quinta-feira, julho 13, 2006

SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA

Marcus Ottoni


"Não estamos fechando por medo, mas porque todos os clientes foram embora."
Antônio Calixto Pinheiro, garçom do Genésio, bar na Vila Madalena (zona oeste), um dos principais bairros boêmios da classe média paulistana.

Hugo Macedo
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Sindrome da abstinência

Entre ter-te tão pouco
Ou não ver-te mais
Sou mesmo exagerada
Amar-te: jamais

...

Face ao silêncio
Mais uma vez calamos

Frente às palavras-punhais
Emudecemos

Mediante a Distância
Sofremos

O Silêncio

É castelo
Modorra, mordaça
Amarras de sentimentos
Vislumbre de momentos

Momentos delícias
Momentos tormentos

Momentos calados
Anulados
Não realizados

Face ao silêncio
Esmorecemos
E não vivemos

Crys
Em Crysi s




BILHETE DA EUROPA
O Outro Lado das Notícias

The day after

Possivelmente não serei o único, nesta semana, a usar a expressão “O Dia Depois”, título de um filme que hoje significa e é usado por jornalistas e editoriais para resumir uma data importante de um evento mundial.

Durante semanas esquecemos não a guerra, mas as “guerrilhas” urbanas no Iraque, na Somália, na Tchetchênia, no Timor, no Oriente Médio e Índia. Saíram das manchetes os escândalos com políticos e grandes empresas aqui na França, A380 e o “dopping” de ciclistas antes do Tour de France. E como no Brasil, é a globalização da crise moral que nosso planeta está afundado, conseqüência da inépcia e corrupção das elites políticas da esquerda e da direita.

A ilegítima agressão cometida aos Poderes Constitucionais, à Constituição de alguns países, ao Charter das Nações Unidas, aos Direitos Humanos, agressão essa por parte das lideranças políticas, dos poderes econômicos e militares numa incestuosa associação da imprensa e de algumas religiões e seitas religiosas, marcará indelevelmente a história da humanidade no início deste Século XXI.

Foi suficiente olharmos nos painéis de propaganda nos estádios europeus palco dos jogos da Copa para nos apercebemos o quanto estamos submissos à força do marketing e por que não dizer, da importância dos investimentos para assegurar posições de liderança nos mercados internacionais tão competitivos.

Nos casos dos torneios de tênis com prêmios aos jogadores e no caso do basquete na liga americana e futebol no resto do mundo, os salários pagos justificam, queiram ou não, a presença de milhares e milhares de torcedores nos grandes eventos.

Por conseguinte, criticarmos os salários mirabolantes de alguns atletas é ignorar a realidade da capacidade desses mesmos atletas e torneios de gerarem uma movimentação milhões de dólares no mercado de produção e comercialização. Certamente as multinacionais recuperam seus investimentos, milhares de trabalhadores nos cinco continentes trabalharam fabricando bolas, camisetas e afins.

É lógico que somos nós que pagamos quando compramos esses artigos promocionais e nos beneficiamos das transmissões e da ampla cobertura da imprensa e do acesso à mágica da rede Internet.


Foi a Copa ou a cozinha?

Por outro lado os telespectadores de todo o mundo devem ter ficado surpreso de constatar como a globalização racial é uma realidade. Habituado que estou a assistir os jogos da primeira divisão e das Copas Européias, eu não me surpreendo.

Em alguns países nórdicos como a Suíça, a Alemanha, Inglaterra e mesmo na Suécia, há alguns nativos da raça negra lá nascidos ou por adotarem a cidadania dos mesmos, representam a raça dos seus países de origem.

Nada de menos que oito na seleção da França, dando a errônea impressão de um sentimento de integração, após as grandes arruaças em Paris onde centenas de veículos e lojas foram incendiadas. Finalmente seria bom lembrar que dois ou três brasileiros que adotaram a cidadania de outros países jogam em seleções disputando essa Copa, três técnicos são brasileiros e há ronaldos para todos os gostos.

Como nas embalagens de sabão ou refrigerantes, há o modelo Ronaldo gigante, o tamanho médio do Ronaldo da seleção de Portugal e naturalmente o modelo econômico, Ronaldinho. De econômico este nada tem, pois segundo revelado pela Revista Forbes, ele faturou o ano passado US$ 25 milhões.

Na verdade não é na copa que escrevo essa crônica sobre a Copa, mas assistindo na sala, a salada racial dessas seleções.

A copa com que os romanos comemoravam vitórias é também o lugar onde privilegiados que somos, podemos comer nossas refeições. E é na copa que podemos assim saborear a salada de culturas, das raças, da música e das cores e confraternização dos atletas de trinta e seis nações do mundo.

Os italianos famosos por serem os inventores da pizza se mostraram também vorazes comedores do chucrute alemão, das cozinhas africanas e da Tchecoslováquia e como não poderia deixar de ser, da famosa especialidade francesa, o Coq au Vin regado com um bom tinto italiano.



Réquiem para um mito

Lamento como não poderia deixar de o fazer, a derrota da França.

Pior do que a nossa derrota na Copa do Mundo de 1950 é essa derrota que se tornou na verdade, o Réquiem para um Mito.

“Réquiem aeternam don eis.” Em português, Daí lhes o repouso eterno – é a dura, dolorosa e traumatizando realidade que o povo francês enfrenta após a expulsão do seu ídolo.

Alguns órgãos da imprensa francesa no sábado chamaram a jogadora de tênis Mauresmo... a Rainha da Inglaterra. Francamente, rainha de Wimblenton ainda poderia ser. Depois de oitenta e um anos, pela primeira vez uma francesa conquistou esse título. Na técnica e na concentração. Porém foram esquecidas outras campeãs que ganharam não um, mas dois, três e quatro Wimblentons.

A imprensa francesa classifica Zidani o maior jogador de futebol de todos os tempos. Melhor que Platini, Backebauer, Maradona, Ronaldinho e nosso Rei Pelé.

Assim sendo vemos que um genuíno patriotismo pode extrapolar a lógica, os índices e a história. Mestre do “tico-tico - no fubá” com dribles desconcertantes, porém falta ao Mito, o coração de um Platini, a força de um Backanbauer, as arrancadas de um Maradona, os lançamentos em profundidade do Ronaldinho e os recursos, de todos esses, resumidos no talento do Rei Pelé, um eterno Planeta cercado de estrelas na constelação dos jogadores do mundo. Como sabemos as estrêlas desaparecem...

A agressão feita pelo Mito, a segunda mais grave falta nas regras do futebol, após uma agressão ao árbitro, sua recusa de cantar o Hino Nacional Francês e seu recorde de doze expulsões, sendo uma na Copa de 1988 e duas nessa Copa de 2006 mostra que o Mito tem um dossiê que mostrou o caráter frágil de um ser humano.

Escolheu para seu funeral, uma audiência de mais de 100 milhões de espectadores, anulando assim a mágica e inalienável imagem que ele deveria ter mantido para milhões de jovens e crianças da França.

Triste, com vídeo ou não, se o Mito não tivesse sido expulso e a França tivesse ganhado a Copa de 2006, milhões de esportistas o mundo estariam gritando “mutreta, foi tudo acertado pelos poderes econômicos.” Afinal é um finalista que chegou à final com o menor total de gols marcados, sendo que um legal; mas o do Brasil foi inexistente (Henri é que tropeçou na perna do jogador brasileiro e dois pênaltis por faltas dentro da área da seleção da Espanha que não foram dados.

Sendo assim... quem ganha nos pênaltis existentes (1) e nos dois que não foram acordados aos adversário deveria aprender também a perder nos pênaltis mal batidos, no caso do jôgo contra a Itália.

Politicamente, como o presidente Lula e o Presidente Chirac, ambos teriam se beneficiado em caso da vitória do Brasil ou da França nessa Copa de 2006 como seria o caso em qualquer país.

Nesta salada de interesses seria adicionar a cereja ao bolo da sobremesa onde ambos os políticos estão com índices de popularidade de mitos ou estrelas cadentes na constelação dos políticos desse mundo conturbado em que vivemos.


Coincidências e controvérsias

Nesse mundo de coincidências e controvérsias, os fatos se acumulam.

O grito de guerra dos franceses, ALLEZ LES BLEUS, deixou de ser lógico desde que eles jogaram de uniforme branco e quem dominou o terreno foi a equipe da Itália, toda em azul.

Premonição maldita: dois dias antes da final o técnico francês afirmou:

"O grupo viveu junto e morrerá junto". No comment...

A FIFA que nomeou o Mito, melhor jogador da Copa 2006, abrirá um inquérito sobre a agressão cometida por Zidani. No comment

Joel Conrado - França




FLUXO

Mediterrâneo
Nele encontro
Um ponto visível
Inapalpável,
Sorte, destino, darma, azar, karma
Que importância tem?
Basta a onda cobrir com espuma
O sentir, o saber, o ser
A certeza de haver
Um eterno bem-querer

Deborah Milgram




Um teste vexado

Estava entediado na hora do almoço. Silêncio total na redação quase deserta. Sonolento, lia os "Re" do grupo de discussões e brigas do Beco da Lama. Nenhuma adjacência. Somente as respostas rápidas sem muitas novidades e dezenas de fotos enviadas por Alex Gurgel. Mas eis que, de repente, chega um e-mail que prometia, com o título: "Testando para ver se chega".

Finalmente, não era um novo "Re", uma nova foto, um elogio velado. Era uma coisa nova. E o que poderia significar "Testando para ver se chega"? Um mote laeliano? Um teste suicida de um revólver amalucado? Uma poesia de Anton? Alguém bulindo na paciência de Dunga, o primeiro e único do Beco? Serrão querendo mudar a logomarca da Samba mais uma vez? O que poderia ser, meu Deus?

Preparei-me para abrir o e-mail. Será que eu devo? Devagar, apertei o 'enter'. Com tanto carinho que a mensagem foi vindo devagar, aos poucos, como aquelas chatíssimas mensagens com bonequinhos. Mas não foi assim: surgiu branquinha, branquinha, sem nada dentro.

Olhei estarrecido, como às vezes olho para algumas telas em branco, antes de botar pincel. Não tinha nada. Então, cheguei à conclusão que o narrador de "Chuva de Bala", que transformou a resistência heróica de Mossoró na “Terra de Lampião”, quereria mandar algum tipo de recado. Quem sabe, em código. Talvez, lançar, imprudentemente, ainda a dois anos e muita coisa do pleito da Sociedade dos Amigos do Beco da Lama e Adjacências, sua candidatura, como já fez da vez anterior, e teve apenas uns 10% dos votos válidos.

O que será que ele quis dizer com a brancura?

Parei de me concentrar. Um e-mail em branco pode significar muita coisa. A imaginação de Alex é fértil até demais, e ele poderia estar codificando algum tipo de desafio lúdico para a sua coleção de textos; para o seu blog e outros endereços.

Pois bem, caro avançado jornalista: aceitei seu desafio e respondo ao seu branco, aguardando que outros façam a mesma coisa das mais diversas formas possíveis, até com fescenismos.

Seu branco é meu branco, e tenho dito!

Leonardo Sodré




Resposta de Crys Tinoco
ao e-mail teste de Alex


Seu branco vai voltar recheado de preto.

Seu Alex: Isso é coisa que se faça?

O beco andando assim, assim... tão sem as poesias de Anton, tão sem palavras, com tantas imagens e poucas legendas.

Cadê aquela chuva de poesias, crônicas enaltecedoras, glosas provocadoras, declarações disfarçadas, brigas anunciadas?

Cadê todo mundo que parece que, de repente, ficou com preguiça de digitar coisas que saem do coração, dos lampejos da razão ou dos riscos e risos da alucinação?

Esse Beco anda quieto, sombrio, parece até que anda chovendo muito nele, e todos estão aproveitando a chuva para outras coisas menos coletivas.

Que pena...

Ou...

Que bom!

Depende do lado que você escolhe para ver.

Uma bela e aconchegante tarde de chuva para todos

Crys




Um rio nunca é o mesmo

Vejo um texto de Renato Sabbatini onde lembra uma das frases preciosas do confucionismo que diz que ao mergulhar nossas mãos duas vezes seguidas em um rio, nunca as estamos mergulhando no mesmo rio. Lembra, também, que Heráclito (o famoso filósofo grego) comungava dessa linha de pensamento que concebe a realidade como algo em fluxo contínuo de mudança.

O simbolismo evocado pelo rio e suas metáforas são alegorias perfeitas utilizadas em todas as épocas e culturas para representar o ciclo da vida humana. O homem e o seu desejo de saber-se.

É nesse tipo de divagação que me encontro nesse final de tarde, sol se pondo no horizonte do lago. O dia esteve abafado, calor escaldante, poeira grudando na pele. Agora venta forte e a natureza se agita. Sentada na área da velha casa observo três imensos plátanos que sacodem suas folhas de uma forma tão interessante que parecem tremer, trazendo-me à mente um dos poemas de Cecília Meireles, que diz: “o vento é o mesmo, mas a sua resposta é diferente, em cada folha”.

Na outra margem uma plantação em diversos tons de verde se perde no horizonte. Na linha do horizonte, mais à direita, o pôr-do-sol. E venta ainda. As árvores nervosas entregam folhas secas ao vento parecendo uma chuva dourada. Esse espetáculo da natureza dá um tom onírico à paisagem. Apuro o olhar para ver melhor o que ao parecer, se transforma: um cenário absolutamente incrível, de um sonho onde chovem folhas douradas num final de tarde róseo-violeta. Minha imaginação não conseguiria produzir uma cena tão linda. Só mesmo Garcia Márquez na sua mítica Macondo enquanto chovem flores amarelas...

Ao olhar demoradamente para as águas do lago pergunto a mim mesma se o lago também é rio. Acho que não, respondo, pois em sendo lago, não deve ser rio... E se for? Talvez seja um rio que foi impedido de chegar ao mar... Concluo que não sei nada sobre lagos, mas que a minha ignorância não impede que desfrute de sua beleza generosa. Um lago com pequenas e audazes ondas que ignoram força maior que essa.

Ondas que são a resposta do lago ao vento que de tão poderoso revolve as águas e nada, nada se assemelha a elas. Debate-se o lago movido pelo vento e estoura em pequeninas grandes ondas na margem barrenta. Ainda assim, são mansas ondas.

O lago é um rio que descansa? Também acho que não, pois no lago as águas cumprem seu destino de ser lago. Águas que não vão tornar-se mar – a não ser por alguma evaporação transmutada em gotas de chuva que não adivinhariam nunca de onde vieram... A natureza não precisa de definições, nós é que nos inquietamos.

Definir-se rio é saber-se mansidão de nascente, força adquirida no caminho, vigor acumulado, poderoso em sua foz. Definir-se rio é saber-se a caminho do mar para ser totalidade. É saber-se micro, uma partícula no seu destino de fundir-se ao macro para ser totalidade.

Nem sempre sou rio. Às vezes sou o rio que conduz o barco, às vezes o barco que navega nesse rio. Às vezes, navegante desse barco em rumo que acredita certo, outras vezes à deriva (“rimando, rimando, rimando, pra quem sabe um dia tocar as margens de sua doçura” – diz o poeta). Às vezes, sou a margem que contém o rio, e, às vezes, a água que transborda e feito louca vai à solta e perde o rumo e se perde no caminho.

Outras vezes, sou desse rio a água assustada com o próprio ritmo e que sem comportas se encaminha à corredeira. Às vezes sou a própria corredeira. A surpresa. O susto. O medo da queda. O prazer do risco. Êxtase de cascata transformada em branca espuma, gozo explodindo em bolha e bruma... (tudo é poesia?!)

Agora é quase noite e já parou o vento. Calmaria. A paz é tanta que eu poderia ser somente porto. Um porto talvez seja a parte mais generosa e amorosa de um rio, lago ou mar, pois que permite ao barco e ao navegante cumprirem o seu destino de sair e de chegar. Um porto não pergunta sobre destinos e vive a plenitude de acolher.

“Se um veleiro repousasse na palma da minha mão/ Sopraria com sentimento e deixaria seguir sempre rumo ao meu coração/Meu coração, como a calma de um mar/Que guarda tamanhos segredos/De versos naufragados e sem tempo (...).”

Neide de Camargo Dorneles

por Alma do Beco | 9:33 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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Praieira
(Serenata do Pescador)


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A imagem de fundo é do artista plástico e poeta Eduardo Alexandre©

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