segunda-feira, maio 28, 2007

O BOBO GANHOU

Marcus Ottoni


"O tema maior do bobo que perambula e que zomba do governador, nesses tempos tão navalhados, soaram ingênuos, cheios de ternura".
Léo Sodré
Para ouvir O Bobo da Corte:

Fotos: Alexandro Gurgel // Arte: Valdelino Offset Gráfica


Resultados do MPBeco

Alexandro Gurgel1º Lugar: Prêmio Nazir Canan
Potiguaras, Guaranis
Intérprete: Khrystal
Música de Zé Fontes e Ricardo Baia

Alexandro Gurgel2º Lugar: Prêmio Newton Navarro
Potiguarina
Intérprete: Geraldo Carvalho
Música de Tertuliano Aires, Graco Medeiros e Geraldo Carvalho

Alexandro Gurgel
3º Lugar: Prêmio Celso da Silveira
Bobo da Corte
Intérprete: Franklin Nogvaes
Música de Eduardo Alexandre e Franklin Nogvaes

Prêmio Maestro Mainha: Melhor arranjo musical
Potiguaras, Guaranis
Intérprete: Khrystal
Música de Zé Fontes e Ricardo Baia

Alexandro GurgelPrêmio Bosco Lopes: Melhor intérprete
Perdido na Estação
Intérprete: Mobydick
Músca de Glay Anderson, Gustavo Concentino e Paulo Ricardo

Prêmio Elino Julião: Voto Popular (EMPATE)

Potiguarina (Tertuliano Aires, Graco Medeiros e Geraldo Carvalho)
Intérprete: Geraldo Carvalho

Alexandro GurgelEmbolada Cósmica (Mirabô Dantas)
Intérprete: Rodolfo Amaral


PANTOMIMA

Poderosas,
Inúmeras,
Persuasivas,
Sensuais,
Perfeitas,
Indiretas,
Silenciosas,
Agressivas,
Carismáticas,
Discretas,
Delicadas,
Programadas,
Estudadas,
Sinuosas ,
Comportadas,
Afiladas,
Equilibradas,
Maneiras
De amar


Deborah Milgram



Bobo da Corte ganhou!

O poema que virou música pela genialidade de Franklin Novaes ganhou a alegria do público presente à final do II MPBeco. Isso mesmo. A música deu e recebeu a alegria e todo o swing de quem estava presente no festival mais democrático da musica popular do Rio Grande do Norte.

O Bobo da Corte ganhou pela simplicidade. Pela criatividade, pela alegria de quem interpretou tão bem a música que tinha um arranjo arrebatador, cheio de sensualidade. Tão boa de ouvir que o tema maior do bobo que perambula e que zomba do governador, nesses tempos tão navalhados, soaram ingênuos, cheios de ternura.

O Bobo da Corte ganhou por causa da alegria de Dunga, que, de chapéu coco, sorria para a platéia e perambulava tal qual um menino vadio. Sorriso largo de quem não está preocupado em vencer. De quem está preocupado apenas em participar por amor ao Beco, à arte, aos amigos, que, lá de baixo, no asfalto da Praça 7 de Setembro, dançavam e vibravam com a participação da música. Do poema que levantou becodalamenses e visitantes. Que exalou felicidade.

O Bobo da Corte ganhou. Pode não ter levado o prêmio de primeiro lugar do festival, mas ganhou. Ganhou porque entrou na rabeira, por desistência de outro concorrente e cresceu com uma interpretação diferente, com um gingado novo, com arranjos ousados.

O Bobo da Corte ganhou. Eu sonhei que a música ganharia. E ganhou. Ganhou um mundão de corações.

Valeu Dunga! Valeu Franklin Novais!



Léo Sodré

por Alma do Beco | 8:58 AM | | Ou aqui: 0




quarta-feira, maio 23, 2007

CANTE CONOSCO

Marcus Ottoni


"Meus cumpadres, vocês tão com a responsabilidade! Vocês tão no ambiente mais carregado de enzimas e raiz musical que existe no mundo que é o Nordeste. Vocês podem até não vender na TV, mas o mundo está procurando vocês. Façam, trabalhem, sejam exigentes com tudo que sai do útero de vocês. Estão em condições de fazer a melhor música do mundo que é a música nordestina."
Tom Zé


SIMPLES PALAVRAS

Essa rima
Me persegue
Me hipnotiza
Me corrói
Me fertiliza

Essa rima
Me intriga
Me aparece
Me silencia
Me enlouquece

Essa rima
Me suporta
Me espanta
Me machuca
Me encanta

Essa rima
Me sussurra
Me acaricia
Me entristece
Me fortalece

Essa rima
Me abandona
Me engana
Me ganha
Me estranha

Essa rima
Me sorri
Me satisfaz
Me nega
Me entrega

Essa rima
Me chama
Me ensurdece
Me censura
Me enfurece

Essa rima
Me queima
Me afoga
Me domina
Me ensina

Deborah Milgram

O caricato traço expresionista de Léo Sodré

O traço de Leonardo Sodré é fino e preciso, gracioso e, às vezes, engraçado. Seus temas, vários: peixes, cangaço, cenas do cotidiano, rostos.

Gosto da caricatura da vida dos bares, seus personagens, suas cenas descontraídas. Por várias vezes, escolhi trabalhos seus para ilustrarem cartazes de festas da Samba, a Sociedade dos Amigos do Beco da Lama e Adjacências.

Léo é desses que gostam do desenho. Na mesa do bar, numa sessão legislativa, onde está, toma sua caneta e inicia o estudo dos personagens que, rápido, surgem do branco do papel.

Conheci-o no início da adolescência já desenhando cartuns e quadrinhos, às vezes reproduzindo, às vezes criando personagens que ganhavam vida.

O desenho era algo obsessivo em sua vida.

Mais tarde, quando em 1977 começamos o movimento da Galeria do Povo na Praia dos Artistas, ele me chegou com uma temática marinha, um polvo em fundo branco e azul, numa tela que devia medir uns 80 X 50 cm.

Trabalhozinho ruim, com tinta economizada em solução de querosene. Nunca esqueci. Ele não gostou da crítica, mas também não deixou de pintar.

Hoje, sabe que, como dizia uma antiga propaganda de tinta de parede, "o segredo de quem pinta é a tinta".

E ele abandonou o querosene, e suas telas ganharam um colorido especial para traços mágicos e cheios de humor na maioria das vezes.

Léo foi caricaturista do Jornal de Brasília. Esse estágio lhe proporcionou muita experiência nesse aprendizado constante que é a pintura.

Hoje maduro, suas aquarelas são vibrantes, precisas, cheias de luzes e de coloração alegre. Seus óleos ou acrílicos, bem mais ricos.

Nesta sua exposição na Aliança Francesa, ele nos apresenta um pouco de cada técnica que hoje domina com grande maestria.

O título escolhida para a exposição, nada mais condizente com a obra: expressionismo caricatural.

Vale a pena conferir.

Sarau na Aliança Francesa

Local: Aliança Francesa (Rua Potengi, 459. Petrópolis)

Data: 24 Maio 2007

Horário: 19hInformações: 3222 1558

Entrada franca

Eduardo Alexandre


"Sou formado no folclore"

Entrevista com Tom Zé



O cara mais jovem do mundo tem 70 anos de idade. Esse cara poderia ser muito bem o estético- inovador e eterno tropicalista Tom Zé, um dos mais originais artistas da música contemporânea. O compositor, cuja obra encanta a intelectualidade européia e norte-americana aparece pela primeira vez em Natal. Vem para tocar Danc-Êh-Sá, novo disco inserido na música eletrônica, fazer um apanhado da carreira, mas também para passear com esposa Neuza. ''Serão as primeiras férias da minha vida''. Ele se apresenta hoje a partir das 18h30 no Projeto Nação Potiguar na Capitania das Artes. A atração local serão os instrumentistas Paulo Lúcio (violino) Carlos Guedes (saxofone).

No show Tom estará acompanhado por acompanhado de Lauro Léllis / Bateria; Cristina Carneiro / Teclados e Voz; Jarbas Mariz / Percussão, Cavaco, Violão de 12 cordas e Voz; Sergio Caetano / Guitarra e Voz; Daniel Maia / Baixo e Voz; Marcelo Blanck / Produção e Inserção de Timbres; Luanda / Voz e Teclado.

Nesta entrevista o músico fala sobre seu novo disco, a carreira, elogia Câmara Cascudo, relembra o período de ostracismode que foi salvo pelo britânico David Byrne e celebra a música nordestina.


Diário de Natal -É a primeira vez que você vem aqui?

Tom Zé - È isso mesmo, na terra do Câmara Cascudo é a primeira vez que vou, faço tantas idéias do que sejam as coisas da aí. Pela primeira vez vou fazer turimo na vida e aproveitar com minha mulher pra ficar uns quatro dias após o show.

Você vem com uma proposta de fusão com música eletrônica?

O disco não e de musica eletrônica. É que como eu trabalho sempre naquela linha limítrofe entre o que é e o que não e música, as pessoas dão um nome apressado, porque não tem classificação. Foi comovente aqui no Sul a perplexidade da sociedade na hora em que saiu a pesquisa da MTV na qual a juventude, em números acima dos 80%, dizia que era hedonista, consumista, egoísta, que não queria saber de solidariedade, nem de futuro, nem de gastar tem o com os povos mais pobres. Isso espantou porque até aquele momento se tinha a juventude como aqueles que tinham o coração doador. Me senti desesperado e o disco é o resultado do meu desespero. É uma tentativa de me aproximar dessa juventude e podemos chamar de música eletrônica, me botando como um dos inventores disso no mundo. Em 1978 coloquei no palco o primeiro sample inventado no mundo - era um sample artesanal mais outros, como o instrumentos das buzinas e o Fontes de Hertz (ou HertZé). Um incidente gozado: Em 1988 o Instituto Goethe, aqui de São Paulo, convidou jornalistas para assistirem uma música feita com eletrodomésticos e um jornalista da Veja comentou na época em que ninguém mais falava em mim: ''Fomos assistir a audição de uma música feita com eletrodomésticos. Nenhuma novidade para quem assistiu o show do Tom Zé em 1978". Isso foi tão importante pra mim que estava obscurecido pelo ostracismo que me tornei um amigo deste repórter. Em Minas certa vez houve um festival de música eletrônica e fui convidado porque era inventor de instrumentos eletrônicos. Aí no Norte, graças às pesquisas da Petrobras, estão inventando novidades na área de captação de energia. Aqui no Sul as crianças brasileiras participam de eventos de inventores mirins e a delegação brasileira sempre faz sucesso. Na Bahia Dodô e Osmar, são os iniciadores da guitarra eletrônica no começo do século 20. Não temos portanto que pedir licença.

E o disco?

Vou apresentar apenas duas ou três músicas porque como nunca cantei aí tenho que fazer uma espinha dorsal da minha carreira. E ate por que recebo emails de pessoas de cidades do interior, de Fortaleza e de João Pessoa que vão para aí para ver meu show. Também vou levando para vender o novo disco e outros como Estudando o pagode, Opereta sobre a segregação da mulher, meu livro Tropicalista lenta luta e os DVDs - um com estes intrumentos originais que em 2002 a Trama me permitiu refazer.

O que um homem que estudou com Walter Smetak e fundou o tropicalismo escuta hoje em dia?

Escuto a música dos amigos e do Nordeste porque a nossa região tem um destino em direção à música. Quando nasci em Irará(BA) estava em minha frente a Escola de Sagres, de que fala Cascudo; tava em minha frente a saga de Roland, estava a canção árabe, a canção celta, os poetas provençais, a coisa moura, judia. Quando nasci tudo isso estava em torno de mim. Como está aí no RN que conheço um pouco graças a Cascudo, um dos maiores escritores do mundo, um homem de sensibilidade, que viveu aí a vida toda, de quem falo muito quando viajo. Mas eu ouço o Jair Oliveira, produtor do meu disco anterior. Ouço musica do Nordeste porque tem sempre novidade. E quando um festival europeu quer ter respeito ele tem que ter pelo menos três nomes brasileiros. E aí aparecem nomes aí do RN, do Maranhão, Ceará que nem são conhecidas aí mesmo. Minha gravadora lançou uma coletânea de autores nordestinos.

O que significou o músico David Byrne em sua vida?

Eu já ia para Irará pra tomar conta do posto de gasolina de um sobrinho em 1988 quando decidi largar a música. E apareceu a notícia de que Byrne ia me procurar e o produtor Roberto Santana, que lançou muita gente e era diretor da Polygram fez a ponte e me aconselhou: ''Seja um alvo visível, fique aí em São Paulo''. Byrne veio aqui,acabou lançando um disco meu e minha carreira reiniciou como se tivesse me desenterrado. Eu havia sido enterrado na divisão do espólio do Tropicalismo em 1971 e fiquei no ostracismo até 1990 no quando Byrne me lançou nos Estados Unidos e Europa, fiz sucesso e comecei a viver.

Mas há vilões nesse ostracismo?

Não há vilões, mas há pessoas que estavam perto que se tornaram um tropeço. Por exemplo, no filme sobre minha vida que deve passar aí, que ganhou prêmios, em que Caetano confessa que houve uma coisa egoísta, que me colocou de lado. Não é vilania, mas é a disputa do espaço normal nesse trabalho de música. O Augusto de Campos disse uma vez: ''música popular quem mais tem é quem mais precisa''.

Que panorama traça dessa nova MPB?

Durante muito tempo nos vamos ser ainda um reservatório que o mundo tem de proteína criativa, daquele caldo onde começaram a nascer insetos e micróbios para depois aparecer as vidas mais complexas. O Brasil vai ser ainda isso muito tempo devido a grande força cantada no subsolo do Nordeste. Eu sou músico formado pelo folclore, embora não seja folclorista. A música daí é igual ao que provençais sonhavam de fazer uma poesia que fosse som e signnificado. O Nordeste vai ser ainda durante muito tempo a teta, o seio em que o mundo mama música. E os músicos, oráculos de Apolo, que respiram gases envenenados que vêem do Sertão. A música nordestina me dá grande curiosidade. Quando aparecem as bandas do Nordeste aqui eu sempre vou ouvir. Gostaria de conhecer as bandas dái e espero que essa rapaziada possa ir no meu show.

Quando e onde você ouviu pela primeira vez ouviu o disco em Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band do Beatles que agora completa 40 anos?

Caetano sabia que eu não ouvia música e nem falava inglês. Ele me trancou num quarto da casa de Guilherme Araújo em São Paulo e me traduziu palavra por palavra do Sgt pepper's e à noite me levou pra assistir O rei da vela, de José Celso Martinez no Teatro Oficina. Foi um dia inesquecível que eu tive esses dois choques maravilhosos. O disco é a fusão da música erudita, o refinamento da escala diatônica que transformam em harmonia, miscigenado com a música pop, resultou numa obra importante para a humanidade.

Qual a sua visão da política cultural do governo Lula?

Todo mundo adora falar mal de Gilberto Gil. Ele deixou dois Grammy, a carreira, a fama internacional, a família, os amigos, todos o que adora para deixar de ser pedra e se tornar vidraça. É um trabalho de sacrifício. O pessoal do cinema que no início se posicionou contra ele, agora estava lutando para que ele continuasse no segundo governo. É um consenso que Gil tem uma ventilação para o problema da arte pela sua capacidade pela fama que tem em todo o mundo.

E que mensagem deixa para os artistas potiguares.

Meus cumpadres, vocês tão com a responsabilidade! Vocês tão no ambiente mais carregado de enzimas e raiz musical que existe no mundo que é o Nordeste. Vocês podem até não vender na TV, mas o mundo está procurando vocês. Façam, trabalhem, sejam exigentes com tudo que sai do útero de vocês. Estão em condições de fazer a melhor música do mundo que é a música nordestina.

Moisés de Lima
Da equipe do Diário de Natal

por Alma do Beco | 1:20 PM | | Ou aqui: 0




segunda-feira, maio 14, 2007

CIRCO GARCIA

Marcus Ottoni



"A ambição desmedida de riqueza e de poder leva à corrupção pessoal e alheia; não existem motivos para fazer prevalecer as próprias aspirações humanas, sejam elas econômicas ou políticas, com a fraude e o engano."
Papa Bento 16

Alexandro Gurgel

Franklin Nogvaes interpreta "O Bobo da Corte" e a classifica para a final do II MPBeco

Classificadas da 1ª eliminatória do MPBeco, por ordem alfabética.

01 - A Rainha do Tapete Vermelho - Drica Duarte/Letto - Elegia e Seus Afluentes
02 - Blues das Horas - Gil Oliveira - Jack Black
03 - O Bobo da Corte - Flanklin Nogvaes/Dunga
04 - Potiguaras, Guaranis - Ricardo Baia/Zé Fontes - Khrystal
05 - Potiguarina - Geraldo Carvalho/Graco Medeiros/Tertuliano Aires - Geraldo Carvalho


Poesia do Beco

a
poesia
do beco
faz
a confissão
da cidade
beco de luz
e de profunda
esperança
onde encontrar
teus poetas
peregrinos?
no santuário
da paz!!!

Franklin Capistrano

Tango

Apurar o sabor
Respeitar a dor
Sentir o calor
Estar a favor
Espantar o pavor
Cuidar a flor
Chamar o valor
Tocar a cor
Deliciar o amor
Seja como for...

Deborah Milgram



MÃE

Talvez você nem se detenha sobre este texto, afinal, hoje, os jornais, TVs, out doors, monitores de celulares e computadores e muitos outros veículos de comunicação estão lhe bombardeando com mensagens alusivas à data. E nada mais justo, mesmo sabendo que um só dia ainda é pouco para quem foi tão corajosa ao escolher ser mãe.

Algumas mensagens talvez evoquem a velha e doce imagem do avental todo sujo de ovo. Apesar de estarmos na época dos pré-prontos e fast food, ainda existem mães que fazem questão de preparar aquela comidinha especial que os filhos tanto gostam. Outras, mais românticas e saudosistas, talvez insistam no gasto "ser mãe é padecer no paraíso". Não acredito nisso. Dez, entre dez mães, querem mesmo é gozar no paraíso, nem que seja por breves e efêmeros minutos. Mas que paraíso seria esse, para uma mãe sentir-se nele?

O paraíso para uma mãe pode ser a visão de seu bebê saudável, brincado entre gargalhadas nos braços do pai ou ao lado dos irmãos; pode ser o sorriso tímido do filho que lhe estende o teste com nota máxima, de cuja disciplina ela esforçou-se tanto para ensiná-lo, tentando superar sua própria deficiência para ajudar. Pode ser também aquela sensação maravilhosa de confiança ao saber que seu bebê agora é um rapazinho e, para sua surpresa, já vai para as baladas com a carteira abastecida com camisinhas. Agora, mérito dos méritos, é saber que a cada sucesso ou decepção amorosa, ele aluga seus ouvidos – e ficamos nas nuvens com isso – para desabafar.
Ser mãe é ainda sair para curtir a noite com os filhos; assistir seus shows na primeira fila; divulgar e buscar público para suas apresentações; perdoar seus solos de guitarra às duas da manhã, em plena temporada de TPM. É saber impor limites. Dizer não, mesmo quando o coração diz sim, e ser chamada de capitão. É preparar um cozido sendo naturalista, e rezar para que um dia, depois deles muito se esbaldarem nos prazeres da carne, possam entender, valorizar e respeitar a moderação. É dizer adeus na fila de embarque, lágrimas escorrendo para os lábios que sorriem, tentando entender que aquela separação dolorosa servirá para aumentar alguns centímetros no amadurecimento do seu rebento.

Ser mãe não é fácil! Mesmo que possamos contar com pessoas para nos auxiliar, a mãe, assim como o mordomo, é sempre a culpada por tudo que não saiu a contento em relação ao caráter e/ou comportamento dos filhos. Portanto, mulher, muita atenção e discernimento: na hora H, antes de passar para o ponto G, lembre-se que a próxima etapa pode ser para sempre. E mesmo que o co-autor do empreendimento desapareça magicamente da sua vida, você terá vínculos biológicos, afetivos e espirituais com o novo serzinho que em breve poderá estar lhe promovendo a mãe; e, se não os três laços, ao menos dois, para toda a eternidade.
Mas, agora é tarde demais. Se você chegou até aqui é porque já é mãe. Então relaxe e aproveite este dia que é só nosso. Nós merecemos!

Ana Cristina Cavalcanti Tinôco



O CIRCO GARCIA

O Circo Garcia já esteve entre os cinco melhores do mundo, no seu auge, na década de 80. Após 75 anos despertando a alegria e os risos de crianças, jovens e adultos, o circo arriou a lona definitivamente em 2003, desestabilizado por uma infindável crise financeira.

As histórias dos circos e das suas personagens são bem parecidas com a própria vida em si, e com a de qualquer indivíduo. Os artistas têm a missão de tornar mágico um espetáculo de pouco mais de uma hora e fazer deste instante um fato inequecível à cada um que o presencia. O palhaço fazendo rir. Os trapezistas nos dando a lição de que vale a pena correr certos riscos quando a finalidade é grandiosa. Os malabaristas mostrando que a dedicação a uma certa atividade durante algum tempo enseja resultados incríveis. Os domadores deixando claro que é possível dominar feras quando temos o controle de nós mesmos. Os adestradores ensinando, com os cachorrinhos e elefantes, que a obediência é uma regra natural, indispensável a qualquer sociedade.

De todas as personagens do circo a que sempre me despertou maior encanto foi o mágico. Lembro-me que nos espetáculos eles atravessavam espadas pelo corpo, sem dor, sem sofrimento, sem sangue. Transformavam objetos, dinheiros em bugingangas e vice-versa. A cada mágica nova, uma novidade maior era retirada das mangas. Sempre haviam coelhos nas cartolas, baralhos com diversas figuras, moedas... ilusões. Hoje entendo que foram eles que me ensinaram que fazer mágica não é o exercício regular apenas daquela profissão, e que truques mal feitos são sempre descobertos.

Pessoas de todas as classes e idades vão ao circo. Cada qual traz no íntimo o seu encanto pela apresentação mas todos vão a ele na intenção de se divertir.
As crianças chegam fascinadas, ouriçadas pelo início das apresentações. Acham os apresentadores uns chatos, eles falam demais, agradecem demais, são sérios demais. Ficam extasiadas com as perigosas empreitadas dos trapezistas, impressionadas com o mágico, enfeitaçadas pelos animais, amedrontadas com as feras, saltitantes ao fitar os animais, irrequietos com os malabaristas. Choram de rir com o palhaço, o personagem preferido delas. No fim de tudo, acham o espetáculo a coisa mais grandiosa e perfeita do mundo.

Os adultos insensíveis vão ao circo porque talvez seja uma boa idéia distrair-se um pouco, ou, agradar as crianças. Gostam da linguagem imponente dos apresentadores, embora muitas vezes percebam os deslizes no bom português. Acham os trapezistas interessantes, mas admitem que as exibições não são tão perigosas assim. Assistem o mágico, tentando revelar seus truques. Reparam que alguns animais estão um pouco mal cuidados. Não acham graça na palhaçada, mas no palhaço. Pensam que os malabaristas devem ter perdido um bom tempo repetindo aqueles movimentos. Gostam mesmo é de ver as feras. Ao final, acham o espetáculo interessante e certamente foi uma boa forma de passar o tempo.

Já os idosos chegam a conclusão que não é importante apontar os defeitos que perderam a vida inteira procurando nos espetáculos de circo quando eram adultos, e que o bom mesmo é ser criança. Existem alguns que não se tornam adultos insensíveis e sempre observam o circo com a mesma magia que uma criança. E eu acho que meu avô era um desses.

Bastava anunciada a chegada do circo, seja ele rico ou pobre, pequeno ou grande, modesto ou suntuoso, e ele fazia questão de ir e levar todos os netos. Ele ficava embasbacado, olhava-nos efusivo em saber que estavamos nos divertindo. Demonstrava, a qualquer preço, que tinha o objetivo de tornar inesquecível aquele momento.
Eu achava meu avô o "cara". Todos o admiravam e eu queria ser igual a ele quando ficasse mais velho. Ele se preocupava com a família, queria ver todos alegres, e o nosso divertimento era também o dele.

Batizou a família de circo Garcia. Talvez apenas pelo fato de termos este sobrenome; ou por achar que todos nós parecíamos personagens de um circo e este nome era o mais adequado; ou por gostar de circos e da família e para associar os dois. Pode ser que gostasse de apontar cada membro da nossa troupe como um dos personagens do circo: um era o palhaço, outro o macaco, o trapezista, a fera, etc. Talvez por tudo isso ou por nada disso.

Por bem, muitas vezes pudemos ter sidos palhaços para que ele nos alertasse de volta à seriedade. Alguns podem ter bancado o trapezista e, na queda, ele fez questão de reerguer; equilibrando todos na corda bamba, com malabarismos, com mágicas, domando as feras. Meu avô ocupava na nossa família tudo que um circo precisa e ocupava no circo tudo o que nós precisavamos.

Meu avô deixou a lição de amar o circo. Deixou a lição de amar a família. Deu a cartilha da família circo Garcia. Sua caminhada à evolução espiritual legou o dever de zelar pela continuação do grande espetáculo das nossas vidas.

Arisvaldo Ribeiro, o apresentador do Circo Garcia, mesmo triste não perde as esperanças. "No lugar de adeus, vou me despedir como sempre fiz, dizendo apenas até o próximo espetáculo" – afirmou antes de sua última apresentação.

- O Circo fechou. Eu gostava daquele circo. Eu estou triste porque aquele circo fechou. Eu estou com saudades daquele palhaço. Acho que vovô também está triste porque aquele circo fechou...

Guilherme Garcia

por Alma do Beco | 8:01 AM | | Ou aqui: 0




terça-feira, maio 08, 2007

A QUEM INTERESSAR

Marcus Ottoni
Para ouvir, memorizar e fazer a claque neste sábado:
http://www.goear.com/listen.php?v=9b025bb
Dunga

João Arthur




Algumas informações a título de esclarecimentos:

Meu irmão Fernando é de 1949, portanto mais velho do que eu, que sou de 53.
Meu pai jamais proibiu amizade de qualquer dos seus filhos com quem quer que fosse.
Desde que me filiei, jamais sai do PT.
Tive conhecimento de um documento que pedia a minha expulsão do partido em função da ida de Miguel Mossoró ao Beco da Lama, quando promovemos, pela Samba, a "Tribuna do Candidato", atividade que solicitou, mediante convite oral ou escrito, a presença de todos os candidatos a prefeito da cidade do Natal, naquele ano de 2004. Só Miguel Mossoró dignou-se a comparecer no primeiro turno daquela eleição. Carlos Eduardo e Luís Almir compareceram no segundo turno.
A candidata do PT passou ao largo e não parou: tinha pouca gente para o seu gosto.
Soube que entre os signatários do pedido de minha expulsão, estavam o hoje diretor administrativo da FJA, Fábio Henrique de Lima e sua esposa Vanessa (filha de Barbinha). Nunca toquei no assunto com eles nem alterei meu carinho e amizade com nenhum deles.
Recebi com naturalidade a exoneração do cargo de coordenador do CEDOC pela administração petista da FJA, até porque sei o que é vida partidária e sempre mantive o discurso do PT de antes de 2002, quando era oposição e sonhava fazer um Brasil diferente, "decente".
Discordei deste governo deste o anúncio da "Reforma" da Previdência, aquela que puniu os velhinhos e eternizou a chegada à aposentadoria de brasileiros e brasileiras honestos e trabalhadores, e minhas posições tornei públicas. Muitos são testemunhas disto neste grupo de discussão.
Convidado pelo Centro de Promoções Culturais, leia-se Dickson Medeiros, aceitei o convite para fazer a exposição do 8 de Maio na Galeria Newton Navarro, porque acredito que a FJA é maior que qualquer gestão que por ali passe.
Sou poeta, artista plástico, e acho que aquela é uma das minhas casas. Não tinha porque recusar o convite, apesar de a atual gestão ter-me tirado o pirulito da boca. Queria fazer o que planejei para o patrimônio e para a documentação cultural do RN nesses meses que ali estive para executar o excelente trabalho que Isaura iniciou e me confiou a conclusão. Cumpri a tarefa que me foi posta. Não executei o que sonhei, mas isso não me trouxe perdas.
Acredito que quem perdeu não fui eu, foi a cultura do RN.
Como diz Marcelus Bob: reia-te, lasca-te, fode-te.
Perdi no jogo político. Mas não no jogo cultural.
Tanto, que farei a expo de sala de entrada da instituição que a atual direção me exonerou.
Não trago nem levo mágoas de ninguém.
Só lamento a falta de palavra do atual gestor principal, que 15 dias antes reuniu a trupe do Cedoc e disse alto e bom som que não faria ali política, mas cultura.
Não fez e nem está fazendo.
Quanto ao PT, que faça a revisão histórica que merece ser feita.
Quando participei como candidato do partido a eleições, lembro, tínhamos vergonha de ser eleitos comprando ou cabalando votos espúrios.
Hoje, temos esse PT aí, que compra votos, partidos, poderes e consciências inclusive de ilustrados e gente extra-finas da República, jogando na lata do lixo o que tínhamos de melhor no que concerne ao conceito do que isso significa: RE - PÚ - BLI- CA.
Compram pobres com ilusões assistencialistas, e compram ricos com os dinheiros fartos da viúva. Com o dinheiro da viúva, pretendem se perpetuar no poder e vão conseguir por muitos anos. Infelizmente e malgrado seja para todos nós.
A mim não compram. Nem cooptam.
Não sou venal: tenho história de luta e meu pescoço, como na ditadura, está exposto a prêmio.
Não tenho medo. Não me acovardo.

Dunga

por Alma do Beco | 12:01 AM | | Ou aqui: 0




segunda-feira, maio 07, 2007

TIRÉSIAS

Marcus Ottoni


Resta pintar um quadro aberto como o universo
Eduardo Alexandre

Orf


8 de Maio, DIA DO ARTISTA PLASTICO
1977 - 2007 Galeria do Povo, 30 anos

nem tirésias

teço em teia de silêncio esse mosaico
que se lança quase líquido em cortina
e reflete o sol da tarde e o dissemina
nas paredes do sobrado — quase arcaico
como fosse o arco-íris mais prosaico
ou colares de turquesa e turmalina
desfiados em rosário de opalina
recitado em arremedo de aramaico
tudo falso tudo frio tudo laico
num contraste que repele e que fascina
coquetel que une cicuta e adrenalina
que se alterna do abissal ao himalaico
movimento pendular que não termina
e em silêncio faz sangrar teia e retina

Márcia Maia



LIÇÃO DE GEOGRAFIA

Repare o tempo em qualquer parte
e deixe o toque ouvir cada momento.
Tire a luva invisível
e sinta sob a máscara invisível do meu rosto
o gosto que eu fiz para você
durante todo o tempo:
de esperas
de segredos
de medos
de recuos, desencontros, desesperos


(em suma, de desejos).

Releve a ruga, a barba por fazer e algum cabelo branco
(brinque-me.
Pela janela, além da brisa, só a noite).

Pare no meu queixo e aí queira a sua boca.
Só não deixe que um beijo lhe sacie,
lhe baste,
porque um beijo rouba a história de outros beijos
e eu quero do beijo o motivo
vivo
porque sou feito de ânsias, de antes, nunca de depois
(e eu com essa cara de depois...).

Toque-me os ombros,
mas não tire o peso que imagina que eu carregue.
Todo o peso eu trago nos olhos
—testemunha dos instantes em que você não veio.

Experimente as minhas mãos.
Aqui o aparente frio me desmente.
queimando, ainda, o cheiro da sua.


Mire-me os olhos
e deixe-me ficar.

E essa brisa eu já nem sei se é de mim quando respiro
ou de você quando se vai.

Antoniel Campos



José Alexandre Garcia: altivo, íntegro e bom

É realmente um autêntico exemplo de vida a ser seguido, pelo que tinha de grandeza e nobreza de caráter. Mesmo com gestos dóceis, serenos e suaves, conduzia consigo uma energia contagiante, vibrando alegremente com o que fazia, com gestos largos de solidariedade e bondade de coração.

Orgulho-me de te-lo conhecido e dele recebido só estima, carinho e gestos de profunda amizade. Era um mestre inigualável na maneira de conduzir uma conversa e de fazê-la alvo de participação de todos, sem pedantismo, esnobismo ou supremacia de tom.

Vivia a amizade em todos os seus termos, fazendo-a grande e profunda.

Éramos despachantes. Ele aduaneiro. Eu, estadual. Conhecia profundamente o seu trabalho, ensinando-me a fazê-lo e como sempre com simpatia, elegância e disponibilidade, sem nunca tergiversar ou vacilar. Para mim foi, além do amigo dedicado, um mestre.

Pertencíamos, ambos, ao movimento leonístico. Desempenhou no leonismo um papel de grande e reconhecida significação e importância, daí ter exercido, com competência e dedicação, diversas funções, honrando e dignificando os cargos ocupados. Foi um leão admirado e querido por todos, no Distrito L – 14, de Lions Internacional, com jurisdição nos Estados de Pernambuco, Sergipe, Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte.
Lembro-me de uma reunião maçônica em Mossoró. Ele era. Eu, ainda não.

Muita gente reunida, num encontro comemorativo na granja de um amigo. Alguns oradores da maçonaria se fizeram ouvir. Estava ao seu lado, próximo ao Comendador Armando Fagundes. Sussurrando, inclinou um pouco a cabeça e com palavras entrecortadas, disse: “agora é a sua vez.” Relutei, mas sem êxito, ao ouvir a sua voz.

“Agora vai falar o futuro maçom Elder Heronildes”.

A emoção me dominou.

Grande Alexandre, de grandes gestos. Quem tinha um coração daqueles não podia ter gestos pequenos. Seu coração era grande demais, por isso, conseguia juntar nele, a multidão de amigos que deixou, lamentando e chorando ainda hoje, a sua partida, para engrandecer com a sua presença, outras dimensões.

Nós, eu e minha esposa, Zélia, o estimávamos muito. Estima que se estende, ainda hoje, a Dona Isabel, que com sabedoria e sensibilidade, percorria com simplicidade e nobreza, os seus caminhos.

A homenagem a José Alexandre Garcia é justa, oportuna e feliz e atende os anseios de todo o Estado, de vez que abrangente era a sua presença marcante.

Daqui de Mossoró, cidade que amo o quanto Alexandre amou Natal, expresso a minha alegria e a minha emocionante satisfação por tão grato acontecimento, abraçando efusivamente, Eduardo e Dona Isabel.

Elder Heronildes

por Alma do Beco | 5:39 AM | | Ou aqui: 0


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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