quinta-feira, junho 26, 2008

VOZES ECOADAS

Marcus Ottoni


"É que a Garibaldi parece faltar a convicção da conveniência de se comprometer mais profundamente com o governo (de Wilma), preferindo manter o acordo como aliança circunstancial e atender ao desejo de Lula."
Vicente Serejo

Foto: Alexandro Gurgel

ALMA DE BECO, DE BEBO, DO BELO

Sérgio Vilar

Às vezes penso em território boêmio como proibido. Ali, repousam almas sedentas. E o leque de desejos é amparado pela ânsia. Assusta.


No Beco da Lama é diferente. Sempre foi. É chão escorregadio, sim. Mas cabe todo mundo. E freqüentam quase todos. Quase todos os de alma libertária. É como na vila da Redinha: o gosto pelas coisas simples se faz necessário para sentar, beber e prosear.


E das prosas brotam histórias e estórias, como as contadas pelo jornalista Leonardo Sodré, sob olhar capcioso de Dunga.


Contações de um beco-confraria; de um beco-praça; de um beco-cantão. Parágrafos de líderes livres despidos em palavras.


E quem são esses loucos? Os amantes da arte e da cultura mais genuinamente marginal. Os poetas errantes e certeiros de palavra, estrofes e sonetos. São os de vozes ecoadas dentro da redoma do beco e espalhadas aqui e ali. Vozes desejosas de gritos mais altos e outros que sequer sabem que são ouvidos. Nem fazem questão.


O Beco da Lama é beco sem vontade de avenida e de alma enlameada pelo perfume da província. Cabe ao curioso filtrar a astúcia e se adaptar à realidade daquela atmosfera.


Há um convite inconteste no ar. Quase um chamamento.


Claro, há o perigo. E não vem da sisudez de Helmut. Uma vez do beco, os contornos da cidade modificam. Aquela eterna espera por grandes novidades, herdada da Segunda Grande Guerra, quando os americanos chacoalharam a cidade, se esvai.


O amante do beco se volta às novidades dos arredores. A cena cultural da cidade ascende. O CentroHistórico despe-se do cinza e ganha cores. E a medida em que se é tragado pela alma do beco, uma sinfonia começa a tornar-se audível, vinda lá das funduras do Potengi.


É quando o curioso olha para os lados e grita: viva a liberdade! Salve o beco-boemia!




“O nosso amor é tão bonito...
Leonardo Sodré

...ela finge que me ama e eu finjo que acredito”. A música, cantada numa filmagem do canal 66 sobre o eterno mangueirense Jamelão, em homenagem aos seus 90 anos, reduz a poesia a alguns comportamentos. Ou direi, a maioria dos comportamentos hodiernos.


Quando eu era pequeno vi muitas vezes meu pai reclamar da época em que nasci. Para ele, meu tempo era o tempo da materialidade, do não romantismo, da falta de amor, onde o sexo era mais valorizado do que as paixões. Nunca disse que o pai dele havia reclamado do seu próprio tempo, mas é provável que também tivesse feito o mesmo. Mas, o tempo dele, se bem me lembro, era realmente de romantismo. E agora, logo eu, que pensava ser moderno, reclamo de uma época em que falta romantismo.


Mas, e essa música? Quando foi feita? Ela retrata bem o tempo atual, onde o amor está mais para o ter do que para o querer. Se ela finge que me ama e eu finjo que acredito, nós não nos amamos. Ou amamos?


Passa o fingimento a ter uma importância impar nas relações. Melhor seria eu ser apenas um torturador de corações? Alguém que o amor fosse intransponível? Um aço, quem sabe, inoxidável, às emoções?


Mas, “o nosso é tão bonito”... Será?


E agora, me diga você: onde está o bonito? Na mentira, no desengano. Na falta do amor?


Ora, o autor, diante de sua sabedoria, quem sabe defronte a um espelho ,foi cruel consigo mesmo. Menos na melodia. E retratou bem o que nenhum coração consegue controlar. Afinal, quem manda no coração?


Se eu te amo, amo incansavelmente, sem reservas, amo, porque te amo. Sem fingimento, sem tortura, sem te trair. Amo porque você é meu amor, e o nosso amor é tão bonito...

por Alma do Beco | 12:15 AM | | Ou aqui: 0




terça-feira, junho 24, 2008

SAL

Marcus Ottoni


“Quem imaginaria, três, quatro meses atrás, que (...) Quem imaginaria, até um dia desses, que (...) Quem diria...”
Woden Madruga

Alex Gurgel, Nei Leandro, Volontê

Tipos populares
Nei Leandro de Castro

Moacyr de Góes, quando saía em excursões pelos bares do Rio de Janeiro, avisava a Conceição que ia observar os tipos populares. Geralmente, Moacyr empreendia essas jornadas na companhia da grande figura de Hélio Vasconcelos, outro boêmio juramentado. Vez por outra, eu me incorporava ao grupo e via a manhã nascer no entra-e-sai pelos mil e um bares do Centro, da Lapa, do Leme, de Copacabana.

Hoje, a maioria dos boêmios de minha geração, amigos de décadas, se deita depois do Jornal Nacional, acorda às cinco da madrugada e leva uma vida de frei dominicano gripado. Com exceção de Alex Nascimento, todos já aposentaram o farrista, o notívago, o observador de tipos populares que havia neles. Alex, a honrosa exceção, tem uma conversa muito boa, cheia de brilho e safadezas – o problema são os dois cigarros e meio que ele fuma de dez em dez minutos.

Deixei de freqüentar a noite natalense, mas de vez em quando sou atraído pelos mistérios do Beco da Lama. O Beco tem muita coisa desagradável: sujeira, meladinhas cobradas a mais, donas de bar mais ferozes do que Dilma Pitbull Rousseff, travestis que se sentam no seu colo e ainda pedem dinheiro, travecos que olham para mim como se eu fosse um fenômeno. O bom é que, de vez em quando, a gente encontra uma turma boa de papo e de copo, figuras como Alex Gurgel, o múltiplo, como Fabinho, o homem que seduziu Nathália de Sousa, como a dramaturga Cláudia Magalhães, acompanhada do seu fiel escudeiro Cefas Carvalho.

Um sábado desses, surgiu no Bardallo’s – que serve a melhor omelete das regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul do país – uma figura saída de páginas de ficção. Disse que se chamava Omar Salgado, tinha 48 anos e morava atualmente em Itaqui, Rio Grande do Sul. Nasceu em Mossoró, mas, aos 12 anos de idade, numa redação escolar, escreveu que gostava mais de Jararaca do que do prefeito Rodolfo Fernandes. Foi expulso da escola e seus pais sofreram uma perseguição tão feroz que tiveram de deixar o país onde chove balas. A família veio morar em Natal e passou muitas dificuldades até Omar completar 17 anos, quando encontrou a primeira mulher das dezenas que iriam sustentá-lo pela vida afora.

Omar, bonitão, contou detalhes sobre as mulheres que o sustentaram, sem esconder detalhes, mesmo os íntimos, os de cama. Confessou que a viúva gaúcha que o sustenta em Itaqui completou 68 anos, mas tem um corpinho de 65. Já foram à Europa, Ásia e Oceania, tudo por conta da bela herança que ela recebeu do falecido, um político corrupto. “Desculpem a redundância” – diz Omar Salgado, e bebe uma dose inteira do melhor uísque vendido no Bardallo’s.

O poeta Volonté, calado até então, disse: “Omar Salgado, Omar Salgado, o seu nome me lembra um poema de Fernando Pessoa.” Omar disse: “Tem razão, você é esperto.” E recitou: “Ó mar salgado, quanto do teu sal/ São lágrimas de Portugal.” Omar Salgado era pseudônimo. Seu verdadeiro nome era Ricarjul, composto por Ricardo e Júlia, pais de muito mau gosto, ele comenta.

Omar vê passar pela rua uma mulher de uns 60 anos, bem-vestida, cheia de jóias. Ele paga a conta de todos e sai atrás de mais uma fonte de boa remuneração.

por Alma do Beco | 2:36 AM | | Ou aqui: 0




sábado, junho 21, 2008

VIL METAL

Marcus Ottoni

"Na relação da distribuição do “lucro”, encontrado num computador apreendido pela Operação Hígia, tem uma contribuição de R$ 40 mil que deixou os policiais federais ainda mais perplexos..."
Eliana Lima, na Tribuna do Norte



O carrinho de metal
Cefas Carvalho

Sujo, feio, mal ajambrado, triste em sua velha camisa do Flamengo e em seu calção roto, o menino olhava pela vitrine da loja fechada, o carrinho de ferro.

Sonhara com aquele brinquedo. Imaginava a inveja dos amigos de favela ao verem o carrinho, vermelho, brilhante, novinho em folha.

Não tinha comido nada naquele dia inteiro, salvo um pão com mortadela. Mas não pensava em comprar comida.

Pensava no brinquedo. Percebeu que um veículo parou no meio fio, bem atrás dele. Do carro, desceu um senhor gordo, de cabelo e barbas brancas, com um sorriso no rosto. Parece Papai Noel, pensou o menino.

Viu que o homem botou a mão no bolso. Ganharia uns trocados. Estava com fome, queria um sanduíche, mas se economizasse o dinheiro, poderia comprar o carrinho dali a alguns dias.

Ah, quando os amigos o vissem com o brinquedo. Sentiu, de repente, uma pontada seca no peito, como uma agulha a furar sua pele.

Um gosto estranho lhe subiu à garganta. Uma vontade de cuspir. Tossiu sangue e percebeu, então, a camisa do Flamengo úmida, com o tecido queimado. Olhou para o homem e só então observou a arma fumegante em sua mão direita.

Caiu no chão, sentado, não sabendo se olhava para o homem ou para o brinquedo pela vitrine. Sentiu que um sono lhe invadia.

Parecia Papai Noel, pensou, antes da dar a última olhada para o carrinho de metal.


A vida inteira para me arrepender
Leonardo Sodré

A melodia de uma música que eu nem gostei insistia em continuar naquele ambiente, misturado de vozes e odores. Teve momentos em que pensei estar num navio negreiro. As reclamações e as discussões sem sentido se sobrepujavam aos assuntos e poucos minimizavam a voz em torno do barulho e daquela canção insistente e chata, com alguns clichês do tempo em que foi feita. Mas, a frase título não me saiu da cabeça.

Aborreci-me por isso, mas, o que fazer? Livrei-me de 'lulistas' que insistiam em dizer que o presidente aloprado havia criado 30 milhões de empregos, ao invés de dizer que no Brasil havia aqueles tantos com carteiras assinadas. Sabia que ele somente poderia protagonizar esse prodígio no dia em que mudasse as leis trabalhistas, mas não discuti. Como jornalista especializado em política, aprendi a ficar longe da turba em momentos assim.

Na verdade, culpado desde a nascença pela minha mãe, estava refletindo sobre um momento da letra da música que dizia “a vida inteira para me arrepender”. Por que? Sabe lá Deus, logo eu, cúmplice de tantos arrependimentos cobrados... Não perdi a oportunidade de sair daquele bar.

Queria outro, onde pudesse respirar e sonhar. Sim, porque no silêncio imposto de um bar, é possível sonhar. Quem nunca tentou, não sabe o que já perdeu... Não saí a esmo e nem tampouco titubeante. Tinha um destino certo, nos territórios de minha morada. Livrei-me dos carros na travessia e não demorei em chegar semi-suado onde queria. O balcão, qual um porto, esperava minha atracação.

Atraquei, amarrei as cordas do meu pedido e numa maré sem confusão, comecei a organizar meus pensamentos, meus sonhos. Meu olhar, meio fixo na parede frontal, onde se destacavam propagandas de salgados industrializados foi logo remetido às laterais. Essa minha velha mania de fazer amizades! Mas, quem eu vi, era um amigo de mais de 30 anos.

Um homem que era rico noutros tempos e que hoje, protegido pela penumbra daquele bar solidário, apenas tomava pequenos goles de cachaça. “Meu amigo!” Falei mais alto do que devia. Senti isso no seu olhar entre reprovador e entendedor. “Você me conheceu tomando uísque 12 anos, hoje tomo cachaça. O gosto é o mesmo, quando se quer apenas beber”, ensinou-me.

Conversamos muito e enquanto eu tentava segurar a tristeza porque havíamos nos tornado pobres, ele nem ligava. “Amigo velho, tudo tem seu tempo. Eu tenho as memórias de quando eu tinha apartamentos na avenida Hermes da Fonseca e andava de Maverick V8. Mas, isso que aconteceu, está na minha mente. Hoje, ando de ônibus, carrego uma quentinha para almoçar, ganho um pouco menos de um salário mínimo por mês, mas não me arrependo de nada do que fiz”, foi incisivo.

Meus olhos de também fracassado financeiramente, falaram. Ou terá sido a minha boca? Quando eu disse que tínhamos ‘a vida inteira para se arrepender’, a resposta daquele meu amigo, que tinha perdido muito mais do que eu, foi um remédio. “Eu não me arrependo de nada do que fiz, apenas do que deixei de fazer”.

Depois que ele saiu para pegar o ônibus, saí caminhando em direção a minha casa. Parecia que dirigia um dos jipes importados que eu já tinha tido. Carregava no meu alforje de pensamentos apenas uma coisa: que venha a vida! Nada tenho do que me arrepender.

por Alma do Beco | 8:36 AM | | Ou aqui: 0




sexta-feira, junho 20, 2008

BEM MAIS QUE

Marcus Ottoni



POR UM PONTO DE CULTURA PARA A SOCIEDADE ARARUNA DE DANÇAS ANTIGAS E SEMI-DESAPARECIDAS

Foto: Hugo Macedo
Seu Cornélio Campina - 100 anos
1908 - 2008




De início, fim
Antoniel Campos

Se é no fim ou no início,
faço, de início, ser fim;
e nesse fim quero início,
só pra fazer outro fim.
Dá-me prazer cada fim,
bem mais que qualquer início.
Sou assim desde o início,
pois desde o início sou fim.
Só sou dúvida no início,
sou só certeza no fim.



LINHA DO TEMPO
Carlos Gurgel

assim como um assum
preto eu vou
por entre fornalhas
porcarias
lixeiros
e escarros
por entre monte de bostas
de anarquias fuziladas
por entre pestes
postes apagados
e o meu folhetim
que cobre o meu corpo nú
vou
que ainda me volto
como um assum
um assim
assado
bem passado
cozido
tão mal estado
de tão pouca ambrosia
que de mim pariu
assanho
tão tamanho
de uma obra de fezes
feixes de merda
um tornado de nada
um espécie
troglodita assum preto prestou
restou como do passado que cinge
que me parte
e que me espatifo entre poucos
e traidos mestres
que do chão que habito
só me restou descartes.


Deus e o Diabo
Cláudia Magalhães


Quero deixar bem claro que não estou aqui em busca de compaixão. A minha única intenção é a de compartilhar a minha história com o maior número possível de pessoas, já que, a qualquer momento a vida poderá me cuspir, e sempre que falo sobre o assunto em questão, sinto um grande alívio na alma.

Alguns de vocês podem ficar horrorizados, outros, talvez, admitam para si, que já cometeram algo do gênero em pensamento, e um ou outro, o tenha realizado com a mesma intensidade e o ache bastante natural.

Eu me chamo Carlos. Sempre fui amável, bem-humorado e comunicativo. Uma excelente companhia na roda de amigos. Tive inúmeras namoradas e com todas o relacionamento foi bastante equilibrado. Até que conheci, aos 35 anos, Helena. Aos 34 anos, ela era bela, inteligente e tinha um humor como poucos. Fui tomado por um sentimento monstruoso, forte, que me deixava insuportavelmente feliz. Não demorou para nos casarmos.

No início, tudo tranqüilo, mas com o passar dos meses fui ficando cada vez mais inseguro, com fortes crises de ciúmes. Passei a beber compulsivamente. Sentia um ciúme especial por Marcos, um amigo em comum, e que sempre estava presente na roda de amigos. Ele era um empresário bem sucedido, metido a galã, boa conversa. Todas as pessoas o admiravam, inclusive Helena. No bar, ele fazia questão de sentar ao lado dela. Como isso me irritava! E os olhares? Ah... Os olhares que eles trocavam cúmplices, cheios de desejo.

O ódio que passei a sentir por ele, é difícil de descrever. Quando nos encontrávamos, o meu corpo era tomado por um pavor que me causava espanto. Tentei, juro que tentei, reverter essa situação, me aproximando mais dele. Mas quanto mais agradável e amigo ele era, mais ameaçador ele se tornava para mim. Entrei no inferno. Pensava, em Carlos e Helena se amando, o dia inteiro. Até que, numa terça-feira, não suportando mais essa situação, saí mais cedo do trabalho. Fui direto para o bar. Para minha surpresa, lá estava ele, o meu rival, sozinho numa mesa lendo o jornal do dia. Maldito!

O meu corpo todo tremeu, Não sabia se estava com boa ou má sorte. Demônio! Entrou em minha vida pra tentar destruir o meu amor e estava lá, tranqüilo, sereno. Ele sorriu na minha direção. Um sorriso largo, amigo. Canalha! Ele nunca pareceu tão demoníaco quanto nesse momento. Não havia mais ninguém conhecido no bar. Era a minha grande oportunidade. Desliguei o telefone e fui em sua direção. Nunca fui tão agradável, tão simpático como naquele dia. Conversamos sobre futebol, livros, filmes... Enquanto isso, um filme, em especial, ia passando na minha cabeça, onde ele e Helena eram os protagonistas. Filho do cão! Fingindo ser meu amigo com um único objetivo: seduzir Helena, a minha doce Helena!

Entrei no jogo pra vencer. Ele só sai daqui embriagado, pensei. Dito e feito. Paguei a conta. Disfarçadamente, peguei uma das facas que serviu para cortar o tira-gosto e coloquei dentro do meu casaco. Era pequena, porém pontuda e muito afiada. Serviria para o meu intento. Saímos do bar abraçados. Vou levar você em casa e de lá eu pego um táxi. Onde está o seu carro, perguntei. Está na rua ao lado, respondeu, me entregando a chave. Era uma rua perfeita, deserta. Entramos no carro. Fechei a porta. Carlos, embriagado, logo adormeceu no banco do passageiro com a cabeça encostada no vidro, deixando o lado esquerdo do pescoço completamente exposto. Me senti Deus naquele momento, ou o Diabo, se preferirem. Qual é mesmo a diferença de um para o outro? Não importa.

Eu transpirava muito. Pensei em Helena, meu grande amor... Ela era inocente, eu conhecia bem o seu caráter, era somente uma vítima daquele canalha! Estava decidido. Peguei a faca e mirei na jugular. Quando desferi o golpe, ele se mexeu, acertando no seu ombro. Ele acordou assustado. Olhou pra mim com aqueles malditos olhos do inferno. O meu sangue fervia. Estava possesso e deixei os meus instintos me guiarem. Desferi vários golpes, na barriga, no rosto, na perna... Eu sentia prazer enquanto ele gemia de dor.

Sinto-me constrangido ao dizer isso, mas não é esse alternar de estado de espírito dos homens, onde uns têm que chorar para que outros possam sorrir, que sustenta a vida? Sim, eu sentia um enorme prazer ao ver o seu espírito se contorcendo, lutando contra a morte. Até que, finalmente, puxei a cabeça dele para trás e desferi o golpe fatal. Pronto. Estava tudo acabado.

Estou preso há dois anos. Fui condenado pelo assassinato de um homem que todos consideravam bom, um santo... Ele foi o culpado! Ele estava infernizando a minha vida! Eu não tinha saída. Se algum de nós é Deus ou o Diabo, pouco importa, os dois gostam muito de sangue...

Desde aquele dia, nunca mais vi Helena... A minha doce Helena... Matei um homem pensando em começar uma vida nova ao lado do meu grande amor. Mas, desde aquela noite, o Sol se recusa a nascer.



Eu, referenciador da mentira
Eduardo Alexandre

E surge o terceiro candidato. Também da base aliada do governo Lula, do governo Wilma: Wóber, para disputar com Fátima e Micarla quem da base aliada vai governar Natal.

Outros candidatos nem parecem existir. O PSOL não terá candidato? Nem o PSTU?
Joanilson é candidato? Miguel Mossoró é candidato?

Nas páginas, o importante agora é saber para onde vão João Maia e Robinson Faria. E tem gente esperando gestos.

E a sucessão na Intendência jerimum parece não cativar a população, como se existisse um vácuo de candidatos.

Os apresentados pelas cúpulas partidárias não agradaram aos eleitores. Os eleitores, sem chamarem a si o comando de fato do jogo político, referendam a mentira republicana.

No dia aprazado, vamos estar lá nas urnas, referendando a “democracia” que vivemos.

Que democracia é esta? É a democracia do mando do capital. Manda o poder do dinheiro que erige o poder.

Hoje, como ontem, mas em mais larga escala de desmedimento, o voto é vilipendiado, o líder é peça de uso, parlamentares, executivos, resultados jurídicos, partidos são comprados.

É a democracia dos interesses grupais subordinados a altos interesses financeiros, que a tudo e a todos controla e compra, domina.Eu, cá, elemento bobo, acredito que o meu voto é sagrado. Que a democracia existe... um dia virá!

por Alma do Beco | 8:34 AM | | Ou aqui: 0




segunda-feira, junho 16, 2008

BOB MOTTA

Marcus Ottoni



"O gesto agora cabe a quem venceu."

Rogério Marinho

Foto: Karl leite





QUERO MEU SERTÃO DE VORTA!...
Literatura de Cordel
Autor: Bob Motta

NATAL-RN
2 0 0 8

Oi, amigo (a) leitor (a):
Esse quase que diria mini-cordel, é baseado no texto escrito pelo jornalista, cineasta, sertanejo de Serra Talhada-PE, terra do meu amigo e parceiro Assisão, Anselmo Alves. Foi divulgado no grupo aldeiapoti@yahoogrupos.com.br. Caso alguém saiba o e-mail desse parceiro que ainda não tenho a felicidade de conhecer, por gentileza passe para mim, que ficarei imensamente grato.


Amada Mãe Natureza,
é cum imensa tristeza,
qui eu cheguei à cuncrusão;
qui êsses tempo muderno,
tá transfóimando num inferno,
o meu amado sertão.

Anselmo Alves tem razão,
tá havendo discunstrução,
da curtura sertaneja.
Vô cum êle, me ajuntá,
qui é prumode nóis lutá,
e vencê essa peleja.

A tá tequinologia,
já entrô no dia a dia,
do irmãozíin sertanejo.
E ais nossas tradição,
eu percuro, mais in vão;
e ais nossas raiz, num vejo.

Forró muderno, na marra,
cum bateria e guitarra,
pru mode uis povo dançá.
A tá grobalização,
tá matando, meu irmão;
a curtura populá.

Ais musga qui a gente iscuta,
fala in rapariga e puta ,
in cachaça e cabaré.
Isso qui uis pôvo cunsome,
vai imbrutecendo uis hôme,,
e distratando ais muié.

E toda essa indecênça,
é feita c’á cunivênça,
dais Prefeitura, dotô.
O sinhô pode apostá,
qui já existe inté “jabá”,
nais rádio do interiô.

Ais campanha do Gunvêrno,
se incronta cum o disgunvêrno,
é difíce se lutá.
Pruquê nais praça, meu irmão,
só se passa p’ro povão,
bebê, caí e se alevantá.

Ais muié tem hoje in dia,
munto mais delegacia,
porém, véve tudo a êrmo.
Pôcas iscuta poesia,
só musga de putaria,
qui distrata a elas mêrmo.

Meu Deus, isso me revorta;
QUERO MEU SERTÃO DE VORTA,
do jeito de antigamente.
Quando ais Festa de São João,
preséivava ais tradição,
e ais raiz da nossa gente.

Quando ais cabôca facêra,
nais Festa de Padruêra,
ficava tudo infeitada;
cum uis lindo laço de fita,
cum uis seus vistido de xita,
ô suais saia rodada.

C’á sua bôca incarnada,
surrindo p’ro camarada,
ô fugindo do irmão.
Cum seu oiá cativante,
e cum o brio mais briante,
machucando uis coração.

A muié, p’ro trovadô,
merece caríin e amô,
é sua musa adorada.
Prá mim é munto querida;
merece casa e cumida,
e tombém, rôpa lavada.

Ela é prá sê respeitada,
in verso e prosa, isartada,
mêrmo quando acende o facho.
Mêrmo no amô iscundido,
do namôro improibido,
lá na bêra do riacho

QUERO MEU SERTÃO DE VORTA,
mode uví cêdíin, na porta,
o canto da sariema.
Cum o anum branco cantando,
cum o bizerríin berrando,
inspirando o meu poema.

Cum o forró de chão batido,
cum o papagái inxirido,
cum o jumento garanhão.
Cum uis matuto numa réca,
feliz jogando suéca,
no aipende do patrão.

Cum uis minino a jogá bola,
c’á professôra da iscola,
cum o bode pai de chiquêro;
cum uma boa panelada,
debaixo de uma latada,
na sombra de um imbuzêro.

Cum o café virge no cáco,
cum o véi chêrando tabaco,
c’ais festa de apartação.
Cum ais cuiêta de mío,
c’áis bêsta e porda no cio,
cum ais póica e cum uis barrão.

Cum o orváio da madrugada,
cum a melancia quebrada,
mêi dia in preno roçado.
Cum o vaquêro aboiadô,
tangendo o reprodutô,
de lá da mata, incorado.

Cum o carro qui vem da fêra,
cum uis tiro de ronquêra,
nais noite de São João.
Cum ais sangria duis açude,
cum a linguage pura e rude,
do matuto meu irmão.

Cum ais apanha de aigodão,
cum ais prosa duis pinhão,
dento duis alojamento.
Cum o carro de boi cantando,
cum o cachorro acumpanhando,
seu canto, quage um lamento.

Mode isso, Papai do Céu,
é qui eu tô, cum meu cordel,
batendo na sua porta.
Por Jesus crucificado,
Te peço, Pai Adorado:
QUERO MEU SERTÃO DE VORTA...

Bob Motta
NATAL-RN
15 DE jUNHO DE 2008

por Alma do Beco | 9:42 AM | | Ou aqui: 0


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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A imagem de fundo é do artista plástico e poeta Eduardo Alexandre©

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