sábado, junho 23, 2007

"VERSOS FRIOS"

Marcus Ottoni


ecoando pela noite das cidades
mil zabumbas mil sanfonas mil saudades

Márcia Maia

Orf
Marcelus Bob


junho 23 0:50

deve haver algo de bruma de neblina
na fumaça que esvoaça das fogueiras
algum sol e uma miríade de estrelas
nos fogos de artifícios e nos balões

deve haver mais que alegria nos baiões
e um sentir de antiguidade nas janelas
sem cortinas enfeitadas com bandeiras
jornais velhos coloridos de anilina

no sorriso das moças namoradeiras
nos rapazes recendendo a brilhantina
e na dança que se dança em cada esquina
deve haver mais que alegria e brincadeiras

e ecoando pela noite das cidades
mil zabumbas mil sanfonas mil saudades

Márcia Maia

NHENCIARA, A MAIS FERMOSA DOS POTIGUARES

Os cabelos de Graziela, finos, dourados, cativos de sua cabeça, embora ao vento... lembram... aqui na margem destas terras... lembram... ia iniciar um pensamento, do que Graziela lembrava.
Assim, cabelos esvoaçando, figura de Nhenciara. Agora, hoje, daqui a pouco passado, olhando uma baleia passante, que todos gritaram pra eu olhar, uma monstra, como Cícero-Boga agarrou meus braços num chamamento. Reparei que ele estava sofrido de algum motivo. Me puxou no rumo de a gente ficar sozinho, até que na hora que a baleia voltou à tona, todos reparando nela, ele levantou o estrado do porão e desceu atrás de mim a escada e cobriu de novo o estrado. Lá em cima, eram umas garras me apertando. Nos dedos dele não havia aquela forma de amar que eu conhecia. Nem esperou eu tirar o vestido e ficar olhando de longe até me chamar putinha dez vezes, como ele se acriança de fazer, e eu andar na ponta dos pés pra ele gostar mais da antecipação. Era mesmo um doido se jogando em mim, que eu desconheci ele pra fugir e não tinha saída, faminto, faminto, descontrolado mesmo, e não se cansou de me querer muitas vezes.

Capitão Lúcio lembra-se, lembra sim... figura de Nhenciara, mulher como Graziela...


Ali, naquela enseada por onde há pouco passamos, às margens do rio Apodi, num pouco que é pouco mais que o tempo desta viagem, na origem das criaturas que aqui estão, a maldição de Nhenciara. O sangue dela está lá na areia que o mar não limpou, do povo dos potiguares, senhores destas bandas, quando aqui chegou o estrangeiro.


Nhenciara, a bela, a mais bela do povo dos potiguares, reservada, por ser a mais fermosa, assi assi, para a engorda do suplício dos cativos. Pera que cuando lhe se dava aos gentios cativar um estrangeiro, consta de sua justiça o manter cativo numa taba, atado como um touro com cordas de algodão, de pernas e de punhos, e em redor da taba as velhas lhe cantam que se farte de ver o sol, pois num breve perderá de lho ver.

E ao dia primeiro do suplício reservam a o estrangeiro a mais fermosa moça que há no povo da casa, a qual tem por dever regalar seu corpo com o corpo dela e lhe dar do alimento até que os velhos o tenham ao cativo como engordado pera o saboreio de ser comido em festa, entre danças donde, em morrendo o cativo com o golpe do matador, com feras settas, as velhas o despedaçam e lhe tiram as tripas e fressuras que mal lavadas cozem para comer e repartem-se as carnes por algûas casas e hóspedes que hã chegado pera a festa da matança e della comem assada e cozida, e do pouco que guardam, muito assada, a que se chama moquém, pera mais depois renovarem o seu ódio e darem logar a outras festas, até que a presença do cativo estrangeiro se há afastado da lembrança de todos os de aquella casa do povo dos potiguares.

Do brigue que fundeou naquella enseada, o capitão-mor foi cativo e se prepararam as festas numa das casas potiguares e Nhenciara logo entregue aos encômios do cativo com o dever de regalar seu corpo, e morto este, banqueteado entre os hóspedes e transformado em moquém pera festas futuras, Nhenciara guardou no ventre um filho do cativo.

Como as outras mais fermosas de outras casas, tinha por seu dever entregar o filho que nascesse do cativo a um parente mais próximo pera que este o matasse e a mãe seria a primeira a repartir suas carnes e de a ele guardar também fero e cego ódio. Mas Nhenciara escondeu o filho nas matas, porque o queria e lhe guardava amor, a despeito de ser filho de cativo estrangeiro.
Vinte frecheiros a perseguiram e ao seu filho no colo, e na foz do Apodi esquartejaram a os dois.
Nhenciara, a mais fermosa da casa dos potiguares, vendo o sangue seu e do filho cair no encontro das águas do rio e do mar, amaldiçoou seu povo, que seria, por tã cego error, também cativo e todo o sangue dos potiguares desceria o rio e mancharia o mar...

... Graziela, a que se deu a Bernardo, a que se deu a Cícero-Boga... Nhenciara se dava aos que morriam.

Os vultos de Nhenciara e de Graziela se fundem no espelho do sextante. Lúcio tem a idade das duas épocas e diminui o ângulo para as aproximar e a elas se misturam os gritos do cativo estrangeiro e os de Cícero-Boga, atravessando a noite e espargidos pelo vento.


Moacir C. Lopes

In, Belona, latitude noite, 1968,
romance a ser reeditado, na 3ª edição, em 2006.



A Serenata de Otoniel

Existem várias versões acerca da origem da modinha mais difundida no Nordeste e mais cantada nas serenatas potiguares. Trata-se da composição intitulada "A serenata do pescador", nome original, mas que o povo, com o seu poder mágico de transformar as coisas, denomina apenas de "Praieira", de Otoniel...

De todas as versões que correm, registramos a mais atualizada, ou seja, a própria palavra do autor do poema, quando de uma enquete promovida pelo folclorista Veríssimo de Melo, nas colunas de " A República", em 1958.

Dizia Otoniel Meneses:

- Em 1923, eu era remador e orador do "Sport Clube de Natal". Ao se aproximar o regresso dos pescadores que fizeram o "raid" de Natal ao Rio de Janeiro, em jangadas, pediram-me para escrever um discurso de saudação e uns versos alusivos ao acontecimento. Escrevi logo o discurso. Mas os versos deram-me maior trabalho. Passei uma semana toda acordado, escrevendo-os. Imaginei um pescador que voltava de viagem, cantando uma serenata à porta da namorada. No dia seguinte - era o dia da solenidade - reli os versos e achei-os "frios". Não gostei. É tanto que fiz o discurso e não tive coragem de declamar os versos. Dei o título de "A serenata do pescador", mas o povo preferiu mudá-lo para "Praieira", aproveitando a primeira palavra da estrofe inicial.

Como viram, o autor contou a história verdadeira, tantas vezes escutadas nas tertúlias, na casa do pai do autor de Trovadores Potiguares, musicata e sebenteiro Gabriel Saraiva, um dos maiores amigos (e até compadre), do poeta Otoniel Meneses.

Composto o poema, Otoniel Meneses andou mostrando-o a seus colegas, que achavam uma jóia da poesia. Todos eram unânimes em que o poema fosse musicado. Foi quando surgiu o poeta Bezerra Júnior, que lhe apresentou o violonista Eduardo Medeiros, clarinetista de primeira grandeza e um dos tocadores de violão, por música, na época em que surgiu " Praieira". Posta a música por Eduardo Medeiros, a célebre canção natalense foi cantada, oficialmente, pela primeira vez, em dezembro de 1923, no teatro "Carlos Gomes", pela voz deliciosa de Deolindo Lima, uma das figuras de maior projeção nos meios artísticos de Natal antiga.

Recordaremos aqui que, tanto o poeta Otoniel Meneses, quanto o compositor Eduardo Medeiros, foram dois perfeitos seresteiros do passado. Com eles, tomamos parte em várias serenatas e reuniões sociais, nas residências daqueles que apreciam uma bonita voz, ao som do violão e violino dos irmãos Carolino, de Israel Botelho e de tantos outros amantes da " causa" do pinho...

Nas serestas dos nossos dias, ou seja, nos dias atuais, mesmo com toda a transformação do mundo, " Praieira" continua a ser cantada, aplaudida e exaltada pela musicalidade de sua extensão artística, notadamente por um "trio" que está ficando célebre nas atuais noitadas artísticas da cidade. É o trio composto por José Maux Júnior, Jaime dos Guimarães Wanderley e Evaristo de Sousa, as três vozes mais agudas da cidade.

Há pouco, o "Coral Municipal de Natal" estilizou a simpática canção de Otoniel Meneses e por gosto se pode ouvir a " Praieira" no ritmo de coral, em quatro vozes. É um espetáculo que emociona e que enche de grandeza aquele de quem já se dissera que, apesar do ostracismo em que vive, não deve nada a terra potiguar, mas o Rio Grande do Norte lhe deve tudo...

Gumercindo Saraiva



por Alma do Beco | 1:33 PM | | Ou aqui: 0




sexta-feira, junho 22, 2007

DE SACANAGEM

Marcus Ottoni

Quem quebrou o gelo, mesmo sem querer, foi Crispiniano Neto. Ele começou num desabafo, mas terminou numa gafe que levou todo mundo às gargalhadas. Ao declarar que a FJA não era “prepotente nem estava de sacanagem, como alguns querem fazer parecer”, afirmou que não tinha nenhum palhaço na reunião. Mas ouviu a resposta: “Ôpa! Tem palhaço sim. Sou palhaço profissional”, disse João Pinheiro, do grupo Artes & Traquinagens.

Rafael Duarte, em matéria de Tribuna do Norte

Hugo Macedo


MORREU MARIA PREÁ !!!

Esse ditado famoso
Comecei a pesquisar
Porque fiquei curioso
Depois de revirar tudo
Descobri com muito estudo
E pergunta em banda de lata
Que um padre num interior
Tinha um xamego, um amor,

Um caso com uma beata
Bonita e muito formosa
Maria Preá o seu nome
Essa beata fogosa
Do padre tirava a fome
E sempre que ele podia
Com ela, ele se escondia
Pra poderem se agarrar.

Mas um dia o sacristão
Flagrou os dois num colchão
O padre e Maria Preá.
E depois dessa orgia
O padre perdeu o sossego
O sacristão todo dia
Alegava esse xamego.

Chantageava o vigário
Fazia ele de otário
Ameaçando contar.
Deixava o padre com medo
Que vazasse esse segredo
Dele e Maria Preá.

Sem saber o que fizesse
Com o sacristão lhe explorando
Pois tudo que ele quisesse
O padre ia logo dando.

Com medo que a cidade,
Descobrindo essa verdade
Ficasse escandalizada,
Pediu a Deus uma luz
Pra lhe tirar dessa cruz
Dessa exploração cerrada.

Até que um dia o vigário
Viajou pra ali pertinho
Foi rezar um novenário
Num município vizinho..

Esqueceu de um documento
E notando o esquecimento
Parou no meio da estrada
Deu meia volta e voltou.

Mas quando em casa chegou
Ah, que surpresa danada!!!
O padre entrando apressado
Na casa paroquial
Viu o sacristão curvado
Em decúbito dorsal.

Nu da cintura pra baixo
Por trás dele um outro macho
Numa movimentação
Que o padre, vendo, notava
Que o rapaz encalcava
As fezes do sacristão.

Assistindo aquela cena
Mas, lembrando do passado
O padre ficou com pena,
E também aliviado.

Mas, mesmo com a vergonha
Daquela cena medonha
O padre gritou de lá:
- Sacristão, se oriente
Pois, pra nós, daqui pra frente,
Morreu Maria Preá...

Itanildo Medeiros



Artistas formam comissão para “aperfeiçoar” a Lei

Artistas e produtores têm até 60 dias para apresentar sugestões
22/06/2007 - Tribuna do Norte
Rafael Duarte - Repórter


Noite de quarta-feira. Pinacoteca do Estado. Lá pelas tantas, quando o relógio já varava as 21h e nada tinha sido sequer posto em votação, o diretor geral da Fundação José Augusto, Crispiniano Neto, saiu-se com essa: “democracia é que nem carro velho. Ruim de empurrar, mas quando pega é bom demais”. Além dessa e de outras frases de efeito, Wiston Churchill e Leonardo Boff também apareceram na reunião convocada pela FJA para decidir as regras de escolha dos representantes dos artistas na comissão gerenciadora da lei estadual Câmara Cascudo. Tudo isso em meio a uma classe artística que não se entendia. No fim, a decisão: não vai haver eleição. Pelo menos por enquanto.

As 50 pessoas que compareceram à reunião de quarta-feira acharam melhor “aperfeiçoar” a lei Câmara Cascudo primeiro para, em seguida, eleger o novo conselho. Uma comissão formada por oito pessoas (Augusto Lula, Paulo Laguardia, Chico Alves, Ana Patrícia, Ana Lira, Marcilei Maciel, Lívio Oliveira, Geraldo Maia e Jota Marcos) ficou responsável por analisar e normatizar a lei, embora o vice diretor da FJA, Fábio Lima, tenha deixado claro que o grupo não é deliberativo. Terão 60 dias para apresentar as sugestões. A idéia de descentralizar as decisões concentradas, hoje, em Natal também passou. Outras reuniões também devem ocorrer em municípios pólos do interior, uma vez que a lei é estadual e os artistas potiguares não estão todos na capital. A FJA se comprometeu em organizar os encontros.

Questão de ordem

Impaciente, o cartunista do GRUPEHQ, Luiz Elson, pediu a palavra, se levantou da cadeira e desabafou: “Desde que essa reunião começou que só ouço falar em bababá bebebé bibibí bobobó e bububú. O que é isso, hein? A gente fica falando aqui a mesma coisa. Isso acontece porque as pessoas que estão à frente da cultura do Estado perderam o crédito, apesar de serem boas pessoas. Quer resolver a coisa: pegue esses R$ 4 milhões (teto da renúncia fiscal) e divida para cada município do Estado. A resposta veio na hora: “dá R$ 23 mil para cada cidade”, disse, interrompendo, Augusto Lula. “O que não pode é eu precisar comprar um uniformizinho para um menino da banda e ter que entrar num edital para isso”, completou o cineasta.

Se fosse um artilheiro, certamente o videomaker Augusto Lula teria marcado o gol mais rápido do campeonato. Embora as discussões tenham ocorrido em clima de paz, o início foi tenso. Três segundos depois que o músico Mirabô Dantas iniciou os trabalhos... “Questão de ordem!” pediu Lula, deixando o clima pesado, antes de continuar: “Essa reunião é o que? Continuação das outras três que ocorreram? Se for tem que ler a ata da reunião passada”, disse.

Quem quebrou o gelo, mesmo sem querer, foi Crispiniano Neto. Ele começou num desabafo, mas terminou numa gafe que levou todo mundo às gargalhadas. Ao declarar que a FJA não era “prepotente nem estava de sacanagem, como alguns querem fazer parecer”, afirmou que não tinha nenhum palhaço na reunião. Mas ouviu a resposta: “Ôpa! Tem palhaço sim. Sou palhaço profissional”, disse João Pinheiro, do grupo Artes & Traquinagens.


Propostas de normatização da Lei


Em agosto do ano passado, cientes da necessidade de modificar a Lei Câmara Cascudo, foi criada uma comissão para propor critérios para aprovação de projetos. A comissão era formada por Plínio Sanderson, Venâncio Pinheiro e Beto. Em todas as reuniões marcadas, não apareceram os outros componentes, só euzinho, que era o presidente designado. A então presidente, Isaura Rosado, me liga solicitando as propostas e terminei sugerindo para discussão os pontos que seguem....

Propostas de critérios normativos para a avaliação e análise de projetos como faculta o parágrafo Único do art. 27 do Regulamento da Lei Câmara Cascudo.

DE RELEVÂNCIAS E PRIORIDADES:
01. Observar a excelência e a relevância da proposta, priorizando projetos que ressaltem identidade e/ou pertencimento cultural com a realidade e o imaginário do Estado;
02. Analisar o benefício cultural de sua realização, estimulando projetos que sejam estruturantes, que primem pela inclusão social (como oficinas, cursos, seminários e congêneres) ou tenham alcance social (formação de platéia ou profissionalizante);
03. Evitar a similaridade e competências concorrentes, realizar comparação com projetos semelhantes apreciados e aprovados pela Comissão, por exemplo: festivais de rock e/ou música independente, eventos carnavalescos, festivais gastronômicos;
04. Indeferimento de projetos editoriais que se enquadrem no estabelecido art. 2° do Regulamento do Programa Estadual de Incentivo à Cultura, aprovado pelo Decreto n° 7.799 e que prevejam a venda e veiculação de anúncios, salvo a veiculação das marcas da Lei Câmara Cascudo e dos patrocinadores;
05. Estimular projetos que realizem interface entre a cultura e: a interiorização do turismo, a educação, o meio ambiente e a sustentabilidade do lugar.

DE PARÂMETROS E LIMITES:

06. Limitação de apresentação de projetos por ano: cada pessoa física poderá pleitear apenas um projeto e pessoa jurídica dois projetos por exercício;
07. Inversão nos “tetos” dos valores “Incentivado” e “Investimento”, quando na marca fantasia do projeto esteja inserido o nome do patrocinador, assim sendo, o valor investido pelo patrocinador será de 80 % (oitenta por cento) e o incentivado de 20% (vinte por cento);
08. Inibir a perpetuação de projetos e coibir a reserva ou monopólio na captação dos recursos, contribuindo assim para a pulverização e democratização dos recursos da Lei. O mesmo projeto só poderá ter financiamento por 3 (três) anos consecutivos ou 5 (cinco) edições ininterruptas - comungando com a essência da Lei que é estimular a produção e não criar projetos dependentes ou cativos da Lei;
09. O valor a ser incentivado para projetos que contemplam os segmentos abaixo citados, não poderá ultrapassar os 10% da renúncia fiscal para o exercício: cinema e vídeo, museus, bibliotecas e arquivos, aquisição, manutenção, conservação, restauração e construção de bens imóveis e móveis de relevante interesse artístico, histórico e cultural. Para os demais segmentos citados no art.. 3° do Decreto 14.759, o valor dos projetos não pode ultrapassar os 5% (cinco) da renúncia fiscal para o exercício - esses percentuais são referentes ao valor incentivado pelo ICMS;
10. Fixar em no mínimo 50% (cinqüenta por cento) das verbas para serem utilizadas exclusivamente para financiamentos de projetos que não tenham fins lucrativos;
11. O evento decorrente do projeto deverá acontecer no território do Estado do Rio Grande do Norte e contar com a participação, na parte técnica, de no mínimo 80% (oitenta por cento) de pessoal com exercício profissional no Estado;

DE PROPONENTES:

12. Exigir o currículo e perfil profissional, denotando o potencial cultural do proponente;
13. Para a captação dos recursos serão usados os seguintes critérios de pagamento para captador: até 10% para projetos até 100 mil reais; até 7% para projetos de 101 a 200 mil reais; e até 5% para projetos acima de 200 mil reais;
14. No orçamento do projeto, a soma dos itens Custo Administrativo mais Elaboração/e Agenciamento não podem ultrapassar os percentuais citados no item anterior;
15. Aconselha-se que, na elaboração do orçamento do projeto apresentado, não seja utilizado mais do que 20% para pagamento do pessoal envolvido, exceto para cachês de artistas;
16. O projeto financiado pela Lei ao ser reapresentado, o proponente deve trazer a prestação de contas final ou parcial do projeto anterior;
17. Os projetos destinados à venda, como ingressos, camisetas, livros, CDS e outros, a partir de sua segunda edição, terão seus percentuais de incentivos diminuídos gradativamente, conforme § 2° do art. 1°, da Lei 7.799 de (30 de dezembro de 1999);
18. Exigir do proponente a declaração se o projeto está tramitando em outras Leis de incentivos (Djalma Maranhão ou Lei Federal). Caso esteja, explicitar quais gastos serão cobertos com cada uma das Leis;
19. Quando o evento tiver cunho lucrativo (entrada paga, camiseta, pulseiras e afins), estabelecer como contrapartida social, o dever de reservar 20% (vinte por cento) do total dos ingressos ou de qualquer outro meio que possibilite o acesso do público aos eventos que não sejam gratuitos, para utilização no módulo Show de Nota, da campanha “Cidadão Nota 10”, instituída pela Lei Estadual nº. 8.486, de 26 de fevereiro de 2004;
20. Os projetos devem ser apresentados na sua totalidade, não sendo permitida a fragmentação;
21. A Secretaria Executiva não receberá projetos desacompanhados dos orçamentos fornecidos para materiais e serviços utilizados, bem como CD com sua cópia;
22. No orçamento do projeto, aconselha-se colocar em torno de 20% (vinte) do seu valor para o item Divulgação /Comercialização;
23. Não aprovação de despesas com recepção social, coquetel, confraternização, passeio ou congêneres, reservando-se a possibilidade de pertinência de despesas com recepcionistas, no caso de projetos de seminários, bienais, festivais e similares;
24. A aquisição de equipamentos e outros tipos de material permanente por parte do proponente só deve ser aprovado mediante declaração de compromisso de destinação do bem para uma entidade pública, em caso de encerramento do projeto;
25. A apresentação de regulamento no caso de realização de festivais, prêmios e concurso;
26. Os CDs, livros, revistas, incentivados pela Lei Câmara Cascudo, deverão entregar à Fundação José Augusto, 20% de suas edições, para serem distribuídos nos órgãos pertinentes;
27. Os projetos devem ser entregues à Secretaria Executiva no período de 1 ° de abril a 15 de setembro de cada exercício e seu formulário encontrado no site da Fundação José Augusto www.fja.rn.gov.br.

DE INSTITUCIONAIS:

28. Permitir ou limitar o montante disponível à concessão de incentivo previsto nesta Lei, para projetos oriundos de Órgãos ou Entes da administração direta ou indireta do Estado do Rio Grande do Norte;
29. A proibição de remuneração para administração elaboração e captação de recursos para o proponente, quando este for o poder público da esfera Federal, Estadual ou Municipal;
30. No caso de projetos de manutenção de instituições culturais, a apresentação de estimativas de receita e de planilha detalhada dos custos de manutenção, especificando os itens orçamentários de responsabilidade da instituição e os itens previstos para financiamento com o apoio da Lei Câmara Cascudo, bem como a indicação dos nomes e currículos dos profissionais e respectivas funções e salários;
31. Os projetos apresentados por pessoa jurídica de Direito Público e de Direito Privado participarão desde que não sejam incluídos valores no orçamento, para despesas de pessoal administrativo, coordenação, elaboração, contador e despesas de expediente e escritório.

Plínio Sanderson Saldanha Monte
Comissão da Lei Câmara Cascudo
Natal, 04 de setembro de 2006

SAMBA DE UMA FUNDAÇÃO ENLOUQUECIDA

OU ENTENDA-SE TANTOS DESENCONTROS

Data: Tue, 19 Jun 2007 09:58:48 -0300
Para: jornalistamary@yahoo.com.br
De: "Assessoria de Comunicacao FJA"
Assunto: Assembléia Lei Câmara Cascudo

GOVERNO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE
ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
Fundação José Augusto
Quarta-feira, 19 de junho de 2007


FJA e agentes culturais se reúnem para falar sobre a Lei Câmara Cascudo

Nesta quarta-feira, 20 de junho de 2007, o Presidente da Comissão da Lei Câmara Cascudo e diretor geral da Fundação José Augusto Crispiniano Neto, vai participar de reunião sobre a eleição da nova comissão de gerenciamento da Lei na Pinacoteca do Estado às 19h.
A reunião é aberta a toda a sociedade e a cultura do estado só tem a ganhar com a participação popular.
A comissão da Lei Câmara Cascudo é formada por nove representantes: o presidente da Comissão, que é a pessoa que ocupa o cargo de diretor geral da FJA, quatro pessoas nomeadas pelo governo e quatro representantes da classe artística que devem ser estes escolhidos por esse processo eleitoral.
Crispiniano destaca a importância da participação dos agentes culturais do estado e os amantes da cultura para que possam escolher realmente quem melhor representa a classe.
Datas importantes referentes ao processo de eleição da comissão gerenciadora da LCC:
20/06 – Reunião com Crispiniano Neto e a classe artística na Pinacoteca às 19h
22/06 – publicação do edital com as normas da eleição
12/07 – Encerra o prazo para o registro de candidatura
25/07 – Eleição
09/08 – 1ª Reunião de trabalho da nova comissão

A Fundação José Augusto também solicita a todo cidadão que aprecie cultura que envie para a instituição até o dia 02 de julho sugestões e propostas de alteração da Lei Câmara Cascudo. O material pode ser entregue diretamente no gabinete ou enviado para o e-mail leicamaracascudo@rn.gov.br

Mary Land Brito
Assessora de Imprensa
3232 5352 / 9921 1104
assecomfja@rn.gov.br


Às pessoas que fazem Parte do Movimento Cultural no RN,

Informamos que no dia 20/07 (Quarta Feira) às 19h.00min, na Pinacoteca do Estado (Palácio da Cultura) haverá mais uma reunião de assembléia sobre o pleito para a escolha dos representantes do Movimento Cultural para compor a Comissão Gerenciadora da Lei Câmara Cascudo com a presença do Presidente da Comissão da Lei e Diretor Geral da Fundação José Augusto, o Senhor Joaquim Crispiniano Neto.
Contamos com a sua valiosa presença.
Atenciosamente,
Centro de Promoções Culturais
FUNDAÇÃO JOSÉ AUGUSTO
84 3232 5318



Coluna de Crispiniano Neto

Lei Câmara Cascudo
Amanhã, às 19h, na Pinacoteca do Estado, onde funcionou o Palácio Potengi, haverá reunião da direção da Fundação José Augusto com artistas e intelectuais interessados na Lei Câmara Cascudo. Vai ser escolhida uma Comissão Eleitoral para dirigir a escolha dos quatro representantes do movimento cultural na Comissão Gerenciadora da Lei Câmara Cascudo. Até o dia 12 de julho, os candidatos podem se inscrever, e a eleição será no dia 25 do referido mês. A comissão eleita vai analisar os projetos que buscam patrocínio da lei nos próximos dois anos.

por Alma do Beco | 11:21 AM | | Ou aqui: 0




quarta-feira, junho 20, 2007

PALHAÇOS, SIM

Marcus Ottoni


"Estava havendo uma discussão e decidiram escolher um grupo que representasse a classe por seis meses. Mas não combinaram conosco."
Crispiniano Neto, diretor geral da Fundação José Augusto


Orkut // Buihu

Palhaços, sim,
mas em determinadas e precisas circunstâncias


O diretor geral da Fundação José Augusto e presidente do Conselho Estadual da Cultura é assim mesmo: desdenhoso, característica inerente aos despóticos, aos prepotentes. Como presidente do Conselho, convocou os artistas para reuniões nas quais se discutiriam os problemas da Lei Câmara Cascudo, de renúncia fiscal (leia-se 4 milhões de reais destinados à cultura); envia representantes da Fundação para dirigirem os trabalhos de mesa e; se sai com essa: "Estava havendo uma discussão" (como se nada houvesse com ele) "e decidiram (como se a FJA não estivesse representada) escolher um grupo que representasse a classe por seis meses. Mas não combinaram conosco."

O modesto conosco do presidente do Conselho de Cultura e diretor geral da FJA é, a bem da verdade, com ele, uma vez que a FJA estava presente às reuniões através de representantes por ele indicados.

A sugestão de um mandato tampão (linguajar deles, os oficiais, mandato provisório para os artistas) de representantes da categoria dos artistas no Conselho de Cultura, partiu da própria Fundação, não dos maiores interessados, os artistas.

Foram três exaustivas reuniões onde o foco principal, "quem vota", não foi resolvido. Atas destas reuniões, que poderiam ter ido a conhecimento público através de Internet (A FJA tem página própria e assessoria de imprensa com farta lista de endereços eletrônicos, os e-mails), mas não foram. E chegou-se ao cúmulo de ter ata de reunião que não houve por falta de quórum, ocasionada pela má divulgação da mesma, como aliás, tem sido sempre (às vésperas).

Agora, vem o presidente diretor geral e desqualifica a todos, inclusive aos seus, a quem delegou poderes, para dizer que de nada serviram os debates e resoluções e que ele, sim, tem respostas e soluções para tudo: chama a uma reunião (ou assembléia de artistas?) sem pauta, onde tudo já está decidido, reunião para ele dizer: vai ser assim e ponto final, pronto!

Eu sempre achei que os palhaços fossem artistas, verdadeiros artistas do riso, da alegria e também da tristeza. Nunca imaginei que um diretor de instituição cultural, do porte da que está em foco, fizesse artistas passarem por palhaços. Sim, porque até os representantes da Fundação José Augusto que estiveram representando a instituição nos debates eram artistas, e artistas respeitados, com mais de 30 anos de serviços prestados às artes do RN, como Mirabô e Babal, nomes que não merecem pecha de palhaços em quaisquer circunstâncias, muito menos quando representam uma instituição oficial de cultura.

Soa, a declaração do diretor geral, presidente, como se o próprio Estado do Rio Grande do Norte, através dos seus dirigentes, estivesse impondo, a todos nós artistas, a pecha de palhaço. Que até somos, mas em determinadas e precisas circunstâncias.

Eduardo Alexandre de Amorim Garcia


REFERÊNCIA:

A nova novela da Lei Câmara Cascudo
200720/06/2007 - Tribuna do Norte
Rafael Duarte - Repórter


A novela em que se transformou a eleição da comissão gerenciadora da lei Câmara Cascudo promete mais emoção hoje, a partir das 19h, na Pinacoteca do Estado, quando, ao que tudo indica, a trama deve chegar ao penúltimo capítulo - aquele onde ocorrem as brigas e discussões mais fortes com a audiência lá nas alturas. Depois da desmobilizada classe artística se reunir três vezes e sugerir a criação de uma comissão de um mandato tampão com duração de seis meses para analisar os projetos e elaborar mudanças na lei, o diretor geral da Fundação José Augusto, Crispiniano Neto, ignorou a proposta, curiosamente dada por um representante da própria FJA (Mirabô Dantas), e decidiu que de hoje a definição das eleições não passa. O debate promete ser acalorado. Nesta entrevista, Crispiniano, que também acumula o cargo de presidente da comissão gerenciadora da lei, explica o que, segundo ele, deve acontecer nos próximos capítulos.

Os artistas fizeram três reuniões para organizar o processo eleitoral e propuseram um mandato tampão de seis meses. No entanto, o senhor propõe outras regras. Por que?

Estava havendo uma discussão e decidiram escolher um grupo que representasse a classe por seis meses. Mas não combinaram conosco. Não adianta fazer mandato tampão porque não há urgência em analisar os projetos agora porque os R$ 4 milhões da renúncia fiscal já foram comprometidos. Então não precisa de pressa.

Então o que os artistas discutiram até agora não valeu de nada?

Veja bem, não é que não valeu de nada. Mas também não pode valer de tudo. A primeira reunião deu 40 pessoas, a segunda deu 15...

Qual é o quorum mínimo para deliberar as questões referentes à lei?

Até hoje ninguém se preocupou em normatizar as coisas, não existe quorum definido. Mas o que não pode é 12, 14 ou 20 pessoas decidir por todo mundo... por mais que tenha sido divulgado as pessoas não foram. Precisamos ver o que está acontecendo.

O que será definido amanhã (hoje)?

As eleições. Mas é preciso que fique claro que existem dois processos correndo: um legislativo, relacionado às propostas de mudanças da lei, e um eleitoral. Amanhã vamos definir as eleições porque no dia 22 (sexta-feira) vamos publicar o edital com as normas. Estamos dando um prazo até o dia 12 de julho para que a comissão que foi instituída na reunião da semana passada nos apresente as propostas para a mudança na lei. O prazo também vale para o cidadão comum, que pode mandar a sugestão pelo email leicamaracascudo@rn.gov.br. Essas propostas serão reunidas junto com outras propostas da comissão gerenciadora da lei que se dispôs a ficar mais um pouco, uma vez que eles conhecem os problemas pelo gargalo.

Mas as propostas serão normatizadas pelos conselheiros atuais ou por aqueles que ainda serão eleitos?

A nova comissão nem eleita foi ainda. Então os conselheiros que se dispuseram a ficar alguns dias farão esse trabalho.

Quando o governo vai indicar os novos conselheiros da fatia que lhe cabe?

Até o momento os conselheiros indicados pelo governo permanecerão os mesmos. A única mudança foi a da escritora Marize Castro, que pediu para sair, mas o Conselho Estadual de Cultura já indicou o jornalista Vicente Serejo.

Mas não seria, no mínimo, falta de bom senso do governo manter os conselheiros que foram indicados na mesma época que os eleitos pelos artistas?

Olha, isso tem que ter na nova regra. É uma sugestão de mudança que pode vir agora. Mas, como eu lhe falei, até o momento o governo não sinalizou em trocar os nomes.

por Alma do Beco | 11:07 AM | | Ou aqui: 0




segunda-feira, junho 18, 2007

O ENSANDECIDO

Marcus Ottoni


"Isso é Maiakovski? Isso é Rimbaud? Seria Oswald de Andrade?"
Plínio Sanderson

Orf Sílvia
(Tertuliano Aires)

Eu vi senhorinha de rosa amarela
Abrindo cancelas
Bateu no quilombo lá das capoeiras
Cruzando porteiras
Tomando cachaça lá no barro duro
Arriscando tudo
A dona da casa bateu a janela
Bem na cara dela

O campina açoita lá no cajazeiro
O galo sangrando, morrendo na rinha
Riacho de sangue, ganidos de dor
Toda a sua vida e todo o seu passado
Quando ela viu a criança fugindo, chorou

Porém, Pai Chimbó, velho iluminado
Contou um segredo para o gravador
Que o coco zambê, coco do pau furado
É cena de circo de pouco valor
E que o branco levou o que o negro aprendeu
Capoeiras dos Negros, terra que o tempo esqueceu

Então, senhorinha virou quilombola
Seu canto de ordem era um grito de dor
Rompeu com o povo de sua cidade
Cavalo sem dono, ela se libertou
Passou a viver com a simplicidade
Mas o seu coração está repleto de amor

Amor que mata

Mirabô Dantas está com CD da melhor qualidade. Prometeu lançá-lo e ficou nisso. Tem que lançar já, cara. Já o ouvi mais de 800 quilômetros, daqui para Queimada de Baixo, ida e volta, não sei quantas vezes. Porreta, como diria o parceiro Capinan, no tempo em que se dizia essas coisas, quando se gostava das coisas. Bota o CD para rodar, cara! Aproveito a deixa para uma sugestão, se vosmicê permitir. Mande o CD pra o senador Renan Calheiros. Ele vai adorar cantar, com sentimento, a faixa 3, “Teu amor”. Que diz assim:

“Teu amor me corta como cana / Me esquece como jura / Me sente no que engana / Só me entende na loucura / Teu amor me queima como fogo / É eterno cada vez que é breve / Me faz escravo do teu jogo / É poema que nunca se escreve / Me estrangula como forca / É outra mulher na hora do desejo / Grita dentro da minha boca / Uma saudade louca que eu não beijo / Teu amor me mata pouco a pouco / E como louco eu me entrego / Sou paixão, alma e corpo / Surdo, mudo e cego / Teu amor me toma todo / Teu amor eu nunca pego”.

Tem aquela outra faixa, a 9, em parceria com o Marcos Silva, “Toda mulher”. O senador também vai gostar e cantar: “Toda mulher tem algo de beleza: / a fúria, o olho, a incerteza. / Toda mulher tem algo de perigo: o medo, a pele, o desabrigo. / Toda mulher tem algo de carrasco: / O cheiro, a força, o sentir asco. / Toda mulher tem algo de arrepio: / O verso, a hora, o desafio.”

Imagine o Ancelmo Gois andando pela babaquice desta terra de Poti mais idiota.

Woden Madruga // Tribuna do Norte


Khrystal faz ode moderna ao coco

Quando Guinga recebeu uma demo daquela cantora de cabelo rastafari em Natal (RN), em 2006, imaginou que nada tinha a ver com ele. Mas foi só a potiguar Khrystal Saraiva Santos, de 26 anos, entoar uma de suas músicas para convocá-la a fazer números em seu show (que seria) instrumental. Não satisfeito, voltou a Natal e tocou violão em duas faixas (Baião de Lacan e Influência de Jackson, parcerias com Aldir Blanc) do CD de estréia de Khrystal, Coisa de preto, ode ao coco com tinturas da embolada ao funk.

- Gosto do lado B das músicas, sou da MPB do rock - diz ela.
O disco, uma esmerada produção independente (www.khrys.tal.zip.net) que custou R$ 65 mil, segundo o produtor José Dias, vendeu 1.200 cópias até agora. Lançada no programa de Inezita Barroso, Viola, minha viola, da TV Cultura paulista, Khrystal prepara novo show para São Paulo no fim do mês e é focalizada no terceiro programa da série, Destino Brasil - Música, apresentado por Pedro Luis, no Canal Brasil.

- Não acho que sou coquista, mas queria trabalhar com a atmosfera do coco. Adoro Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Elino Julião, tenho paixão por Cátia de França, a quem não se dá o devido valor. E acho incríveis as quebradas rítmicas do Jacinto Silva - diz.

O repertório escolhido a dedo, sem uma faixa desperdiçada, abarca estas preferências. Do discípulo de Gonzaga, Dominguinhos, no raro coco Sete meninas (com Toinho Alves, do Quinteto Violado) ao fornecedor de Jackson, Rosil Cavalcanti, em Coco do Norte, de 1955. Elino Julião comparece com Forró da Coréia (com Oliveira Batista), crivado de atabaques e guitarras. Da paraibana Cátia de França, Khrystal singra Quem vai quem vem, coco embolado que vira funk, e Lá vem Batista, um rockoco nada rococó, de guitarras roncantes. E de Jacinto Silva são dois quebra-línguas castiços, de tirar o fôlego, Quadra e meia e Coco do M (com Zé do Brejo).

O curto-circuito eletroacústico percorre o disco, a começar da faixa-título, da própria Khrystal com Tertuliano Aires ("Coisa de preto/ todo mundo tem/ esse molejo/ do seu jeito"), um rock de guitarras pesadas, que deságua em coco e samba, com uma citação rapeada de As cidades, de Chico Science. O ancestral coquista potiguar Chico Antonio (1904-1993) comparece na releitura turbinada de Usina. Outros convocados são Lenine (Coco da mãe do mar, com Siba), Chico César (Sem ganzá não é coco) e Zé de Riba (www.sem, com Rolmildo Soares), que abre num discurso rapeado e não dispensa guitarras, nos arranjos bem calibrados de Franklyn Nogvaes.

Casada com o produtor José Dias, com quem tem um filho de 1 ano e 10 meses chamado Jackson Luiz Brasileiro (homenagens a Jackson do Pandeiro, Gonzaga e Tom Jobim), Khrystal ralou sete anos em barzinhos do circuito alternativo após ter saído de casa por divergir do pai, ligado à música tradicional. Surpreende ao citar suas influências:

- Minhas cantoras preferidas são Elis Regina e Leny Andrade, apesar de não terem a ver com o disco. Morro por elas. E Egberto Gismonti, gosto demais daquele homem. Meu gosto é muito variado. Pena é o coco, que era para ser lugar-comum do nordestino, ter virado ET para o grande público por causa da política das rádios.

Tárik de Souza / Jornal do Brasil


Plínio Sanderson, um Poeta Ensandecido
Por Alexandro Gurgel

Plínio Sanderson Saldanha Monte é antropólogo, geógrafo, professor, poeta, animador cultural, assistente parlamentar da Assembléia Legislativa do RN e membro eleito do Conselho Estadual de Cultura (comissão da Lei Câmara Cascudo). Nascido em Caicó, no ano da graça de 63, mora em Natal desde as primeiras letras no Colégio Salesiano São José.

Começou na carreira literária publicando seus poemas em coletâneas nos livros “Ainda Estamos Vivos”, em 1981 e “Cio Poético”, em 1982. Em 1983, publica seu primeiro livro individual “Atresia” (1983), uma edição mimeografada pelo próprio poeta. E o segundo “Afetart”, em 1985.

Plínio Sanderson foi um dos articuladores do movimento “14 de Março”, quando se comemora o Dia Nacional da Poesia em Natal. Depois de dirigir a peça teatral “Auto de Lusitânia”, de Gil Vicente e ter coordenado vários festivais de artes. O poeta Plínio foi laureado duas vezes, em 1986, conquistou o primeiro lugar no 3º Festival de Poesia da UFRN (ganhando também o prêmio de melhor performance) e grande vencedor do prêmio Othoniel Menezes de poesia, promovida pela Fundação Capitania das Artes, em 2003, como o livro inédito “Inspiral – um estudo da poética”.

O encontro para essa entrevista foi em pleno Beco da Lama, reduto cultural natalense, numa bela tarde de um sábado azul.

Em que momento na sua vida juvenil você despertou para as Letras? E qual é a sua formação poética?
A busca pela palavra surge com a esquerdofrênia juvenil. Espécie de escárnio e revolta de todo jovem. Filho do silêncio, parido em plena ditadura militar, nasci em 63. Ainda quando fazia o ensino secundário, estudava em colégios de padres e freiras e sentia na carne a necessidade de me indignar contra todo o contexto social vigente e a primeira manifestação da poesia, para mim, desabrochou nessa catarse poético-existencial.

Quem mais o influenciou na Literatura Universal?
Quando comecei a escrever, imbuído por essa necessidade premente de exprimir uma indignação doída, não tinha nenhuma informação poética, não havia lido poetas de quaisquer vertentes. Tinha uma informação limitada e percebi que deveria buscar entender a literatura universal, brasileira, regional e potiguar. E isso foi uma perda imensa. A partir do momento que comecei a tomar consciência do mundo literário, lendo, pesquisando, comecei concomitantemente a tolher minha criatividade - o medo do vexame vem à tona. Me sentia mais poeta quando não possuía informação nenhuma e as coisas saiam naturalmente, sem preocupações estéticas. Uma auto censura me assolava: isso é Maiakovski? Isso é Rimbaud? Seria Oswald de Andrade? Ao se interar sobre a produção da literatura universal, terminamos tendo uma preocupação de fugir dos arquétipos impressos. Pra ter um estilo, é primordial algo que o particularize, e assim, iniciei uma busca desenfreada por uma forma peculiar de escreviver. A posse de informações me levou a romper com a palavra escrita linearmente. A busca pela modernidade na poesia. Percebi que era fundamental o exercício das três dimensões da palavra: verbal-sonora-visual. A partir daí comunguei com a idéia de que a poesia era uma coisa muito mais complexa de que apenas um estado de espírito, um momento de revolta. A palavra se concretiza a cada letra, cada sêmia com um peso, uma história. Os teóricos da semiótica apregoam que todo o sistema repousa sobre o princípio arbitrário do signo - e esse signo em última instância é a letra. Tudo se resume a isso. Passei pelos Campos Concretos (das Galáxias aos Noigrandes) e suas traduções, Ezra Pound, Mallarmè, Rimbaud, Mário Faustino (Poesia Experiência), Mário de Andrade, Jorge Mautner, Drummond, Baudelaire, Bandeira, Augusto dos Anjos. Quem me consubstanciou nessa aglutinação de (in)formações literárias foi o videomaker Augusto Luís, que tem uma biblioteca interessantíssima. Isso fez com que vislumbrasse as veredas e encruzilhadas da literatura tentando descobrir uma vertente de poesia original.

Quem eram as pessoas de sua convivência, no início da sua produção poética em 79? Nessa época, quais eram os alumbramentos para se produzir versos?
Interessante é o que definia a nossa poesia. Éramos rotulados de poetas marginais. O desbunde da chamada “Geração Alternativa”. Não era aquela idéia glauberiana de uma idéia na cabeça e uma câmera na mão, mas a possibilidade de botar na rua a palavra registrada e lavrada. Em Natal, esse Movimento se constituiu num fazer poético arrebatador. Um Movimento urbano (a cidade perdia o ar bucólico, acabrunhado e se inseria na nova urbanização litorânea do nordeste brasileiro) de poesia, tinha Cleudo Freire, Venâncio Pinheiro e grupo Aluá, os livros alternativos de uma trupe imensa/intensa como: Harrison Gurgel, Sofia Gosson, Vicente Vitoriano, João da Rua, Antônio Ronaldo, Novenil, Aluízio Mathias. Havia a concreta possibilidade de fazer arte com nossas próprias mãos e meios de produção. Era uma postura gostosamente “romântica”. Tínhamos que batalhar uma resma de papel aqui, um estêncil acolá; Essa rapaziada nos despertou a pragmatização da arte via nossa própria iniciativa, sem depender das instituições. O jornalista Moura Neto, o músico Marcerlus Bruce (um dos criadores da banda que fez muito sucesso na cidade - Fluídos), as poetas Kátia Leonila e Isabela Garcia, o Tronxo, éramos uma plêiade de jovens ingenuamente utópicos. Caímos na labuta e fomos à luta. O primeiro livro tem um nome muito sugestivo “Ainda Estamos Vivos”, era a explosão de um grito calado, oprimido. Esse foi meu primeiro livro, uma coletânea, que era à tônica em voga naquela época da produção mimeógrafo/marginal. O segundo livro um ano depois, novamente uma coletânea, com as mesmas personas anteriores, e entrando no circuito o dândi-advogado Wellington Dantas, que veio agregar com uma poesia non-sense. Eclodimos um segundo livro “Cio Poético”. O primeiro individual foi “Atresia”, em 83 e em 85 lanço “Afetart”, um livro de artista ou conceitual, páginas com buracos de fogo. Começo irremediavelmente exercitar além da palavra, a fragmentação, a clivagem, introduzindo elementos/objetos no próprio livro (vide o Dadaísmo). O livro causou um grande impacto no meio e até hoje repercute. Recentemente, na coluna Geléia da Becolândia (no blog Grande Ponto) o colaborador Maurício Grounge, cita-o.

Essa sua forma de fazer poesia não linear, sem sonetos, sem essa preocupação purista, é uma marca poética sua?
De 1986 até 2002, deixei de escrever poesias lineares, onde as palavras significam o que elas dizem. Pra mim, a poesia é importante quando há o exercício do logos, do raciocínio, da razão. Quando a palavra existe podendo ou não significar o que ela traduz. Busco esse exercício. Pra mim, esse exercício da palavra, enquanto jogo lúdico é essencial. “Vai leitor / procurar na esquina / a rima”! A poética torna-se uma interação, o resultado depende da cognição do interlocutor, esse é meu desafio. A minha poesia é para iniciados. Você vê, lê e questiona: isso é poesia? Que danado é isso? Em 1986, ganhei o 3º Festival de Poesia da UFRN, foi o prêmio mais alto pago na arte do Rio Grande do Norte, ganhei 13 mil dinheiros da época, ganhei dez mil pela melhor poesia e três mil como melhor performance - tive o auxílio luxuoso do Pedro Peralta Pereira, grande e performático irmão. A poesia “Vislumbrâncias pó tiguares” é interessante. Nele as palavras não vão significar o que elas dizem. É um poema que ninguém entendeu, mas todo mundo curtiu pela sonoridade metálica das palavras. Foi insofismavelmente a poesia vencedora. Na hora da premiação, continuei fazendo “performance”: 5º lugar Fulano, 4º lugar Beltrano etc., e no 1º lugar: à plenos pulmões gritei que eram cartas marcadas, que não podia ganhar esse prêmio, pois quem estava apresentando o evento era o jornalista Ciro Pedroza, que me boicotou no Festival de Artes de 85, quando realizaria a performance “Sete Aureolas Para Nossa Ociocidade Natal Letal”, de 01 hora e meia, investi todo meu 13º salário e simplesmente não deixaram me apresentar, desligaram o microfone, censura braba. Foi um frenesi, joguei ovo no público, arremessei tinta, invertendo o processo de repúdio. Em vez de o público ir contra o artista, o artista enfureceu-se contra o público e o escambau. Entrou polícia, acabou com a noite do Festival de Arte. Enfim, o cara que me boicotou um ano antes, teve que me dar o prêmio de campeão da Poesia e de melhor performance. Denunciei-o ensandecidamente em público. A jornalista Rejane Cardoso escreveu um artigo no Jornal Dois Pontos narrando o fato hilário.

Você falou agora a pouco da geração marginal, da geração do mimeógrafo. Dessa geração, você traz alguma coisa pra poesia de hoje?
Tudo! A irreverência contra o tal lirismo comedido que se referia Manuel Bandeira, esse não comprometimento com nenhuma regra, o escárnio pela métrica, pela rima, tudo isso. A experimentação que sugeria o título do movimento se consolidava, Alternativa e Marginal. Meus últimos poemas minimalistas ainda são reminiscências disso. Entre a poesia de Leminski e os comprimidos poéticos do Oswald de Andrade, exemplifico: “Freudiet: o poeta passou da fase anal/ na agora num repente oral/ vomita poemas para um boquiaberto público”. Fazer blague. A poesia como exercício, como jogo prazeroso. Como dor de cotovelo, sentimentalismos e estágios da alma, não!

Se ganha dinheiro com poesia ou é só diletantismo?
Sou do tempo em que a poesia era pura necessidade de expressão. Ainda me sinto ligado a essa produção “romântica”. Porém, faturei alguma grana com poesia. Esse prêmio de 13 mil da UFRN/ FIERN. Ganhei Othoniel Menezes (2003). Recebi alguns cachês para organizar Festivais de Artes do Natal. Não acredito que a poesia seja construída pela perspectiva do dinheiro ou mesmo do reconhecimento. Acho que hoje é possível. A partir da radicalização dos meios informacionais contemporâneos nessa sociedade técnica-científica-informacional, com a famigerada mídia tão onipresente dá para ganhar dinheiro. Há possibilidade real de produzir um livro com pouco dinheiro no empreendimento, podendo, inclusive, ser feito em casa e obter lucro. Claro, se nós poetas fossemos mais pragmáticos. Ao contrário do que o senso comum defende, o poeta não é o sonhador, o poeta, etimologicamente, é aquele que faz, realiza. A poesia, como dizia o Mário Faustino, tem a função de comover, deleitar e transformar. Exercito a poesia como instrumento de transformação. Utilizo arte, essa ação que permeia todas as entranhas da vida social do cidadão, como instrumento de fazer revolução. A “Revolução Amarela” que se referia o cineasta Augusto Ribeiro Jr. (cineasta de Boi de Prata). O próprio Mauro Faustino afirmava categoricamente: o poeta é aquele que sente na pele a necessidade de experimentar; para mim a poesia é isso, l-i-t-e-r-a-l-m-e-n-t-e.

Em 1988, durante a 2ª Feira de Sebos de Natal, você fez uma performance algemado na praça com o titulo de “Artista em Cativeiro”. Como se deu essa performance? E qual o objetivo?
Em Natal, naquela época, engatinhava um movimento idealizado pelo jornalista e produtor cultural Dorian Lima, chamado “Poetas de Plantão”. Em contrapartida, eu defendia os “Poetas de Platão”, mas ficou mesmo “Poetas de Plantão”. A idéia era ocupar os espaços. Durante a Feira de Sebos percebemos que Natal estava passando por um processo de estagnação, sonambulismo cultural. Os órgãos públicos estavam inertes. Não acontecia nada, uma vacância na política pública cultural, triste realidade que infelizmente ainda impera no nosso Estado e Município. Numa postura anárquica, me algemei por dez horas na praça André de Albuquerque, dizendo que era poesia, era arte. Quem me algemou foi um cara de fraque (poeta soteropolitano Alberon Soares), representando o “dono” da TV Globo, responsável pela falta de criatividade, pela falta de informação coletiva, e em cativeiro, ficava gritando à população transeunte: o senhor é contra a arte? Contra a poesia? Então me solte. Solte a arte, solte a poesia. Só não fomos presos, porque já estávamos presos. A Polícia Federal esteve lá. Vendemos mais de 150 autógrafos. Algemado e vendendo autógrafos num saco de pipoca onde a assinatura era a digital. É esse tipo de arte que interessa e me seduz. Uma manifestação que faz as pessoas pensarem, refletirem. A arte só importa quando faz despertar consciência, questiona, critica. Esse evento foi interessante, cheguei a perder o emprego no Colégio Ferro Cardoso, que era em frente ao evento. O chefe vaticinou: preciso de um professor de artes, não de um artista professor. No Diário de Natal, um jornalista publicou que tal atitude valia mais que todas as atividades desenvolvidas pela Fundação José Augusto durante um ano inteiro.

Essa sua característica de misturar performance com poesia é uma coisa sua? Fale sobre alguns momentos marcantes onde esses desempenhos poéticos encantaram?
Essa junção de várias artes: poesia, teatro, plástica, música, foi introduzida pelo Jota Medeiros, exemplo que “os artistas são as antenas da raça”. Já pintamos a Ponta do Morcego, com tintas laváveis e efêmeras, que seria esmaecida com o tempo pelo ir e vir incessante das marés. Uma manifestação plástica, mas também poética. O Rimbaud defendia que cada letra tem um peso cromático. Noutra, convocamos os poetas da cidade, um dia anterior ao 14 de março no bar do jornalista Miranda Sá, o memorável “Mintchura”, epicentro da intelectualidade de Natal nos anos 80 e realizamos o projeto “Oferendas Poéticas”. Foram mais de 600 garrafas (de uma cerveja Kaiser, on way), jogadas ao mar. Cada uma continha uma poesia, celebrava o Dia Nacional da Poesia e avisava para entrar em contato. Essa performance realizei outras vezes no âmbito escolar. Levei meus alunos para vivenciarem esse happening que deu primeira página da Tribuna do Norte com foto colorida imensa. Pensamos o 1º pic-nic dos artistas, na Praia dos Artistas, mas não deu nada certo. Naquela época, o governo assumia o poder no 15 de março. Ia assumir Geraldo Melo, haviam cinco palcos, nosso som foi armado num palco que não era o certo. Caiu uma tremenda tromba d’água em Natal, não foi possível realizar o 1º pic-nic dos artistas na Praia dos Artistas e nós levamos toda a farofada lá pra casa e fizemos uma festa que durou três dias: Carlos de Sousa, Moura Neto, Jota Medeiros, Pedro Pereira, Augusto Luis, enfim, uma gama de Poetas e convivas. A performance do “Bode Cultural” foi uma performance também enigmática. Eu tinha escrito o chamamento do “O 1º Pic-nic dos Artistas na Praia dos Artistas” enviado para os jornais, o jornalista, Woden Madruga escreveu: “olha, não consigo entender non-nada, vou mandar na integra. E botou embaixo um PS “Será que esses poetas já leram Fernando Pessoa”? Fiquei irado. Mandei como resposta uma “Ode ao Woden”, que nunca foi editado. Por causa da “Ode”, passei 4 anos proscrito das páginas da Tribuna do Norte. Mesmo com amigos na editoria, não passaram de jeito nenhum os meus textos, no único espaço livre para publicar artigos. Por isso, sugerimos para o Dia da Poesia fazer a passeata contra o bode cultural. “Sr Woden Madruga, um bode poente”. O Sr. Woden Madruga foi o cara que mais habitou a torre de marfim do poder cultural do Rio Grande do Norte: 2 anos com Garibaldi Alves (prefeito), 4 com Geraldo Melo e mais 8 de Garibaldi (governadores), são 14 anos na cultura. Ele se enclausurou inutilmente no castelo do poder da Fundação José Augusto. Isso ficou claro quando na Câmara Municipal do Natal, em homenagem ao Dia da Poesia de 2003, foi dito pelo presidente da Capitania das Artes (Rinaldo de Barros), que Madruga nunca recebe-o, assim como também não recebia o pessoal do NAC/UFRN (Ângela Almeida). Está lá, gravado na Câmara Municipal. Eu e o sebista/editor Abimael Silva, capitaneamos a arrecadação e saímos com um bode imenso nas ruas, dezenas de pessoas seguiam passeata “O Bode da Cultura”; “Desamarre o Bode, Woden”. Foi um sucesso retumbante. O bode foi posteriormente comido em pajelança poética. No início dos anos 90, mesmo cansado de lutar contra a maré e querendo passar a bola, continuei bancando a comemoração, gastando os últimos tostões que me arranhavam os bolsos. A gente enjaulou, o último poeta marginal de Natal, o Carlos Astral, tive que roubar o garajau da vizinha de minha ex-sogra. Nesse ano o Collor de Melo ia assumir o poder no dia 15 de março, eu e poeta Pedro Pereira, pintamos a ladeira da Rio Branco de branco, na madrugada, e brincando com o mote fizemos o “Dia da Poesia in Collor”, em passeata fomos até a ladeira e jogamos bombas de tinta em sacos plásticos com os carros atropelando-os e fazendo escorrer a tinta ladeira a baixo. Foi outro evento plasticamente interessante.

Você é um dos idealizadores e precursores da manifestação do 14 de março em Natal, o Dia da Poesia. Como se deu essa evocação de exaltar a poesia anualmente? Por onde começou isso?
Iniciei no movimento poético de Natal no 14 de março de 81, na passeata “pega poeta” que reuniu onze malucos. Esse movimento já vinha desde 78. O Movimento surgido como sussurro de evento vindo de Recife e também do pessoal da Poesia na Praça Castro Alves, em Salvador. Natal entrou nesse esquema. Só que aqui essa data se consolidou. Natal é a única capital do Brasil em que se comemora efetivamente a data magna. Gera o maior buxixo, um frisson na mídia. Graças à criatividade dos poetas celebrando o dia da poesia de maneiras inusitadas. Nesses dias, a poesia deixa de ser apenas coisa escrita, que cabe num livro, sendo exercida plenamente na oralidade. Os poetas recitam, deliram, blasfemam, isso fez despertar em mim os horizontes da poesia falada. Tenho um poema que diz: “Vivo a poesia de ser o que SOA”. Não o que SOU, mas, o que SOA. Descobri que é fundamental a poesia enquanto forma de mudar a maneira de pensar as coisas, inclusive da própria palavra - o exercício nato da poesia. A inquietude na busca pelo novo. O Dia da Poesia em Natal se revela como tradição, aquilo que se perpetua no imaginário. São quase 30 anos desse exercício poético. Contemporaneiguarmente, se há uma tradição cultural em Natalópoles é o Dia da Poesia. Ao contrário dessa preguiça macunaímica mítica do brasileiro, que deixa tudo para primeira segunda-feira depois do carnaval, no Rio Grande sem Sorte tem uma reca de obstinados poetas que exercitam um outro calendário, o ano só começa na primeira segunda-feira depois do dia 14 de março.

Alguns teóricos da comunicação, como Antônio Cândido e Roland Barthes, defendem que na poesia não existe tanta inspiração, existe mais a criação pensada e a inspiração fica em segundo plano. Você vê a criação poética dessa maneira? Como é seu processo de criação?
Com certeza. Quando eu falei sobre vislumbrancias pó tiguares, onde ninguém entendeu nada, mas todos acharam que deveria ganhar, pois era um poema metálico, sonoro, não significa nada, a princípio. Mas se o freguês tivesse uma maior acuidade, ele perceberia que foi construído matematicamente em laboratório: um/cinco, um/quatro, um/três, um/dois e dois/um; uma estrutura articulada onde cada palavra, cada sílaba, se imbricam num código lógico, como na comunicação do código Morse. Não faço rima, nunca gostei, acho até uma coisa chata, pobre, limitada. Gosto na palavra da sonoridade. Pra mim poesia é nada que se repete, tudo que se transforma. Cada dia que se lê uma poesia, uma nova leitura daquela mesma poesia. Com as palavras expostas de forma linear, todas as vezes que se lê, ela vai repetitivamente ser a mesma coisa. Sacal e finita.

Anchieta Fernandes cita você numa entrevista ao jornal Dois Pontos como sendo um poeta completo dentro do poeta processo. Qual a sua influencia, qual a sua relação com a poesia concreta e o poema processo?
Quando eu comecei a aglutinar, catalisar informações sobre a literatura e vi a produção poética dos irmãos Campos e do Décio Pignatari, fiquei louco, pensei: “isso é inteligente”. Levar a palavra até às últimas conseqüências. Um exercício sublime da palavra. Quando vi a poesia concreta, as traduções dos irmãos Campos dos clássicos, o James Joyce, disse: “vou ficar por aqui, isso me instiga”. E partir daí fiquei com essa preocupação de ir além, a palavra além da simplória aparência. Entretanto, é interessante citar que em 1996, o crítico e professor Tarcísio Gurgel, no livro do Programa Nacional de Incentivo à Leitura (Anais do Módulo Zero – Leitura: Linguagem, Sociedade e Cidadania) analisando a Poesia Marginal recobra a vocação da oralidade e afirma: “Natal, aliás tem um magnífico poeta nesse sentido é o nosso Plínio Sanderson”. Portanto, a minha poética transita desde a construção material/mental até desembocar na fluidez da palavra recitada.

Em 2003, você foi o vencedor do premio Othoniel Menezes, concedido pela Prefeitura de Natal, através da Capitania das Artes. Como foi ganhar esse reconhecimento de “poeta oficial”?
Interessante porque de 86 até 2001, eu radicalmente me negava a fazer poesia linear. Escrevia textos nos jornais sobre política cultural, textos densos, complicados, também para iniciados, nem todo mundo entendia: prolixo? hermétic? Como educador, entrei no curso de Geografia, o que me deu subsídios para ler o texto impresso nas paisagens. Comecei a ter uma recaída belletrista, nuances Ferreiraitajubanas. Descobrir a geografia do meu pedaço, o “genius loci”, a magia do lugar que habito. Passei a escrever textos épicos, sabia que com minhas poesias irrequietas, não ganharia prêmio nenhum. Ai pintou alguns poemas épicos: sobre o Beco da Lama, sobre Santa Rita, e pensei, isso dá pra ganhar, é nativista, tem raíz. Formatei um livro muito interessante, um estudo da poética. A partir da idéia Poudeiana que separa a poesia em três dimensões: a Logopéia: A dança do intelecto entre as palavras. O emprego das palavras não apenas em seu significado direto, porém, levando em conta os hábitos, seus concomitantes habituais, seu jogo irônico; a Fanopéia: Imaginismo: não apenas a imagem parada, mas também a imagem tal como se apresenta ao “olho mental” em movimento. O poema é antes de tudo algo que se faz, não apenas algo que se diz; e a Melopéia: épica é a poesia que contém história. Cantares de sua terra. Esse exercício foi mais transpiração do que inspiração e ganhei o 33º prêmio Othoniel, no dia do meu aniversário de 40 anos estava estampada nos jornais a notícia do prêmio. Agora, poeta oficial é quando se é aceito pelo establisment, e acredito que um artista não deve jamais se submeter a qualquer podre poder.

Numa entrevista à revista Papangu, o poeta Moacyr Cirne declarou que só aceitaria um convite da Academia Norte-riograndense de Letras se todos os acadêmicos fossem nus a sua posse. Qual sua opinião sobre a ANL e se você recebesse um convite para pertencer aos quadros da Academia você aceitaria?
Detesto até mesmo recitar poesia quando só há poetas, prefiro, pois é poesia, pois é poesia nas ruas, desmistificando-a, levando-a ao populacho sedento. Acho o fardão uma bobagem que minha vaidade não quer, ignora. O grande poeta Nei Leandro de Castro foi vítima dessa casa fune-literária.

Em sua opinião, o que há de melhor sendo produzido em solo potiguar, incluindo novas e velhas gerações?
Vejo Natal, hoje, meio que uma Babel. Nós temos uma possibilidade de lançar livros rápidos, baratos, temos Abimael Silva, temos as instituições que estão se abrindo. Agora, a produção não tem uma organização palpável. Temos a Associação de Poetas Vivos e Afins, que aglutina, arrebanha uma galera, mas não significa dizer que se constitui num movimento poético efetivo na cidade. Está faltando um azimute. Cabe ao estado começar a nortear uma gestão que apresente a produção literária do estado. Temos “Os Brutos” do poeta José Bezerra Gomes, lá de Currais Novos, que é um livro fantástico. Todos conhecem a exuberância do recôncavo baiano via literatura de Jorge Amado; mas nós temos José Bezerra Gomes, num livro belíssimo, que denota o ciclo do algodão seridoense. Temos uns poetas nativistas fantásticos, os poetas da invenção que foram além da palavra, como A. de Araújo, Venâncio Pinheiro, Falves Silva, Moacyr Cirne, J. Medeiros, acho que está faltando um movimento engajado como existia antigamente. Hoje em dia, não existe isso. Quem faz literatura hoje de boa qualidade cito: Antonio Ronaldo, Pablo Capistrano, Iracema Macedo, Carmem Vasconcelos, Zé Martins, Daniel Michone, Marise de Castro, Antoniel Campos. Na minha vertente, eu colocaria no trono o poeta A. de Araújo.

O Rio Grande do Norte é visto como um Estado que produz muitos poetas e poucos ficcionistas, temos aqui pouquíssimos ficcionistas como Nei Leandro de Castro. Na sua concepção literária, o Rio Grande do Norte produz mais poetas que ficcionistas ou está faltando à ficção no Rio Grande do Norte?
Você sabe que teve uma época em Natal, o Moacyr Cirne coloca no “A poesia e o Poema do RN”, um livro fantástico para quem quer (re)conhecer a literatura potiguar, ele que teve uma época em Natal que a grande maioria da população era poeta. Realidade ilustrada pelo dito popular: em cada esquina um poeta, em todo beco um jornal. Era a belle époque retardatária, quando mesmo com uma poesia geralmente anacrônica, se proclamava o sujeito como poeta. Acho que todos optam pela poesia por ser mais fácil, sem ter um devido cuidado com a língua – a tal “licença poética”. Com relação aos contistas, temos bons nomes, sim. Mas essa preguiça oriunda desse sol escaldante (onde ninguém sonha/ pela preguiça do pensamento em atravessar o rio sob esse sol”), deixa meio torpe e se busca pelo caminho mais fácil. Tinha um grande escritor potiguar que foi duas vezes governador, chamado Antônio de Melo de Souza, que analisando as vicissitudes provincianas no século XIX in “Vida Potiguar” ilustra: “A vida social, colaboração de todos para o bem da coletividade, que resultará o bem de cada um; espírito de solidariedade inquebrantável de todos por um e um por todos, essa vida nós não temos. Sob esse ponto de vista o potiguar é mais adiantado do que os da vanguarda deste século de egoísmo, de individualismo de cada um por si e o diabo que carregue os outros. Além da solidariedade política, não há nenhuma outra. Não há espírito de associação para fim científico ou literário, moral ou religioso, filantrópico ou de mútua beneficência. Além do tempo ao trabalho indispensável para a manutenção própria e da família, ele só dedica uma parte do resto à política”. A pior forma de poder, o imaginário barroco nos deixou de herança o poder oligárquico: NATALVESMAIA. Povo chucro, marcado, condenado à mestiçagem tropical, com sua inferioridade inata: climática-telúrica, asnal-lusitana, católica-humanita. As pessoas têm preguiça, pois para ser um grande cronista ou contista, você tem que ler, ter obrigatoriamente uma considerável bagagem de literatura, tem que ralar. Nós lemos muito pouco. E essa preguiça atrapalha o trabalho.

O jornalista Carlos de Souza escreveu, na Tribuna do Norte, que Natal é uma cidade boçal, beletrista e que produz uma literatura narcisista. Até que ponto isso é verdade?
Acho que Natal é mesmo pedante, besta e equivocada. Faz-se um discurso de cidade moderninha, de Londres Nordestina, mas na verdade, as oligarquias continuam nos assolando. Somos uma sociedade fadada ao estupro cultural. Tudo que vem de fora, tudo que é alienígena nos seduz. A gente não pensa em qualidade, em o que é de relevância. Tudo que vem de fora para o Rio Grande do Norte sempre encheu os olhos da gente. Então essa pseudo-idéia de moderninha é equivocada. Nós não somos bairristas. Infelizmente, pelo contrário. Outrora, Othoniel Menezes, vaticinou à “Jerimulândia” o carma do “pecado original de haver nascido na Esquina do continente”.

O Salão dos Excluídos é uma resposta à ditadura cultural implantada na Capitania das Artes para promover meia dúzia de artistas?
O salão dos excluídos foi uma releitura histórica do “Salão dos Recusados”, Paris (1863), e que desembocou no impressionismo e nas efervescências das vanguardas. O inconformismo abre as portas para emancipação. Em Natal 2006, o “barrados no salão” celebra o oito de maio - “dia do artista plástico”. Onde uma plêiade de artistas, deserdados da vida cotidiana em entrelaçamento de influências e confluências pessoais, num ímpeto de liberdade individual e igualdade social, proclamam contra a receita técnica, o escolhido, o distinto, o excepcional, contra o acabado, contra os cânones hierárquicos e as falsas elegâncias dos salões e vernissagens. Tira as teias esclerosadas dos teus olhos, a arte não é só fruição, mas síntese da essência cultural de um instante histórico. Sem bulas ou encíclicas, Barradas no Salão. Defendo ver a arte com os olhos livres, sem hors-concours ou excluídos! Infelizmente, a administração da FUNCART, encarou como uma jogada da “oposição”, e nos colocou no cartaz da programação oficial e logo depois, mandou retirar os cartazes da rua, imprimindo um outro, retirando o nosso evento. O cúmulo da malversação do erário municipal e do autoritarismo. Ato que se torna corriqueiro nessa malfadada administração. Lembro quando a cantilena era que não há verba, nem mesmo para um mísero aparato de som ou placo, sem cachê, sem mais nada. Agora, a PMN através da Funcarte disponibilizou fartos recursos para trazer shows de cantores nacionais a se apresentarem gratuitamente na zona sul da cidade, num claro proselitismo cultural. Quanto ganha um astro nacional e quanto recebe um artista local? Fazendo censura a músicos da terra vide os casos de Romildo Soares, que convocado por Simone, para cantar uma música de autoria do compositor foi (também) barrado à beira do palco. Ou mesmo a polêmica com Pedrinho Mendes, boicotado dos eventos. É o cúmulo, um absurdo.

O que seria necessário fazer para uma consolidação nacional da literatura potiguar?
Desde 82, atividade turística ainda incipiente defendíamos como zênite: “importar turista e exportar cultura”. Não ficar reféns das belezas naturais, até porque, o tempo profundo consagrou eternidades para esculpi-las e a insensatez do capital é imediatista, impiedosa, sem escrúpulo, perversa e avessa à sustentabilidade do lugar. Gritávamos a plenos pulmões a necessidade de catalogar, resgatar, revitalizar as manifestações populares. Fomentar um movimento em defesa da literatura potiguar começando com uma frente objetivando inserir na grade do ensino médio a disciplina de Literatura Potiguar. Vamos saber quem são nossos nomes. Qual a importância deles no cenário nacional. Qual o estilo de cada um. Nesse sentido há uma carência latente. Com a introdução de literatura potiguar vamos modificar o que o Rio Grande do Norte sabe sobre o próprio Rio Grande do Norte. Quem são nossos poetas? Bons ou ruins. Quem são eles? Vamos desmistificá-los. É fundamental também introduzir na grade curricular além de literatura as disciplinas de história e geografia potiguar. E, principalmente, redigir leis que cobrem em concursos públicos no nosso Estado tais conhecimentos. Nos Estados vizinhos (da Paraíba, Pernambuco, Ceará), os concursos de vestibulares e concursos públicos tem a obrigatoriedade do conhecimento na literatura, história e geografia peculiares. Se o leitor fizer uma pesquisa com os educadores do ensino médio, quase ninguém sabe nada sobre literatura potiguar. Devemos radicalizar e mudar esse quadro desolador. Só assim vamos nos libertar dessa tendência ao estupro cultural que assola nosso Estado. Mais forte são os saberes do povo.

Como professor, você leva a literatura para a sala de aula? Você trabalha a poesia com seus alunos?
A minha formação é de antropólogo, quando comecei a dar aula em 84, eu lecionava filosofia, sociologia e história da arte. A matéria principal era história da arte. Enveredamos no caminho de uma arte educação libertadora e crítica. Eu acredito na arte como forma de enriquecimento de espírito humano. Na área da humanidade, da filosofia e da sociologia vislumbramos o conhecer como totalidade, contextualização do saber. Independente da matéria que esteja lecionando, trabalho com esse intuito. Inclusive o meu exercício na educação não é só sala de aula, realizo projetos de Animação e Marketing Cultural nas escolas, aula de teatro, cine-clube, edição de jornal. A idéia é contextualizar os conteúdos de sala de aula com a nossa identidade potiguar. Conhecer nossos escritores, desvendar nossas paragens, quem cantou-os ou decantou-os em prosas & versos. Jarbas Martins disse: “sobre um céu de ferrugem e salitre nutre o Potengi a sua podre geografia”; recentemente. a partir dessa frase realizamos palestra numa feira de educação no Midway, fragmentos da História e da Geografia potiguar, tendo como fio condutor o Rio berço da terra Natal. A constatação de que quanto mais inseridos no processo de globalização mais apartados de nossa história, nos instigou a realizar uma abordagem multidisciplinar norteado pelo pertencimento e identidade com o Rio “Potengi Amado”: visões míticas, alumbramentos de poetas e escritores, sem esquecer da brutal realidade ambiental.

Nas comemorações do dia 14 de março deste ano você foi homenageado pela Fundação José Augusto. Como você recebeu este reconhecimento?
Se eu não merecesse a homenagem não aceitaria. Porém, não posso agir com falsa modéstia. Não tenho a pretensão de comentar a essencialidade da minha poesia para a literatura do Estado, isso o tempo julgará. Agora, com relação as comemorações do Dia da Poesia, sou ciente de minha contribuição histórica. Posso, inclusive, citar outros dois poetas de relevância: Dunga e Pedro Pereira. In memorian lembro o desabafo do Rei Vassalo prof. Melquíades (integrante do “Clube dos Inocentes” junto com Cascudo): quem quiser me prestar uma homenagem que seja em vida. Deixarei escrito e registrado em testamento e cartório que não poderão usar meu nome para grupo escolar, de logradouro ou rua, ficando proibido a minha alma baixar em centro espírita e/ou terreiro de umbanda! Esse ano, a comemoração foi supimpa, uma efervescência massa, como aquela visão oswaldiana: sob a cidade flutuava a bandeira do por vir. Faltou maior destaque dos quarenta anos do poema processo, um poema exportação, que foi além dos fronts invertendo o fluxo de dependência cultural, a produção de uma arte livre. Em consonância, construí alguns “ready mades”, ao estilo Duchampiano dadaísta: Bibelôs & Parangolés, metalinguagens poéticas. Entretanto, prefiro quando realizávamos as comemorações sem “palanques” oficialescos. Vesti uma kafita negra com o poema “Signo” de Dailor Varela (1967) e ensandecido desafinei no coro dos (des)contentes.

Você já foi eleito pelos artistas para os Conselhos de Cultura do Município (97/98) e do Estado (2003 à atualidade), o que você acha destes instrumentos de incentivo a produção cultural?
A primeira Lei de incentivo á produção cultural da República brasileira foi feita aqui no nosso Estado, em março de 1900, sugerido por Henrique Castriciano ao governador Alberto Maranhão, que ficou conhecido como o mecenas das artes potiguares. Em 97, numa disputa duríssima contra o produtor cultural Ayres Marques, venci a disputa para conselheiro da Lei do Profinc. É bom ressaltar que nunca a cultura potiguar fez-se tão efervescente e profícua: lançamentos de livros, CDs, peças, produtores e artistas podendo ganhar com sua labuta. Mas, a prefeita por revanchismo (alcunha de Lei Mineiro) ou pura soberba, extinguiu a mesma com ajuda do Poder Legislativo num fatídico junho de 97. No seu lugar criou a Lei Djalma Maranhão que passou cinco anos para poder dar certo. Em 2003, numa disputa menos acirrada fui eleito para o conselho da Lei Câmara Cascudo. A modernidade traz consigo o dilema do papel estatal e seu imbricamento com a Arte. Do Mecenato clássico, inspirador dos dogmas católicos, onde havia cumplicidade assistencialista/ideológica; passando no início do século XIX para o patrocínio, consolidado em meados do XX com o Marketing Cultural, que juntou interesses corporativos e mercadológicos. Recentemente, o Estado oferece benefícios fiscais instituindo o “investimento incentivado” - através das leis de incentivos. A lógica do mercado substitui a política pública. A questão é: como se dá a transferência dos recursos públicos? O Estado deve ser isentado de quais obrigações? Como fica a produção artística não convencional, experimental ou não-comercial? No lugar de artes expressivas, arremedos reprodutivos e repetitivos; ao invés de arte-criação, eventos efêmeros. Antes da experimentação, a consagração na fútil moda. Na civilidade da televisão, valores transgênicos incutidos numa pós-modernidade centrada no consumo e no lazer. O que podemos inferir é que em nosso estado as leis carecem de revisão! O mais preocupante é que o Estado deixou o mecenato e de ser patrocinador, mas continua participando da cena. Pior, está interferindo na captação de recursos. Artistas e produtores reclamam, pois, quando aprovam os projetos, não conseguem captar. Eis uma luta injusta, desigual e capciosa. Quem o diretor da Cosern, Telemar vai receber um representante com chancela de instituição oficial do governo ou o poeta Jackson Garrido do morro de Mãe Luiza? A esposa de um senador da República ou o excrachado Paulo Augusto da Sociedade dos Poetas Vivos e Afins? Acredito que não devemos ter cadeiras cativas, projetos que se perpetuam anos após anos, pagos com o dinheiro do contribuinte. Eventos de um dia com custos exorbitantes, na casa dos seiscentos mil reais, a indústria dos carnavais, projetos já pagos onde são cobrados entradas e/ou camisetas caríssimas. Em minha opinião, a essência da Lei é democratizar o acesso à produção, pulverizar os recursos, não apenas contemplar os mesmo projetos indefinidamente. Cria tetos para os projetos. Minha postura foi de aprovar projetos que fossem estruturantes que tivessem pertencimento e identidade cultural. Por tal postura minha lista de desafetos aumentou consideravelmente.

Fale um pouco sobre o seu próximo trabalho que está no prelo, afinal tem mais de cinco anos que você não publica nada.
A idéia consiste em exercitar todas as nuances da palavra: verbi-voco-visual. Em quatro movimentos, Panaroma no Kaos - um extudo da poética -, funda-se com Logopéicos poemas curtos, “humor/rumor”, insights filosóficos, pseudos Hai-Kais. Na busca do biscoito fino oswaldiano, comprimidos de poesias, não para a massa, mas para iniciados. Onde o leitor, interlocutor interativo atribuirá sentido através do próprio logos, transcriando-os, mediante sua singular cognição. Num segundo instante, a experiência se dá no imbricamento “Fanopéico”. Seguindo a tradição estética potiguar, poemas visuais, repondo a processualidade concreta destas paragens, da “Rede Suspensa” do Jorge Fernandes aos processos do Dailor, Anchieta, Nei Leandro, Falves, Jota, A. de Araújo, desembocando no seio da poesia-invenção... No limiar “Melopéico”, rebuscamos a linearidade do alfabetofício. Uma leitura, uma grafia, dos espaços imagéticos da Cidade do Prazer, híbrida: musa e puta da inspiração cotidiana. O habitat revisitado como útero primogênito. Identidade com o chão, nativismo de Itajubá, Manuel Dantas, Othoniel Menezes... Concluindo, “Pauta Ulterior” converge a pseudos ensaios publicados nos jornais da Província. (Re)leituras antropológicas, denotadas em antropofágicos textos, deglutidos num sublime caso de amor (como diria Jomar Muniz de Britto): Antônio de Melo e Souza, Manuel Dantas, Ruben Alves, Niesztche, Chauí, José Martins de Souza, Eli Celso, Erza Pound, Platão, Cascudo... Contextualizações históricas e dialeticamente histéricas, angulações do simulacro polético do Estado. Abordagens ensandecidas sobre a totalidade: produção, distribuição e consumo do fazer artístico, as interfaces da cultura com: a educação, o território, a arte, o meio ambiente, a política, a economia, tecnologia turismo (e sustentabilidade do lugar)... Enfim, há vinte anos sem se lançar na aventura de um livro, o medo inaudito do ridículo relevou o tempo, eis “Panaroma no Kaos”, um bibelô poético que instiga o tênue limite entre o ser (ou não ser) poesia, concomitantemente, celebra a tal Poesia em todas as (im)possibilidades da palavra escrita, olhada, tateada, sacramentada, e nas entrelinhas: esculpida, esbravejada, sacada, lavrada, escancarada.

por Alma do Beco | 10:40 AM | | Ou aqui: 0




sábado, junho 16, 2007

MARES POTIGUARES

Marcus Ottoni


"Obra de requinte e apuro estético-musical refinados, o CD “Mares Potiguares” traz diversas composições de Mirabô em parceria com nomes como o tropicalista Capinan, Neumanne Pinto e Maurício Tapajós."
Isaac Ribeiro

João Maria Alves / TN



Unidunitê

Melancólico Ocidente
Memórias juvenis
Contatos casuais
Chuvas torrenciais
Eternas esperanças
Cheiro de abundância
Nele me inspiro

Sinuoso Oriente
Instabilidade duradoura
Conflitos permanentes
Soluções impotentes
Ser ou não ser tolerante?
Viver ambivalente
Nele respiro

Espaco virtual
Sedutor intelectual
Aproxima o irreal
Elimina o sensual
Intimida o pessoal
Esquece o fundamental
Nele conspiro

Deborah Milgram


ACABOU A HISTÓRIA

A cerveja estava gelada, suada, feito uma mulata depois do desfile de carnaval. Numa barraca, na Praia do Forte, Graco Medeiros observava o mulheril que passava e uma pelada de futebol de dois times ruins de morrer. Olhava mais as mulheres e calculava o tamanho de cada biquinezinho daqueles. Vez por outra, dedilhava no Laptop algumas frases para sua coluna do Sanatório da Imprensa. Mas estava chateado com algumas coisas do grupo de discussão do Beco da Lama.


“Na semana passada, Hugo estourou e eu estou quase inchando... Sabe de uma coisa, eu vou é embora desse grupo. Pronto!” Pensou, enquanto quase desenroscava o pescoço em busca de um traseiro perfeito, que se rebolava em direção ao Forte dos Reis Magos. “A calçada é pequena para essa bunda”, mastigou as palavras baixinho.

Voltou para o computador e escreveu uma mensagem ameaçando sair do grupo de discussão. Vige! Foi um reboliço do tamanho do Potengi. Até música de Jane e Erandir o homem recebeu pela Internet, quase em tempo real. Mas estava decidido a sair. “E ainda vou passar por lá para anunciar” – pensou. “Somente volto nos braços do povo” – agora havia falado alto e o garçom perguntou:


- Quer outra de novo? Essa daí já secou?


Nem respondeu, acrabunhou-se e foi escrever as coisas de seu heterônimo que é mais conhecido do que ele. Salpicou veneno naquela crônica! Tava puto, mas não perdia o jeito alegre de escrever, nem do chacoalhar da cascavel. Parecia ouvir o barulho característico, mas era o seu telefone:


- Amigo velho – era Dunga -, passe no Beco para a gente tomar umas...


- Hum... Vou, sim. Aliás, Dunga, agora eu somente freqüento o Beco real. Do virtual vou me mandar para sempre.


Já no Beco, após agüentar uma ruma de críticas por causa da saída do aconchego virtual, decidiu dizer que ia pegar um Rocas/Quintas e ia beber lá perto da Urbana. Levantou-se e começou a caminhar pela Travessa do Tesouro, quando ouviu o retumbar das pegadas e dos deslocamentos dos prédios, tal qual uma propaganda de celular que passa na televisão. Ele correu rápido com medo da Pinacoteca cair por cima dele e daquela multidão que o acompanhava. Desceu em velocidade mortal em direção ao Paço da Pátria e, quando olhou para trás, tinha todo tipo de gente do Beco. E todos os prédios daquela região e adjacências lhe acompanhavam como uma pintura surrealista.


Pensou que era um sonho e não olhou mais para trás. Foi uma carreira só, até chegar num boteco das Quintas. Sentou-se e, quando olhou, viu que a paisagem estava diferente. O bar de Nazaré estava instalado numa rua perto da Ponte de Igapó, e o Bardalos estava do outro lado do Potengi. O Bar de Nasi estava numa travessa já perto do Rio das Quintas e a Pinacoteca ocupava o lugar da Urbana. A Catedral, perto do curtume Jota Motta.


Esfregou os olhos e olhou novamente. Estava tudo ali mesmo. Do outro lado, Jotó, cheio de telas na mão, acenou com a bengala. Parecia que todo mundo tinha se mudado por causa dele. “De mim, não... Da falta de moderador”, disse para uns bêbados que não entenderam nada.

Era um sábado.

No outro dia, o prefeito Carlos Eduardo, cercado de assessores, olhava aquele imenso vazio do que era o Centro Histórico de Natal. Balançava a cabeça de um lado para o outro, sem entender nada...


Um assessor arriscou dizer:

- Isso só pode ter sido coisa daquele pessoal da Sociedade dos Amigos do Beco da Lama e das Adjacências, a tal da SAMBA.

Leonardo Sodré



O resto é mar

15/06/2007 - Tribuna do Norte

Rafael Duarte - Repórter



O encontro do mar com o rio fascina Mirabô. Do alto da Fortaleza dos Reis Magos, a união do Atlântico com o Potengi provoca nele sensações nostálgicas. Algumas boas, outras nem tanto. Mas lá no fundo, acabam desaguando em homenagens. Perguntado sobre qual dos mares potiguares lhe desperta hoje mais desejos, apontou a voz para a praia do Forte. E desde ontem pela manhã, quando aceitou abrir o baú para falar do disco e do livro que acabam de chegar ao mercado justo no ano em que lá se vão 60 primaveras, um punhado das estórias musicais desse filho de Areia Branca fincaram pé naquele amontoado de rochas que ao ver pela primeira vez, revela, não fazia idéia de como o homem conseguiu levantar. “Quando vim para Natal, aos 14 anos, e conheci o Forte, não tinha noção de como conseguiram construir isso. É a primeira lembrança que me vem à cabeça quando venho aqui. Também ajudei a organizar o I Festival de Arte do Forte, que marcou nossa geração. Outra coisa é que o encontro do rio com o mar sempre me encantou. Mas eu também tenho medo. Quando criança em Areia Branca, na única vez que entrei no mar, quase morri afogado”, revelou antes de negar a pergunta sobre se o nome do novo disco, Mares Potiguares, tem relação com o trauma de infância. “Não tem nada a ver, nesse caso é apenas uma homenagem mesmo”, diz.

Na levada das composições próprias e com parceiros amigos da MPB que reúne neste segundo disco da carreira - o primeiro foi lançado no início dos anos 80 com apenas duas faixas (produzidas pelo cearense Raimundo Fagner) porque a gravadora CBS mudou a diretoria e freou todos os projetos em andamento na época - Mirabô traz o livro “Umas histórias, outras canções” onde relata vários acontecimentos em que participou ou foi testemunha na carreira. O kit (livro + CD) sai por R$ 30. O lançamento oficial é dia 21 de junho, no bar Bate Papo (antigo Chap Chap), em Mossoró. Areia Branca e Natal, ainda este mês mas sem data definida, também fazem parte do roteiro do compositor.

Um projeto que, diga-se de passagem, custou além de anos de dedicação e muita grana. Para produzir CD e livro, Mirabô precisou vender a casa que tinha em Areia Branca. Com os R$ 20 mil da propriedade, comprou um “carro velho” e realizou o resto foi para a realização do sonho. “Moro hoje na casa da minha irmã adotiva aqui em Natal, mas já estou terminando de construir uma casinha que comecei em Pium”, revela ele, que integra hoje a equipe do Centro de Promoções e Eventos da Fundação José Augusto.


Timidez

A timidez assumida de Mirabô Dantas dificultou um pouco as coisas para ele na hora de enfrentar o mercado, isso a partir da segunda metade dos anos 70 quando, à convite do jornalista potiguar Dailor Varela (na época repórter da revista VEJA), foi morar em São Paulo com a esposa Odaíres, e pouco tempo já no Rio de Janeiro.

O compositor, no entanto, também credita o fato de não ter lançado um novo trabalho entre o disco abortado pela CBS e o que vem à tona agora, ao engajamento no movimento sindical no Rio e à própria visão que tinha do mercado. “Trabalhei cinco anos no sindicato dos músicos do Rio e quando saí tive dificuldade para arrumar emprego. Também sou muito tímido, nunca quis ser cantor. As pessoas que me conhecem dizem que sou acomodado, mas eu tinha uma angústia. A carreira de um astro da MPB é complicada. Ser um novo Fagner, um novo Djavan... esses caras tiveram muita paciência. Comecei a fazer o CD há dois anos, e como tinha boas histórias inéditas, resolvi esperar os 60 anos para fazer um trabalho comemorativo”, disse.


Umas histórias para contar...

Em ‘Umas histórias, outras canções’, Mirabô narra casos inéditos que ocorreram com ele e os amigos de mais de 30 anos de música, entre eles Capinam e Fagner. Algumas letras também foram registradas na obra. Uma das curiosidades é que apesar da amizade, Fagner e Mirabô nunca assinaram uma parceria juntos. “Nunca quis me aproveitar de amizades para ter uma música gravada, tinha esse receio. E Fagner subiu rápido, quando trabalhou na CBS fez questão de ajudar vários amigos nordestinos que estavam começando mas nunca pedi nada nesse sentido. Já a amizade e parceria com Capinam nasceu por correspondência. Eu tinha ouvido falar dele e ele de mim. Aí um dia ele me mandou uma letra pequena numa carta e fiz a melodia. Prefiro as melodias, mas hoje já estou criando mais letras”, conta. No Rio de Janeiro, para onde fugiu do frio da pele e da alma que sentia em São Paulo, se juntou aos artistas nordestinos que tentavam firmar a carreira na época. Uma turma que tinha Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Zé Ramalho, Manassés, Fagner e Moraes Moreira. Questionado se alguém o desapontou em alguma passagem da vida, nega. Mas lembra no livro uma história até hoje mal explicada com Zé Ramalho. “Eu tinha acabado de sair do sindicato e não encontrava oportunidade. Aí procurei o Nelsinho Rodrigues Filho, que tinha um bar no Rio chamado ‘Barba’. Ele disse que me dava uma chance desde que eu convidasse quatro amigos famosos da época. E chamei Geraldo Azevedo, Bráulio Tavares, Manassés e Zé Ramalho. No dia do Zé Ramalho, ele não apareceu. Na hora, avisei ao público que quem quisesse o dinheiro do ingresso podia pegar. Mas um cara lá do fundo disse que eles estavam ali para me conhecer. O pessoal aplaudiu, o Manassés que estava lá subiu no palco e foi um show maravilhoso. Pelo menos naquela noite, meu amigo Zé Ramalho não fez falta”.


Mares potiguares: requinte e apuro estético


Por Isaac Ribeiro - crítico de música


Os afortunados que tiverem a oportunidade de ter em suas mãos livro e CD de Mirabô encontrarão um pouco da história de um dos grandes compositores da canção potiguar. Saberão a trajetória árdua e brilhante que o artista teve que trilhar para cunhar seu nome no panteão da MPB.

Obra de requinte e apuro estético-musical refinados, o CD “Mares Potiguares” traz diversas composições de Mirabô em parceria com nomes como o tropicalista Capinan, Neumanne Pinto e Maurício Tapajós, entre outros. É uma obra madura, mas que conserva o frescor de uma novidade eterna, numa seleção de harmonias bem construídas e de poemas de um lirismo inegável, com exaltações à mulher e aos mistérios dos relacionamentos amorosos.

O CD começa com a dramaticidade e a urgência da bela “Colando a Boca no Teu Rosto”, parceria com Capinan, interpretada por Mirabô e Fagner, amigo de longas datas. Na faixa-título “Mares Potiguares”, também composta com Capinan, fica o verso “As são iguais, mas de potes diferentes”.

O disco segue com baladas, sambas, que em muitos momentos lembra a elegância harmônica de um Chico Buarque e de Edu Lobo. Inteiramente gravado em Natal, “Mares Potiguares” conta com a participação de um seleto grupo de músicos atuantes e ainda conta com o vocal doce de Rachel.

Já o livro “Umas Histórias Outras Canções” é um caleidoscópio de lembranças e registros sentimentais de épocas distintas, que ajudam a entender um pouco a obstinação do artista em construir seu caminho. Mirabô lembra a gravação de suas primeiras canções, a corrida pelos festivais nacionais, reúne desenhos feitos quando moleque em Areia Branca e relata passagens sobre a censura em Natal.

por Alma do Beco | 9:41 AM | | Ou aqui: 0




domingo, junho 10, 2007

COISA DE PRETO

Marcus Ottoni


"Relaxa e goza, porque você esquece todos os transtornos depois."
Marta Suplicy, ministra do turismo, sobre a crise dos aeroportos

Alexandro Gurgel



CATA-VENTO

Nao conto
Mais histórias
Nem conto
Com meu desafinado canto
Melhor, quem sabe
Cada um no seu canto
Distante um tanto quanto
Nesse eterno desencontro
Sem ter a chance de por enquanto
Se achar de vez em quando

Deborah Milgram


entre o poema e a poesia

entre
o poema
e a poesia
dedilho
o desenho
de tua
nossa anatomia
as palavras
afluentes
da criação
escorrem
pelas veias
do poeta
que dorme
prequiçosamente
o sono inabalável
do meio dia!

Franklin Capistrano



Coco do mundo
Diario do Nordeste

A potiguar Khrystal renova o gênero do coco, unindo Jacinto Silva e Guinga, em sua vibrante estréia, ´Coisa de Preto´.

O pernambucano Silvério Pontes, ex-vocalista do grupo Cascabulho, deu o toque: existe o coco de Jacinto Silva, além de Jackson do Pandeiro, ser conhecido e renovado pela música pop brasileira. Depois daquele “Bate o Mancá”, de 2001, o coco voltou a ser revisitado, além de Dona Selma do Coco e companhia. Um desses frutos pode ser este álbum independente potiguar, que detém o mérito de fincar de vez uma ponte entre estas duas gerações.

Em suas 15 faixas, “Coisa de Preto” inclui duas composições de Siba, ex-Mestre Ambrósio, além de outros pernambucanos, potiguares e ainda paraibanos e até cariocas. Sem falar no alagoano Jacinto. “Coco da mãe do mar” (Lenine/Siba) havia sido gravada apenas pela Rainha do Xaxado, Marinês, falecida há pouco mais de um mês. A faixa abre o disco com uma fusão de rabeca (Tiquinha Rodrigues) e, claro, pandeiro (Kleber Moreira e Sami Tarick), mas numa vibração mais acelerada, falsamente eletrônica, que se manterá por quase todo o álbum. Khrystal se revela um intérprete de raiz, remetendo de pronto a Elba Ramalhonto ou à própria Marinês, com sua própria linguagem.

“Quero um ganzá!”, repete em “Sem ganzá não é coco” (Chico César), marcada pelo baixo de José Fontes e guitarrinha de Ricardo Baya, noutra levada agateada. Não tanto como a do trava-língua elétrico “Coco do M” (Zé do Brejo/Jacinto Silva). Uma passagem pelo baião-rock (Zé de
Riba/Romildo Soares): “www.sem”. O primeiro, um pernambucano que também faz um legítimo “reprocesso” da nova música pop nordestina. A rabeca de Tiquinha e a sanfona de Zé Hilton chamam pro falso coco “Sete Meninas”, um antigo xaxado de Dominguinhos e Toinho.

A faixa-titulo é um funk de Khrystal e Tertuliano Aires, com muito suingue, breque de samba e citação de “A cidade”, de Chico Science. Sem “pancada do pandeiro”, nem “balanço do ganzá”, o quase acalanto “Tem coco” (Galvão Filho/Alex Medeiros) remete a vocalises de Marisa Monte, no momento mais lírico do álbum. O coquista potiguar Chico Antônio (contemporâneo e apreciado por Mário de Andrade) assina, mais Paulírio, “Usina” ou “Tango no Mango”, também resgatada antes pelo Mestre Ambrósio. E aqui com sonoridades realmente eletrônicas, ante uma violinha e uma cantora leve, mas rigorosa em suas tradições.

Embolando o coco

Não perca as contas. O funk-rock volta através da paraibana Cátia de França, pura nordestinidade entre trechos de João Cabral de Melo Neto: “Quem vai quem vem”. Dela também virá “Lá vem Batista”, na mesma levada, só que com guitarras mais pronunciadas. Tinha uns samples da própria Cátia? Mais efeitos do tecladista Franklyin Nogvaes e riffs de Ricardo Baya tomam o coco embolado “Quadra e meia”, também da lavra de Jacinto Silva. Mais um funk-rock toma a mais conhecida “Coco do Norte”, doutro pernambucano de responsa, Rosil Cavalcanti. Calma, arianistas: em nenhum momento, Khrystal perde o prumo das suas origens – inclusive contemporâneas. Entre muito suingue e distorções, isso continua sendo coco, sim!

E “Coisa de Preto” fecha com mais mudernages (como diz um atuante selo natalense), dessa vez mais acústica em “Influência do Jackson” (Guinga/Aldir Blanc) com outras citações que mesclam Nelson da Rabeca (“Festa de Tuquanduba”) e Leila Pinheiro e Simone Guimarãs (“Festança”). A dupla de compositores carioca volta no “Baião de Lacan”, com o violão em transe do próprio Guinga reforçando aquela primeira quebra para o universo das cordas. Pra no final, o rock voltar, cheio de boas “besteirinhazinhas” pra agatear o povo, em meio à cantoria de Elino Julião e Oliveira Batista, na clássica “Forró da Coréia”. É coco, é rock, é do mundo. (HN)

CD: Independente 2007 - 15 faixas - R$ 20 - "Coisa de Preto", de Khrystal

por Alma do Beco | 7:52 PM | | Ou aqui: 0


Hugo Macedo©

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