sexta-feira, fevereiro 13, 2009

CÃO JARAGUÁ

Marcus Ottoni

"O modelo da Lei de Incentivo é uma fraude 'legalizada' pela prática da omissão e onde ninguém escapa - as instituições, os produtores e o jornalismo dito cultural - reforçando o jogo injusto de beneficiar, com recursos públicos, o que nem sempre acontece de fato."
Vicente Serejo



Por obra e força de uma bola de futebol
Eduardo Alexandre

E se a Fifa aprova Natal como sede da Copa? A cidade vira um canteiro de obras.
O primeiro grande espetáculo não será um jogo. Será um gol. Contra. Um gol contra quando virão abaixo todas as edificações do Centro Administrativo, o Machadão, o Machadinho e a terra santa pisada por Sua Santidade o Papa Karol Wojtyla.
A cidade vai parar para ver o espetáculo da implosão. Tudo de uma vez: Bruuuuuuuuuuuuum! E a fumaça branca de poeira cobrindo Lagoa Nova, Candelária e derredores.
O cúmulo da insensatez para dar lugar ao belo projeto apresentado, assim, de repente, aos natalenses. Sem discussão, sem que um vereador ou deputado tenha emitido um parecer, dito uma palavra. Coisa caída das alturas, como chuva alvissareira que ninguém pode impedir de se derramar.
Ah, e tinha de ser ali! Tinha que ter a implosão de tudo, para que ficasse marcada na memória da cidade do já teve que tivemos um parque administrativo, um estádio de futebol e um ginásio coberto demolidos por obra e força de uma bola de futebol!
Não podia, o Complexo da Arena das Dunas, ser erguido em outro local, ali, bem próximo, entre a Candelária e a Cidade Satélite, sem que nada fosse destruído?
A cidade ganharia um outro estádio, um outro ginásio, um outro parque administrativo. E ninguém seria contra.
Vejo a perspectiva e recordo de minha infância, levado ao velho Juvenal Lamartine pelas mãos do meu pai desportista José Alexandre Garcia. Quantas conversas de sonhos ouvi, até ver o "Castelão" recebendo público para o primeiro jogo! Sonho de desportistas do quilate de um João Machado, Luís G. M. Bezerra, Aluísio Meneses, Humberto Nesi, Humberto Pignataro, tantos...
E recordo quando fomos presenciar o descerramento da pedra fundamental do estádio ainda sonho de todos aqueles desportistas. Uns loucos, a querer construir um estádio longe da cidade, mais para Parnamirim que para Natal!
E hoje a argumentação de ter de ser ali o Parque da Arena das Dunas é por ser central, com malha viária ideal, transporte fácil...
Não. O natalense não vai permitir que esse absurdo aconteça.
Que se erga o complexo em outro lugar, não destruindo o que já temos e que foi construído com tanto sacrifício!
Tamanho absurdo, não!



O carnaval de Natal há cinqüenta anos
Gutenberg Costa

O domingo de carnaval se deu no dia 8 de fevereiro. O Rei Momo de 59 foi o fotógrafo-folião ‘José Seabra’ – (1922/1978) e a Rainha do carnaval a jovem - ‘Joana D’arc Pinheiro Luz’. O Prefeito, ‘Djalma Maranhão’ – (1915/1971) participou de ensaios, festas, bailes e do desfile oficial ‘Corso’. Prévia: Uma semana antes do carnaval acontecera a grande ‘batalha’ entre as agremiações na ‘Vila Naval’, do bairro do Alecrim. Baile: A ‘Associação dos Cronistas Carnavalescos’ promovera o seu segundo baile, sob a presidência do jornalista ‘Celso da Silveira’. A presidência da Federação carnavalesca estava com o senhor ‘Omar Pimenta’.

Orquestra famosa: O jornal ‘A República’ de 25 de janeiro, ainda comenta outras novidades, como a vinda da famosa orquestra ‘Tabajara’, de Severino Araújo, para tocar publicamente no dia 6 de fevereiro no palanque oficial da então ‘Federação Carnavalesca’ e depois num baile fechado no ‘Clube América’. História musical: E quem fazia enorme sucesso por essa época com suas músicas carnavalescas no Rio de Janeiro e em Natal, era o nosso compositor-cantor Dosinho.

Protesto real: O Jornal ‘A República’, de 27 de janeiro, anuncia que alguns comerciantes da Ribeira tentaram eleger o folião ‘Zé Areia’, nosso Rei Momo a revelia do oficial ‘José Seabra’, já devidamente eleito. Chabú: Ao que parece, o plano golpista dos capitalistas ribeirenses não deu certo para levar ao trono o seu candidato ‘canguleiro anarquista’.

Democracia e participação: Anunciou-se também pela imprensa que um vereador iria entrar com um projeto na Câmara em que as nossas antigas majestades momescas formariam um ‘Conselho Carnavalesco’, com o intuito de melhorarem os festejos. Deste fariam parte os ex: ‘Zé Areia’, ‘Severino Galvão’, ‘Luís Morais’, ‘Zé Seabra’ e ‘Luizinho Doblecheque’, entre outros mais antigos. Inaugurações e surgimentos: O Clube Social do ABC, na Avenida Afonso Pena é inaugurado no dia 31 de janeiro, com a presença do então Governador ‘Dinarte Mariz’, Prefeito ‘Djalma Maranhão’ e outras autoridades. No citado Clube social esportivo aconteceram incontáveis e memoráveis bailes carnavalescos. Em 06 de janeiro, foi inaugurado o ‘Iate Clube’ de Natal. Nesse ano é fundado o Bloco de Elite - ‘Apaches’, composto só de homens e com suas vistosas fantasias inspiradas na tradição indígena norte-americana.

Desfiles: O palanque oficial fora armado na Rua João Pessoa para o Corso oficial. Santo de casa: A colunista social ‘Anna Maria Cascudo’, no dia 13 de fevereiro, no jornal ‘A República’, tece elogiosos comentários a respeito do nosso famoso cantor e compositor carnavalesco ‘Dosinho’.

As principais agremiações segundo a Imprensa de 1959 foram: ‘A Plebe’- composta de ‘Cyro Tavares’, ‘Einar Viana’, ‘Fernando Paiva’, ‘Ilo Ramalho’, ‘João Bosco’, ‘José Passos’, ‘Luciano Barros’, ‘Márcio Pacheco’, ‘Ney Silveira’, ‘Orian Guedes’, ‘Reginaldo Feijó’, ‘Roosevelt Garcia’, ‘Ugo Paiva’, ‘Valmir Ferreira’ e ‘Zil Paiva’; ‘Bloco Satélite’ e ‘Karfajestes’ – este último com seu baile tradicional onde escolhia a nossa Rainha do carnaval. Tradição: Um outro Bloco de muito sucesso popular nesse ano era o - ‘Pingüins do Amor’. A referida agremiação, segundo o escritor e memorialista do nosso carnaval, ‘Ticiano Duarte’, era comandada pelo carnavalesco - ‘Xixico’, proprietário do antigo Cinema Rex.

Perdas importantes relacionados ao carnaval de Natal: Antecedendo o festival gordo, logo no dia 03 de fevereiro é sepultado o jornalista ‘Expedito Silva’, que fazia parte da então ‘Associação dos Cronistas Carnavalescos’ - ACC. Tinha o mesmo 29 anos e era cearense. Foi muito querido pelo nosso meio jornalístico, carnavalesco e boêmio.

Historiador Câmara Cascudo com saudade dos velhos tempos não saiu de casa no carnaval de 59: - “... Sábado de carnaval, rumor, trovoada, roncos de cuícas, tamborins e ganzás, subindo e descendo a Junqueira Ayres. Ao longe o clarim marcial do Rei Momo. Vozes amigas insistindo pela minha presença. Há para mim silêncio e evocação. Um carnaval sem José Herôncio e sem José Pinto Júnior, falecido no hospital do IPASE, Rio de Janeiro, na madrugada de 4 deste fevereiro de 1959. Estou vendo Pinto Júnior no Bar Granada, eufórico, vermelho, debatedor, dizendo versos... José Pinto júnior nasceu a primeiro de maio de 1906... Foi também um grande boêmio, espirituoso, imprevisto... neste sábado reboante de carnaval faço esta pausa em seu louvor...”. – (jornal ‘A República’, de 17/02/1959). Outro boêmio que partiu: Em maio no dia 07, em Natal, ocorre o falecimento do poeta, boêmio, gráfico, líder operário e carnavalesco – ‘João Estevão Gomes da Silva’, nascido em Natal, a 16 de dezembro de 1883. Segundo o saudoso pesquisador do nosso carnaval, ‘Gumercindo Saraiva’ (1915/1988) este teria sido ferrenho folião da agremiação - ‘Os Jandaias’, ao lado de ‘Emídio Fagundes’, ‘Evaristo de Souza’, ‘Josué Tabira’, ‘João Carlos’, ‘Francisco Bulhões’, ‘Antônio Braga’, ‘Olímpio Batista Filho’ e ‘César Pelinca’. Hinos: E Já que estamos citando o famoso Bloco ‘Os Jandaias’, vejamos um dos seus dois hinos carnavalescos: “Os Jandaias meus senhores /Também prestam nesse dia, Homenagem e louvores / Ao reinado de folia. Nesta doida alecrinidade / Tudo nos faz esquecer. Não a pedra da saudade... / Que um dia nos viu nascer... Vamos portanto / Divertir com animação / Nesta função /Vamos folgar/ Vamos sorrir / Vamos dançar /Vamos, viver assim / Que ‘vestido azul / Para ‘os Jandaias’ / Não tem fim...”.

Sai de cena o folião que sonhava ser Rei Momo: Em 19 de junho deste ano, foi à vez do músico, professor e grande incentivador carnavalesco ‘Alcides Cicco’, nascido em São José de Mipibu/RN, no ano de 1886. Câmara Cascudo nos traça o seu perfil: “Gordo, corado, lento...”. Já o escritor e memorialista ‘José Alexandre Garcia’, afirma ter o ex-diretor do Teatro Alberto Maranhão, quase chegado ao trono de Rei Momo do nosso carnaval. E só não o foi por que, isto certamente causaria grande escândalo aos seus dois ilustres irmãos, Celso e Januário. Sobre o obeso Alcides, ‘Deífilo Gurgel’, no ‘Livro dos 400 Nomes de Natal’, acrescenta: “quando esteve na direção do Teatro Carlos Gomes, o maestro Cicco ganhou um lugar de destaque no coração dos natalenses”. ‘Alcides Cicco’ passou a vida sonhando chegar ao reinado de momo. Ainda sobre o gordo que sonhava em ser ‘Rei Momo’, ‘Alcides Brunetti Cicco’ (1886/1959), escreve o memorialista ‘José Alexandre Garcia’ (1925/1997): “O Rei Momo - Alcides era ingênuo... Alimentava secreto desejo: ser Rei Momo. Mas temia a ira do Dr. Januário Cicco e do Cônego Celso, a única pessoa a quem tinha admiração e respeito. Eider Reis, filho de ‘seu’ Enéas, nosso líder, beleza de rapaz, inteligente, brincalhão, irreverente, atiçava logo à fogueira - Vamos lançá-lo, quer Januário e Celso queiram ou não. Uma tarde - O Diário ainda era vespertino — a página carnavalesca estampou em sete colunas, de ponta a ponta: ‘Alcides Cicco, I e único, Rei do Carnaval’”.

E quanto às comemorações do quase Rei: “... As comemorações começaram assim que a noite caiu na Confeitaria Delícia, e prolongou-se madrugada adentro, na AABB, na antiga sede da Deodoro. A moçada fazendo o passo e, no meio, Alcides rodopiando desajeitado e cômico, como elefante de circo. E tome confete em cima dele, na cabeça, no rosto, nos bolsos do jaquetão... Tristeza de ter irmão doutor — Mas como na vida tudo tem verso e reverso, o dia seguinte amanheceu nada festivo. Logo cedo, o cônego Celso salta do trem de Ceará-Mirim, pisando nos calos. Urgia salvar a honra familiar. Meia hora depois, Cicco apareceu arrasado: — Pelo amor de Deus, telefone ai para o jornal e comunique que desisto de ser Rei Momo... Januário dissera-lhe o diabo e o Cônego, com toda sua santidade, também. Triste, muito triste, Alcides confessou sua desdita: — Coisa mais sem graça ter irmãos padre e doutor!” (livro Acontecências e Tipos da Confeitaria Delícia, José Alexandre Garcia, 1989, 3. ed., p.54-55).

Outro folião que se foi após o carnaval: Também perdemos a presença em Natal, do animador carnavalesco ‘Francisco de Assis Botelho’, em 09 de agosto. Era natalense, nascido entre 1895 e 1900. Segundo o escritor Deífilo Gurgel, era conhecido em toda a Natal por ‘Chico Botelho’. Boêmio, seresteiro e participante ativo de reisados folclóricos. Nos carnavais, sempre saia às ruas levando o tradicional grupo de rua -‘Zé Pereira’, conforme vários registros da nossa imprensa de seu tempo. O mestre ‘Câmara Cascudo’ (1898/1986), o homenageia publicando uma crônica dedicada ao saudoso ‘Chico Botelho’, membro da tradicional família de seresteiros, boêmios e carnavalescos – (jornal ‘A República’, de 1º de setembro). Amigo de carnavalescos: Faleceu o político, jornalista e escritor ‘Eloy de Souza’ – (Recife, 04/03/1873 – Natal, 07/10/59). Recebeu com justiça uma citação de ‘Câmara Cascudo’, em sua Acta Diurna, no jornal ‘A República, de 23, de julho de 1959, quando o folclorista rememorava o logradouro ‘Barro Vermelho’ e as considerações ‘eloidianas’ a respeito das festas naquela artéria tão alegre e boêmia de Natal: “... Os alegres e famosos pagodes do Barro Vermelho, que tão grande parte tiveram na vida social da cidade“.

E o famoso Reco – reco parou: Este ano foi o último carnaval de um grande folião, pois em 13 de dezembro, falecia um dos maiores animadores do nosso carnaval de rua dos anos 30/40 e 50, o carnavalesco ‘Melquíades Barros’, ou popularmente como era chamado – ‘Yoyô Barros’. Ele sozinho criou um Bloco que arrastava multidão – ‘ Cão Jaraguá’. Tivesse ou não quem o acompanhasse. Segundo vários memorialistas de seu tempo, este citado Bloco ficou famoso e alegrou centenas de pessoas pelas ruas sempre ao ouvir o líder em sua frente a tocar o seu reco-reco e a cantar o seu bravo grito de guerra: - “É o cão, é o cão, é o cão Jaraguá, é o cão Jaraguá!!!”. Quando de sua morte, várias homenagens lhe foram prestadas pelos seus relevantes serviços em defesa do nosso carnaval de rua e sua paixão pelos folguedos populares. ‘Câmara Cascudo’ lhe dedicou uma crônica em sua famosa “Acta Diurna” e o radialista ‘Genar Wanderley’, bastante emocionado ao microfone da Rádio Poti, entre outras palavras, chama a atenção de seus ouvintes para que a cidade do Natal jamais viesse a esquecê-lo: “... Durante várias épocas, até bem poucos anos manteve-se como o personagem mais comentado dos nossos carnavais de rua. Empunhando, apenas um simples reco-reco, único instrumento que sabia manejar dominava inteiramente as atenções do povo, como isolado representante do próprio Bloco do ‘Cão Jaraguá’...”. O nosso amigo e pesquisador ‘Luís G.M. Bezerra’, a nosso pedido publicou no jornal ‘A Verdade’, de junho de 1999, um longo artigo sobre ‘Yoyô Barros’, onde transcreve por inteiro a crônica feita pelo radialista Genar Wanderley e ainda acrescenta alguns nomes de carnavalescos que saíam no referido Bloco de rua, como – ‘Silvino Dantas’, ‘Gama Lobo’, ‘José Pinto Júnior’ e ‘Gumercindo Saraiva’, entre outros. O memorialista ‘Augusto Severo Neto’, é outro que também não esquece em sua obra – ‘Ontem Vestido de Menino’, 1987, este famoso Bloco e seu líder, acrescentando mais nomes ilustres de foliões: “’Deolindo Lima’, ‘Sabóia’, ‘Gama Lobo’, ‘Tolaco’, ‘Amaro Andrade’, ‘Gualberto e Sousa Costa’, ‘Isaac Seabra’, ‘Zerôncio’, ‘Jaime dos G. Wanderley’, ‘Alberico’, ‘Babuá’...”.

Lembrança: E no começo de 1960, o folião natalense começou a cantarolar o refrão do Bloco – Cão Jaraguá: “‘Ô menino, olhe o cão/ olhe o cão, olhe o cão/olhe o Cão Jaraguá... Ele é bonitinho/ Olhe o cão/ olhe o cão/ Ele quer vadiar...”. Ou então outro de seus tantos hinos criados pelo Yoyô: “Minha rolinha Sinhô/ Sinhô nunca fez mal/ sinhô, sinhô é bonitinha/ Sinhô, sinhô no carnaval...”. 1950/1959: Fim de uma era alegre e de aguerridos e saudosos carnavalescos!

por Alma do Beco | 5:37 AM | | Ou aqui: 0


Hugo Macedo©

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