silêncio.

Era dia de Zé Pereira. Dia de carnaval.



O ARPEGE SE FOI NA ENCHURRADA

TÁ MAIS POBRE A MEMÓRIA DE NATAL

LITERATURA DE CORDEL

Autor: Bob Motta

N A T A L – R N, 2 0 0 8


Era um prédio majestoso, centenário,

que havia no bairro da Ribeira;

que abrigou durante a vida inteira,

a orgia e a noitada em seu cenário.

Para o falso puritano, era o calvário,

o ambiente era o protótipo do mal.

P’ro boêmio, era sensacional,

sua “função”, varando a madrugada,

O ARPEGE SE FOI NA ENCHURRADA,

FICOU POBRE A MEMÓRIA DE NATAL.


Uns chamavam cabaré ou de beréu,

já outros, amenizando a ignorância,

o chamavam de casa de tolerância,

e o boêmio apregoava que era um céu.

Também era apelidado de bordel,

cai-pedaço, puteiro ou hospital.

Cangerê, casa das primas, que legal;

ou a casa das moças animadas,

O ARPEGE SE FOI NA ENCHURRADA,

FICOU POBRE A MEMÓRIA DE NATAL.


Se entrava através de um beco estreito,

porta aberta eternamente para a escada.

No salão, a radiola já ligada,

esperando ser com ficha, alimentada.

A fumaça no salão, já espalhada,

já formava nevoeiro artificial.

As garotas, em desfile natural,

circulavam entre as mesas ocupadas,

O ARPEGE SE FOI NA ENCHURRADA,

FICOU POBRE A MEMÓRIA DE NATAL.


Tal qual u’a boate, hoje estruturada,

para o dono (a), era mais que uma mina.

No balcão, a gerente ou cafetina,

e as bichas fazendo presepada.

Prá boate de hoje, estruturada,

ser o ARPEGE, falta o quarto p’ro casal.

P’rás quenguinhas, concorrência desleal,

e os motéis se infiltraram na jogada,

O ARPEGE SE FOI NA ENCHURRADA,

FICOU POBRE A MEMÓRIA DE NATAL.


Que saudade dos meus manos Zé Quirino,

Clovis Motta e de seu Luiz Tavares,

Zé Alexandre Garcia, pelos bares,

viajando p’ro ARPEGE, seu menino.

“Não é só casa e comida”, era o hino,

com a Núbia Lafayete, colossal.

Mestre Cascudo, de pijama no local,

c’o a presença coroava a noitada,

O ARPEGE SE FOI NA ENCHURRADA,

FICOU POBRE A MEMÓRIA DE NATAL.


Muambeiros vendendo contrabando,

do navio que no porto atracava,

e a putada no salão se deleitava,

com os presentes que ali ia ganhando.

Marinheiros com os paisanos se estranhando,

transformavam em ringue, o local.

E na minha memória, inda legal,

vejo a briga descendo pela escada,

O ARPEGE SE FOI NA ENCHURRADA,

FICOU POBRE A MEMÓRIA DE NATAL.


Freqüentava todo tipo de pessoa,

do empresário ao simples varredor.

Do engraxate, até o Governador,

se esbaldando na noite prá lá de boa.

Tinha gente que vinha de canoa,

da Ridinha, remando p’ro local.

Da cachaça à água mineral,

se bebia ali, meu camarada,

O ARPEGE SE FOI NA ENCHURRADA,

FICOU POBRE A MEMÓRIA DE NATAL.


O comércio da Ribeira fervilhava,

parecia, de gente, um formigueiro.

O sujeito trabalhava o dia inteiro,

e à noitinha, quando o mesmo fechava;

p’ro ARPEGE, c’o a turma se mandava,

dando início a outro ritual.

No beréu, começava o cachaçal,

uma música na radiola ou u’a trepada,

O ARPEGE SE FOI NA ENCHURRADA,

FICOU POBRE A MEMÓRIA DE NATAL.


Tinha briga de marujos com soldados,

do exército, quando os caras se encontravam.

Era tanta da porrada que trocavam,

que saiam todos eles machucados.

As janelas nos altos dos sobrados,

também davam a visão do quebra pau.

O ARPEGE era um manancial,

de mungangas e muitas presepadas,

O ARPEGE SE FOI NA ENCHURRADA,

FICOU POBRE A MEMÓRIA DE NATAL.


Quero aqui registrar no meu poema,

se ia a pé, da Ribeira prá cidade.

Meia noite, na maior tranqüilidade,

sem sofrer qualquer tipo de problema.

Divertir-se tão somente era o lema,

de quem ia visitar o raparigal.

Não se tinha nenhum pensamento mal,

e nem preocupação da rapaziada,

O ARPEGE SE FOI NA ENCHURRADA,

FICOU POBRE A MEMÓRIA DE NATAL.


Lá embaixo do ARPEGE, no bequinho,

os carrinhos de lanche faturavam.

Os de pouco dinheiro se esbaldavam,

não saíam dali sem um groguinho.

Os de sorte, ganhavam algum carinho,

das meninas, no fim do bacanal.

Satisfeitas com a noite, afinal,

premiavam aquela rapaziada,

O ARPEGE SE FOI NA ENCHURRADA,

FICOU POBRE A MEMÓRIA DE NATAL.


Dr. Carlos Eduardo, meu Prefeito,

sei que muito o senhor tá trabalhando.

Mas lhe vou, um pedido formulando,

pois bem sei que o senhor é bom sujeito.

Da cultura, é um amigo do peito,

nas ações sua idéia é genial,

e a memória dos prédios da capital,

preservá-la é também de sua alçada,

O ARPEGE SE FOI NA ENCHURRADA,

FICOU POBRE A MEMÓRIA DE NATAL.

por Alma do Beco | 1:36 PM | | Ou aqui: 0




sexta-feira, julho 04, 2008

LEI

Marcus Ottoni

"Comigo não tem acordo, acordinho, nem acordão. Com Miguel Mossoró é na mão."
Miguel Mossoró, candidato a prefeito de Natal

Hugo Macedo
SEM FRONTEIRAS

Do meu nome
Não me lembro
Lugar de nascimento
Esqueci

Faz de conta que não sabe
Com você aprendi
Taboada tímida
Pendurada no muro
Dos lamentos,
Dos momentos,
Dos pedidos

Dois perdidos
Que por acaso
Se esbarraram ali,
Ou aqui?

Deborah Milgram




Lei é Lei
Leonardo Sodré

Ele trabalhava de domingo a domingo. Era padre de uma cidade do interior e tinha que atender vários distritos, principalmente nos finais de semana, quando presidia, no mínimo, umas seis missas por dia. Somente no início da noite, voltava para casa, ainda meio azedo de tanto vinho doce que tomava por causa do ritual católico.

Além das missas, ainda era obrigado a ouvir confissões, fazer batizados, casamentos e atender às mais diversas pessoas em busca de conselhos, de uma benção. Enfim, um trabalho pastoral intenso. Ele viajava de uma capela para outra dirigindo o seu próprio carro.

Tinha ficado feliz com a nova lei que penaliza fortemente quem bebe e dirige nas cidades e estradas. Calculou que o número de mortes trágicas iria diminuir muito em todo o Brasil, e agradeceu a Deus no primeiro sermão que fez após o anúncio da medida tomada pelo governo.

Sabia que a lei estava desagradando muitos homens que bebiam moderadamente, mas calculou que eles entenderiam os efeitos positivos. Um dono de bar chegou a procurá-lo para abençoar uma velha Kombi que iria ser usada para transportar bêbados. “A minha ‘Kombêbado’ vai fazer o maior sucesso na cidade”, disse excitado. Devidamente molhada por água benta e muitas orações para que fosse bem usada, a Kombi partiu para recolher a primeira carrada de papudinhos.

Naquele domingo, ele vinha cansado na BR. Dirigia devagar, mas um farol queimado chamou a atenção de policiais rodoviários que mandaram parar o carro ao longo do acostamento. Enquanto mostrava os documentos, os policiais notaram o forte cheiro do vinho doce de missa e imediatamente submeteram o padre ao bafômetro.

- O senhor está dirigindo com alta quantidade de álcool no organismo. O senhor e sua carteira de motorista estão presos.

- Mas eu tomei o vinho por obrigação... Argumentou.

- Ora meu amigo, onde já se viu beber por obrigação. Fique calado e entre aí no camburão.

- Mas eu sou padre! Disse, enquanto se acomodava na traseira do camburão da Polícia Rodoviária.

Os policiais olharam um para o outro, enquanto se acomodavam no banco dianteiro do veículo. Lá dentro, explodiram em gargalhadas.

- Eu já ouvi todo tipo de desculpa, mas essa de ser padre foi à primeira...

por Alma do Beco | 8:33 AM | | Ou aqui: 0




terça-feira, julho 01, 2008

HORA DE TUPÃ

Marcus Ottoni

"As convenções partidárias realizadas no final de semana e ontem homologaram sete candidaturas à Prefeitura de Natal. Concorrem à vaga que hoje é ocupada pelo prefeito Carlos Eduardo (PSB), a deputada estadual Micarla de Souza (PV), a deputada federal Fátima Bezerra (PT), o deputado estadual Wober Júnior (PPS), o advogado Joanilson de Paula Rego (PSDC), o servidor federal Sandro Pimentel (PSOL), o professor Dario Barbosa (PSTU) e o militar aposentado Miguel “Mossoró” Joaquim da Silva (PTC)."

Tribuna do Norte

Eduardo Alexandre
Poemas de Eduardo Alexandre

A hora de Tupã

Em horizontes de manhãs adormecidas
O mar
O sol subindo no céu azul
claro
O balanço da palha do coqueiro
Ficamos sós

Tupã
A tudo contenta
É vida
É luz


Únicas

São muitas as Helenas
São tantas
Santas pecadoras
Sereias férteis

Laboriosas
Amantes
Sonhadoras

São muitas as Acácias
Múltiplas
Castas
Únicas



Almabela

O meu amor
Almabela
É aço
Lâmina que não dobro
Penetro
Desejo
Abraço

por Alma do Beco | 3:04 AM | | Ou aqui: 0


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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