segunda-feira, novembro 26, 2007

NATAL, RN

Marcus Ottoni

"Os neopelegos são hoje homens ricos, têm casas de veraneio e carros importados. Pertencem à casta dominante. O governo e o empresariado, ao mesmo tempo em que os usam e os temem, mantém com eles um acordo implícito, que convém a seus mútuos interesses, mas não aos trabalhadores e ao povo em geral."
Ferreira Gullar

Hugo MacedoMestre Cornélio Campina - 2008: 100 Anos

Poeta abandona a banda

O ensaio da Banda da Ribeira, agremiação carnavalesca tradicional da cidade do Natal, que este ano completa dez anos de idade e de sucesso crescente, sofreu um grande golpe musical nesta terça-feira (04 de Dezembro de 2007), com a falta de um dos seus principais músicos: o poeta Antoniel Campos, conhecido nas hostes boêmias como “Bardin”.

Enquanto o assessor de imprensa da banda, Petit das Virgens – que nasceu sem reclamar o sobrenome - vociferava em dúvida sobre o novo dia de ensaio, dizendo que talvez na terça-feira “não desse público”, o ensaio, marcado britanicamente ia sendo adiado em minutos. O maestro Gilberto Cabral olhava para um lado e para o outro. Às vezes, fixava-se na placa onde está escrito “Largo Boêmio José Alexandre Garcia”, como se pedisse ajuda ao patrono da rua Chile.

Havia um clima de inquietação.

Menos pelos cálculos depressivos de Petit. Parecia que às 19h03 todo mundo estava mesmo era olhando para o maestro, que não parava de, também, olhar para todos os lados. Uma loura atenta observou que talvez ele estivesse esperando alguém muito importante.


Baco, um dos mais importantes auxiliares de Haroldo Maranhão – idealizador da banda -, disse, entretanto, que, de importante, “bastava ele”. E completou: “Gilberto deve estar observando a aura do Potengi, sentindo o samba e a musicalidade que irá brotar em segundos...” Alguém disse que ele estava muito poético enquanto sua cara metade ainda nem tinha chegado. Hummm, rosnou outro...

Fuxicos a parte, o maestro iniciou o ensaio. Música belíssima e bem interpretada pelos membros da banda – que é formada por cerca de 40 músicos -, que tocavam com afinco. Mas, ele – Gilberto -, continuava a olhar para todos os lados. Em alguns momentos parecia que sua visão tentava alcançar a avenida Tavares de Lyra, lá longe, quase sem ser notada. Mas ele olhava. Olhava com esperança. Às vezes, se virava em direção ao Porto de Natal, como se um navio pequeno e soberbo pudesse atracar em meio aos armazéns...

De repente, parou o ensaio e desafiou: “Alguém aqui sabe tocar um pandeiro? Tem alguém aqui que possa substituir um traidor? Vocês sabem a falta que faz o toque do poeta Antoniel Campos, que vocês chamam de Bardin? Vocês imaginam o que os meus ouvidos treinados estão a reclamar? A reclamar daquele traidor, daquele traíra, daquele rato, daquela lagartixa...”

Foi quando o artista plástico Flávio Freitas, que ia passando serelepe, enquanto terminava de escrever a partitura de uma música de Petit das Virgens, de 1978, reclamou:

- Lagartixa? É comigo?

Todo mundo olhou para uma Kombi estacionada debaixo da principal luminária do Largo José Alexandre Odilon Garcia.


Leonardo Sodré



Natal, RN

Aquelas magníficas praias, aquelas dunas que são um convite à aventura, uma paisagem de sonho, tendo como fundo um mar deslumbrante

Natal, RN (onde estive para um evento literário), é longe. Não há vôos diretos de Porto Alegre e, por causa dos inevitáveis atrasos, leva-se umas 10 horas para chegar lá. Mas vale a pena, quanto a isto não tenham dúvida. Em Natal descobrimos que, como diz a música de Jorge Ben Jor, moramos num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza. Que natureza é aquela, que natureza! Estamos falando do litoral, obviamente. Aquelas magníficas praias, aquelas dunas que são um convite à aventura - é o lugar em que provavelmente se vê mais buggies - enfim, uma paisagem de sonho, tendo como fundo um mar deslumbrante.

E o mar. Os verdes mares de minha terra natal, celebrados por José de Alencar, são algo. Mar é coisa que apela para as camadas mais profundas, mais arcaicas e portanto mais autênticas de nosso ser. Do mar nasceu a vida, ao mar a vida sempre quer voltar, e daí a atração que a praia de mar exerce sobre nós, e que, a cada ano, leva milhões de brasileiros e estrangeiros para o litoral potiguar.

Há mar e há mar. Nós, gaúchos, temos mar, o Nordeste tem mar. Mas estamos falando de mares diferentes. O nosso mar, mar de praias abertas, de um litoral que é uma linha reta de Torres até o Cassino, é um mar bravo, um mar frio. Um mar que nos desafia, que nos castiga até. É preciso enfrentar, nos diz este mar gaúcho. Enfrentar o choque das ondas, enfrentar sobretudo o frio, porque vida é assim mesmo, viver é lutar. Claro, depois a gente se acostuma, e até gosta. Contudo, o rito de passagem que é entrar no mar é desafiador e inevitável.

No Nordeste é diferente. A água é tépida, a água é límpida, a água é acolhedora - é maternal, até, a coisa mais próxima ao líquido amniótico que poderíamos imaginar. Este mar, aliás, é uma metáfora para um jeito de ser brasileiro: o jeito amável, o jeito receptivo, o jeito que pode ser visto como submisso e quem sabe como servil. E esse jeito condicionou boa parte de nossa história e de nossa cultura. Dele se aproveitaram o coronelismo, o autoritarismo em geral, a corrupção.

O Rio Grande do Norte atraiu estrangeiros por duas razões. A primeira por sua posição estratégica. Olhem o mapa e constatem: é o extremo leste da América Latina, a região mais próxima à Europa e à África, razão pela qual na Segunda Guerra os norte-americanos construíram ali a sua maior base aérea, o que valeu a Natal o apelido de "Trampolim da Vitória". Mas Natal também é a "Cidade do Sol"; em média são 300 dias ensolarados por ano, o que funciona como ímã para os europeus: a viagem entre Natal e Lisboa ou entre Natal e Madrid leva menos tempo do que ir de Natal a Porto Alegre. Resultado: o crescimento da cidade é espantoso, constrói-se por toda a parte. O Rio Grande do Norte e o Nordeste em geral estão mudando. Mas o mar ainda continua o mesmo, ao menos por enquanto. O que, convenhamos, é um consolo.

Moacyr Scliar

Jornal Zero Hora - Porto Alegre - RS - 02.12.2007



por Alma do Beco | 11:06 PM | | Ou aqui: 0




quarta-feira, novembro 21, 2007

TRAVESSIA

Marcus Ottoni



Deise Areias

Filosofia das Nuvens

Sou poeta e pintor porque poesia

Tem cores gerais de sentimentos.


Descobri que o amor não nasce pronto,

Mas é tudo que a gente não consegue.


Ser pássaro é o meu desejo

E não posso sequer ser avião.


Tenho medo, sim, pois ter coragem

é lutar contra o medo até a morte.

Rubens Lemos - 1976


PONTE NEWTON NAVARRO

De xarias e canguleiros, travessia

Eduardo Alexandre


Era um sonho de natalenses: uma imagem na retina, sólida como a Fortaleza, que ficaria como cenário de fundo quase natural, não tivesse também sido erguida pelas mãos dos nossos homens. Força.

Quase na boca do rio, da Limpa à amada Redinha, a gamboa do Jaguaribe embaixo, exposta em seus manguezais. Vida. Progresso que se vislumbra em futuros. Barra. Baliza.

Sobre águas serenas que descansaram catalinas de vôos curtos, de pequenas asas, és a argamassa que leva, como bandeirante, ao porvir de grandes viagens. Sul a Norte, trajetória desbravada em quatro séculos de espera e labuta. Passado e presente. Perseverança.

O mercado do peixe, a igrejinha branca da Senhora dos Navegantes, a de pedra, dos veranistas, souberam esperar em paciência de décadas. Foram mirantes de conjecturas, planos, traçados e polêmicas, assunto.

Muitos se foram e não viram, vislumbraram, quiseram, pediram. Seus rogos ouvidos.

Os bois, as lapinhas, os fandangos brincados na areia fina e branca, amaciante para pés descalços, revivem cenas, cantam memórias, aplaudem resultados, comemoram graças.

O empecilho não transposto em passos por Jerônimo de Albuquerque, hoje é via de asfalto. União de margens antes distantes, ventura, conquista do Norte consolidada em tempos de paz.

Ponte Forte/Redinha, a Cidade dos Reis crescerá contigo, chegará a horizontes nunca transpostos.

Por ti, faz-se festa na terra de Poti, cantam-se praieiras, enaltecem-se seus feitos, suas glórias poucas e singelas. Vitais.

Como o amor de Porangaba, demoraste, chegaste madura, permanecerás.

Como tresmalhos em secagem, aguardarás os frutos do mar do amanhã, alimento laborado por muitas mãos.

Serás postal, marca, darás identidade única a povoamentos separados de uma mesma gente. Desenvolvimento.

Navarro não te rabiscou em papel. Demarcou, em foto, o local onde virias.

Para ti, potiguares hoje voltam olhares, contemplam tua silhueta de imensidão.

Compreendem, és, de xarias e canguleiros, travessia, materialização do nosso primeiro desejo, primeiro sonho: transpor o obstáculo que o Rio Grande nos impunha em sua foz; fazer-se desembocadura de novos sonhos.


por Alma do Beco | 9:04 AM | | Ou aqui: 0




terça-feira, novembro 20, 2007

O SORRISO DA ALMA NATALENSE

Em defesa de postulados sagrados
Eduardo Alexandre

Que energia de sorrisos é essa, que emana do Beco? Qual é a mágica, a magia, o mistério?
Ali pisou Cascudo, Navarro, Luís Carlos Guimarães, Berilo Wanderley, Jorge Fernandes, Itajubá, Açucena, Mainha, Rubens Lemos, Bosco Lopes.
Berço da cidade, as adjacências são todo o ir-e-vir dos nossos mortos, de nossa história, de nossa luta para virar cidade em tanto tempo. Como demorou ser cidade! Todos os nossos mortos perambulam por lá: Plínio Sanderson, Marcelus Bob, Bob Motta, Civone, Luciano de Almeida, Pedro Abech, Lula Belmond, Leo Sodré. O bardinho Antoniel e seu pandeiro de bandas carnavalescas, do Beco à Ribeira. Valderedo, Falves Silva, João da Rua, Franklin Serrão, João Gualberto, Jota Medeiros, Pedro Pereira, Sandra Shirley, Help, Nalva, Ana, Valéria, Ceiça Oião.
Quantas festas não fez a Praça da Alegria? Poucas por ano, é bem verdade: São João, Nossa Senhora da Apresentação, Natal.
Anos e anos de esperas, embalos em redes, Linda Baby, Pedrinho Mendes.
Beco de santíssimos saberes, pixe no muro sujo, Grogs, irados Mad Dogs em Liverpool. Alcatéia, cigano praieiro, paparazzi, khrystal.
Papapá, Legião, Petit das Virgens.
Comédias.
Diz Cabrito que foi o carnaval o que acanalhou o Beco. Os rapazes se reuniam no Natal Club, Esquina da Rua Nova com a Inhomerim e saiam num Zé Pereira frenético, ladeira leve da Rua da Palha acima e abaixo, folia grande em portas estreitas e elevadas janelas, papanguzando o mundo.
Beco que já foi lama, hoje é fama e é alma.
Beco do Potiguarânia, de boêmios famosos. De maçonaria.
Adjacências de Cinemas, Cocadas e Grande Ponto de João Machado, Djalma Maranhão, conversas sem fim jogadas fora, linho branco; líricos e loucos, Tubiba, Mulamanca. Beco da chamadinha do bandoleiro Manoel Rodrigues de Melo, eterno acadêmico do Beco. Professor Panqueca. Professor Grácio. Waldemar de Almeida, onde andarão? Gumercindo, Othoniel, Eduardo Medeiros... Praieiras e modinhas.
Beco do Rato, de Fia, de Gardênia, do Índio, do Estranho. Beco sonâmbulo. Da vida e de mortes. De mortais, imortais e mortos-vivos. Beco de vidas. Muitas vidas. Beco gato.
Esse sorriso do Beco choroso de Pinxinguinha, do pau-de-arara Aldair Soares, é o sorriso da alma natalense, alegre criatura que perambula, perambula feito o carteiro de Cascudo, Helmut Cândido, ou o peripatético Volontê, como o chamou Nei Leandro, vindo, devagarinho, manhãzinha, ladeira acima, com uma corda de aratu dependurada em cada indicador.
Beco da meladinha de Nasi. Da prova dos nove da cachaça, da poesia. Da segurança de Manoel de Brito. Dos doutores Zizinho e Chiquinho, fundadores da Samba, Beco de comerciários, camelódromo, sebos, bares, música, fumaça, amor. Assaltos, sobressaltos, alegria e encontro, Beco de muitas noites e dias de serenatas regadas a cerveja e buchada, rabada, dobradinha, cabeça-de-bode, carne-de-gato. Para todos e pra todo mundo, mote e glosa, verso e prosa, chorinho.


Caro amigo Eduardo 'Dunga' Alexandre


Que maravilha de texto!

A emoção da saudade aliada à sabedoria da vida, fazendo-a como ela é - um continuum no tempo e no espaço.

Este é o componente maior de identificação: sentir a presença dos que continuam a bebericar em outros Becos da Lama, formados de branquejadas nuvens, com algumas mezinhas de cumulus-nimbus espalhadas no horizonte fronteiro ao estabelecimento - como gostava o portuga Olívio de dizer - com contas penduradas nos cirros-estratos, por suas alturas - e foi licença poética, pois nem sei se no Beco de hoje existe este costume secular.

Se há um lugar em que restamos é aquele em que somos originais, autênticos: o local onde nos soltamos das amarras diárias, em que voltamos - cada um de nós - aos momentos mais significativos de nossas existências. E tal lugar é o 'bar', o lugar de encontro com nossa identidade real, onde somos conhecidos - e reputados - por qualidades que só ali vingam, e que só alí persistem.

Os amigos, os conhecidos, os habituês - todos, enfim - possuem, uns dos outros, uma percepção particular, gerada e sustentada naquele pequeno reino - e que me perdoe o termo, mas o ambiente de um bar boêmio é monárquico, com todas as suas prerrogativas de nascimento, descendência e serviços prestados à ordem.

Não é coincidência que as irmandades tenham como tradição o encerrar seus trabalhos com ágapes; nem que os antigos se libertavam das restrições mundanas realizando festins. Os deuses arcaicos - quando eram mais humanizados - bebiam hidromel, e riam desbragadamente das peças pregadas aos mortais, antes, é claro, que por eles se apaixonassem. Sem esta paixão, o Olimpo não teria razão de existir, pois ela é que dinamizava os fenômenos que davam sentido ao mundo.

Sei lá porque, meu amigo, mas sou um canguleiro que chegou atrasado no tempo. Amo a Ribeira, amor inconseqüente e sem futuro pela diferença de idade. Repito que não é veneração por pessoa mais velha, nem amor filial, nem pejado de fraternidade. Não, não é um carinho familiar, nem um desejo incestuoso. É amor, simplesmente amor. E amor não correspondido, pois a dama adormeceu para nunca mais despertar. Mas a vida, meu caro Dunga, para ser completa, deve ter sonhos que jamais se realizarão, na mesma medida daqueles que completarmos.

Eu, que conheço tantos desses mortos que perambularam álacres pelas ruas hoje quietas, nunca os vi, nem com eles reparti uma gelada. No entanto, conhecendo-os em suas autenticidades, sou como que um parente distante, e posso falar deles com certos direitos, embora sem intimidade. E há mais: os boêmios restam por serem boêmios, por serem originais, por jamais deixarem de ser o melhor de si mesmos nem que seja um pouco a cada dia, ou a cada semana. Ninguém resta, ou é lembrado com carinho e alegre saudade - do que aquele que possui um grupo - heterogêneo social, político, cultural e econômico - em meio ao qual se dispa das máscaras e fantasias do dia-a-dia e faça a travessia dessa dimensão sabendo que é uma grande peça teatral: shakesperiana para uns, de Vaudeville para outros.

Mas falta uma coisa, uma homenagem, um sinal de respeito à ancestralidade noctívaga, um apelo à tradição, uma conclamação aos idos, um toque de reunião a esses guerreiros que habitam outros céus e firmamentos, um convite a tomar umas e outras. Há que se instituir o Dia - ou, talvez, melhor - a Noite dos Boêmios. Em que se homenageie a eles na figura alternada de uns e outros. Que haja como que uma Academia desses deuses larários, e que os convidados deles falem - sem formalismos e falsos cuidados sociais - para o conhecimento, rememoração e exemplo dos que estão hoje sustentando o 'flambeau'.

Um grande abraço, e perdoe a prolixidade.

Walner Spencer



por Alma do Beco | 12:39 AM | | Ou aqui: 0




domingo, novembro 18, 2007

SUCESSO

Marcus Ottoni

"O jornalista Leonardo Sodré, 53 anos, ficou num beco sem saída. Há três meses, foi intimado pelo dono da Offset Gráfica e amigo, Ivan Júnior, a lançar um livro que reunisse suas melhores crônicas, todas enviadas quase que diariamente para a lista de discussão na internet do Beco da Lama - espaço virtual dedicado ao epicentro da boemia natalense, localizado no Centro Histórico de Natal."

Rafael Duarte


"Bem-aventurados os ruidosos desse Beco porque deles é o reino do caos."

Plínio Sanderson


Leonardo Sodré ao lado do editor Ivan Júnior,
da Offset Gráfica, espécie de “mecenas da impressão”

BECO SEM SAÍDA

Leonardo Sodré lança "Crônicas do Beco da Lama"
17/11/2007 - Tribuna do Norte

O jornalista Leonardo Sodré, 53 anos, ficou num beco sem saída. Há três meses, foi intimado pelo dono da Offset Gráfica e amigo, Ivan Júnior, a lançar um livro que reunisse suas melhores crônicas, todas enviadas quase que diariamente para a lista de discussão na internet do Beco da Lama - espaço virtual dedicado ao epicentro da boemia natalense, localizado no Centro Histórico de Natal. Como todo jornalista boêmio que se preza, havia sede de sobra. O problema, como sempre, era pagar a conta. E aí entra outro fato que todo boêmio que se preza acumula com o passar dos goles: os amigos. Foi, então, que Ivan Júnior sacou a boneca do livro “Crônicas do Beco Lama” da bolsa e apresentou ao jornalista uma seleção particular de 29 crônicas sobre personagens, verdades, mentiras e a história do Beco. O lançamento ocorreu quarta-feira passada, no Bardallos, com a presença maciça de amigos, intelectuais, artistas, poetas e colegas de trabalho. Segundo o autor, foram mais 100 livros vendidos na primeira noite. No fim, até o violonista Yamandú Costa, que acabara de fazer um show pelo projeto Pixinguinha, apareceu para dar uma canja ao lado de artistas da cidade como Camilo Lemos, Hilton, Sérgio Groove e Gilberto Cabral. E como tudo no Beco se mede pela birita, dá para dizer que o sucesso foi tanto... que acabou a cerveja do bar!

Paraibano de Campina Grande, não tem quem diga que Léo Sodré não é natalense. Nem ele mesmo. Tudo, veja só o paradoxo, por conta da água. “O problema é que minha mãe achava que criança só bebia leite materno. E passei os primeiros 30 dias de vida sem beber água. Só tomei quando cheguei aqui em Natal, um mês depois de nascido. Me considero natalense”, disse rindo do destino.

Na apresentação, orelha e prefácio de “Crônicas do Beco da Lama” estão quatro dos maiores parceiros do jornalista: o professor Eugênio Meio Quilo, o poeta Plínio Sanderson, o jornalista Alexandro Gurgel e o jornalista e artista plástico Eduardo Alexandre, o Dunga. Difícil encontrar Sodré na mesa do bar de Nazaré ou do Bardallos, por exemplo, sem que um deles não esteja presente. Não é por acaso que o quarteto é assíduo nas páginas do livro. Numa delas “O Céu por Derradeiro” - que o autor considera uma das melhores - Plínio e Dunga discutem como inimigos até que vem uma tsunami subindo a avenida Rio Branco e mata todos os becolamenses. Já no outro plano, na fila de espera, a dupla encontra São Pedro e se recusa a entrar no céu quando, por fim, o santo diz que também não tem meladinha (mistura de cachaça com mel e limão famosa no Beco desde os tempos do antigo bar do Nasi). “Adoro essa crônica. Eles morrem, vão para o céu e desistem de entrar. Dunga e Plínio são grandes amigos que tenho no Beco”, disse.

No livro, passeiam verdades irrefutáveis e mentiras que ganham status de coisa séria quando contadas e vividas por personagens ilustres desconhecidos do Centro. “O Beco é um conflito entre a miséria e o rico, entre o saber e a ignorância... por isso o Beco é resistente. Ali a gente conhece empresários, professores, artistas, jornalistas, assaltantes (risos). Além do dia-a-dia, o Beco é feito de pessoas comuns”, analisa.

Rafael Duarte


Yamandu Costa agita bar na Cidade Alta

Diário de Natal

17.11.07

Véspera de feriado. Noite regida pela lua nova. Os intelectuais, os boêmios, os músicos que circulam nessas ocasiões pelo famoso Beco da Lama, no Centro de Natal, naquele dia se dirigiram para o Bardallos, comandado por Lula Belmont. A Rua Gonçalves Ledo estava cheia, faltou até estacionamento, e o ''burburinho'' tinha bons motivos, um deles era o lançamento do livro Crônicas do Beco da Lama, do jornalista Leonardo Sodré. O outro era para constatar a veracidade de um boato que havia circulado pela cidade naquela tarde, o de que o músico Camilo Lemos iria levar para o local o violonista gaúcho Yamandu Costa, um dos mais virtuosos do País, após a sua apresentação no projeto Pixinguinha, no Teatro Sandoval Wanderley.

A noite começou com o som intimista do próprio Camilo e com Léo Sodré autografando a sua cria literária. Depois de algum tempo, som encerrado, mas mesmo assim o entra e sai continuou, sinal de que realmente o convidado tão esperado poderia corresponder as expectativas e aparecer para dar uma ''canja''. Por volta das 22h ele chega, trajando branco e alguns quilos mais magro, surpreendeu aqueles que tinham assistido a um show dele em dezembro, quando Yamandu se apresentou acompanhado pela Orquestra Sinfônica do Rio Grande do Norte, em frente a Pinacoteca, e estava com visual bem acima do peso.

Acompanhado de dois músicos seus senta-se em uma mesa no fundo do bar, em seguida chega um violão, uma sanfona. Alguns músicos começam a se aproximar, sentam-se também, outros ficam em torno da mesa esperando que o ídolo tire qualquer acorde do violão. Muita conversa e cerveja até que a sanfona sai da caixa, começava ali uma verdadeira jam session, com os instrumentos sendo passados de mão em mão, como se fossem um cachimbo da paz. Naquele momento se concretizava um encontro da música do Rio Grande do Norte com a do Rio Grande do Sul.

O sanfoneiro potiguar, Zé Hilton, pega a sanfona no colo e dá um verdadeiro show. Um número crescente de pessoas começa a ficar ao redor da mesa. Nomes conhecidos no meio musical também aparecem, como Sérgio Groove, acompanhado por seu baixo, e o trombonista da Orquestra Sinfônica do Rio Grande do Norte, Gilberto Cabral com seu novo visual, sem cavanhaque. A música atraiu os ocupantes das outras mesas que logo pegaram o copo na mão para engrossar a roda que se formava ao redor dos músicos.

Meia noite, como de costume, Lula Belmont toca o sino avisando que dali a no máximo uma hora o bar iria fechar. Ilusão dele, ainda faltava Sérgio Groove dá o seu show no baixo, com Zé Hilton na sanfona e Yamandu no violão. Nessa hora, o músico gaúcho não se conteve, deitou o violão no colo e ficou observando a virtuosidade dos músicos locais que emendavam uma música na outra, mostrando a beleza das composições de ambos. Se existia alguma dúvida entre os presentes de que no estado se faz uma excelente música, ela se dissolveu naquele momento.

Zé Fontes, Lívio Oliveira, Eduardo Pinto, Erick Tibau, Franklin Nogvaes, entre tantos outros nomes das artes natalenses passaram pelo Bardallos naquela noite. A empolgação de Yamandu era tamanha, que chegou a perguntar se tinha algum problema para o dono do bar que a música se prolongasse pela madrugada. Lula, como bom anfitrião que é, respondeu mandando para a mesa um incenso preso a uma lata de cerveja, uma forma alternativa de abençoar o encontro de gênios.



Yasmine Lemos
Yamandu Costa, com Zé Hilton, no lançamento do Crônicas do Beco, de Leo Sodré


LEONARDO SODRÉ

ENTREVISTA A’O MOSSOROENSE

Aos 53 anos, Leonardo Sodré é um jornalista que já trabalhou em vários jornais, entre eles O Mossoroense, onde exerceu o cargo de editor-geral, seu último contato com o ambiente de redação. Atualmente, dedica-se a assessorias de imprensa e apresenta o programa "Câmara Cultural", na TV a Cabo 37 da TV Câmara de Natal. Já participou de várias antologias, como "Cantões, Cocadas - Grande Ponto Djalma Maranhão", organizada por Eduardo Alexandre e "Dom Nivaldo - Um Semeador de Alegrias" (biografia), de Diógenes da Cunha Lima. No livro "Beco Estreito", do fotógrafo Hugo Macedo, participou fazendo as ilustrações. Na última quarta-feira, Leonardo Sodré publicou seu primeiro livro, "Crônicas do Beco da Lama", onde narra os acontecimentos mais interessantes envolvendo os personagens desse recanto cultural da boemia natalense.

O Mossoroense - Leonardo, o que o motivou a escrever as "Crônicas do Beco da Lama"?

Leonardo Sodré - O ambiente do Beco da Lama é motivador. Escrevo sobre o cotidiano, mas as muitas histórias e os personagens do Beco são irresistíveis. Por inércia comecei a escrever focando os personagens da boemia do Centro Histórico de Natal e isso chamou a atenção do editor Ivan Júnior, que foi coletando as crônicas mais engraçadas para fazer o "Crônicas do Beco da Lama".

OM - Até onde a ficção se mistura com a realidade nessas estórias becodalamenses?

LS - Algumas histórias são reais. Outras partem da realidade e vão sendo exageradas. Outras, são ficções que poderiam ter acontecido. Esse é o grande mistério da obra. Muita gente não vai saber o que é verdade e o que é ficção. (risos). Tem umas duas histórias com você e o fotógrafo Hugo Macedo, que começam a partir de um fato real e se desenvolvem em meio a uma ficção, que poderia perfeitamente ter acontecido. O poeta Plínio Sanderson diz que sou um "escrevinhador caricatural". Eu acho que ele tem razão.

OM - Os fatos narrados são fiéis ou você deu uma "mãozinha" para abrilhantar certo acontecimento?

LS - Eu geralmente dou uma mãozinha para exagerar os acontecimentos. Mas, garanto que tudo tem um mote a partir de um fato acontecido. Explico: numa tarde de sábado chego no Bar de Nazaré, nas adjacências do Beco da Lama, e encontro os poetas Plínio Sanderson e Eduardo Alexandre numa tremenda discussão sobre algumas ações culturais em torno do Dia da Poesia. Estávamos no começo de março e em dezembro do ano anterior tinha ocorrido aquela tsunami que matou um bocado de gente na Ásia. Fiquei observando a arenga e quando vi o poeta Helmuth Cândido subindo a Travessa do Tesouro, lépido, com um cigarro quase caindo do beiço, tive a idéia. Escrevi "O Céu por Derradeiro", crônica onde relato os fatos acima e acrescento uma tsunami que subiu para a Cidade Alta por meio do rio Potengi, matando todo mundo. Depois relato a discussão de Eduardo Alexandre e Plínio Sanderson com São Pedro e a desistência dos dois de entrar no Céu porque lá não podiam tomar umas biritas e tampouco discutir. Muito menos por causa de poesia.

OM - Como se sentem os personagens reais do Beco da Lama vendo suas estripulias relatadas para o mundo?

LS - Eu tenho muito cuidado para não relatar fatos de pessoas estressadas. Aliás, os zangados nunca protagonizam fatos que mereçam uma crônica. Os mais relaxados e de bem com a vida sempre estão fornecendo munição. Já teve gente que me pediu para publicar histórias onde o próprio esteve envolvido. Geralmente os personagens reais reagem muito bem às crônicas. Não somente porque na maioria são meus amigos, mas por saberem que não existe nenhuma motivação no sentido de macular a imagem de ninguém. É tudo uma grande brincadeira literária.

OM - Você é um caricaturista nato e gosta de retratar os personagens do Beco da Lama. O livro não caberia alguma caricatura para ilustrar as narrativas?

LS - Caberia, mas eu não quis misturar os meus cartuns com o livro. Primeiro, porque a obra não foi iniciativa minha, e sim do editor Ivan Júnior. Segundo, porque tudo foi decidido em menos de um mês e não haveria tempo para lançar o livro neste final de ano. Terceiro, ele iria ficar muito mais caro. Por enquanto vou ilustrando os livros dos outros escritores, como foi o caso do livro de Hugo Macedo, "Beco Estreito", que contém ilustrações minhas em todas as páginas. Aliás, a capa também foi feita por mim. Mas, no próximo garanto as ilustrações.

OM - O que representa o Beco da Lama para o cenário literário potiguar?

LS - Como disse alguém, "o Beco da Lama não cabe em si". Isso é verdade há muito tempo. O Beco é um celeiro de cultura. É um local de liberdade, onde as mais diversas formas de arte são divulgadas. Para literatura ele funciona como mágica. O Beco é literário por vocação e geralmente os escritores são contaminados por ele. E por quê? Ninguém sabe. O que se sabe é que naqueles bares, na confraria com os amigos, nas arengas, em meio as poesias, a inspiração literária brota. E como brota!

OM - De vez em quando, alguns mossoroenses vêm ao Beco da Lama para fortalecer o intercâmbio intelectual e se confraternizar com os personagens do seu livro. Há alguma narrativa com algum personagem de Mossoró?

LS - Já escrevi várias crônicas com personagens de Mossoró, principalmente no período em que estava na editoria geral no O Mossoroense, em 2006. Antonio Francisco, Túllio Rato, Cid Augusto e outros que não me lembro agora sempre estão por aqui, pelo Beco e suas adjacências. Já citei todos eles em algumas crônicas, umas até que não estão no livro. O poeta Antonio Francisco, por exemplo, é citado na primeira crônica do livro "Aviso Compressivo". Cid Augusto e Tullio Rato na "Revelações Kunestras", mas todos como testemunhas de histórias e estórias.

OM - Por um período, você exerceu a função de editor geral do jornal O Mossoroense. Como foi essa experiência na Terra de Santa Luzia?

LS - Foi interessante. Passei cerca de dez meses trabalhando no O Mossoroense com uma equipe muito boa. Aprendi muito com Cid Augusto e fiz muitas amizades. Para mim foi uma honra ter trabalhado em um dos jornais mais antigos do Brasil e poder conhecer melhor Mossoró, cidade que vem se desenvolvendo de forma extraordinária.

OM - Quais as lembranças que você guarda desse tempo vivido em Mossoró? Essa vivência caberia em um livro?

LS - Guardo excelentes lembranças. Fiz grandes amigos e pude conviver com muita gente interessante. Não creio que essa experiência caiba em um livro, considerando que o personagem, no caso eu, não tenha tanta importância assim. Mas pude ver que Mossoró é uma terra que exala cultura. Tem excelentes escritores, poetas, artistas plásticos e principalmente se destaca no teatro. Mossoró tem a Papangu, por exemplo, que é a única publicação do gênero no Rio Grande do Norte e que se mantém viva há muitos anos. Mossoró tem vários jornais diários e jornalistas de primeira linha.

OM - Atualmente, você trabalha numa empresa de assessoria de imprensa, apresenta o programa Câmara Cultural na TV Câmara e mantém um blog na Internet. Com essa intensa produção, você não sente falta das redações de jornal?

LS - Sinto uma falta danada! Parece que a pressão da redação vicia o jornalista. O tal do "deadline" entra na corrente sangüínea e não sai nunca mais...

OM - Quais os projetos literários para o futuro?

LS - Estou escrevendo um romance/ficção, que deverá ficar pronto até janeiro. É uma história de um jornalista, seus amores e suas experiências com objetos voadores não identificados. O meu editor, dependendo do sucesso do "Crônicas do Beco da Lama", é bem capaz de publicar. Chamar-se-a "Um Passeio no Céu".

Por ALEXANDRO GURGEL

alex-gurgel@oi.com.br


Leozito,

o escrevinhador caricatural

Hoje Plínio Sanderson, sem tirar nem por, assume a boca de cena e apresenta Leonardo Sodré com suas 'Crônicas do Beco', livro que será lançado amanhã, no Bardallos - Gonçalves Lêdo, 671 - a partir das 19 horas. Leonardo é pintor e cronista do Beco da Lama, dos seus mistérios e suas almas bêbadas, desde o tempo em que os becos eram iluminados pela luz mediterrânea dos versos líricos de Manuel Bandeira.

Oh! Sim, a lama do Beco tem alma. Conheci Leo Sodré no Beco Esplêndido. Iniciado pelo fraterno Eduardo Alexandre, explanava sobre quantas palavras cabiam num frame de imagens. Foi de pronto acolhido e aprisionado pelo encantamento do Beco. Perspicaz escriba, redator arretado, de uma criatividade que aflora da tez ao corazón. Antenado, nonada lhe passa despercebido, em tudo cabe o blague e o escambau - o que o torna interlocutor aprazível. De solidariedade irrestrita, avesso à discórdia, sempre contemporiza qualquer discussão, alheio ao conflito, beirando o bajulamento, daí a alcunha (nada pejorativa): XeleLeo! "Ô Xeleléu, o seu lugar tá garantido...".

As pessoas valem pela sua raridade. Descobri-o na plenitude quando "A embaixada do Beco da Lama viajou ao País de Mossoró". Leozito, Huguito, Alexito e Euzinho, realizamos uma transumância epopéica via Chap-Chap do urtigão Rogério. A entrevista com Ving-Un, a dança desinibida do acasalamento em plena Estação das Artes Eliseu Ventania, o porre homérico em Cristóvão, nas lonjuras das Areias Brancas... Foi convidado para ser o editor do jornal "O Mossoroense", e nos meses Rosados que lá permaneceu, deixou uma vacância saudosa, sentimos na pele como era sôfrega sua ausência nas plagas Bequianas. Enfim, foi sacramentado à irmandade una.

Escrevinhador. Em "direito de Sonhar", Gaston Bachelard filosofa: "a tinta de escrever pode fazer um universo se apenas encontrar seu sonhador". Leo, em seu efervescente labor criativo, escreve com tintas, e intrépido, pinta desvendando em matizes textos prosaicos, burlescos...

Nada como o inútil para ser artístico. No Genius Locki (magia do lugar) do Beco, o ímpeto transformador de línguas. Na escrita sodreniana a versão é infinitamente mais interressante do que o fato em si, ou mesmo, menos enfadonha que a crua realidade. Na sua singularidade de milacrias, tudo se metamorfoseia em tiradas sábias: acontecências, situações pitorescas e curiosas, falas bem contadas ou esmeradas tramas. Neste calidoscópio delirante de rapsódias, cultua as celebridades no âmago da cidade, na histeria permanente do Beco, estorvo criador de tipos universais, ressurgentes em cada espectro urbano, feito de risos, de lágrimas e de patifarias. Na vida mundana, tais personas representam seus dramas e status particulares: espécimes, figuras, trastes, bichos, cineastas sem filmes, ratos humanos, poetas sem rimas, escrotas corjas, pintores daltônicos, santos dementes, putas que pariram...

No exercício das artes plásticas, o "Expressionismo Caricatural", em que são rabiscados em lépidos traços: o ululático com sua barba imperial desalinhada; a pança de Carlança; o calombo (ou seria catombo?) no quengo do Dunga; os peixes num mar vermelho e infernal (o mesmo daquela temporada r-imbaudiana de Iluminações). Moleque traquino, de verve anárquica, vide as hilariantes bucetinhas caranguejeiras proliferadas no banheiro da Nazaré, que invocada, tentava flagrar o dito-cujo elemento e declará-lo proscrito no seu recinto etílico-epicurista.

Idiossincrático convicto, de santíssimos saberes, é o exegeta dessa paróquia dos pecados. De fé inquebrantável, na contramão do batalhão de suicidas sindicalizados que aportam sorrateiramente, esse menino de cinqüenta e poucos anos é sobrevivente de todo dia... Onde finda o caminho, inicia o Beco, que está para a cidade, assim como a estrada está para o mundo. Nas intempéries da confusão in urbe, tudo flui e conflui às entranhas das adjacências. Nesse território livre, de atmosfera tão singular, nada das crônicas na lábia encantadora de João do Rio, nosso apologista de vissitudes é Leozito, o escrevinhador caricatural. Bem-aventurados os ruidosos desse Beco porque deles é o reino do caos.

Plínio Sanderson
N'O Jornal de Hoje, Cena Urbana, coluna de Vicente Serejo

por Alma do Beco | 11:31 AM | | Ou aqui: 0




terça-feira, novembro 13, 2007

FIANÇA

Marcus Ottoni

A exemplo do que aconteceu na Câmara, às vésperas da votação da emenda que prorroga a CPMF, o governo voltou a abrir as torneiras do Orçamento para assegurar os votos dos aliados no Senado.
O Globo

Karl Leite

MAKTUB

Deixe as remotas memórias

Escreva sua própria história

Diga honestamente

Não ameaço, apenas faço

Encontre os inacabados,

Seja nos versos, nos contos, nos planos

Nos bem ou nos mal amados/humorados

Espante espantalhos

Faça cair os mascarados

Jogue a poeira nos olhos

Dos que viram e ignoraram

Atravesse fronteiras

Provoque polêmicas

Esquente o ambiente

Convide o intendente

Esparrame assim de repente

Verdades, compromissos

E até uma anedota indecente

Diga honestamente

Cansado, estou

Exausto, me sinto

Mesmo assim

Não desisto, insisto

Em mudar o rumo

Desse indefinido destino

Deborah Milgram


Um estilo que rasga muitas léguas

Sertão: estes seus vazios.
João Guimarães Rosa


O romance brasileiro se resume á José Lins do Rego, Rachel de Queiroz, Graciliano Ramos, Jorge Amado e “o pai de todos” (na expressão do baiano Jorge) José Américo de Almeida. Aqui há uma ponderação. São só estes cinco representantes? E mais João Guimarães Rosa, que de tão regional se tornou universal, quase planetário de tanto virtuosismo.

Afianço que não. Do nordeste de vera, do Brasil, que pelo rio São Francisco faz sua junção com Minas Gerais(uma parcela), até o Amazonas, isto tudo parece ser sertão, lugares de vegetação e o conjunto fauna e flora muito próximos. Existe aqui outra lacuna; abecando-se toda a literatura brasileira em todo lugar haverá o bom estilo regional, a narrativa terrestre, o causo, a história simples ou ambiciosa passada em lugares característicos. Em lugares normalmente secos, áridos, rochosos, com grande possuir de vegetação rala.

Então, pois listemos aqui mais de dúzia de autores que sejam regionalistas neste país sertanejo, tropical, de políticos corruptos e de criação ameríndia (citado não é quem já o foi): Mário Palmério (O chapadão do Bugre, Vila dos Confins), Érico Veríssimo (O tempo e o vento), Ariano Suassuna(O romance da pedra do reino), Bernardo Ellis(O tronco), Nei Leandro de Castro(As pelejas de Ojuara), Amando Fontes(Os Corumbas), Ivan Pedro de Martins(Fronteira Agreste), José Cândido de Carvalho(O coronel e o lobisomem), Herman Lima(Tigipió), Afrânio Peixoto(Bugrinha, Sinhazinha, Maria Bonita), Herberto Sales(Cascalho), Inácio Magalhães de Sena(Agora Lábios Meus Dizei e Anunciai), Dyonélio Machado(Os ratos), João Alphonsus(Totonho Pacheco), Cyro Martins(Estrada nova)Jorge de Lima(Calunga), José Bezerra Gomes(Os Brutos) Octávio de Faria, Nilo Pereira, Aureliano de Figueiredo Pinto, Guilhermino César e outros escritores que não se filiam ao estilo mas porejam regionalismo seja em contos ou romances, como o manauense Milton Hatoum que revisita um local muito próximo ao nordeste e ás regiões de sertões, que é o Amazonas. Mas mesmo arejando este estilo o autor acaba sendo um romancista-contista intimista, como Rosa, que de sertanejo, do oco do mundo, deu-se ao final em profundo. A literatura sertaneja faz um ão e um cão: se espalha alhures.

A literatura sertaneja, pois, em prosa é basicamente romance e conto. Não se é incluído com grande profundidade a crônica. O ensaio aí sim teria grande força, mas é tema rombudo, enorme.

Aqui, o conto ainda não apareceu. Existe em todo o Brasil o conto. O conto regionalista é cada vez mais escasso em outros locais fora do Norte-Nordeste. No RN surge no início do século XX um contista de mão cheia, assemelhado a meu ver ao mineiro Rosa em toda profundidade e maestria alcançada no domínio da narrativa curta: Afonso Bezerra. Afonso tem um estilo seco, uma prosa que crava como espinho de palmatória. Um olhar do sertão como bisaco cheio de estórias, de arte, do ‘ o poeta não cita: canta’ (de Guimarães Rosa), do pacato mundo interiorano. O autor sabe muito a captação que possui. No mesmo Rio Grande o cidadão de Martins e Natal Manoel Onofre Jr., é autor de um magnífico bem armado livro de contos: Chão dos Simples. É a junção de alguns contos onde predomina um meio rural e bem construído do interior norte riograndense. Outros autores são Nei Leandro de Castro, Jaime Hipólito Dantas, Iaperi Araújo, Milton Pedrosa e até autores que versem mais pro lado urbano nordestino como Eduardo Alexandre, Gilbamar de Oliveira Bezerra, Tarcísio Gurgel, Newton Navarro, Anchieta Fernandes, Dailor Varela, Vicente Serejo, Clotilde Tavares, Laurence Bittencourt Leite, Bianor Paulino, Moacy Cirne, Nilson Patriota, François Silvestre e muitos outros, incluídos aí os membros cronistas e freqüentadores de páginas de artigos nos jornais natalense e de outras localidades. O Rio Grande usado aqui como exemplo, por ser um estado nordestino e afluente de vários estilos literários.

Aqui o que se vê é a escassez de literatura regionalista no Brasil. Um estilo que existe desde os tempos mais iniciais da literatura deste país ex-colonizado de portugueses. Mas pelo menos onde deve ter ele existe. Sempre com o velho fogaréu de sempre, o estilo fantasioso, a fôrma lírica e ás vezes erótica (o que é muito comum e normal). Pelo menos ele anda em suas devidas léguas e aí se espalha!

Pedro Lucas de Lima Freire Bezerra (13 anos)
Estudante da Escola Viva


Crônicas da exata circunstância

Foi grande, o provérbio já nos era conhecido.
Marcel Proust



O norte-riograndense Agnelo Alves segue em seu livro “Crônicas de outros tempos e circunstâncias” aquele velho estilo dito como Vinícius de Moraes de que "o cronista afirma-se cada vez mais como o cafezinho quente seguido de um bom cigarro", essa dupla que normalmente está presente em mãos após o regozijo dos prazeres da mesa do brasileiro”. Bem, é um estilo conciso e talvez irônico o do senhor Agnelo. Tem o fio natalense e o poder de síntese, o sabor do paladar do leitor que escreve, mesmo que seja limitando-se a um tema só praticamente e obtendo um êxito realmente até palpável e bom. Aqui, a política, as artes, o próprio futebol se entrelaçam, se abraçam e se vêem misturado à massa do cronista político. É um fidedigno e atento observador (atento como todo observador o é), como notou também na orelha da obra o jornalista Carlos Peixoto. É um verdadeiro telescópio político, afinal. Um telescópio político. O autor simplesmente apenas parece enxergar a política, geralmente é o que políticos e aficionados pela arte do Príncipe, de Niccòllo Machiavelli, ou simplesmente Nicolau Machiavel. De suas crônicas jorram a arte das urnas no país e os comentários de praxe a quem escreve este cafezinho literário basicamente tupiniquim.

Há aqui desde crônicas memorialistas a comentários (comuns à crônica jornalística) sobre fatos no Brasil e no Rio Grande do Norte. E vez por outra mesmo quando assuntos do Brasil estão sendo versados politicamente pelo riograndense do norte que não está no Rio Grande, sendo muitas das crônicas compiladas escritas para serem publicadas em jornais cariocas, em meados dos anos 1950 há o fio nordestino e sertanejo. Como no Antipoema da gota serena de Moacy Cirne, uma saudade braba do sertão está aí nesta mistura (haja o comentário que pode não existir totalmente, está presente em crônicas como a intitulada Chuvas). Um vago brilhar de estrela sertaneja. Nisto, o RN pouco explorado literariamente pelo oco do mundo brasileiro, está ativo e se mostra um lugar paradisíaco. Uma força bastante grega, espartana, Hesíodo, Homero. A não ser que o RN fosse conhecido em suas profundidades pelas leituras de Câmara Cascudo, fora de seu estado, e isso principalmente pelo meio intelectual. Talvez também Peregrino Júnior, hoje outro exemplo de autor pouco lido, mas de leitura muito proveitosa, da safra qualificada de Natal e seus apêndices, as outras cidades donde saem Nei Leandro de Castro, Moacy Cirne, Celso da Silveira, Luís Carlos Guimarães, e muitos outros.

Ao que cuida de voltar ao assunto que é aqui especialmente tratado, está um tempo negro que vai e volta em diversos textos da obra. A ditadura militar que fez do estado brasileiro Campos Elíseos torneados por combates sangrentos entre pessoas que queriam o bem para o país e as eleições diretas, está muitas vezes nos centros dos debates de Agnelo, passando-se sempre com um ar de melancolia poucas vezes e de lasciva vontade, sangue nos olhos, colhões dilatados para aí sim dizer desde o novo livro (á época) de Carlos Heitor Cony que falava da ditadura, Elio Gaspari e sua trilogia sobre os tempos de ditadura que são obras citadas tratadas com interesse pelo autor que fala de seu gosto pelas visitas a livrarias de aeroporto, lugar onde Agnelo sempre está presente, pois suas viagens são constantes, citando a crônica de nome O novo livro de Cony.

Aqui, se conclui que a obra é compilada com alegria. Ânimo e descarrego de energia grande, o que faz do livro uma agradável mostra de uma faceta admirável do político: sua habilidade com sua amiga máquina de escrever.

Pedro Lucas de Lima Freire Bezerra (13 anos)
Estudante da Escola Viva

por Alma do Beco | 11:48 PM | | Ou aqui: 0




quarta-feira, novembro 07, 2007

CRÔNICAS DO BECO DA LAMA

Marcus Ottoni


"O Beco não cabe em si. Funda-se em altíssimos saberes."
Plínio Sanderson - Pichação na esquina dos quatro cantos do Beco da Lama

Foto e Capa: Alexandre Oliveira


LIVRO

Leonardo Sodré lança “Crônicas do Beco da Lama”

O jornalista Leonardo Sodré lança no próximo dia 14, às 19h no Restaurante e Bar Bardallos o livro Crônico do Beco da Lama. A obra reúne diversos artigos já publicados em jornais, blogs e sites. “A idéia do lançamento desse livro foi do editor Ivan Júnior, dono da Editora Offset, que ao longo do tempo foi reunindo as crônicas mais bem humoradas de histórias e ficções envolvendo vários personagens que freqüentam os bares do Beco da Lama e das adjacências, geralmente formada por artistas plásticos, escritores, jornalistas, músicos, comerciantes, comerciários, enfim, por todo mundo que gosta da magia libertária do ambiente do Centro Histórico de Natal”, disse Leonardo Sodré.

A obra, que irá custar R$ 20,00 tem 100 páginas e contém, além dos textos do autor, a apresentação e prefácio dos escritores Plínio Sanderson e Eduardo Alexandre e “orelhas” assinadas pelos jornalistas Alexandro Gurgel e Eugênio Meio-Quilo.

Sobre o autor, o escritor Plínio Sanderson escreveu: “Idiossincrático convicto, de santíssimos saberes, é o exegeta dessa paróquia dos pecados. De fé inquebrantável, na contramão do batalhão de suicidas sindicalizados que aporta sorrateiramente, esse menino de cinqüenta e poucos anos é sobrevivente de todo dia...” Eduardo Alexandre, prefaciador da obra, definiu: “Saber o que é acontecência ou ficção (ou mentira) é o grande dilema do leitor destas Crônicas do Beco de LeoSodré. É o mistério que os textos deixam, fora um prazer imenso, oriundo de um humor cativante e da certeza de se tratarem de textos de amizade”.

O jornalista Eugênio Meio-Quilo foi mais além: “Todos são vítimas contumazes da sua pena, ou melhor, do seu teclado sem pena”, enquanto o jornalista Alexandro Gurgel contemporizou: “Qualquer relação com os personagens contidos no livro não é nenhuma coincidência, é proposital. Não se surpreenda se alguém que você conheça for personagem das Crônicas do Beco da Lama”.




Show – O músico Camilo Lemos, um dos responsáveis pelo Grupo de Chorinho que tem animado o Beco da Lama todas as sextas-feiras, fará uma apresentação (solo) especial durante o lançamento do livro, que também contará com performances poéticas.

O autor – O jornalista Leonardo Sodré é natalense desde os 30 dias de vida, depois de ser apresentado ao Mundo na cidade de Campina Grande, Paraíba, e vir para Natal com seus pais. Aos 53 anos é pai de um filho (já falecido), duas filhas e tem cinco netos. Atualmente, depois de trabalhar em vários jornais – entre eles O Mossoroense, onde exerceu o cargo de Editor Geral, seu último contato com ambiente de redação -, dedica-se a assessorias de imprensa, fazendo parte da equipe de redação da Mais Comunicação e apresenta o programa “Câmara Cultural”, na TV a Cabo 37 da TV Câmara de Natal. Já participou de várias antologias, como “Cantões, Cocadas – Grande Ponto Djalma Maranhão”, organizada por Eduardo Alexandre e “Dom Nivaldo – Um Semeador de Alegrias (biografia), de Diógenes da Cunha Lima. No livro “Beco Estreito”, do fotógrafo Hugo Macedo, participou fazendo as ilustrações. Esse é o seu primeiro livro solo. Publica crônicas em diversos sites e jornais de Natal, e mantém o blog www.becopress.blogspot.com onde escreve diariamente.


MEU CHAPÉU DE CÔRO - Poema Matuto

Foi no Manhã Sertaneja,

qui na frente de um ispêio,

eu ricibí um cunsêio,

de um poeta, artista, irmão.

O Gaúcho da Frontêra,

dixe: Bob, cumpanhêro,

use rôpa de vaquêro,

nais sua apresentação.

Ela retrata o calibre,

o distemô, a corage,

qui é sua própria bagage,

imposta puro distino.

Tombém mostra cum clarêza,

cum a limpidêiz do orváio,

a durêza do trabáio,

do vaquêro nordestino.

Eu dixe: É munto pesado!

Bota e calça, meu irmão,

mais guarda peito e gibão;

o cabra inté fica fraco.

Adispôi, sô munto feio,

e mêrmo disinibido,

eu fico mais paricido,

trêiz velocípe num saco.

Mais vô dá um jeito nisso,

resgatando p'ru meu lado,

um apetrêcho do passado,

um verdadêro tisôro.

Cumpanhêro inseparáve,

qui traiz mil rescordação;

tô falando, meu irmão,

do meu véi chapéu de côro.

No mêi da chuva ô no só,

na lida, na brincadêra,

no currá ô na cochêra,

no açude ô no roçado;

êsse chapéu véi, surrado,

lhe juro, sem atrapáio:

Foi instrumento de trabáio,

no meu tão feliz passado.

Me potregeu de imbuzêro,

de tronco de caatinguêra,

de ispíin de quixabêra,

tombém de ispíin de jurema.

Êsse mixto de vaquêro,

cum poeta e trovadô,

se orgúia, seu dotô,

in amostrá no seeu poema.

Tombém síiviu de caneco,

mode matá minha sêde.

Nuis recanto de parêde ?

No chão, foi meu travissêro.

Tombém foi abanadô,

no mato, longe de casa,

nais trempe, in fogo de brasa,

prá cunzinhá p'ruis vaquêro.

Qui êle é feio, inté concordo,

cumo adôrno ô aderêço.

Mais êsse chapéu num tem preço,

quem tem um, nunca s'isqueça.

Mêrmo sendo êle tão feio,

cum o meu eu vorto ao passado,

e tenho um orgúio danado,

dêle na minha cabeça.

É verdadêra relíquia,

qui eu curtuo e quero bem,

sem mais, taivêiz nem porém,

prá mim, êle vale ôro.

Nunca ví ninguém sê prêso,

na cidade ô no mato,

p'ru rôbo ô assassinato,

usando um chapéu de côro.

Jamais saiu do meu quengo,

prá pegá jumento ô gado,

eu in pano ô incôrado,

nais festa de apartação.

Êsse amigão do peito,

quero pidí prá você:

No dia qui eu morrê,

bote êle no meu caixão...

Bob Motta

jul.2003

por Alma do Beco | 8:57 PM | | Ou aqui: 0




terça-feira, novembro 06, 2007

JÁ NÃO É?

Marcus Ottoni

"Os Presidentes de Partido abaixo-assinados tornam público o seu posicionamento contrário a quaisquer alterações das normas constitucionais que disciplinam as eleições para os cargos de Presidente da República, Governadores de Estado e Prefeitos Municipais, visando facultar um terceiro mandato consecutivo mediante segunda reeleição, uma vez que essa discussão compromete o clima de tranqüilidade e normalidade política e institucional do País, necessário ao trabalho construtivo do desenvolvimento econômico e social da nação brasileira".

Michel Temer - PMDB
Ricardo Berzoini - PT
Rodrigo Maia - DEM
Tasso Jereissati - PSDB
Roberto Amaral - PSB
Renato Rabelo - PCdoB
Francisco Dornelles - PP
Pastor Everaldo - PSC
Roberto Freire - PPS
Daniel Tourinho - PTC
Heloísa Helena - PSOL




Beco Virtual

POSSO PENETRAR?

JÁ NÃO É LIBERTÁRIO

ESTE TEU LUGAR?

Lívio Oliveira


Artes Plásticas no Salão do Automóvel

A Associação dos Artistas Plásticos Potiguares estará expondo 180 obras de arte de 32 artistas potiguares no Midway Mall, piso G5, do dia 09/11 até 18/11/07, das 14:00h às 22:00h.

Nesta super coletiva, a Nordeste Auto Show, durante o Salão Internacional do Automóvel, apresentará vários eventos de caráter cultural. A AAPP, por sua vez, apresentará os melhores artistas plásticos e alguns deles farão oficinas de pintura no local.

A Associação manterá 03 artistas na exposição, dando explicações sobre arte e técnicas dos quadros expostos.

A AAPP também informa que já está na sua programação outro grande evento a ser realizado no Centro de Convenções, onde serão expostas mais 200 obras de artes plásticas potiguares.

Os artistas convidados pela AAPP a expor no Midway Mall são nomes de destaque nacional e estadual, como: Nilzete Moura, Rogério Dias, José Pereira, Margarida Cortez, Eduardo Alexandre, Victor Hugo, Newton Avelino, Marcelo Fernandes, Marcelus Bob, Rosa Maria, Leo Sodré, Assis Marinho, Valderedo Nunes, entre muitos outros.

Depois do grande sucesso da coletiva no Blue Tree Pirâmide (hotel 5 estrelas conhecido internacionalmente), a AAPP agora direciona seus objetivos ao mercado internacional. Estamos enviando para galerias européias Folders com mais de duzentos quadros de artistas locais, oferecendo a venda destas obras através de um marchant na Espanha.

Vitor Hugo Zamora

Presidente



Um momento inusitado

Pelos anos '60, papai era presidente da ACERN, Associação dos Cronistas Esportivos do RN, e nós já morávamos na Brito Guerra, bem perto do Aéro Clube.

O Aéro, na Hermes da Fonseca, era o mais importante clube social da cidade, o maior, o que tinha as melhores festas, os melhores carnavais, a melhor praça esportiva, com quadras de tênis e a tríplice, de volei, basquete e futebol de salão, com pequena arquibancada em cimento, vestiários. As demais sedes de clubes da cidade eram mais acanhadas, a do América, na Maxaranguape, e a do ABC, um interessante projeto arquitetônico, na Afonso Pena, de sede mais nova, mas bem menor que os demais.

No Aéro, jogava-se tênis de mesa, que chamávamos ping-pong, e era lá onde tinha a única piscina de 25 metros da acanhada capital, ainda pequena e provinciana. Enquanto os banhistas divertiam-se nas duas piscinas, pois havia uma menor, para crianças, a parte social era exercida debaixo de um parque de frondosas árvores, que recebia os serviços de bar e restaurante.

Era a convergência social da cidade, em manhãs, tardes e noites sempre movimentadas.

Todos, em Natal, conheciam dali um personagem, baixinho, vagaroso, gentil, que ali residia e tomava conta de tudo, dia, tarde e noite: Boquinha.

Ele era ferrenho defensor da memória de Getúlio Vargas, com direito a foto à mostra em seus aposentos, e defesa sempre ferrenha das virtudes do "pai dos pobres".

O Aéro e Boquinha foram duas grandes referências para todos os garotos de minha geração.

A piscina, aos sábados e domingos, levava centenas de pessoas ao lugar. Tinha três trampolins, dois mais baixos em suas extremidades, e um maior, no centro, do lado contrário às plataformas de salto para as competições de nado, ali sempre realizadas. Saltos e mais saltos eram exibidos pelos que detinham as técnicas do esporte.

Desportista nato, apaixonado pelos esportes amadores, como presidente da ACERN, papai, José Alexandre Odilon Garcia, promoveu diversas competições ali.

A última, foi a introdução do futebol de salão infantil entre nós, pioneira, antes que a FNFS, Federação Norteriograndense de Futebol de Salão, acatasse a sugestão e passasse a desenvolver competição oficial da modalidade.

Todo esse preâmbulo, na verdade, é apenas para lembrar um gesto seu, de desportista, que foi uma de suas marcas mais características.

Numa disputa de nado livre, 200 metros, um jovem atleta, Serrano era o seu nome, propiciou um momento inusitado. Todos os demais nadadores chegaram ao final da prova, já haviam deixado a piscina, mas Serrano permanecia ali, como último lugar, e ainda com duas piscinas para concluir os duzentos metros.

Nadou, nadou, todos em volta perguntando por que não parava, até que chegou ao toque final, completando a prova.

Na hora das premiações, nos discursos, sem que ninguém esperasse, papai enalteceu o gesto de Serrano, conferiu-lhe uma medalha de menção honrosa e esse episódio nunca deixou de estar em minha cabeça, como exemplo de atitude de um homem que via nos pequenos gestos do cotidiano dos homens, motivos de aprendizado que serviriam à vida.

O meu pai foi um homem muito bonito, amigo sincero que dignificava as muitas amizades enraizadas vida a fora.

Eduardo Alexandre

por Alma do Beco | 9:41 PM | | Ou aqui: 0


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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A imagem de fundo é do artista plástico e poeta Eduardo Alexandre©

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