domingo, dezembro 31, 2006

VISITE A FORTALEZA

Marcus Ottoni


"A Justiça, em nome do povo, cumpriu a sentença de morte contra o criminoso Saddam, que enfrentou seu destino como todos os tiranos, amedrontado e assustado durante um dia duro que ele não esperava."
Nouri Maliki, primeiro-ministro do Iraque




Vá ao Forte

Vai valer a pena andar um pouquinho entre a cidade e o rio para uma visita à Fortaleza dos Reis Magos.

O Monumento da barra do Potengi vai receber uma exposição permanente contando muitas das suas histórias.

Jerônimo de Albuquerque, Felipe Camarão e André de Albuquerque ganharão representação em manequins cenográficos; achados arqueológicos serão mostrados.

Exposição
FORTALEZA DOS REIS MAGOS: MARCO NA VIDA POTIGUAR

Abertura:
5 de janeiro de 2007
9:00 horas
Fortaleza dos Reis Magos



FORTALEZA DOS REIS MAGOS


Em frente o mar, fervendo e espumando de ira,
Na nevrose do ódio, em convulsões rouqueja
E contra a Fortaleza imprecações atira
E blasfema e maldiz e ameaça e pragueja.
Todo ele se baba. E se arqueja e delira,
Na fervente paixão de vencê-la. . . Peleja.
Ergue o dorso e se empina e se estorva e conspira
E cai, magoando os pés daquela que deseja.
A Fortaleza altiva, agarrada às raízes,
Nem parece sentir as fundas cicatrizes,
Dos golpes com que o mar o seu corpo tortura.
Evocando o passado, avista as sentinelas,
No cruzeiro do sul a cruz das caravelas
E as flechas de Poti rasgando a noite escura.


Palmyra Wanderley

por Alma do Beco | 6:39 AM | | Ou aqui: 0




domingo, dezembro 17, 2006

ISAURA E A FJA

Marcus Ottoni



"Independente da minha continuidade ou não no cargo, há uma necessidade, por causa do turismo no estado, de se organizar circuitos culturais para o turista."
Isaura Amélia de Sousa Rosado Maia














José Augusto

Orf
Isaura e Dunga, no Center Onze - 2004

Entrevista - Isaura Rosado
O Poti, 17.12.2006

Dias contados para 2007 chegar e nesse período algumas palavras se tornam quase que obrigatórias, como: balanço e projetos para o futuro. Olhar para o ano que está acabando e conseguir identificar os erros e acertos, para que eles possam servir de exemplo para os novos 365 dias que estão por vir.

Nessa entrevista exclusiva com a atual presidente da Fundação José Augusto, Isaura Amélia Rosado, ela falou sobre as suas realizações ao longo de quase sete meses no cargo, como a documentação do patrimônio cultural potiguar que realizou o levantamento de quase quatro mil itens do patrimônio arquitetônico, móvel, museológico, de artes visuais, imaterial e sacro. Este projeto ela considera um de seus maiores feitos, ao lado do retorno do Coral Canto do Povo que está entre os melhores do país, sob a batuta do Padre Pedro.

A presidente falou ainda da sua gestão que foi iniciada após toda a turbulência causada pelo Foliaduto, comentou as dificuldades e fez um balanço de suas realizações. Apesar de ter afirmado que a governadora Wilma de Faria não se pronunciou sobre a sua permanência ou não no cargo para a próxima gestão, Isaura pontuou alguns projetos que são prioridades para os próximos quatro anos.

“A Fundação José Augusto teve vitórias em 2006”

O Poti - A senhora está na presidência da Fundação José Augusto há pouco mais de seis meses. Quando assumiu o cargo a instituição atravessava o problema do Foliaduto, como a senhora encontrou a Fundação naquele momento?

Isaura Rosado- Nós encontramos algumas dificuldades, mas que foram todas entregues a suas instâncias e devidas competências. As dificuldades estão sendo acompanhadas por doutor Jorge Galvão que está, por determinação da governadora, acompanhando todo esse processo na justiça. E na verdade eu fui tomar conta da parte administrativa e da parte cultural da Fundação.

O Poti - Naquele momento como foi entregue a senhora a parte administrativa e cultural?

Isaura Rosado - A Fundação José Augusto foi criada como uma estrutura para agilizar as ações que a administração direta não tinha condições de resolver com prontidão. Então ela não tem na história dela uma cultura de rigor processual dentro da instituição, e, com os acontecimentos nós precisamos assumir os caminhos da administração direta. Então nós tivemos que passar todas as nossas contas, todas os nossos processos, todos os pagamentos tanto para a Controladoria quanto para a Procuradoria. Isso refletiu numa certa morosidade nas ações da Fundação José Augusto na parte administrativa.

O Poti - Essa morosidade causou alguma interferência na parte cultural?


Isaura Rosado - Não acho que atrapalhou não, mas acho que a gente teve que cuidar um pouco disso, porque administrativamente a Fundação estava precisando desse cuidado. Mas isso está absolutamente superado.

O Poti - Quais as suas conquistas na área cultural?

Isaura Rosado - Nós tivemos alguns vitórias como o retorno do Coral Canto do Povo que está com 70 vozes. Considero também importante que nós estamos publicando o inventário Catálogo das Artes Visuais Pertencentes ao Governo do RN. A gente encontrou mil obras na administração direta e indireta, nós localizamos, fotografamos e descrevemos tecnicamente. Isso é importante porque significa a responsabilização dos gestores públicos pelas obras de arte do Governo do Estado. Tivemos o cuidado de incluir no catálogo, que será lançado até o fim do mês, todas as pessoas que doaram obras para a Pinacoteca. Posteriormente acho que vamos fazer um trabalho de análise desse acervo. Nós também estamos concluindo um projeto que se chama Patrimônio Cultural, que nos permitiu fazer todo o inventário de todo o patrimônio cultural potiguar em diversas áreas, como os aspectos arquitetônicos, museológicos, nas artes visuais, no patrimônio imaterial e no patrimônio sacro. Esse projeto será concluído até o final do mês, quando lançaremos as plaquetes e isso também será disponibilizados em banco de dados.

Vamos fazer ainda este ano a exposição histórica sobre a Fortaleza dos Reis Magos, que vai contar a história do Forte. Fizemos ainda os Seminários de Documentação Bom Dia, entregamos equipamentos elétricos e eletrônicos para os museus do Governo do Estado. Esses equipamentos já contém tudo catalogado que existe no acervo desses museus. Estruturalmente os museus estão organizados, o que fica faltando para o próximo ano é uma melhoria da condição das exposições que não deu para fazer agora. Nós assinamos um convênio com o Sebrae que vai nos passar R$ 100 mil para o início de um novo ciclo das Casas de Cultura. Fizemos o Encontro de Dramaturgos do Nordeste, a sexta edição do Prêmio Luis Carlos Guimarães, publicamos dois números da revista Preá, inauguramos sete Casas de Cultura, realizamos mais de 40 licitações pela Fundação e licitamos novas Casas de Cultura. No período natalino o coral Harmus vai se apresentar todos os dias em frente ao Teatro Alberto Maranhão, a partir do dia 20, na Árvore Encanto de Natal que tem dimensões muito amplas. Estamos fazendo ainda o Presente de Natal que começa no dia 20.

O Poti - Como está atualmente o acervo dos Museus vinculados à Fundação? Durante sua gestão houve alguma melhoria?

Isaura Rosado - Na Pinacoteca houve uma melhoria. Foi tudo higienizado, as molduras foram trocadas e todo o acervo está em boas condições. A estrutura interna está bem, externa não, mas foi uma decisão minha não fazer essa melhoria por causa da possibilidade do Presente de Natal ir para lá. O Presente deixa um desgaste muito grande no prédio, por ter que utilizar muita iluminação.

No Forte dos Reis Magos foi feita a reforma, ainda na época de François (Silvestre - seu antecessor na presidência da Fundação), nós vamos entrar com ambientação, novos móveis, colocando para funcionar os quiosques, ministrando cursos para aqueles que irão trabalhar nos quiosques e vamos informatizar a bilheteria. O Memorial Câmara Cascudo funciona bem, o acervo pertence a própria família de Cascudo. No Café Filho foi realizada a documentação do acervo, mas precisa de uma outra exposição assim como o Museu de Arte Sacra.

Existe pouco interesse dos natalenses em conhecer e visitar esse nosso acervo museológico. Assim como, poucos turistas sabem da existência desses nossos valores, existe algum projeto para mudar essa realidade?

Independente da minha continuidade ou não no cargo, há uma necessidade, por causa do turismo no estado, de se organizar circuitos culturais para o turista. E nesses circuitos os museus têm que estar incluídos, pois fazem parte da nossa história. Assim os museus estarão também preparados para receber os natalenses. Precisamos fazer programações culturais para os museus.

A criação das Casas de Cultura foi um projeto que terminou por mobilizar o interior do estado, descentralizou a cultura que estava, em grande parte, voltada para a capital e deu uma estrutura para que aqueles que fazem arte no interior tivessem um espaço e uma maior possibilidade de continuar o seu fazer artístico. Mas por outro lado, alguns dirigentes ou a própria comunidade dessas cidades vem mostrando um pequeno, ou inexistente, poder de mobilização, para a utilização desses espaços e até para a promoção da cultura nesses locais. A Fundação tem algum projeto ou idéia para estimular esse pessoal e impedir que algumas Casas de Culturais percam a sua função?

A governadora já me disse que quer na próxima gestão que a gente invista maciçamente na mobilização cultural a partir das Casas de Cultura. Esse convênio que a gente assinou com o Sebrae já é indicativo, é norteador do que nós vamos fazer, como: ministrar cursos de pintura, de desenho, de gravura, de dança, de direção de teatro. Nós vamos começar a abraçar essas manifestações nos locais das Casas de Cultura. Por outro lado nós vamos organizar os circuitos culturais intermunicipais, estimulando que os talentos potiguares circulem pelas Cassa de Cultura, para isso vamos precisar do apoio das prefeituras. Entre concluídas, e em conclusão, nós temos 45 Casas de Cultura que cobrem 75% da população do Rio Grande do Norte. Mas a governadora ainda quer fazer algumas. Dessas, sete foram inauguradas na minha administração, tem uma pronta em Janduís e talvez este ano a gente ainda conclua mais duas.

O Poti - A revista Preá teve uma grande importância na interiorização e documentação da cultura potiguar. Essa publicação terá espaço na próxima gestão?

Isaura Rosado - Ela continua sim. Já continuou, tem um número que foi lançado em julho, um concluído que será lançado até o fim do mês e ficaram faltando dois números que já estão prontos e licitados, no começo do ano eles devem circular.

O Poti - Com relação ao projeto Seis & Meia corre uma informação de que a Fundação, por causa de entraves burocráticos da máquina, estaria devendo passagens aéreas, a agência de turismo e inclusive alguns cachês de artistas nacionais. Isso é verdade? Como fica a situação do projeto para o próximo ano?


Isaura Rosado - O Seis & Meia tinha o financiamento de uma grande empresa e esse financiamento foi subtraído. Então o projeto ficou durante esse período bancado pelo próprio Governo, não teve apoio sequer do Governo através da lei de cultura. Então eu já conversei com o secretário da Administração para a gente procure algumas firmas, dessas grandes firmas que prestam serviços ao Governo, para ver se a gente encaixa o Seis & Meia dentro de uma linha de financiamento que pode até ser através da Lei Câmara Cascudo, mas que a gente tenha mais autoridade na execução.

O Poti - Diante disso, o Seis & Meia continua?

Isaura Rosado - Continua, ele já é patrimônio nosso.

O Poti - Qual o espaço que a cultura popular terá no próximo governo?

Vai ser talvez o carro chefe. A governadora tem me pedido, e eu lamento não ter feito ainda porque a burocracia efetivamente nos reduz um pouco, é a Estação de Cultura Popular que vai funcionar na Esplanada Silva Jardim, no antigo prédio da estação de trem. Vai ter um Museu de Cultura Popular, lojas de artistas, exposições temporárias, restaurante. O folclorista Deífilo Gurgel é o nosso consultor nesse projeto e a nossa intenção é também adquirir a biblioteca dele.

O Poti - O Foliaduto deixou algum entrave, algum problema que prejudicou a sua administração?

Isaura Rosado - Os olhos sobre a Fundação José Augusto ficaram muito mais abertos, muito mais zelosos, muito mais cuidadosos. O que é bom para a Fundação e é bom para o período em que eu estou lá. Isso na realidade significa um pouco mais de morosidade. O Governo já anda num passo mais lento e algumas coisas se perderam, como é o caso da Estação de Cultura Popular, que eu não tive agilidade e nem tempo para isso. Esse olho maior sobre a Fundação ajuda e não prejudica, pois as coisas acontecem com mais correção.

Karl LeiteIsaura é singnatária do livro de filiações da Samba. Aqui, com dona Nazaré, depois do carneirinho do almoço.

O Poti - A governadora chegou a dar algum sinal sobre a sua continuidade ou não a frente da Fundação?

Isaura Rosado - Não. Ela nem está conversando muito sobre isso. Se tiver a oportunidade de continuar colaborando vai ser muito bom para mim, pois sei o que precisa ser feito na cultura e gostaria de fazer. Mas não tenho sinalização e estou pronta para servir a ela na Fundação, na minha casa e em qualquer outro lugar como sempre fiz.

O Poti - Se a senhora continuar, o que deseja para a cultura do Estado em 2007?


Isaura Rosado - A governadora já me disse que quer fazer, nos próximos quatro anos, uma revolução cultural no Estado utilizando as Casas de Cultura como epicentro, sem descuidar a capital, onde iremos nos voltar para os eventos de folclore, o Natal em Natal, melhorar os museus para servir de atividade pedagógica, cultural e turística e outras coisas como republicar a obra completa de Oswaldo Lamartine e Othoniel Menezes, que já está em andamento. A casa ao lado do Teatro Alberto Maranhão nós recebemos da UFRN e lá vai funcionar o Liceu das Artes de Natal, onde ficarão todas as escolas de arte e vamos criar o Liceu das Artes de Mossoró. Vamos ainda criar o Memorial Chico Antônio, em Pedro Velho, na casa que foi dele. Ainda temos a construção de um novo teatro na Romualdo Galvão e do complexo cultural na Zona Norte. Temos muitos caminhos.

O Poti - Como a senhora avalia a sua administração?

Isaura Rosado - Acho que dei uma contribuição muito significativa na questão da memória. Talvez tenha sido a mais importante, não por ser melhor que as outras áreas, mas por ser a mais esquecida da Fundação. Uma crítica que me faço é por não ter tido tempo de trabalhar a questão da Biblioteca Câmara Cascudo, apesar de ter trazido para o Rio Grande Norte 16 novas bibliotecas através do programa do Governo Federal que eu coordenei. Mas a biblioteca precisa de um tratamento melhor e maior.

por Alma do Beco | 8:47 PM | | Ou aqui: 0




quinta-feira, dezembro 14, 2006

UM TEXTO DE ELOY

Marcus Ottoni


"Na última reunião da sociedade Agro-pecuária esse técnico debateu, mais uma vez, o problema da mortalidade infantil em Natal, não com divagações de quem quisesse encher o tempo e sim à luz de uma documentação que impressionou aos ouvintes, muitos dos quais concluíram suas afirmações e as deduções a que elas o conduziram."
Eloy de Souza

Casa 566 da Rua da Palha

ENCONTRO

Quero o encontro dos cálices guardados,
berimbar capoeira ouvindo jazz,
em degraus ver os rostos, mil quadrados,
a fumaça de azuis, chopp e pastéis.

Ter poemas a troco de uns trocados,
nesse A4 eu dizer o que me és,
ver em curvas e retas teus riscados,
mas guardar, dessa vez, esses papéis.

Quero inícios com fins mais demorados,
quero o beijo na boca e nos teus pés.

Antoniel Campos



A BABUGEM E O LEITE
Eloy de Souza


O Dr. Valério Konder conquistou as simpatias de todos os homens inteligentes que se interessam pelos problemas de saúde pública em nossa terra. Dá gosto conversar com esse jovem sanitarista. Sua inteligência é ágil e vivaz, e sua cultura realmente sólida, emancipou-o de sectarismo, o que revela de sua parte o desejo sincero de estudar o nosso meio, através, não só de suas próprias observações, mas se informando e conversando para que as suas conclusões sejam, tanto quanto possível, seguras e fundadas na realidade dos fatos.

Tratar com um homem dessa escola e feitio é um prazer, de cuja oportunidade sempre nos aproveitaremos.

Na última reunião da sociedade Agro-pecuária esse técnico debateu, mais uma vez, o problema da mortalidade infantil em Natal, não com divagações de quem quisesse encher o tempo e sim à luz de uma documentação que impressionou aos ouvintes, muitos dos quais concluíram suas afirmações e as deduções a que elas o conduziram.

O ponto capital do debate versa sobre a elevação da curva de mortalidade de zero a dois anos, nos primeiros meses do nosso inverno. A pastagem nova dessa estação, denominada entre nós babugem, alterando a constituição do leite, seria responsável pelos distúrbios alimentares determinantes do aumento da mortalidade infantil.

Aqui estamos para trazer ao douto sanitarista a nossa opinião e em torno dela comentários que presumimos esclarecê-la.

Fomos os primeiros, na imprensa local, a atribuir a influência nociva da babugem na composição do leite. Sustentamos naquela ocasião com o atrevimento do leigo, que esse fator era o único a influir para as perturbações gastrintestinais, causadoras dessa ceifa periódica da infância natalense.

Não se tratava, porém, no caso, de uma intuição de que pretendêssemos ter o privilégio. Muito ao contrário disto, não éramos senão repetidores de uma convicção generalizada entre os sertanejos, os quais sustentam que o leite da babugem ofende indistintamente aos adultos e às crianças.

Bem ou mal, essa convicção provém da disenteria que nessa primeira fase de pastagem acomete aos bovinos em geral e principalmente aos bezerros, nos quais o curso (a expressão é até clássica) se manifesta com muito mais violência, dando, por vezes, às fezes, o aspecto de câmaras de sangue.

Posteriormente, de observação em observação, modificamos o nosso primitivo modo de pensar, tão exclusivo e dogmático, por várias razões, que supomos concludentes, e entre as quais examinaremos as que se seguem. Em primeiro lugar o efeito do capim novo como purgativo dos bovinos, não vai além de uma quinzena; e seria então errado prolongar esse prazo por três e quatro meses, para emprestar a esse estado passageiro das vacas, o malefício determinante de uma mortalidade infantil mais elevada.

Em segundo lugar, a nossa curiosidade para melhor elucidação do fato, levou-nos a visitar, há muitos anos passados, as habitações da gente pobre, em diferentes bairros da cidade, no começo das chuvas. Verificamos, então, que essas casas eram na sua quase totalidade, desprovidas de teto protetor dos aguaceiros, dando assim lugar a que verdadeiros chuveiros trouxessem o chão saturado de umidade, chuveiros estes que muitas vezes atingiam as redes onde aos pares, pernoitavam as criancinhas, filhas da gente pobre.

É verdade que o grande coeficiente de mortalidade por doenças do aparelho digestivo, consta do obituário. É porém muito para ser ponderada a circunstância de na generalidade faltar assistência médica a esses doentinhos. Como a causa mais constante de mortalidade são tais distúrbios, o médico, por via de regra, que atesta o óbito, cinge-se a essa causa, ficando assim suprimida a mortalidade por moléstias do aparelho respiratório e outras.

Além do fato que assinalamos em relação à umidade das casas, bastaria, por si só, a influência da mudança da estação para ocasionar resfriamentos graves e até influir para que a fermentação do leite se fizesse mais rapidamente pelo calor úmido próprio dessa época.

Falamos em leite por hipótese, pois a regra é a alimentação pelos farináceos, logo que o leite materno escasseia ou acaba. Acresce que não é fácil lidar com aquele alimento, pois não há talvez exagero em afirmar ser o leite um verdadeiro caldo de cultura, pois sabidamente das substâncias orgânicas ele é uma das mais fermenticíveis.

O assunto é, assim, no seu desdobramento, dos mais interessantes e a sua elucidação terá de ser feita simultaneamente pela bacteriologia e pela constância dos fatos a observar. Assim por exemplo segundo já temos por mais de uma vez ouvido do ilustre higienista e pediatra Dr. Varella Santiago, todas as crianças que recebem leite do Instituto de Proteção à Infância não morrem de moléstias do aparelho digestivo. Não acrescentamos a essa afirmação a de qualquer que seja a estação em que seja feito esse suprimento de leite, porque o leite ali distribuído não é o da produção natural e sim condensado.

Há, porém, um fato que convém registrar pela sua alta significação. Na Escola Doméstica há, como se sabe, uma secção de puericultura, na qual estagiam algumas crianças de pessoas pobres, para instrução das alunas. Essas crianças são nutridas na mamadeira com leite de vaca e passam admiravelmente bem durante o tempo que ali permanecem, sem apresentarem distúrbios alimentares.

Tem-se verificado, entretanto, que muitas dessas criancinhas quando deixam a Escola adoecem e morrem. Houve um ano em que as que para ali entraram, em número de cinco, e dali saíram em magnífico estado de saúde e nutrição, morreram todas no curto espaço de dois meses.

Se não fora sabermos que o Dr. Valério Konder não está aqui senão para observar e informar-se com verdadeiro espírito científico e certamente não escreveríamos à margem da sua erudita preleção acima referida, esses comentários de um leigo que tem o maior prazer em render homenagem à sua inteligência e cultura.

Desta vez é de esperar que da discussão venha a nascer a luz, o que sempre sucede quando há sinceridade e boa fé. O jovem sanitarista, apenas recém-chegado, já deu provas sobejas de que aqui veio para realizar alguma coisa proveitosa à saúde coletiva. Não é para outro fim que está agitando vários problemas, alguns deles até inéditos para nós, como se dá em relação a um inquérito alimentar na nossa população urbana e rural.

Não precisamos acrescentar mais uma vez que conta com a nossa boa vontade como colaboradores de iniciativas tão úteis.

  • Blog Eloy de Souza


  • OBS:
    Este texto faz parte do álbum de recortes de jornais pertencentes a Eloy de Souza.
    Não informa a data e local de sua publicação.

    por Alma do Beco | 5:57 AM | | Ou aqui: 0




    terça-feira, dezembro 12, 2006

    ELOY DE SOUZA

    Marcus Ottoni


    "Um dia, 20 de maio de 1956, Eloy de Souza começou a escrever. Fui seu datilógrafo nas primeiras 180 páginas, colaborando nas datas e pormenores nominativos."
    Luís da Câmara Cascudo


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    MEMÓRIAS DE UM VELHO

    Eloy de Souza nasceu em 1873 e bacharelou-se em Ciências Sociais na turma de 1894, no Recife.

    Pedro Velho não permitira que tivesse o curso completo. Fizera-o chefe político, delegado de polícia em Macaíba.

    Na eleição de novembro de 1894 Eloy saiu Deputado Estadual, “leader” do Governo.

    Desincumbiu-se perfeitamente. Era a unanimidade mas os interesses administrativos gerais colidiam, às vezes, com os particulares, necessitando ladear, desviar, convencer.

    Pedro Velho prometeu-lhe a Deputação Federal mas foi obrigado a eleger Amaro Cavalcanti ex- Senador na Constituinte de 1891.

    A estrela velava por Eloy de Souza. Prudente de Moraes convidou Amaro Cavalcanti para Ministro da Justiça e este aceitou. Renunciou à deputação em Janeiro de 1897. Em Junho, Eloy de Souza era Deputado Federal. Tinha 24 anos de idade...

    Ficou na Câmara dos Deputados até 1914 quando, em março, passou para o Senado da República. Em Janeiro de 1927 renunciou, para acomodação distribuitiva dos chefes de savindos.

    Voltou à Câmara dos Deputados em 1927, décima terceira legislatura e aí se encontrava em outubro de 1930 quando a Revolução dissolveu o Legislativo.

    Ainda em outubro de 1935 foi eleito Senador pela Assembléia Constituinte do Rio Grande do Norte. Mandato, até 1942 mas Getúlio Vargas, fundou o Estado Novo e Eloy de Souza encerrou sua carreira parlamentar, novembro de 1937.

    Ficara na Câmara e no Senado de 1897 a 1930 e ainda 1935 a 1937. Toda a história política da primeira república passara ao alcance dos seus olhos e muitas vezes com sua participação, conhecimento, colaboração de Prudente de Moraes e Getúlio Vargas, vira todos os Chefes de Estado, as batalhas e as escaramuças partidárias.

    Privara com os grandes Jornalistas brasileiros, os poetas, os romancistas, os historiadores, os cronistas.

    Capistrano de Abreu alude sempre a Eloy de Souza com simpatia, ato consagratório para a feroz independência do historiador.

    Quer no pequeno mundo norte-rio-grandense, quer na política nacional, Eloy de Souza foi uma testemunha e mesmo um ator.

    Jornalista, economista, conversador magnífico. Viajou pela Europa. Viu a Grécia e o Egito, estudando-os de perto.

    Faleceu com 86 anos, outubro de 1959.

    Não era possível que essa vida nobremente exercida no plano parlamentar e político, a visão de um homem brilhante, honestíssimo, memória excepcional, deixasse unicamente algumas centenas de artigos e anedotas que o tempo faria evaporar nas lembranças contemporâneas.

    Insisti anos e anos para que escrevesse suas reminiscências. Era patrimônio de experiência, observação, depoimento presidencial no terreno histórico e psicológico.

    Um dia, 20 de maio de 1956, Eloy de Souza começou a escrever. Fui seu datilógrafo nas primeiras 180 páginas, colaborando nas datas e pormenores nominativos. Eloy disse-me ter ampliado e completado os capítulos. Não sei em que ponto deixou, ao falecer.

    Daniel Pereira, um diretor da Livraria José Olímpio Editora, prometeu-me editar esse livro, historia da vida de um dos mais antigos parlamentares do Brasil.

    Eloy de Souza atravessou, vivendo e compreendendo, as fases mais sugestivas da história nacional.

    As suas Memórias de Um velho terá revelação e surpresas dignas de constatação.

    Não pode e não deve continuar inédita.

    Luís da Câmara Cascudo, 24.12.1959
    In O Livro das Velhas Figuras – Vol.4 pág. 148.

    Para conhecer mais sobre Eloy de Souza, acesse o
  • Blog Eloy de Souza
  • por Alma do Beco | 6:36 PM | | Ou aqui: 0




    domingo, dezembro 03, 2006

    A CADA PASSO

    Marcus Ottoni


    "Uma pesquisa de intenções de votos divulgada em novembro aponta que Hugo Chávez seria reeleito com 52% dos votos nas eleições para a Presidência."
    Folha Online

    Alexandro Gurgel


    Ir daqui ao outro lado

    Ir daqui ao outro lado,
    lá me vejo e nem estou.
    Ando rápido parado
    e a cada passo não vou.

    Estando eu noutro lado,
    olho pra trás: lá estou.
    Aceno pra mim parado,
    me diz meu outro: não vou.

    E sem saber de qual lado
    é o lado em que agora estou,
    não sei quem sou se parado,
    nem me sei mais se me vou.

    Antoniel Campos



    Uma cidade chamada Carnatal


    Da minha janela, no velho bairro do Tirol, em Natal, vejo engarrafamentos e a aflição de pessoas em busca da efêmera felicidade de algumas horas da estonteante música baiana que o Carnatal oferece. Estou protegido por sete andares, mas escuto os apelos dos atravessadores que teimam em vender abadas dos dez blocos que estão participando do Carnatal, na frente do clube América. Curiosamente, onde se concentram os vendedores oficiais. “Trata-se da maior micareta do Brasil” – leia-se carnaval fora-de-época -, apregoa a propaganda dos promotores do evento. É bem capaz de ser mesmo, porque ela conseguiu tumultuar o trânsito da cidade desde a última quinta-feira, dia do início da festa

    Os cambistas parecem manter um silencioso acordo tácito com os donos de blocos. Vendem os abadas – novo apelido de fantasia - mais caros a alguns metros de onde os foliões poderiam comprar mais barato. Parece que eles, conscientes do sucesso e da animação coletiva que o evento promove, compram a maior parte dos estoques dos blocos. As filas duplas de carros se sucedem. Ora, quem quer saber de preço? Todos querem brincar. Os mais pobres compraram antes, em várias prestações, para sair nos blocos mais baratos. Alguns compradores de última hora tiveram que desembolsar mais de R$ 200 reais para terem o direito de caminhar e pular durante 7,6 quilômetros, que é o comprimento total das duas voltas que os blocos dão no percurso. Terão direito a embriaguez, ser assaltado, beijar muito, urinar no meio da rua, namorar, trair, o escambou! E, depois curtir uma ressaca braba, que faz parte do menu do folião.

    Em Natal só se fala em Carnatal, um evento criado em 1990, no tempo em que os promotores ofereciam precários camarotes e era realizado na avenida Prudente de Morais, altura da Praça Cívica, outrora Praça Pedro Velho. Era mais calmo. Não atraia tanta gente. Mas, foi crescendo ao longo dos anos e hoje consegue fazer toda a cidade participar dele, mesmo os que não querem. Os que vão ficam felizes. Os que somente ganham um trânsito terrível participam sem querer dos esforço de enriquecimento de uns poucos, que usam um privilegiado espaço público para faturar alto em detrimento ao fechamento de uma das mais importantes vias de escoamento da capital, a avenida Prudente de Morais, também, num dos principais entroncamentos divisórios de muitos bairros populosos e comerciais.

    Isso prejudica a cidade? E quem quer saber? A cidade quer pular, dançar e viver a alegria desses quatro dias de músicas baianas!

    Natal tem dois grandes corredores que deságuam na região sul, saída da cidade: as avenidas Hermes da Fonseca, que depois se transforma em Salgado Filho e depois BR-101, quando passa ao lado do Carnatal e a avenida Prudente de Morais, fechada, como já me referi, pelo evento. Às vezes, fico pensando: e se ocorrer algum problema que feche a avenida Salgado Filho, digamos na altura do Estádio Machadão? O que poderia ocorrer com o trânsito e os deslocamentos na porta principal de entrada da cidade? Talvez um engarrafamento gigante de proporções negativas incomensuráveis, que fizesse com que, definitivamente, as autoridades do município de Natal repensassem outro local para o evento, local que não precisasse obrigar os cidadãos avessos a folia a participar, sem querer, repito, da maior festa baiana do Brasil. Eu disse baiana? Afi! Foi mesmo!

    Leonardo Sodré
    (publicado no O Mossoroense, 02.11.06).

    por Alma do Beco | 9:01 AM | | Ou aqui: 0


    Hugo Macedo©

    Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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