domingo, outubro 04, 2009

QUINTA INSANA

Marcus Ottoni

PECADO CAPITAL
jogar verde
para colher verdinhas

PLÍNIO $ANDER$$ON

__._,

MISERÊ TÁTIL
Plínio Sanderson


Quinta insana (já consolidada no calendário beco-gregoriano), mesa repleta de personas agradáveis, prosas faceiras, lorotas a mil, sofismas político-ecológicos e verdes falácias. Na távola quadrática de Nazareth, reinava a mais-que-perfeita harmonia do kaos, papos paralelos ou todos ao mesmo tempo agora, tentando emplacar um discurso para plenária da galera, seja filosofia ufana ou cooptação lepdóptera, Alex, inclusive, treinava grito de saudação ao deputado seresteiro no ato de filiação ao PV, com Huguito fazendo a segunda voz. Questiúnculas insignificantes da geopolítica mundial eram esbravejadas, todas tendo como único culpado, o presidente Lula, na ótica do Dunga, claro. A sucessão da Aphoto também ganhava corpo, conspirações explícitas são desenhadas, no traço lépido do Sodré.

E não mais que de repente, uma figurinha fácil nos caminhos da pedra desse beco de lama, aborda Leozito, que conversava tête-à-tête com Eu Meio-kilo e arroubas de tiradas hilárias e toneladas de milacrias.

- Me dê quinze centavos!!! Disse a doidinha, incrédula.

Nosso escrevinhador caricatural, não se manifestou de pronto, mas sorrateiro, feito menino sapeca, colocou uma mão (a outra segurava a piteira inseparável) no bolso e cuidadosamente tateou texturas, números, asperesas, tamanhos, finuras, separando moedas sobreviventes que lhe arranhavam os bolsos desafortunados, com a destreza de quem já passou muito troco no armarinho Sodré, de Marizinha, exímia quituteira de picolé de coco.

Há quanto tempo não ajudo o próximo, pensou reticente. Entregou para a pedinte exatas três moedas de cinco centavos, despediu-se mentalmente dos quinze cents, que poderiam inteirar uma próxima carteira de cigarros, mas, com a consciência tranqüila, crente de ter feito, exegeta como ele só, sua boa ação diária.

Ainda, falou em tom de sincera preocupação:

- Tome, minha bichinha, vê se usa para se cuidar e num gaste tudo de uma vez, não, viu?

Desolada, a criatura que havia notado o tilintar doutras moedas restantes (e ficantes), talvez de maior valor do que aquelas garimpadas perspicazmente a peso de mais valia, mal criada sentenciou, irônica e atrevida:

- Ôme, danado, jogue logo na mega sena... Ô, bicho amarrado!

P.S
eu juuuuuuuuuro! !!


O pesadelo de Alex
Eduardo Alexandre

Ontem, na Quinta da Alegria, em Nazaré, a Aphoto foi foco de todas as conversas. O tema preferido, a sucessão de Alex. Coisa que, diga-se a bem da verdade, ter um sucessor, ele não cogita, e, por isso mesmo, pede para que se mude o rumo da prosa.

- Hugo pensa que a Aphoto é uma esculhambação como a Samba, a Sociedade dos Amigos do Beco da Lama e Adjacências. Não é, não! Aqui, só tem voz e voto quem está com a anuidade em dia e cumpre as obrigações estatutárias

Levanta a voz rouca e bate com a mão espaldada na mesa, elevando copos e cascos - não os dele, mas das cervejas -, derrubando alguns e fazendo da superfície leito de rio de líquido amarelo e pegajoso, espumante.


- E eu vou perder os meus 60 contos, para Alex botar no bolso? Vou não! Prefiro, com esse dinheiro, pagar o ingresso do show de Roberta Sá, no Alberto Maranhão! Proclama Hugo.

Num pulo, para não se molhar, Leozito se levanta da cadeira e quando todos pensavam que ia iniciar discurso, calado, ele retirou um fio do bolso.

Sentou-se e, em voz empolada, sentenciou:

- É um cabo de conecção de fotos para celular. Foi o filho de Dunga que me deu, quando eu tinha um aparelho telefônico móvel igual a esse que ele tem hoje. Trouxe para Dunga, pois assim ele pode capturar as imagens do mundo a partir do seu celular e se filiar a Aphoto para ser seu próximo presidente.

Ensaia-se um silêncio de estupefação na Travessa do Tesouro, logo quebrado pela voz incisiva de Hugo Macedo:

- E tem meu apoio e já é meu candidato!

Alex parecia não estar acreditando no que via e ouvia.

- Logo você, Hugo? O meu melhor melhor amigo? Ainda bem que na Aphoto o mandato é de quatro anos e ainda faltam dois para o fim do meu mandato. Daqui pra lá, muitas águas ainda vão rolar. Vou melhorar o meu desempenho que já é bom, aí quero ver: não vai ter pra ninguém.

Toca um telefone esquecido sobre a mesa e Leo o pega, levando-o ao ouvido.

- É Simone. Está dizendo que o telefone de Hugo inadvertidamente estava ligado, conectado ao dela, e que ouviu toda a conversa. Disse que também ia votar em Dunga. Adiantou que pagou a anuidade e que, portanto, estava quites com as obrigações estatutárias da entidade, ao contrário de Hugo, questionado de voto pelo presidente Alex.

- Agora vai! Reforça o coro o poeta ensandecido Plínio Sanderson.

- E eu vou comprar uma xeretinha para Sandra, e vamos, os dois, nos filiar à Aphoto, só para votar em Dunga. Disse o escultor Franklin Serrão, hoje, depois de famosa crônica de Leo Sodré, conhecido nas adjacências por Jesus.

Vermelho e retorcendo-se na cadeira, Alex, nervoso, apertava as mãos uma contra a outra:

- Ai, meu deus do céu! Ai, meu deus do céu! Ai, meu deus do céu! Ai, meu deus do céu! Vamos logo pro Bardalos pra ver se essa conversa muda.

Os circunstantes são acordes e a mesa é desfeita, todos seguindo rumos do bar de Belmond.

Lá chegando, na primeira mesa do jardim, estão a dramaturga Cláudia Magalhães e o jornalista Cefas Carvalho, este com uma máquina fotográfica a tiracolo, dependurada pelo pescoço.

Cefas se levanta para recepcionar a comitiva egressa de Nazaré e vai direto ao assunto:

- Amanhã vai ter expediente normal na Aphoto, Alex?

- Normal. Por quê? Já perguntou apreensivo.

- É que eu e Claudinha vamos lá. Vamos fazer nossa inscrição na associ...

Sem deixar Cefas terminar a frase, Leo o interrompe, mirando Alex:

- E vão votar em Dunga!

- Ai, ai, ai meu deus do céu! Ai, meu deus do Céu. Ai,ai, ai meu Deus do céu! Reagiu Alex, elevando as mãos à cabeça.

por Alma do Beco | 5:49 AM | | Ou aqui: 0


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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A imagem de fundo é do artista plástico e poeta Eduardo Alexandre©

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