sábado, agosto 29, 2009

O NOME DA GERINGONÇA

Moloq
Eduardo Alexandre


Mesa animada, ontem, em Nazaré, beco lembrando os bons
tempos de grande frequência, o assunto não girou em torno
do cartão vermelho dado por Suplicy a Sarney. Nem Dilma/
Lina chegaram a ser comentadas, como também não se
falou do superfaturamento da Petrobras na construção de
refinaria ou da decisão que livrou Palocci da quebra de
sigilo bancário do caseiro.

Bases militares norte-americanas na Colômbia? Nem pensar.
Isso não foi assunto naquela mesa, muito menos a presença
dos valorosos ABC e América na faixa de rebaixamento da
segundona.

O assunto era o trombolho plantado pela Urbana na via asfáltica
da Praia dos Artistas, para recolhimento de lixo.

Um assessor de trupe lepdóptera garantiu que a geringonça
tinha nome e sua origem terras desenvolvidas, escandinavas.

Plínio, que todo santo dia percorre toda a orla em sua magrela
de dez mil reais, disse que o bicho já tem a estrutura plástica
quebrada. Serrão profetizou que os sacos que serão colocados
para a coleta do lixo não aguentarão a falta de educação da
população, que os encherá de entulhos de construções, cocos e
cocôs.

Com a mão direita enfaixada, Sandrinha apenas esboçou um
tímido sorriso quando Plínio, olhando fixamente para Serrão,
vaticinou: o próximo ela acerta. Fiquei meio sem entender o
vaticínio porque Plínio não o desenhou, mas fiquei desconfiando
que fosse um gancho tipo Mike Tyson.

Claudinha só tinha palavras e convites para o lançamento de
seu novo livro, dia 10, no Miduei (ai de mim se eu não for ao
shopping). Quis nem saber do tal do Molok - garantiu Alex que
era assim que se escrevia o nome do trombolho, hoje presente
como símbolo de modernidade em dezenas de cidades verdes,
até Rio de Janeiro.

O fato é que outro assunto não empolgou becodalamenses ali
presentes. Nem mesmo a proibição de mesas e cadeiras em
calçadas de bares, coisa que no Beco parece não vai vogar e
é assunto em todos os botecos da cidade, do Gegê ao Azulão
de Dequinha, sem falar em Lourival, onde já tem até faixa
amarela pintada no chão, delimitando o espaço dos beberrões.

Não entendi bem porque, mas Plínio só chamava o Molok de
Bolok, não sei se aludindo a alguma forma de pedágio.

Pois bem, toda essa conversa só para dizer que a coisa,
que está a assustar as crianças da cidade e espalhar o boato
de que estamos sendo invadidos por UFOs, tem nome: Moloq
é o substantivo que designa a geringonça.

por Alma do Beco | 12:12 PM | | Ou aqui: 0




domingo, agosto 23, 2009

SANTA CRUZ

Marcus Ottoni


A Folha obteve há três semanas a informação sobre o encontro (Lina/Dilma) e o pedido.

Leonardo Souza e Andreza Matais, Folha de 9 de agosto 2009


[Baldo+antigamente.jpg]

Antoniel no rastro de Sesyom

Sua avó, puta de estrada
Sua mãe foi fêmea minha.
A sua raça é safada
Desde a quinta geração
Seu avô foi um cabrão
Sua avó, puta de estrada
Sua filha, amasiada
Prostituta uma netinha
Uma irmã que você tinha
Esta pariu de um criado
Seu pai foi corno chapado
Sua mãe foi fêmea minha.
(Moysés Sesyom)
Pense numa mulher fuleira
Tua mãe é minha boy!
És filho de chocadeira,
nasceste num cangerê,
tua irmã ganha michê
— pense numa mulher fuleira! —
a tia, puta rampeira,
só fode virando os zói,
teu pai é corno que dói,
a filha embuchou dum padre,
um viado é teu cumpadre,
tua mãe é minha boy!
(Antoniel Campos)



A Santa Cruz da Bica

Manoel Procópio de Moura Júnior, procurador, advogado e escritor


Lamentavelmente os jovens de hoje não tiveram a alegria e o sorriso espontâneo dos "flertes" acontecidos nas festas populares da cidade do Natal, particularmente, na festa realizada no dia 03 de maio, data em que se celebra a chantação da Santa Cruz da Bica, no Baldo, próximo ao prédio da Cosern.

Na década de 1950, sendo morador do bairro da Cidade Alta, inúmeras vezes passei por aquela relíquia sem me dar conta da sua importância histórica. A Santa Cruz da Bica tem sua gênese na fundação da cidade quando duas cruzes foram cravadas para demarcar os limites da Cidade do Natal.

Uma foi colocada no extremo norte, na ladeira que leva ao bairro da Ribeira, próximo ao prédio da Ordem dos Advogados do Brasil, secção do Rio Grande do Norte, na Rua Junqueira Alves, que à época ficou conhecida como Rua da Cruz. Depois, em março de 1888, a rua passou a se chamar Cons. João Alfredo, permanecendo até março de 1896, quando recebeu o nome Jun queira Aires que a identifica hoje.

A outra foi plantada no extremo sul, à margem do Rio Tiçuru, que deu de beber à cidade, no início do século, por isso também chamado Rio da Bica, hoje Rio do Baldo, ficando o assim demarcados os limites da cidade Noiva do Sol, como se referia Câmara Cascudo à Cidade do Natal.

A primeira cruz desapareceu com o tempo, a segunda fincada perto do rio do Baldo, foi posteriormente transferida para uma parte mais alta ficando, com o tempo, esquecida entre as árvores de um bosque. Na segunda metade do Século XIX, os irmãos Trajano, Lopo e Claudino de Melo, foram à colina cortar madeira para construção de casa, e encontraram a cruz escondida entre as árvores.

Os três irmãos, juntamente com vários conhecidos, a retiraram do local e a levaram para o espaço em que se encontra hoje. Na data de 03 de maio, alguns fiéis iniciaram um terço ao lado da cruz, mesmo sem a presença de um padre. A partir de sta iniciativa litúrgica a celebração passou a atrair muitos devotos, tornando-se uma festa popular.

Recordo-me daquele artefato histórico instalada na confluência das ruas Gonçalves Ledo, Voluntários da Pátria e Santo Antônio, ornado com fitas coloridas. Tive a alegria de participar de vários festejos onde após as preces ali realizadas, uma banda enchia o ambiente de musicalidade. A mocidade degustava guloseimas e exercitava namoricos, enquanto no céu se escutava o pipocar dos fogos de artifícios.

Naquela época, residiam nas vizinhanças daquele patrimônio cultural as famílias de Luiz Marcelino, Sergio Santiago com suas filhas Zélia e Lélia, Luiz Tavares, Dona Urcy e seus filhos, Odúlio, Maneco, "Cabo Zé", Carlinhos e Luciene (esta casada com João Medeiros Neto), todos sempre presentes nas festividades da Santa Cruz da Bica já que os moradores daquele quarteirão e adjacências participavam efetivamente das manifestações ali rea lizadas.

Algumas autoridades municipais tentaram preservar aquele monumento, no entanto, as intempéries do tempo acabaram por destruir aquela relíquia histórica, existindo nos dias de hoje, na pequena praça ali erigida, um cruzeiro que guarda alguns fragmentos da peça original.

Esta situação fez com que as manifestações populares daquele logradouro fossem gradativamente ficando no esquecimento, no entanto, aquele relicário, nunca deixará de ter a sua importância para a Cidade do Natal, porque em qualquer tempo, por mais incúria que exista, a Santa Cruz da Bica é um pedaço da história da Cidade do Natal.



Ficção

Leonardo Sodré

Jornalista

Ele acordou diferente. Estava com o rosto calmo, tranqüilo como ela nunca viu antes em décadas de convivência. Durante anos trabalharam muito para alcançar o poder maior da República e ele enfrentava desafios diários que o deixavam cada vez mais irritado e envelhecido. Ela pensou: como é difícil ter poder...

- Sabe amor – ele disse -, ontem tive um sonho que parecia realidade. Conversei com um anjo que me cobrou uma tal de isenção no caso da funcionária da Receita Federal que informou ter a ministra pedido que fosse apressado o caso da investigação do filho daquele senador.

- Foi mesmo? O que o anjo pediu?

- Ele pediu que eu investigasse a questão e colocasse tudo em pratos limpos. Segundo ele, se eu fizer isso volto a ser visto como o um homem acima de qualquer suspeita, como há muitos anos, quando comecei a querer ter o mandato máximo da Nação. Ele disse que se eu fizer isso, dou uma guinada de 360° e passo a ser admirado no mundo inteiro... Vou embora tomar as providências recomendadas pelo embaixador do Céu. E saiu apressado para embarcar no helicóptero.

Quando chegou ao seu gabinete, no 4º andar do palácio que o acolhia, mandou chamar o melhor agente da Polícia Federal do país, sem mesmo consultar o seu ministro de justiça. Não queria ouvir conselhos de ninguém. Para ele, que chamou a atenção de todos os funcionários pela expressão bondosa e platina do rosto, bastava apenas ter no coração o conselho do anjo.

Quando o agente chegou ele traçou em poucas linhas, diante de apenas uma secretária o que desejava:

- Assista às fitas de segurança dos últimos três meses do ano de 2008, verifique a placa do carro que trouxe a funcionária, bem como o modelo, nome do motorista e hora em que foi requisitado, mande verificar na agenda da ministra nomes de casais que vieram ter alguma audiência com ela – a funcionária da Receita disse que ficou na ante-sala com um casal -, interrogue a secretária da ministra, que segundo a funcionária foi quem a recepcionou e verifique, também, nas filmagens de segurança, os dias em que a ministra veio trabalhar de xale, pegue o depoimento do encarregado do estacionamento dos fundos do palácio, enfim, faça uma investigação completa para descobrir se a funcionária esteve mesmo com a ministra.

Ah! E veja também se o senador, parente ou algum assessor dele esteve aqui para falar com a ministra...

A secretária que estava ao lado dele fazendo anotações suava e mostrava toda a palidez de uma surpresa sem fim. O agente da Lei procurava manter-se rijo, como todo agente deve ser, mas por dentro um turbilhão de pensamentos o corroia. Era admirador do mandatário e via na sua ação uma iniciativa de estadista que iria mudar o rumo do país e consolida-lo como homem probo. Nunca imaginou que ela estava sendo alvo da misericórdia de Deus.

Quando todos saíram, os cochichos pelos corredores e gabinetes do palácio eram muitos. Não demorou e a notícia vazou para toda a cidade e, em minutos, para todo o país. Jornalistas e caminhões transmissores de TV ao vivo já estavam, em poucos minutos, diante do palácio esperando a oportunidade de falar com ele, enquanto as principais emissoras davam detalhes da reunião com o agente da Lei.

Ele continuava tranqüilo, sozinho no gabinete e refletindo sobre as providências que havia tomado sem dar a mínima atenção a alguns documentos que aguardavam para receber a sua assinatura e a uma reunião que teria com alguns ministros, que já estava atrasada. Coçava a barba enquanto pensava na intervenção divina, naquela luz que o envolveu e que entrou por todo o seu ser. O interfone toca. Era um dos médicos do palácio, daqueles que privam de sua amizade:

- Senhor, a sua secretária disse que o senhor poderia estar com febre alta e delirando...

O médico se surpreendeu com a calma do chefe maior, quando respondeu, sorrindo:

- O senhor chegou tarde doutor, eu já estou curado.

por Alma do Beco | 9:23 AM | | Ou aqui: 0




sexta-feira, agosto 07, 2009

BURACO SEM BEIRA


A Falta de meu pai
Clara de Goes


Não sinto falta de meu pai.

Sentiria se ele tivesse partido ou se ausentado. Se tivesse ido para sempre.

A eternidade o abraçaria e eu o perderia para Deus, se Deus houvesse, “meu parceiro”, como ele chamava a essa figura implacável, a quem ele tratava sem nenhuma cerimônia.
Não sinto falta de meu pai e, certamente, sentiria se ele não estivesse mais comigo. Eu o teria perdido para Deus, se Deus houvesse, pois ele era um amor antigo de meu pai, criado na infância, desses amores que a gente carrega inventando pela vida afora.
Então, eu não sinto falta de meu pai e o escuto dizer: “minha filha, você pulou um abismo”. Ou, “minha filha, você tem a vocação do abismo”.

O abismo é a falta que eu não sinto de meu pai. A falta que ele faria se tivesse partido, viajado, se ausentado.
(Como é que eu posso sentir falta dele se, no fulgor do meio-dia, ele me sopra a brisa da tarde de Natal, quando o vento vira, quando seu olhar semeia verdes à minha volta e repousa sobre mim. E, de noite, me toca o ombro com um arrepio de frio; e eu durmo, e sei que é ele, e acordo e é ele, e penso nele e, cartesianamente, me certifico da existência viva dele).
Meu pai.
Meu pai se foi várias vezes e aí eu senti sua falta. Uma vez, propriamente, não foi, levaram.

Eu o visitava na prisão e, aí, a falta era calada, envergonhada. Minha mãe, acuada, dizia: “Se chorar, não vai”. E eu ficava concentrada em não chorar.

Depois, ele viajou, fugindo de prometidas prisões. Dessa vez, a falta fez escrita: eu lhe entreguei um bilhete que ele carregou por quase 40 anos. Guardou até que o papel se desfizesse. Depois, o substituiu por um retrato. Eu, já mulher feita, e ele andando com meu retrato na carteira.

Tínhamos um amor, uma espécie de amor, desses tantos que andam por aí.
Recentemente, meu pai foi hospitalizado. Fez uma cirurgia para retirar um câncer e a bexiga foi junto.

Voltou ao quarto com as mãos amarradas porque tinha se insurgido no CTI contra o que chamou de “cárcere privado”.

Nem nocauteado pela anestesia aceitava restrições ao que chamava seu “direito constitucional de ir e vir”.

Era assim, o meu pai. Tiveram que amarrar o homem, justificava o enfermeiro. “Ele arrancava tudo”, ficava repetindo. Boi brabo, podia virar meu pai.

Chegou desacordado e ficou na penumbra. Eu olhei para ele e meu olhar se demorou. Percebia que meu amor por ele era absolutamente incondicional. Eu pensei: ele pode fazer qualquer coisa, da mais condenável à mais louvável, que eu vou amá-lo do mesmo jeito. Meu amor por ele é incondicional.

Depois, ele saiu do hospital mas não da doença.

Foram quase 3 anos... eu pude mimá-lo, levar empadinhas para ele, queijo do reino, pastéis; chamar para sair, ir ao teatro... e ele, já muito fraco, dizia: “eu vou, porque é você”.

É assim, o meu pai: inteiramente sedutor... Comprava vinho com uma jovem que o encantava. Tomava a bebida no copo certo, cheio de delicadezas... Até os mendigos perguntavam por ele e gritavam do fundo de suas locas: “estou rezando por ele”. “Como vai Seu Moacyr?”
Meu pai.

Como se pode ver, para mim, meu pai é de domínio privado. Sua vida pública, vida de homem público, sua ação política, sua prática de educador e escritor, deixo ao público.

Meu pai, para mim, é uma intimidade não compartilhável.
Na última internação, já entre o delírio e a realidade (que ele tanto prezava), dizia: “Vamos embora. Chama Clara.”

Como se eu pudesse tirá-lo dali, daquele mar de agulhas, tomá-lo pela mão e, simplesmente, sair.

De outra feita, já em casa, entrei no quarto e a enfermeira procurava uma veia, uma última veia... Ele me viu, abriu os braços como um Cristo, e disse: “Minha filha, eu não posso mais”. Era assim, o nosso amor: cheio de impossíveis.

Na ambulância, me agarrei com ele quando vi o olhar assustado pelas curvas que o motorista fazia. Agarrei-me àquele corpo que partia, este sim, a olhos vistos. Em um dos últimos dias, cheguei e ele estava só. Não tinha posição possível, nem de pé, nem deitado, nem sentado.

Ficamos, os dois, na diagonal. Sua cabeça encostada na minha, enquanto eu agüentei.

Depois, caí no choro.

Ele me olhou muito sério e disse: “não se preocupe”. Não fique assim, não”.

Eu lhe respondi: “mas, pai, eu sou chorona”.

Ele ficou mais sério ainda e repetiu; “Não se preocupe”.
Eu lhe obedeço.

Depois disso, perdeu-se em mim: entrou-me pelos olhos, narinas, tato e memória. Estou impregnada de meu pai.

Sua falta seria um abismo intransponível: buraco sem beira.

“Minha filha, você pulou um abismo.”

É, pai: Eu não sinto a sua falta.

por Alma do Beco | 8:13 AM | | Ou aqui: 0


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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