terça-feira, novembro 29, 2005

O PATRONO DO FOLCLORE

Marcus Ottoni



Da ditadura dos quartéis para a ditadura da mentira?
Huá, huá, huá! Palavras da direita do atraso...

“O Brasil está entregue à ditadura da mentira, manipulada pelo governo com a conivência dos poderes, num jogo de barata-voa com as denúncias, provas cabais, evidências solares, tudo diante dos olhos impotentes da opinião pública, e os intelectuais e homens notáveis do país estão calados. Quando se manifestam isoladamente, como suspiros esparsos, folhas de outono, emitem um mal-estar ‘superior’, um lamento dolorido. No entanto, estamos diante da crise mais suja de nossa História, um momento gravíssimo e preciosíssimo em que aparecem dois tumores gêmeos de nossa doença: a direita do atraso e a esquerda do atraso.”
Arnaldo Jabor



Câmara Cascudo

Eu já fiz chapéu de palha,
fiz bodoque, fiz cangalha,
carrapeta e berimbau,
fui menino prazenteiro
correndo pelo terreiro
em meu cavalo de pau

Luís da Câmara Cascudo
com seu profundo estudo,
sobre o folclore tratou,
na cultura popular
foi o maior potiguar
que o Rio Grande criou

Contava tudo a miúdo
porque sabia de tudo,
conservava nos arquivos
populares tradições,
lendas e superstições
e costumes primitivos

Do folclore foi patrono,
ergueu ali o seu trono
com o dom que Deus lhe deu,
não há em nosso universo
quem possa dizer em verso
o que ele em prosa escreveu

Eu não tenho competência
para fazer referência
sobre o seu grande saber
falando de coisa antiga,
por mais que o poeta diga
falta ainda o que dizer

Acho ser ignorante,
muito ousado, petulante,
atrevido e linguarudo,
um matuto agricultor
falar sobre o professor
Luís da Câmara Cascudo

Patativa do Assaré


Camisetas do IV Carnabeco
No Bar de Nazaré e Bar de Nasi
R$ 15,00

por Alma do Beco | 1:47 PM | | Ou aqui: 0




domingo, novembro 27, 2005

DESTINO DO FRIO

Marcus Ottoni



Seu Inácio não mente:


“Eu nunca ataquei ninguém.”
Luiz Inácio Lula da Silva



"ANOTO PARA O FUTURO AS LUTAS DE HOJE"
Djalma Maranhão
27 de novembro de 1915 - 27 de novembro de 2005
90 anos


O impeachment do prefeito

No dia 3 de abril, o "Diário de Natal" divulgou as prisões efetuadas, noticiando a decretação do impeachment pela Câmara Municipal. Dizia a notícia:

"Às 17 horas, patrulhas do exército comandadas por oficiais, simultaneamente prenderam nos respectivos gabinetes, na Prefeitura e na Câmara Municipal, o prefeito Djalma Maranhão e o vice-prefeito Luís Gonzaga dos Santos, conduzidos, inicialmente, para o QG da Guarnição, praça André de Albuquerque. Foram recolhidos ao 16º RI, onde permanecem. Logo depois, o comando militar informava à Câmara que, sendo o prefeito e vice-prefeito comunistas, estavam impedidos de exercer os seus mandatos.
Diante dos fatos, a Mesa da Câmara solicitou do comando militar que a comunicação fosse feita por ofício, permanecendo o legislativo reunido. Já por volta das 22 horas, chegou à Câmara o ofício do coronel Mendonça Lima, nos termos da comunicação verbal anterior. Em seguida, ainda secretamente, decidiu a Câmara aceitar a denúncia do comando militar, iniciando um processo de impeachment ao mesmo tempo em que, conforme determinação do Exército, considerava vagos os dois cargos."

O mesmo jornal publicou o texto da declaração do impeachment:

"Texto da Declaração do Impeachment
É o seguinte o inteiro teor da declaração firmada pelos 21 vereadores da Câmara Municipal de Natal, em que declaram o impeachment do prefeito Djalma Maranhão e vice-prefeito Luís Gonzaga dos Santos:
`Declaramos que votamos o impeachment do prefeito e vice-prefeito por estarmos certos de que estamos defendendo a Democracia, que se define na liberdade de pensamento individual.
Tomamos tal atitude por não estarmos coagidos por ninguém e reconhecermos a plena vigência da Democracia.`
O texto da declaração, após vários debates, foi proposto pelo vereador José Godeiro, sendo aceito pela unanimidade dos edis."

O então presidente da Câmara Municipal, vereador Raimundo Elpídio, assumiu, interinamente, o cargo de prefeito.
Assim, por uma simples ordem militar, foram cassados os mandatos do primeiro prefeito e vice eleitos pelo voto popular na cidade de Natal.
Para nós, restou a sensação de que a vida fora interrompida para ser retomada entre ameaças, perdas e insegurança. A partir daquela tarde, amigos e companheiros sumiam e apareciam nas prisões. Alguns conseguiam fugir, mas apenas retardavam o momento de serem levados presos para os quartéis.
A cidade dividia-se entre vitoriosos e derrotados, entre os democratas silenciosos e os entusiastas do novo regime que eram massificados pelas promessas de redenção política e econômica para o país.
No dia 6 de abril, o "Diário de Natal" notificou a eleição, pela Câmara Municipal, do novo prefeito de Natal, almirante Tertius Cesar Pires de Lima Rebelo e do vice-prefeito, vereador Raimundo Elpídio, que já ocupava a Prefeitura. Salientava que o ato da eleição pelos vinte e um vereadores durou pouco mais de sete minutos.

Mailde Pinto Galvão
In 1964. Aconteceu em abril, Mailde Pinto Galvão
Editora Clima. Natal/RN, 1994.





Era uma vez um homem



Clara de Góes

Era uma vez um homem. Era uma vez o frio. Era uma vez um homem que tinha frio. Não. Era uma vez um homem que tinha medo de ter frio. Era uma vez um homem que sabia que tinha frio mas que não era ainda. Havia uma brecha.... uma brecha no tempo, uma espécie de defasagem... de tempo... no homem, no clima, na geografia. O frio viera antes das condições atmosféricas de temperatura e pressão. E ele sabia... sabia do frio. Do frio antes do tempo que começava nele... nos ossos dele. E o homem que era grande, o corpo coberto por abundantes camadas de gordura; o homem que era como um leão marinho, desses de livro, que se espreguiçam em icebergs como se fossem dunas... tinha frio. E o que pedia (ou perdia) o homem que tinha frio, que tinha medo de ter frio, e que sabia do frio que não era ainda? Casacos? Capotes? Couro? Lã? Não. Ele pedia um par de meias.
A família decidira. Era preciso mandar a encomenda. Atender aquele último pedido... um par de meias... um contato ainda depois da prisão e antes do exílio. Mas como? As embaixadas estavam vigiadas, quem entrava ficava marcado... Mas era preciso, um par de meias... E ele lá. Na embaixada do Uruguai, à espera de um par de meias. Alguém teve a idéia, uma visita. A visita da afilhada. É criança, o risco é menor. Ela vai, leva o par de meias, toma a bênção... mais uma vez. Quem sabe... isso não se sabia. Não se sabia mas se temia e ninguém dizia e foi mesmo, a última vez.
Decidiu-se. Ia a menina. Natural, que fosse ver o padrinho, se despedir.
A menina tinha oito anos, era franzina e já aprendera o frio. Carregava-o no bucho, nos ombros, no olhar... Ela não sabia, mas sentia. Ele sabia e antecipava. E eu fui. Ela que, naquele tempo, era eu, foi.
Ver o padrinho, o prefeito, levar-lhe um par de meias. Levar os recados, as recomendações de todos, se lembrar, não esquecer, trazer de volta, aos seus, um gesto dele, habitual... o jeito de coçar o queixo (mais a papada do que o queixo) com as costas dos dedos, um olhar... alguma coisa do homem imenso como um leão marinho que se espreguiçava em dunas... as dunas de Natal. E era tanta coisa que ela devia levar e não se esquecer de lhe dizer, e não chorar, e lhe dar coragem, e tanta coisa e tão pequenos eram os ombrinhos dela, que ela se esqueceu de quase tudo. Esqueceu-se de olhar pra ele, de ter coragem, de dizer... do medo, do medo de ter medo, do medo de esquecer (quando esquecer era um jeito de trair), e ela chegou lá e fixou-se nas mãos. Alguma coisa a impedia de olhar nos olhos dele. Tinha medo do que podia ver, adivinhar, intuir, de ver fraqueza nele... nela. Então se fixou nas mãos. Prendeu-se nelas. Eram grandes e tombavam sobre os joelhos que eram largos. Ele estava de cabeça baixa, talvez porque ela fosse pequena e esse fosse o jeito de olhar pra ela, talvez por lhe pesarem os pensamentos, talvez de cansaço... Ela acompanhou-o no gesto, no modo, na inclinação da cabeça, na vida que escorria pela brecha entre a geografia e a história daquele instante que seria o último, o último encontro de um leão marinho naufragado e uma menina cuja infância não veria o mar.
Nas mãos dele, a mãozinha dela tantas vezes se abrigara, se perdera, se encontrara. Nos comícios. Nas festas de São João. Nos palanques, nas danças, num gosto de povo com cheiro de intimidade que ele lhe deixara. “Meu padrinho”, ou, apenas, “padrinho”... era como um nome mágico, uma espécie de “Abre-te Sésamo” diante da vida, da cidade, da alegria... as bandeirinhas de São João, os acampamentos, e eu me sentindo tão importante, entregando prêmios, percorrendo as Rocas, “Brasília Teimosa”, as lavanderias do Alecrim... o Baldo... Esse povo pobre não deixa Djalma em paz, dizia minha avó. Esse povo pobre... e Djalma... no olho no furacão.
Um dia foi como se não fosse... a vida de perna pro ar, o mundo de ponta a cabeça... os soldados... as casas invadidas, as vidas reviradas, as prisões... o cheiro do medo, a valentia de uns a covardia de outros, a prova da vida e da dignidade nas costas. O povo pobre se findando, o mundo ficando de longe...
Djalma foi firme. Assumiu a responsabilidade por tudo... Seu padrinho foi preso... Djalma está incomunicável. Em Recife, a tortura come solta, o pau tá comendo. Tão sumindo com os camponeses. A tortura começou, vão mandar especialistas de Recife pra Natal... Um certo capitão Lacerda... Djalma está incomunicável. As visitas ao meu pai, o cheiro de mijo dos quartéis, a revista, o medo... menos que medo, espanto. Raiva difusa... solidão.
Djalma foi pra Fernando de Noronha. Botaram Luís Gonzaga num avião. É mesmo pra matar, o homem sofre do coração, dizia minha avó que procurava na rua com quem brigar. Meu avô chegou, o velho coronel viu a filha sair presa de casa. O velho coronel que não podia com o sargento... um sargento e um cabo levaram minha filha... Mailde foi presa! O velho não agüentou, morreu depois. Djalma está melhor... parece que tem banho de sol na ilha... outros estão chegando. Mas ele sabe, sabe... que vai demorar...
Depois... Djalma na embaixada rumo ao exílio no Uruguai. E as notícias que chegavam. Djalma não agüenta o exílio. Não se adapta de jeito nenhum. Só fala em Natal. Pede mangabas... a fruta das dunas... o meu leão marinho... Tem saudade do sol, da brisa, do Grande Ponto.
Djalma tem uma banca de jornal... vende jornais do Brasil... mas está cada vez mais calado. Só fala em Natal... quer voltar...
As frases ecoavam na casa, na família que se virava como podia em um exílio diferente mas ainda assim... exílio. As frases ecoavam em meu pai que se identificava com o amigo na saudade e no amor à cidade de Natal. As frases ecoavam na raiva incontida de minha mãe que amaldiçoava a cidade que ficara pra trás. A raiva dela e a nostalgia dele... e o meu silêncio... o desamparo. A lembrança dele começou a servir de corpo a outras saudades... Meu leão marinho era como Moby Dick, carregando em suas costas os naufrágios dos outros... cada um que sucumbia, aumentava a carga dele.
Minha mãe era um poço de raiva, meu pai de saudades... e na menina, que agora sabia do frio e entendia o desamparo das mãos dele sobre os joelhos largos. Tinha agora mais tempo de lembrança do que de vida vivida ao lado dele. Mas os naufrágios aumentavam e a lembrança dele crescia e de alguma forma o corpo imenso dele, carregava aquilo tudo. Assim, a presença dele crescia. Presença de silêncio entrecortada de notícias que não passavam de frases curtas, como que a escapar de nossos ouvidos, de nosso entendimento.
E ela pensava nele, no padrinho. Um dia, chegou um presente. Uma pequena bolsa de couro... que, se dizia, “de antílope!” , com solene importância. Aquilo causou espanto. Como é que num tempo daquele se cometia uma delicadeza daquelas! Com tanto sofrimento, tanta tristeza, tanto abandono e brutalidade... uma delicadeza daquelas... uma bolsinha de couro de Antílope para uma menina, uma afilhada entre tantas que o ex-prefeito devia ter... Mas era a filha do amigo... Clarinha... E se repetia “De antílope”... E aquilo era pronunciado com solenidade: “de antílope!” como se fosse um nome próprio. E a menina correu à enciclopédia, ao dicionário à procura de antílopes... o que seria aquela palavra tão pomposa e importante... não tinha coragem de perguntar... A bolsa era pequena e macia. Foi guardada como se fora uma relíquia... e, de certa forma, era. O presente do padrinho que se reduzia, cada vez mais, a mãos desamparadas sobre os joelhos largos. Silêncio. E o enigma: ele pensava em mim? Devia pensar, pra mandar um presente... Eu tinha, então, uma existência além dos horizontes dessa língua, na qual, não mais me reconhecia? Aquele homem grande pensava na menina franzina , na afilhada, e lhe mandava, em silêncio, um presente.
Depois veio a notícia. O coração de Djalma não pôde mais. Sucumbiu. E meu pai repetia. Morreu só. Morreu só. E minha mãe respondia com a crueza de um desespero que ela mal podia reconhecer: “como sempre viveu”. Morreu como sempre viveu. Como um destino. Uma sina. Como se sempre... Mas... mas tinha o povo pobre... Esse povo pobre que não deixava Djalma em paz... teria, ele, o reconhecido por lá? A solidão dos homens... A febre no olhar....o choro de fome das crianças enlouquecendo as mães... o ventre das adolescentes vendidas nas estradas... Não se sabe.... Não se pôde perguntar... E ele não pôde dizer. Meu pai rezava e minha mãe calava a raiva surda no peito. Não chorava. Calava. Eu corri ao meu presente que vivia envolto no papel de seda em que chegara. Desembrulhei-o e fiquei segurando minha pequena bolsa de antílope, como se fosse um nome próprio que eu recuperasse como uma herança... mas não tinha existência, a sua morte. Continuava, do mesmo jeito a presença dele... nas coisas, na lembrança de uma vida que ficara entre as bandeirinhas de São João. Não lhe era permitido morrer porque sua vida não tinha sido vivida até o fim. Tinha uma brecha... E o corpo dele não passava por ali... Não tinha jeito dele ir. O meu leão marinho que se espreguiçava nas dunas de Natal continuava. Eu o levava, mesmo assim... pequena e franzina, jogando em seu corpo branco os começos abortados de minha jovem vida... ele não cabia na brecha que a morte abria... não era um problema de alma, mas de corpo... portanto continuava vivo. Tinha que continuar!
E mesmo as notícias do enterro, as últimas humilhações... “não deixaram isso”, “não deixaram aquilo”; frases de sujeito indeterminado que indicavam o anonimato covarde das ordens que perpetuavam a injustiça, a mesquinharia, a ruindade comezinha das gentes... e o meu padrinho tão grande... imenso. Imenso e frágil... “o coração de Djalma não pôde mais”. É. Não pôde mais.
Agora vira ele praça e ponto de encontro, o Grande Ponto de que ele gostava e que era referência na cidade. É tempo de alegria e, quem sabe, tempo de reconciliação. Diria meu pai, em sua fé, o tempo do perdão. O Grande Ponto... Djalma Maranhão. Não sinto alegria. Procuro, em mim, sentimentos cristãos e não os encontro. É a herança que me cabe, a herança que reivindico e da qual não abro mão. Herança que não precisa de consangüinidade nem testamento escrito. Ela me foi mandada, em silêncio, numa bolsinha de antílope, do Uruguai. Minha herança não é de família nem de partido, é herança de um destino partilhado... o destino do frio. Procuro, em mim, alegria ou sentimento triunfante de justiça finalmente feita e não encontro nada disso. Não vejo, em mim, a generosidade que, segundo dizem, ele tinha. Há o vazio dos que não voltaram. Dos corações que não puderam mais. Certas coisas não têm perdão nem volta. Minha herança, e não é fácil carregá-la, é dizer que eu não me esqueci. Que eu não perdoei. Que me doem ainda as frases e o tempo que me foi roubado, a convivência que me foi impossível... O destino abortado de uma geração não tem volta nem tem como apagar. O tempo não se recupera. E alguns não voltaram. Alguns não voltaram. E isso é imperdoável.
Sim, há o registro simbólico, o reconhecimento, o testemunho às gerações. Não me interessa. Seu corpo, de certa forma se transubstancia em praça pública e, finalmente, ele é entregue inteiramente à cidade cuja ausência o fez morrer. Inscrevem-no espaço público que era o que ele preferia. Para mim, não importa. O que me foi negado permanece... nada nem ninguém podem restituir
Não sei aonde foi parar depois de tantas mudanças e exílios, voluntários e involuntários, minha bolsinha de antílope. Carrego, no entanto, o peso das mãos desamparadas, dos pés nos chinelos, da cabeça baixa... do medo de cair no choro se o olhasse nos olhos, de vê-lo triste... o meu leão marinho arrastando pra longe a imensa carcaça que o coração não pôde suportar... mais.

Rio, 9 de novembro de 2002

Clara de Góes
in Cantões, Cocadas Grande Ponto Djalma Maranhão
Edições Galeria do Povo - Natal/RN, 2002

por Alma do Beco | 3:16 PM | | Ou aqui: 0




sábado, novembro 26, 2005

A MARMITA

Marcus Ottoni




Léo Sodré


“As coisas chegaram a uma situação quase insustentável. A crise está deixando de ser política e está virando entre os Poderes.”
Senador Delcídio Amaral (PT-MS), presidente da CPI dos Correios

Hugo Macedo

Açude Gargalheiras, visto do topo da Serra das Araras

Meu Poema do Absurdo

Tava bebendo cachaça,
cum um pastô paraibano;
êle inrolô um cigano,
numa troca de animá.
No açude de Boqueirão,
meiguiêi fazendo farra,
saí na bôca da barra,
lá na Ridinha, in Natá.

Gostando da bricadêra,
alí meiguiêi de nôvo.
Saí no Parque do Povo,
numa rêde de máia fina.
Vestido só cuma tanga,
me incrontei cum um jabuti,
qui vinha do Cariri,
p'ro cabaré dais Bunina.

Dali mermo, de Campina,
peguei um trem p'ro Japão.
Num jumento garanhão,
cheguei lá, pasme vocêis:
Me incrontei cum Zé Limêra,
seu parêia, Orlando Tejo,
e uma quenga lá do brejo,
na zona duis japonêis.

A farra foi de lascá;
japonêsa sem vistido,
no forró de chão batido,
eu de cueca e gibão.
Fiz forró de pé de serra,
in riba d'uma catatumba,
triângo, fole e zabumba,
na capitá do Japão...

Bob Motta



ESTÁ ACONTECENDO

estão vendendo
o amor
empacotado
engarrafado
tabelado
num armazém
de secos & molhados
a felicidade
tem preço marcado
e pelas ruas
encontramos
os vendedores ambulantes
do ar que respiramos
e no artigo do dia
a ternura tem abatimento
o carinho está pelo preço da vida
e o sexo é mercadoria de alta rotação

Bosco Lopes
[ in Corpo de pedra. Natal: Clima, 1987 ]




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A MARMITA

Ela tinha mais ou menos uns 18 por 10 centímetros, com uns, sei lá, uns 3 centímetros de altura.
Ainda lembro do cheiro frio que ela exalava no final da tarde, quase noitinha. Talvez viesse com outros cheiros, mas minha memória, aos 3 anos de idade, só salvou o cheiro do feijão, todos os dias o cheirinho de feijão bem cozido e temperado.
Quando a tampa de alumínio da marmita tilintava na pia da cozinha, significava que meu pai chegara do emprego. E seu garfo - o maior garfo que tinha em casa, fornido, talvez, de prata - era uma peça única, sobrevivente de um faqueiro antigo ou um aparecido do nada.
Até hoje não tive explicação de onde apareceu aquele garfo ...

Meire Gomes


O PT e a traição da ética

Enquanto espero o bonde de Lagoa Seca, na baldeação da praça Gentil Ferreira, vendo lá nos fundos o Quitandinha, abro as páginas do Jornal do Brasil, passo pelo Augusto Nunes, contorno o Ricardo Boechat, cumprimento o Villas-Bôas Corrêa, tiro um fino no Informe JB e vou direto para o púlpito do Frei Leonardo Boff, minha leitura obrigatória - e prazerosa - de todas as sextas-feiras. Antes que o pessoal do São Luís chegue, subo no bonde e vou lendo o meu teórico preferido da Teologia da Libertação. Fixo os olhos já no título do artigo: “A dívida maior do PT”. O frei começa assim, de cara, dedo firme no gatilho:

- A grande dívida do PT não é financeira. É política e ética. Os eventos ocorridos nos últimos meses envolvendo sofisticada corrupção no grupo de direção do partido tiveram um efeito devastador na população, especialmente, naqueles que alimentavam um sonho histórico de mudanças de rumo. Vigorava grande despolitização como de resto no mundo inteiro. Mas com o advento do PT e com a irrupção carismática de Lula se acendeu a chama da libertação tão ansiada (...) Tudo se faria sob a égide da ética, da transparência e de uma articulação orgânica e dinâmica do Governo com as bases da sociedade. Toda uma geração seria mobilizada.”

Li de um fôlego só, respiração segura nas rédeas da emoção, o bonde já subindo a avenida Presidente Bandeira no rumo da brisa que vem dos morros distantes do Tirol e Morro Branco. É noite de lua em quarto crescente. Passo para o período seguinte, onde Frei Boff cita Machiavel ao se referir que faltou ousadia no Governo, “a capacidade de captar o sentido profundo da história, de intervir nela para inaugurar um novo rumo”. Diz o frade que depois de dois anos nada ocorreu da pregação ética do PT: “trocaram a pérola mais preciosa que possuíam, a ética, por quinquilharias baratas de camelô”.

Quando o bonde já descendo a inclinação da Avenida Dois para entrar na rua São João, à esquerda, leio - parecendo ouvir - as palavras do frade:

- A traição ética fez com que a política voltasse a ser vista novamente como mundo do sujo, dos propósitos escusos, das negociatas e da corrupção. Esta leitura faz injustiça aos políticos sérios dentro do PT e de outros partidos (...) Cabe ao PT resgatar sua opção originária. Ele nasceu e se estruturou por mais de duas décadas com esta intenção, de ser o conduto das transformações necessárias. O PT deve pagar a dívida ética com a moeda da humildade e da coerência, arremata o teólogo.

Aí o bonde já chegou às mangubeiras da rua São João. Estamos no coração da Lagoa Seca. Desço os dois estribos e vou no rumo de casa.

Woden Madruga
Tribuna do Norte, 25 de novembro de 2005



Carta para Yenoh*
De Charles M. Phelan

Sri Lanka, 05 de abril de 1968.
Minha doce, Yenoh


Esta carta nasceu de um sentimento que há muito me perturba, minha querida Yenoh. Uma provocação interna que me põe a indagar qual o propósito da minha vida, e, que, se a priori, não parece complexa a pergunta, certamente para mim, o tem sido.
Faço este exercício contemplativo enquanto deitado, embora não fique restrito ao conforto de uma cama. Minha única exigência é o silencio. Agora, encontro-me deitado, e como sempre, inicio minha procura, pensando em você, Yenoh. Tenho pouco controle sobre isso. Depois de você vem o silêncio. Divago no desconhecido. Ansioso. Inquisitivo. Insaciável. Afinal é sobre mim que procuro respostas.
Não sucumbo aos pensamentos simplórios de que a vida resume-se ao bom caráter, boa educação, diploma universitário, trabalho e a criação dos filhos. Este é o pensamento do conformista que se esconde sob a égide da ignorância. Este é o pensamento daqueles que reduzem a vida-plena, a uma formula. Uma equação. Aceitar a vida, assim, é subtrair dela seu verdadeiro frescor e propósito, meu doce.
Procuro, procuro, e procuro. As respostas parecem, minha bela Yenoh, estar tão próximas, e tão longe ao mesmo tempo. Por vezes, na minha solidão, quase consegui capturar a essência da minha existência. Pensei que havia, finalmente, entrado no mundo desconhecido das revelações. Havia atingido um nível de concentração espantoso. A razão da minha existência estava na eminência de ser revelada. Estava a segundos da alegria plena.... Mas sem que eu tivesse controle, surgiu sua imagem inesperada, invadindo o meu silêncio, deflagrando, em mim, uma desconcentração suficientemente cruel, permitindo que tudo me escapasse a consciência, vagarosamente, antes que eu pudesse absorvê-las. Acordei em pânico. Reconheço que preciso me dedicar mais à busca. Preciso silenciar a mente mais vezes e por mais tempo e com menos interferências. Queria poder achar a felicidade nas coisas efêmeras, nas coisas simplórias. Evitaria, assim, o martírio que sofro diariamente. Ahhh, se meu pensamento não vagasse além do que posso ver. Mas é o escuro, por trás do visível, que me atrai. Busco o que todos evitam: o desconhecido.
Recuso-me a acreditar que vim para esse mundo para viver no raso, e ser uma marola que mal consegue balançar o barco (minha própria vida), ou ser o vento que deixa intacto, o tremular da vela. Se servir, a mim, é meu destino, então não farei falta ao mundo quando partir. E se falta não farei, por que vim? Será Deus tão desalmado, a ponto de dar espaço a quem irá apenas ocupá-lo para nada? Ou estou incumbido da minha própria descoberta? Essa é minha busca, Yenoh.
São inúmeras as perguntas. Poucas são as respostas. Os homens não ponderam sua própria existência. Concentram-se em conhecer o outro, enquanto desconhecem a si, e por isto são infelizes. Eu, Yenoh, vago no vale da escuridão, procurando o desconhecido, e com ele, as respostas para minha vida.
Escrevi por escrever, embora saiba que seus olhos jamais passarão por esta página. Nunca leu nada que escrevi, nem tampouco se preocupou com a minha busca. Agora que você se foi, atenta-me a todo instante onde menos tenho controle: o subconsciente. A busca é complexa, Yenoh, e é a mim que procuro, não a você.

*Carta encontrada no bolso do paletó do escritor, na exumação de seu cadáver.
Adeus,
Nalehp O. Selrahc

por Alma do Beco | 11:20 AM | | Ou aqui: 0




quinta-feira, novembro 24, 2005

PELEJA POPULAR

Marcus Ottoni





Seu Inácio tá nem aí!


“De acordo com Klinger, o dinheiro era para o PT e seria entregue ao PT. (...) Foi uma coisa imposta. Tínhamos que pagar. Ele ia para as reuniões armado, com revólver. E deixava claro que com poder não se brinca, se cumpre.”
Rosângela Gabrili, empresária do setor de transportes, em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos, denunciando que foi extorquida pela prefeitura de Santo André. O crime teria ocorrido durante a administração de Celso Daniel, assassinado em 2002.

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Grande Ponto Djalma Maranhão

Nenhuma homenagem às quais a cidade deve à memória de Djalma Maranhão (que deveria ser lembrado todos os dias pela mídia, como esportista, jornalista, protetor do folclore e idealizador dos grandes projetos da cidade), nenhuma fala mais ao meu coração que a que se presta no centro da cidade com o nome de Djalma Maranhão.
As cidades antigas tinham seu lugar sagrado, no centro, na Ágora em Esparta, na Acrópole em Atenas, no Capitólio em Roma. Ali, os cidadãos se reuniam e faziam discussões sobre os assuntos mais importantes, divertidos e esportivos da cidade. Na Acrópole ateniense, realizavam-se as grandes festas de Dionísio, Deus grego da alegria e do vinho.
No Grande Ponto de Djalma Maranhão realizavam-se as grandes comemorações como a vitória da seleção brasileira em 1958. Os grandes carnavais, com a orquestra do maestro Jônatas, o Bambelô de Guedes, o Araruna de mestre Cornélio, os índios de Bum-Bum, as Lapinhas, os Fandangos, a Nau-Catarineta de Caldas Moreira. A figura patriarcal, cheia de bonomia, amizade e prestatividade de Câmara Cascudo. A Confeitaria Cisne.
Neste Capitólio, onde pontificava Djalma Maranhão, acompanhado de manhã, de tarde e por algumas horas da noite, por mim, seu filho, Marcos Maranhão, víamos desfilar a alma da cidade. João Machado, Celso da Silveira, Deífilo, Augusto de Souza, Djalma Cavalcanti, Ticiano Duarte e seu pai Temístocles, Newton Navarro, Enélio Petrovich, Meira Pires, o velho brabo Jonas, Jayme Wanderley, Boanerges Soares, Berilo, Gumercindo Saraiva, Adalberto, Chagas, Expedido Silva, Paulinho Oliveira, os freqüentadores da Casa Vesúvio, de Maiorana, Bosco Lopes, Benivaldo Azevedo, Luizinho Doblechen, Paulo Maux, José Areia, Severino Galvão, Luís de Barros, Maria Mula Manca, Moraes Neto, Nilberto Cavalcanti e seu irmão Ney, Evaristo de Souza e seu violão. José Alexandre Garcia.
Finalmente, todo o espírito da cidade capitaneado por Djalma Maranhão. Tendo ao lado Oswaldo de Souza, Garibaldi Romano, Moacir, Ubirajara Macedo, Newton Navarro. Djalma Maranhão, esta figura múltipla, alegre, paradisíaca, merece ser o patrono do Grande Ponto, que agora leva seu nome justamente.
Não é apenas o Djalma Maranhão que iniciou o asfalto, a iluminação de mercúrio, calçou 70% da cidade. Mas o Djalma Maranhão folião, dos lança-perfumes, das serpentinas e confetes. O Grande Ponto era a sede do seu reino.
Djalma Maranhão, no seu posto de comando no Grande Ponto, como disse José Condé, transformou Natal numa grande Pasárgada cultural. Restaurou todos os autos populares na autêntica revalidação do folclore natalense. Lembro-me, com que saudade, dos desfiles chefiados por Djalma Maranhão no Grande Ponto, dos carnavais, dos autos folclóricos, das manifestações políticas.
Em Natal, Djalma Maranhão, como prefeito, realizou vários Congressos Brasileiros de Folclore, Praças de Cultura, Feiras de Livros. Edificou a Galeria de Arte, na praça André de Albuquerque, o Ginásio Municipal do Baldo, a Estação Rodoviária na Ribeira. Criou as Bibliotecas Volantes que disseminavam a cultura nos subúrbios. Construiu fontes luminosas e quadras esportivas nos bairros. Completou o calçamento do Tirol, Petrópolis, Rocas, Quintas e Alecrim, com paralelepípedos. Duplicou a avenida Mário Negócio, nas Quintas, possibilitando o acesso livre rodoviário em Natal. Calçou as Rocas, incluindo a grande ladeira da Igreja. Construiu o Palácio dos Esportes, edificou casas populares.
O Grande Ponto era seu posto de comando.
Para esta cidade do Natal muito querida e muito amada, nos grandes Congressos Brasileiros de Folclore, com apoio entusiasta de Cascudo, Djalma Maranhão foi o prefeito moderno que trouxe o asfalto e a iluminação de mercúrio, realizando os projetos da Via Costeira, Estádio Municipal e Anel Rodoviário.
Djalma Maranhão identificou-se com a cidade criando raízes emocionais com o seu povo e sua gente. Seus auxiliares eram amigos aos quais comandava, conduzia e convivia com afetividade. A todos levava para o Grande Ponto.
Em Natal, Djalma Maranhão foi atleta em todas as suas modalidades. Prefeito de Natal em duas administrações. Deputado Federal, Estadual, jornalista. Presidente do Conselho Estadual de Desportos. Presidente do Partido Trabalhista Nacional e Partido Social Progressista. Diretor do Jornal de Natal e Diário. Presidente da Empresa de Rádio Rio Grande. Escritor. Autor de importantes trabalhos sobre folclore, política e economia. Abordou seriamente a problemática da industrialização do tungstênio em bases estatais.
Cito Daudet: quem não conheceu Avignom na época dos papas, não conheceu Avignom. Aqui, dizem também que quem não conheceu Natal na época de Djalma Maranhão, não conheceu Natal. Tantas foram as realizações telúricas da Administração Djalma Maranhão em Natal, consubstanciadas com o povo, que a cidade se transformou em uma festa permanente, verdadeira, multicor e paradisíaca. A central era o Grande Ponto, liderado por Djalma Maranhão.
Foi ali que aconteceram as grandes manifestações políticas da cidade. Em cima da Casa Vesúvio funcionava o Fórum de Debates Djalma Maranhão, onde todos os meses deputados da Frente Parlamentar Nacionalista falavam para o povo de Natal, esclarecendo as grandes necessidades nacionais. Foi ali que o deputado Leonel Brizola denunciou o movimento de 1964 que se tramava contra o presidente João Goulart e do qual fazia parte o general Muricy.
Djalma Maranhão era plural e dionisíaco, sentimental e romântico, vivia permanentemente em contato com todas as classes sociais. Sua alegria de viver tinha o condão de aproximar as pessoas. A este traço era aliado uma grande noção do sentimento do dever. Era chamado carinhosamente de “Caudilho”.
Continuo a sentir em Natal, cada vez mais forte, à medida que os anos transcorrem numa evocação proustiana, todas as vezes que passo pelo Grande Ponto, a presença de meu pai emoldurada num perfil de ouro e fogo, traçador de sua figura legendária.
Politicamente o nacionalismo era seu ideal. Sonhou com um Brasil politicamente livre, economicamente forte e socialmente justo. Defendia as liberdades públicas, a economia forte, o pluralismo político, a soberania nacional. Morreu no exílio. Hoje, depois de tantos anos, sua imagem de estadista, homem público de escol, escritor, poeta, político e notável administrador, começa a ser resgatada.
Como administrador, construiu uma usina de asfalto e oficinas de construção, para não precisar fazer empréstimos, terceirizar, nem contratar empresários. “Honestidade acima de tudo” era seu lema.
Hoje, o Grande Ponto Djalma Maranhão faz o grande resgate. Agradeço a todos e que esta homenagem passe a ser feita diariamente.

Marcos Maranhão


Fragmento do Auto JESUS DE NATAL

Os presentes oferecidos pelos Reis, diante da jangada-presépio:

Sou o Rei Antônio Proxóde, homem do litoral, pescador de auroras chamejantes e esperanças embriagadoras. Venho de Ceará-Mirim carregado de cajus, mas se os cajus são para os pais, para o Menino um presente mais alto e maravilhoso necessário se faz. Sendo eu um pescador de auroras e esperanças, Meste Cascudo, sentado em sua poltrona bordada com os saberes do povo, me aconselhou: por que não uma coleção de crepúsculos de Oropa, França e Bahia, e mais do Potengi amado? Assim o fiz, assim o faço: eis, meu iluminado Menino, esta coleção de crepúsculos. Com ela, saiba enfrentar os futuros dissabores da Vida.

Sou o Rei Geraldo Filó, homem do interior, pescador de delírios alucinantes e lembranças do futuro. Venho do sertão carregado de alfenins, mas se os alfenins são para os pais, para o Menino um presente mais alto e grandioso necessário se faz. Sendo eu um pescador de delírios e lembranças, o Poeta Jorge Fernandes, deitado em sua rede da mais pura seda de neblinas adormecidas, me aconselhou: por que não uma coleção de sonhos e arco-íris de Caicó, São Rafael e Mossoró, e mais da Areia Preta amada? Assim o fiz, assim o faço: eis, meu deslumbrante Menino, esta coleção de sonhos e arco-íris. Com ela, saiba resistir às artimanhas das tentações

Sou o Rei Chico Antônio, homem das estrelas, pescador de sons arrepiantes e sombras milenares. Venho de Canguaretama carregado de cordas de caranguejos, mas se os caranguejos são para os pais, para o Menino um presente mais alto e sonoroso necessário se faz. Sendo eu um pescador de sons e sombras, o pesquisador Oswaldo, caminhante de muitos e muitos caminhares, me aconselhou: por que não uma sinfonia dançante que seja a expressão musical de sua gente? E assim o fiz, assim o faço, e assim o farei: eis este coco, meu doce Menino, para vos embalar aqui e agora, e para todo o sempre.

posted by MOACY CIRNE no blog Balaio Vermelho
http://www.balaiovermelho.blogger.com.br/


Sem os cânones

Pueril e primário. Sem o "espanto", a "surpresa", a "concisão" — cânones tão reclamados e ao gosto do signatário ora escriba funcarteano.

Antoniel Campos


Mais polêmica

LIVROS E MAIS LIVROS

Sertão de espinho e de flor, de Otoniel Menezes. Natal: Departamento de Imprensa, 1952, 270p. Seus versos nem sempre são razoáveis, e, em alguns momentos, deixam-se dominar por um certo passadismo literário; mesmo assim trata-se de um livro importante. Pode parecer paradoxal, claro. Mas o que o torna um livro de inegável interesse é o conjunto de notas & comentários após cada capítulo. São notas que procuram fixar um "panorama físico e social dos sertões norte-rio-grandenses". E o que seria mais um livro de poesia, de inspiração limitada, transforma-se num rico manancial sociológico sobre os costumes da gente potiguar, inclusive com sua fala & alguns de seus provérbios mais criativos. Ou seja, estamos diante de uma obra indispensável no panorama da literatura do Rio Grande do Norte.

Moacy Cirne


Gente do Beco
Sarava!


O gênio Moacy Cirne, a mais nova e mimada – certamente muito bem remunerada - estrela fulgurante do “Auto” da Capitania das Artes de Dácio Galvão, deixando de lado os seus gibis, o poema-processo, a entrevista na “Brouhahá” (epa!) e a péssima invenção de Chico Doido de Caicó, investe, agora, valente e airoso, contra as sextilhas de Otoniel - “nem sempre razoáveis”, diz ele, a sumidade das barcas da Cantareira.
É phoda – com “ph” de “pharmacia”, de “Philomena” e de “ráido “Philipe” - arre égua !
Quer aparecer, o menino, nas costas do Poeta? Fazer pose?
Fazer o que? E agora, bardos de Beco? Dizer o que? Responder é preciso?

Laélio Ferreira


Caro Laélio e demais amigos do Beco:

Ligue não, Laélio; é assim mermo! Alguns dos que fazem poesia (?) concreta, moderna, versos livres, sem rima; deveriam ler o poema UM COLEGA DOTÔ, de Clarindo Batista de Araujo, seridoense de quatro costados e de altíssimo quilate, diga-se de passagem. Nele, Clarindo diz p'ro dotô:

A poesia do sertão,
tem chêro de muçambê.
Pru gôsto se pode lê,
um verso metrificado.
O poeta sertanejo,
compara verso sem rima,
cum viola sem a prima,
só dá tom desafinado.

Nos seus cultos versos brancos,
o sinhô fala in rinite,
cita diverticulite;
êsses nome assim bizarro.
Aqui a agente cunhece,
sete côro, nó na tripa,
ô intonce, quando gripa,
se diz qui tá cum catarro.

Tombém fala de metrô,
satélite artificiá,
de carro qui anda no má,
qui nem pru riba do chão.
Eu digo no meu poema,
qui a vantage num é tanta,
qui aqui tem carro qui canta,
pelas bôca do cocão.

E falando de animá,
vem logo rinoceronte,
mamute, saiga, bisonte,
alce, iaque, pangolim.
Nuis meus poema se vê,
rapôsa, peba, timbú,
preá, mocó e tatú,
jumento, boi e guaxiníin...

Não tenho absolutamente nada contra quem faz o verso livre; tenho sim; contra quem não respeita o estilo dos outros. Tem que respeitar, mesmo que esse estilo seja carregado de "passadismo literário"...
Agora eu pergunto, caro Laélio; a quem de direito; isso é "passadismo literário" ou preservação das nossas raízes culturais ?
Na minha terra, às margens do Rio Potengi, que banha minha cidade, isso que foi dito contra a poesia de Otoniel, tem outro nome, que é dado à atitude de quem agride à memória de quem já não está aqui para se defender...
Perdoe-me a indignação, mas não posso ficar calado...
Inspiração limitada, como diz meu compadre Norbal, cortador de carne na feira do Conjunto Santa Catarina; " é meu treistíco isquerdo"!...
Inté!

Bob Motta


Mais cacete

OS LOBOS

Mestre lobo vai indo, para a luta...
Armado de ambição e de fereza,
Só receia encontrar na redondeza,
Lobo maior, de compleição mais bruta.

A lã, de que se veste, lhe transmuta,
aos olhos do rebanho, a natureza.
- Pulsa-lhe o instinto, na pupila acesa !
Aspira os ventos, a narina astuta...

Não janta bem, aliás, se não devora
dois cordeiros, na furna, convencido
de ser o rei-dos-lobos, dentro e fora.

Todavia, não cuida de uma cousa:
- que, entre os irmãos, acabará comido,
se não aprender as artes da raposa...

Othoniel Menezes
(in “Desenho Animado”-1995)


NOTA: O Sr. Laélio Ferreira, filho do poeta Otoniel Menezes, que sempre mereceu o meu respeito, é mais um que acredita que a obra de um parente é intocável. Otoniel Menezes foi poeta importante nos anos 20 e 30. Nos anos 50 já tinha perdido o seu fôlego criativo, como, aliás, acontece com muita gente boa. Mesmo assim destaquei a importância de 'Sertão de espinho e de flor', por seus aspectos sociológicos.
Moacy Cirne




A INVENÇÃO DE CHICO DOIDO – I

Chico Doido é um vilanaço
e o pai dele é um jumento
- diz o Velho Testamento !
Se você quiser eu faço
a história desse palhaço:
nasceu sem mãe, o goteira,
na barca da Cantareira,
teso, tísico, sambudo
- logo mais eu digo tudo,
igualzinho a Zé Limeira !


Moacy Cirne, Doutor em gibi lá pelas quebradas de Niterói – querendo dar uma de Doutor Silvana, arremedando Orlando Tejo, este um indivíduo competente, autor do “Zé Limeira, o Poeta do Absurdo” e pedindo a Nei Leandro para confirmar a traquinagem -, pariu, fabricou, um tal de Chico Doido de Caicó. Nasceu um monstrengo, um “poeta” que não chegava sequer à poeira das apragatas do putanheiro bardo, paraibano do Teixeira.
O desgovernado rebento foi um desastre: chulo, sem graça, nada tinha de fescenino, de surrealista. Metido a iconoclasta, não rimava bulhufas, metrificava pouco e mal, não acrescentava nada – um absurdo de ruindade ! Brincadeira gaiata, infeliz arremedo, uma bufa, por fim.
Esse inventado Chico era uma mistura dos seiscentos diabos : sertanejo analfabeto, discutia Fernando Pessoa. No início dos anos 50, conheceu Zé Limeira (trinta anos antes do livro de Tejo) - e com o negão não aprendeu nada. Vigia de rua em Natal, dava-se a intimidades com as caras meninas de Maria Boa, vez por outra, impávido,discutindo, parelho, história pátria com Cascudinho, dirigindo, também, lérias, prosando com Otoniel, o homem da “Praieira”. Sem carta de ABC na cachola - é dose! - dava pitaco sobre Átila, Bocage, Casanova, Raimundo Correia, Gregório de Matos e outras feras...!
Tem mais: segundo o dramaturgo de plantão na Capitania das Artes, Chico Doido foi prá Marinha Mercante e conheceu mundos e fundos. Em terras de Espanha perdeu rumo e navio (o apelido era "Paco"!). Morreu, - graças a Deus! - no Rio de Janeiro – onde, perto da Lapa, antes da passagem desta para a outra, bebia cachaça com Nei. Igualzinho ao Zé Limeira, usava óculos escuros - Ray-Ban, calculo .
Ainda bem que Mãe Albina, Kalu de Angicos e Chico Xavier se foram sossegados, partindo para o Azul, livrando-se, todos, da rebordosa de incorporarem o encosto, exu brabo, desse seridoense araqueado. Dessa “alma sebosa”, como diria Walter Leitão, ex-prefeito do Assu – que também desta já se foi, muito a contragosto.
Segundo o professor de gibi, não é que,no Rio, Chico Doido, psicografado, deu uma baita entrevista ?
Do além, receitou à pamparra. Conhecia quase todo mundo aqui em Natal, cupincha de muita gente importante, luzidia – íntimo, declarou no terreiro, peremptório, compenetrado - até de Diógenes da Cunha Lima, François, Enélio, Dunga do Beco, Dácio Galvão – o escambau.
Perguntado, disse ao pai-de-santo que lá, por onde lépido flutuava, ouviu Luis Carlos Guimarães, o poetinha-juiz, se queixar ("ficou puto!") da sacanagem que, na Academia de Letras, fizeram ao amigo comum Nei Leandro – que perdeu uma vaga de imortal para um empistolado cidadão do País de Mossoró, gente dos Rosado. Pedindo marafo ao cambono de plantão, foi em frente, na embalagem, a desastrada alma do outro mundo, em dia com tudo - diga-se muito bem informado sobre as nossas picuinhas provincianas. Deitou e rolou. Vaticinou, solene e emocionado, que, um dia, “papai” Moacy seria dramaturgo em Jardim do Seridó. Errou por pouco, tirando um fino...

Laélio Ferreira



Nota do editor do Alma
O espaço está aberto para a devida resposta de Moacy ou de quem bem quiser.
O blog não toma partido, apenas diverte-se diante da contenda, esperando que tudo não passe de literatura, boa literatura, até porque isso os contendores sabem fazer.
Evitamos publicação de ataques pessoais.
Dunga




A PELEJA DA CULTURA POPULAR CONTRA O TAL DE “RALOUIN”

Essa história já aconteceu
Mas, acontece todo dia
Estou falando amigo meu
Da nossa cultura brasileira
Cheia de cor e magia
E de emoção verdadeira

Um folclore tão imenso
Que mal cabe no papel
Por isso, às vezes penso
Em Natal, Assu, Caicó
Pau dos Ferros, Mossoró
Em botar tudo em cordel

Tem Saci pererê, Boitatá
Matita Perê, a Iara
Tanta história pra contar
Do pastoreio, tem o Negrinho
Tem o Curupira que não pára
De cruzar nosso caminho

Dos índios tantas histórias
Do passado, sempre atuais
Tupã, Jaci, tantas glórias
Cobra Norato, Mani, Potira
Tanta beleza que parece mentira
Que delas não lembremos mais

É o folclore de Cascudo
Que a escola às vezes esquece
Esquece Celso, Tarcisio, Raibrito
E isso ninguém merece
Eles sabem que isso tudo
Pelos jovens deveria ser lido

Temos Boi de Reis, Dona Militana
Embolada, Mestre Marinheiro
Tanta coisa bela e bacana
Tem embola coco, Chico do Boi
Tanto folclore brasileiro
E tanta gente que se foi

Mas, a juventude de hoje em dia
Não quer saber dessa cultura
Gosta apenas de folia
E de um tal de “Ralouin”
Festa esquisita, coisa ruim
Que chega a me dar gastura

É o Dia das Bruxas, bem eu sei
Tem abóbora e coisa e tal
Máscara, monstro, fantasia
Parece até carnaval
Mas é triste, sem alegria
Do jeito que eu relatei

Festa lá da Inglaterra
Lá dos Estados Unidos
Não nasceu na nossa terra
Festa importada dos “Isteites”
Para jovens pouco vividos
É sem conteúdo, só enfeite

É festa de George Bush
Folia de Tony Blair
Pela memória, amigo, puxe
Não somos americanos
Temos samba no nosso pé
E forró no coração

Na festa do “Ralouin”
Chamam abóbora o jerimum
Tem travessuras e gostosuras
Ou pelo menos, algo assim
São essas e outras frescuras
Que não têm sentido algum

Bruxa o Nordeste não tem
Lobisomem dizem que existe
Mas o que me deixa triste
É ver criança fantasiada
De Vampiro, dessa palhaçada
Que à gente não faz nenhum bem=

“Ralouin” não tem violeiro
Não tem xote, não tem forró
“Ralouin” é uma coisa só
Não tem graça nem variedade
Não deixa marca nem saudade
Não tem viola e nem pandeiro

Mas em Natal o que mais tem
É dia das Bruxas em colégio
Isso até é sacrilégio
Digo até que tem também
“Ralouin” de universidade
Para gente de toda idade

Até em boate tem “Ralouin”
Tudo de preto e vermelhão
Gótico ou coisa assim
A música é eletrônica
Nada de orquestra sanfônica
Nem zabumba nem violão

Do meu pai lembrei então
O saudoso Zé Luiz
Padre em Touros e Pendências
Que com muita paciência
Em toda essa região
Fez muita gente feliz

Pelo folclore e com emoção
Zé Luiz lutou pra danar
Viajou por esse mundão
Sem nunca esquecer sua terra
É o afeto que nunca se encerra
Pela nossa cultura popular

Lembrei dos amigos poetas
Tantos que até me esqueço
Citarei alguns, de começo
Todos bons cordelistas
Da nossa cultura, especialistas
Em linhas tortas e retas

De Mossoró tem Cid Augusto
Poeta e jornalista dos bons
Amigo fiel e justo
De Parnamirim tem Acaci
Que vai mostrando seus dons
Com muito suor por aqui

Tem também Manoel, o Mané
Poeta cá de Natal
Bom sujeito que é
Fez até cordel da cachaça
Eita bebida da desgraça
Que faz bem e também faz mal

Tem Zé Saldanha, Crispiniano Neto
Chico Traíra, Elizeu Ventania
Zoroastro, Kydelmir, ave Maria!
Luiz Campos e outros milhares
Todos cantadores de nossos lugares
Tratando a poesia com todo afeto

Para eta estrofe finalizar
Gutenberg juntou esse pessoal
Em um livro que não tem igual
Dicionário de Poetas Cordelistas
Que reúne tantos artistas
Em uma obra tão salutar

Mas, tem jornalistas, advogados
Engenheiros, cabras danados
Valorizando a cultura potiguar
Desprezando a cultura importada
E dando a essa besteirada
O desprezo que devem dar

Em Parnamirim há quem defenda
A cultura, como Ismael
Com seu violão, faz seu papel
E tem Pinto Junior com seu jornal
Sempre alerta da defesa afinal
Da cultura e nossas lendas

E tem a galera do Beco da Lama
Que defende a Cidade Alta
Dunga, Alex, Léo Sodré
Disposição ali nunca falta
Para lutar no que der e vier
Em defesa do que se ama

Lembrei também que Natal
Tem uma lei já aprovada
Que faz o Dia do Saci
Dia trinta de novembro, nada mal
Diacho de lei arretada
Contra o “Ralouin”, já percebi

É de Jorge Araújo esse projeto
Foi sancionada pelo prefeito
Mas para ter melhor efeito
Tem que ser é aplicada
Senão nossos filhos e netos
Terão só a cultura importada

“Ralouin” que nada, eu digo
Deixe disso, meu amigo
Abandone este festa “de fora”
Prestigie a cultura regional
Invista no nosso, sem demora
No Rio Grande e em Natal

E que meus filhos nunca esqueçam
A cultura do nosso país
Para me deixar sempre feliz
Pedro e Ananda, mereçam
Uma cultura tão amada
Pela juventude abandonada

E que minha Geane querida
No caso da minha partida
Guarde meus livros e cordéis
Da vida, nada se leva
Mas o que nos salva da treva
É a cantoria dos menestréis

Fica aqui meu apelo
Para que as autoridades
Tratem com maior zelo
A cultura da nossa terra
Pois trata-la com prioridade
É coisa de quem não erra

Para terminar estes sextilhos
Peço a todos atenção
Para a cultura dos nossos filhos
Esta é a nossa intenção
Na peleja do folclore
Contra tanta enganação.

Cefas Carvalho

por Alma do Beco | 8:37 AM | | Ou aqui: 0




terça-feira, novembro 22, 2005

A DJALMA MARANHÃO

Marcus Ottoni


Léo Sodré

Seu Inácio falou:

"Nesse governo não tem política econômica do ministro Palocci. Nesse governo tem política econômica do governo.”
Luiz Inácio Lula da Silva


1915 /2005: 90 anos

A Djalma Maranhão

Djalma, eu que sou a poetisa
da cidade do Natal,
que ensinei a juventude
lhe querer muito bem
e mostrei a todo mundo
as belezas que ela tem
venho render a homenagem
a seu Prefeito também.
pela Coroa dos Reis Magos, de tantos globos de luz,
pela árvore da alegria, que dá sombra prá Jesus,
pelo encanto diferente que a cidade soube dar,
pela alegria do povo
pela crença popular
pelas festas de Natal, que nasce no mesmo dia
que o Deus Menino nasceu.
Louvado seja o Prefeito que o destino da cidade
tão cristãmente entendeu
Pelos cantos. Pelas Danças. Pelos fandangos nas praças.
Pelas lapinhas de outrora. Revivendo a tradição
Aceite meus parabéns!
(Natal, 27-11-1963)

Palmyra Wanderley


O Jogo Claro de Djalma Maranhão


História do Rio Grande do Norte
Fascículo 13 – Crise de 64 e Posterior Paz
Tribuna do Norte


Djalma Maranhão nasceu em Natal, no dia 27 de novembro de 1915. Filho de Luís Inácio de Albuquerque Maranhão e de dona Salomé de Carvalho Maranhão, teve os seguintes filhos: Lamarck (falecido), Marcos e Ana Maria.
Djalma Maranhão foi um homem simples, inteligente e que sabia exatamente o que queria da vida. Não transigia nas suas idéias. Amava os mais humildes e lutava para atender às reivindicações das classes menos favorecidas. Nacionalista, denunciava, gritava, protestava. Expressava sua ideologia de maneira clara e inequívoca, acreditando na vitória do socialismo, convicto de que "somente a dialética marxista-leninista libertará as massas da opressão e da fome através da socialização dos meios de produção e da entrega da terra aos camponeses".
Como não se acomodava às intrigas políticas, nem concordava ou se adaptava a qualquer tipo de corrupção, foi expulso de alguns partidos.
Militante comunista, quando era cabo do exército participou da Intentona Comunista de 35, sendo preso. É o próprio Djalma Maranhão que diz: "Andei pelos presídios políticos e pelos campos de concentração, martirizado pelos esbirros de Felinto Müller e de Getúlio Vargas".
Em 1946, foi expulso do partido comunista, porque denunciou os diretores do partido como desonestos. Foi eliminado, quando se encontrava ausente de plenário, sem que pudesse se defender. A acusação feita por Djalma Maranhão foi escrita.
Era de fato um homem temperamental. Às vezes, contudo, sabia se conter. Exemplo: durante a campanha de 1960 para prefeito de Natal, Djalma Maranhão entrou irado na sala de redação da "Folha da Tarde" com um exemplar na mão. Perguntou, então, quem tinha escrito a manchete de seu jornal, que dizia o seguinte: "Lott - Jango - Walfredo - Maranhão - Gonzaga. Vote do primeiro do sexto". Ao saber que o autor da manchete foi Moacyr de Góes, de conteve e disse: "A manchete está certa. É assim mesmo. Não vamos ficar em cima do muro. Jogo claro. Honrar as alianças".
Mantinha cordiais relações com a Igreja. Certo dia, uma funcionária criticou as pessoas que trabalhavam para a Arquidiocese. Djalma Maranhão sorriu e disse: "Deixe o padre fazer o trabalho dele. E nós faremos o nosso".
Na campanha "De Pé no Chão Também se Aprende a Ler" trabalhavam cristãos (católicos e protestantes), espíritas e marxistas. Por essa razão, o professor Moacyr de Góes chamou o movimento de uma "frente".
Profundamente humano. Intransigente contra a falsidade e a desonestidade, admitia o erro, desde que fosse cometido por alguém que desejasse acertar.
Para ele, governar era realizar. Nas suas administrações como prefeito de Natal, procurou deixar uma marca de dinamismo.
Nas eleições de 31/10/1954, foi eleito deputado estadual pelo Partido Social Progressista, obtendo ótima votação em Natal. Como legislador, teve um grande desempenho, sendo inclusive autor do projeto que deu autonomia ao município de Natal.
Em 1955, Djalma Maranhão apoiou Dinarte Mariz para governador, na coligação PSP-UND. Mariz derrotou Jocelyn Vilar, do PSD. Como conseqüência do acordo dessas eleições, Djalma Maranhão foi designado prefeito da Cidade do Natal, cuja posse ocorreu no dia 1/2/1956.
De acordo com Moacyr de Góes, "nessa primeira administração de Djalma Maranhão, a Prefeitura vai implantar o programa municipal de ensino, através das escolinhas de alfabetização e do Ginásio Municipal de Natal".
No ano de 1959, Djalma Maranhão rompeu com Dinarte Mariz. Suplente, assumiu o cargo de deputado federal, onde se destacou como membro atuante da Frente Parlamentar Nacionalista.
Em 1960, se candidatou a prefeito, participando da coligação "Cruzada da Esperança", juntamente com Aluízio Alves, candidato ao governo do Estado.
Vitorioso, no dia 5/11/60 Djalma Maranhão assumiu novamente a Prefeitura de Natal, sendo dessa vez através do voto. Foi, portanto, o primeiro prefeito natalense eleito diretamente pelo povo, obtendo 66% dos votos.
Em sua segunda administração, Djalma Maranhão demonstrou toda a sua capacidade de trabalho e de liderança política. Aos poucos conquistou a confiança e o respeito da classe média, aumentando seu prestígio junto das classes populares.
Djalma Maranhão não foi apenas um político. Atuou, igualmente, como jornalista. Segundo Leonardo Arruda Câmara, "a imprensa foi a grande vocação. Revisor, repórter esportivo, repórter político, redator, secretário de redação, editorialista, diretor e proprietário de jornais, percorreu na carreira de jornalista todos os postos e funções. Fundou o "Monitor Comercial", o "Diário de Natal" e a "Folha da Tarde".
"Foi diretor e proprietário do "Jornal de Natal".
Como escritor, publicou "O Brasil e a Luta Anti-Imperialista", pelo Departamento de Imprensa Nacional, edição da Frente Parlamentar Nacionalista, no Rio de Janeiro, em 1960, e "Cascudo", Mestre do Folclore Brasileiro", lançado em 1963. Tem também uma obra póstuma: "Carta de um Exilado".
Com o golpe militar de 1964, Djalma Maranhão foi preso. Libertado, posteriormente, através de um "habeas corpus", concedido pelo Supremo Tribunal Federal, conseguiu se asilar na Embaixada do Uruguai, indo morar naquele país, onde veio a faleceu, no dia 30 de julho de 1971.
No último livro produzido pelo antropólogo Darcy Ribeiro, "O povo Brasileiro - A formação e o sentido do Brasil", publicado em 1997, o escrito refere-se à morte e ao apego de Djalma Maranhão ao Brasil, sem contudo citar seu nome. "Pude sentir, no exílio, como é difícil para um brasileiro viver fora do Brasil. Nosso país tem tanta seiva de singularidade que torna extremamente difícil aceitar e desfrutar do convívio com outros povos. O prefeito de Natal morreu em Montevidéu de pura tristeza. Nunca quis aprender espanhol, nem o suficiente para comprar uma caixa de fósforo", relata Darcy Ribeiro.
Segundo Leonardo Arruda Câmara, Djalma Maranhão "foi sepultado em Natal no Cemitério do Alecrim, graças à interferência do senador Dinarte Mariz, acompanhado de grande multidão no maior enterro já realizado em nossa capital que atestou o quanto ele era amado e querido por sua gente".



Djalma Maranhão, o líder que o povo não esqueceu


“Não sei se amanhã amanheço preso ou prendendo alguém”. A frase foi dita pelo ex-prefeito Djalma Maranhão, no “Grande Ponto”, quase meia-noite do dia 31 de março de 1964. O ex-prefeito chegava ao Centro da cidade dirigindo uma caminhonete Ford Roquete, sem motorista e sem segurança. Sozinho, sem parar o motor do veículo, cercado por admiradores e amigos, Djalma disse a frase, provocado pelo ex-líder dos sindicatos rurais do Rio Grande do Norte, José Rodrigues, que perguntou a Maranhão como estava a situação e se o presidente João Goulart tinha condições de debelar o golpe que começara, por ironia do destino, nas terras lendárias das Minas Gerais.
Foi a última vez que vi e ouvi Djalma Maranhão. Depois, a prisão, o exílio, e a morte no desterro com a saudade de Natal doendo todas as noites no seu peito saudoso dos bambelôs, dos cocos de roda, das lapinhas e da tapioca com peixe frito no bar de Dalila, na Redinha. O coração de Djalma, forte e vigoroso, não resistiu à distância do seu povo e da sua terra. Morreu de saudade.
Djalma Maranhão era um político que tinha cara e alma do povo. Nasceu do ventre da vontade popular. Era autêntico. Conhecia seus hábitos, costumes, cultura, folclore, tudo, enfim, sem demagogia, porque tudo nele era natural. Ninguém mais valorizou os festejos populares do que Maranhão. Valorizava e participava. Djalma se confundia com as aspirações populares. Se podia dizer dele referindo-se ao povo: “este, sim, é um deles”.
Prefeito nomeado de Natal e eleito da vontade livre do povo, marcou a cidade com obras que ainda hoje lembram sua passagem pela Prefeitura: Palácio dos Esportes, que hoje tem o seu nome, retirado na época, e reposto no seu lugar pelo então prefeito José Agripino, num ato de reconhecimento e valorização do líder deposto; escolas ”De Pé no Cão Também se Aprende a Ler”; Estação Rodoviária; Galeria de Arte; início da Av. do Contorno e; tantas outras.
Quando o então jovem prefeito José Agripino começou a sua vida pública visitando e conhecendo os bairros de Natal, fazia questão de perguntar, aonde chegava, quem tinha sido o último prefeito a visitar aquela comunidade. A resposta, uma só: Djalma Maranhão. Em um dos bairros pobres da cidade, Agripino construiu uma escola e deu o nome do ex-prefeito.
No exílio, em cartas aos amigos, Djalma falava com saudade de Natal e, principalmente, do peixe frito com tapioca, no bar de Geraldo e Dalila, na Redinha. As cartas mostravam um homem amargurado com o exílio e com um desejo incontido de voltar à sua terra. Desejo que veio se concretizar com sua morte. Ele queria ser enterrado em Natal. E, somente um homem poderia ter atendido a vontade do amigo morto: o senador Dinarte Mariz.
Vendo-se doente e sentindo a presença da morte rondando seus passos, Djalma pede ao dono da pensão em que morava em Montevidéu, que se acontecesse algo com ele, ligasse para o Rio de Janeiro ou Brasília, procurando o senador Dinarte Mariz e dissesse a ele que seu último desejo era ser enterrado em Natal. O velho Dinarte recebe o telefonema, pela madrugada. No dia seguinte, estava no Ministério do Exército, solicitando ao ministro Orlando Geisel um avião da FAB para transportar o corpo de Djalma, de Montevidéu a Natal.
- Ministro, vim lhe pedir autorização e um avião para fazer esta viagem. Djalma quer ser enterrado na sua terra e vou cumprir o seu desejo. Se o senhor não me conseguir o avião, vou alugar um jatinho da Líder e desço com o corpo em Natal, nem que seja aos pedaços.
- Não precisa disso, Dinarte, você vai buscar o seu amigo para sepultar na sua terra, disse-lhe o ministro Orlando Geisel. O velho Dinarte me contou esta história com os olhos marejados de lágrimas, e com a voz embargada pela emoção. Era mais um gesto do homem que era amigo dos seus amigos.
Djalma marcou Natal com a construção de obras de cimento e pedras, valorizou a cultura popular do seu povo, deu escolas aos que queriam aprender sem farda e sem sapatos, governou ouvindo nos bairros os reclamos populares, morreu no exílio com saudade de Natal, mas ainda não recebeu da cidade a homenagem marcante. Natal deve a Djalma este tributo. Uma homenagem com o cheiro do povo que ele tanto amava. Ou, como diria Drummond, com o sentimento do mundo.

João Batista Machado
O Poti, 17/05/92
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Natalenses, de Antoniel Campos
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Um mural de tudo
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Um tudo feito de todas as coisas sagradas e profanas. Dos épicos e dos líricos. Dos santos e dos loucos. Dos heróis e dos vilões. Mas todos encantados por uma aura poética que salva e condena, perdoa e fere, morde e sopra. O lirismo que foge dos antigos nomes dos velhos lugares da cidade: "A Rua Grande e o antigo casario" ..."Caminho de beber, Rua do Meio, o Porto da Redinha,/ o Outeiro...", as "águas potengis".
Humilde, e por isso mesmo poeta, Antoniel , como se estivesse à sombra das velhas árvores da praça André de Albuquerque, procurando a cidade antiga, confessa:
"Tomai da minha mão que, humildemente,
Talento sei faltar nesta empreitada,
o verso que me acorre é indigente,
à Frente da tua página afamada.".
E pede:
"Dizei do que passou que, prontamente,
Na lira cantarei tua jornada,
Senhores Arquitetos deste solo,
Tal dádiva, no verso, vos imploro..."
E como se fossem indispensáveis para cumprir-se uma jornada marinheira, pouco antes da partida para sua circunavegação poética, chama os poetas da cidade, pois é com eles que espera voltar às margens do rio:
Mas venham sobretudo os poetas!
Antídio, Açucena e Edinor,
Ferreira Itajubá – musas secretas!
Gothardo e Auta de Souza – a mesma dor...
Henrique e Walflan – versos de ascetas!
João Lins Caldas – delírio e andor...
"Fernandes, balançai REDE nos ares!
Mamede, enxuga o pranto desses mares..."
E depois de tudo, ao descansar os olhos sobre suas águas potengis, todos vão chegando para a celebração final na praça onde a cidade foi fundada, numa mistura mágica das eras e dos anos, dos dias e dos séculos, numa narrativa-convocação em 44 versos.
Ali estão, diante da Matriz tocando as Trindades do anoitecer todas as figuras de nossa História. De Jerônimo a André, de Colaço a Manuel, de Cascudo a Gothardo Neto. Jorge Fernandes vem descendo a Rua da Palha, lá vão chegando as mocinhas do Tirol e de Petrópolis. Rifault, Padre Miguelinho, Del Prete, Exupèry e Jean Mermoz. O Graff Zeppelin chega boiando no mar azul do céu saudando Severo e Sachet e tudo é festa com Boi Calemba, Fandango, Lapinha e Bambelô.
De longe, com seus olhos calmos, os padres Soveral e João Maria. Os Reis Magos, índios, negros, feiticeiros. Num canto, com sua cabeleira leonina tocada pelos ventos, na elegância das brancas polainas e dos alvos colarinhos engomados, Cascudo deixa o bronze e desce do pedestal olhando as horas no velho relógio da torre da Mariz.
Natalenses, o longo poema de Antoniel Campos, é a opereta de toda essa gente nascida de índios, brancos e negros, entre o mar e o sertão, feita do sangue e do amor de pescadores e de vaqueiros.

Vicente Serejo

por Alma do Beco | 2:47 AM | | Ou aqui: 0




domingo, novembro 20, 2005

SEM PARALELO

Marcus Ottoni


“Eu posso te garantir que 90% do partido ou mais estão coesos em torno da candidatura do presidente Lula.”
Tarso Genro



Me perdoe a pressa

Pode ser que ela seja a “alma dos nossos negócios” como diz o melodioso Luiz. Mas, apenas e tão somente para alguns negócios ela serve. Que é a inimiga nº 1 da perfeição, é uma certeza indubitável, apesar dos modernos preceitos da administração quererem provar o contrário sempre vinculando agilidade às padronizações pra garantir a maior eficácia das rotinas. Aí é onde está a alma do negócio, pois tempo é dinheiro. Contudo, não é necessário aplicar tal assertiva a todos os segmentos da vida.
Alguns dias longe da cidade, das rotinas e responsabilidades, tivemos oportunidade para parar e perceber as riquezas que o ócio permitido pode trazer. E é no momento exato, quando pensamos não haver mais barulho algum, que paramos para ouvir os sons do silêncio e recebemos surpresas inestimáveis: é o murmurar das ondas trazendo segredos das terras de além-mar; o farfalhar das palhas dos coqueiros compondo cantigas de acalanto; o vento tocando gaita nas frestas das telhas ou uivando a solidão das almas penadas..
Há tanta coisa boa no dolce far niente dos dias ditos inúteis!
Nestes dias, ficamos a divagar sobre o rumo que nossas vidas estão tomando, sempre empurrado pelos hábitos e obrigações muitas vezes tão distantes do que realmente desejamos para nós.
Ainda estamos (enquanto escrevo) na primeira quinzena de novembro e já é Natal. Ruas, lojas, casas e eventos já estão organizados para a grande festa. Todos se apressam nos preparativos: presentes, roupas, confraternizações. Mais uma alegria com data marcada. Muitos correm mais cedo ao trabalho, tentam concluir as tarefas com antecedência para sobrar um tempinho para as compras, para o lazer ou para o esporte. E nesse corre-corre desenfreado, querendo sempre economizar algum tempo para usufruir depois, nem percebemos que o planeta parece estar contaminado com nossa pressa.
O dia amanhece e anoitece mais cedo. Não há tempo para ver um pôr-do-sol, uma chanana desabrochar ou o mutante rendilhado das sombras das folhas de uma árvore na grama. Sequer lembramos desses detalhes, pois nossa preocupação está em sincronizar a última mastigada com a última pastada e esta terminar exatamente em frente à escova de dentes.
Pensamos, nesses tempos de minutos que parecem ter menos que sessenta segundos, em começar a testar a ambidestreza: escovar os dentes com a mão direita e pentear os cabelos com a esquerda. Ou vice-versa, de acordo com a comodidade, já que a ordem dos fatores não irá interferir no resultado final. E testamos, já lembrando do trânsito que vamos enfrentar, sem prestar atenção se os dentes ficaram bem escovados ou não. Vivemos sempre o próximo capítulo sem usufruir integralmente o atual, num eterno planejamento que antecipa o amanhã e torna o hoje já passado.


E passamos. Passamos pela vida sem viver intensamente. Pelas refeições, sem observar o colorido dos alimentos, sem sequer raciocinar sobre as combinações energéticas e seus benefícios. Passamos pelos relacionamentos sem mergulhar de cabeça para vivermos as dores e as delícias do estar juntos; sem ter tempo para descobrir o brilho interior de cada um, refletir sobre seus deslizes e respectivos perdões; sem ter tempo para reescrever história. É tudo tão rápido, direto, pragmático... E sem poesia!
Para que tanta pressa? Onde queremos chegar? Haverá tempo suficiente? Não será melhor dar tempo ao tempo e viver o agora, o presente posto, que ele é a única certeza – afora a morte -, com a qual podemos contar no momento?
Que fiquem estas reflexões para os momentos de ócio deste final de ano. Trago-as comigo há tanto tempo, sem ter tempo para buscar suas respostas. Que cada um, a seu turno, chegue às próprias conclusões. Do meu lado, só posso torcer para que sejam as mais acertadas e proveitosas. Boa sorte para todos.

Cristina Tinoco



UM VERSO DE PAUL VERLAINE

Teu olhar, meu consolo mais dilecto,
Do mais doce clarão vinha repleto.
Trazia o espelho mago do passado.

Tinha o reflexo d’outro olhar extincto
Para sempre.. Em teus olhos — eu não minto —
olhava-me do céu um morto amado.

Teu sorriso era a copia mais perfeita
D’aquele a quem minh’alma foi sujeita
N’um relance por toda a eternidade.

Na tua bocca o riso parecia
Como visão do céo, que me fazia
Sentir d’uma carícia a suavidade.

Escutando-te a voz sonhava tanto!
Embalada num terno e ameno capto
Que tinha d’outra vida, um não sei que.

Tua voz me acalmava a angústia infrene,
N’ella ouvia, qual diz Paul Verlaine:
“L’inflexion d’une voix chère qui s’est tué...”

Úrsula Garcia
Da Revista: O Lyrio nº 8, 05 de junho de 1903, Recife/PE


A VIDA

A vida é um sonho. Há sonhos deliciosos:
E o tempo alegre e com deleite passa.
Passa, porém, não volta, e os doces gosos
Se desfazem ao sopro da desgraça.

A vida é um sonho. Há sonhos horrorosos:
Causticante martyrio que espedaça
O coração em haustos dolorosos,
Passa também: — na vida tudo passa.

É um sonho a existência. Há lindos sonhos,
e há pesadelos horridos, medonhos!...
Oh! nunca um dia se repete igual!

Tudo muda, desfaz-se, tudo cança...
Como eterna só temos a esperança —
E sem tréguas em lucta — o bem e o mal.

Úrsula Garcia
Da Revista: O Lyrio nº 2, 10 de dezembro de 1902, Recife/PE

Úrsula Barros de Amorim Garcia, Aracati/CE, 03/03/1864 – Recife/PE, 16/07/1905)




Hipopótamo*

Enorme corpo negro sobre a lama
Olhando eu e você
Olhando ele

Massa agigantada
Feito carne feito
Sangue feito poeira

Lento, lerdo, errante,
Desprezando cristais
E pratarias

Lerdo, errante, lento,
Ignorando cercas, represas
E pradarias

Olha para a lama,
Míope,
E não consegue alcançar as

Mangueiras que
Enfeitam os jardins
Do cardeal.

Grito rouco
Sussurrante
Dia inteiro disfarçando

Sonolência
Feita de sol
E lama.

Dono de religioso passado
Feito de mitos e
Arcanos: Behemoth, Baphometh, Belial.

Inerte, sonolento, eternamente
Chafurdando na lama,
Negra mancha perpétua

Ampla
Envolta em
Negro fedor.

Marcílio Farias
*Versão livre de “Hippos”, de T.S.Eliot, apud “Collected Poems”, Faber & Faber/1963

Karl Leite

Marcelus Bob e Eduardo Alexandre


Grande Ponto

Ganhei a antologia "Cantões, Cocadas - Grande Ponto Djalma Maranhão", tarde dessas, quando tomava aulas de "Professor" no Beco da Lama, em Natal, mais especificamente no Bar de Nazaré, onde se realizava o lançamento do cordel "A peleja da cultura popular contra o tal do 'Ralouin'", do jornalista Cefas Carvalho, ex-repórter da Gazeta do Oeste e hoje editor do Potiguar Notícias, de Parnamirim.

Quem me deu o presente foi o jornalista, artista plástico e poeta Eduardo Alexandre, o grande Dunga, organizador da seleta e presidente da Sociedade dos Amigos do Beco da Lama e Adjacências (Samba).

Ele falou "Taí pra você" e saiu sem autografar o trabalho que reproduz textos de várias pessoas, entre as quais Luiz da Câmara Cascudo, Deífilo Gurgel, Falves Silva, Marcos Maranhão, Ticiano Duarte, Leo Sodré, Casciano Vidal, Vicente Serejo, Talvani Guedes, Inácio Magalhães de Sena e Ney Leandro de Castro.

Quem também está na antologia é Celso da Silveira, com o seu "Memorial do Grande Ponto", onde se lê na primeira estrofe: "Os bares do Grande Ponto/ tenho os seus nomes de cor:/ Botijinha, Dia-e-Noite,/ Acácia Bar, Rio Grande,/ Onde a cachaça de Ovídio/ Dessedentava a goela/ De Evaristo e Babuá."

O próprio Dunga fala em "Cantões/ cocadas/ Grande Ponto Djalma Maranhão/ poeta-prefeito/ poemas, escrevivências/ crônicas, fatos, gente/ do Grande Ponto/ efervo memorial do momento".

Recebi o livro e só me lembrei de agradecer quando estava a caminho de casa, de carona no meu próprio carro. Apesar da situação em que eu me encontrava e da briga com a mulher, cujo motivo se perdeu numa conveniente amnésia alcoólica, ainda li muita coisa, começando pelas citações transcritas nas orelhas.

Enquanto percorria as páginas, imaginava o que em minha terra correspondeu ao Grande Ponto do ainda vivo Café São Luiz, onde se reuniam intelectuais, políticos, curiosos, estudantes, boêmios, lugar freqüentado por meu pai e pelo pai dele.

Eureca, meu pai! Resolvi socorrer-me dele que morou em Natal e fez parte daquele "território encantado onde vive a alma errante, boêmia e lírica, curiosa e loquaz, da gente natalense", nas palavras de Joanilo de Paula Rêgo.

Nem telefonei, não foi preciso, porque ele me ligou antes, como se tivesse ouvido meu chamado por telepatia. Acontece freqüentemente na família. Disse-lhe que a crônica precisava ser escrita com um paralelo. "Não havia nada em Mossoró que se assemelhasse ao Grande Ponto", desiludiu-me, acrescentando: "O Pavilhão Vitória na Praça do Pax foi, durante anos, local de encontro. Mas era diferente".

Pensei em voz alta: "Que droga, a crônica morreu!". Desculpe-me o leitor, desculpe-me a terra que me acolhe tão bem há quase oito anos. O problema é que não consigo escrever sobre algo de Natal sem a referência de Mossoró.

Cid Augusto

O Cantões, Cocadas Grande Ponto Djalma Maranhão está disponível no
http://cantoes.blogspot.com/

por Alma do Beco | 8:48 AM | | Ou aqui: 0




sábado, novembro 19, 2005

COMO SE AS PAREDES RESPIRASSEM

Hoje é dia de
A partir do meio-dia, na AABB
.
.
OLHA SÓ A TURMA
Leléo, Paulinho a Cores, Chagas Lourenço, Afrânio Amorim
.
Encontro de Roosevelt e Vargas, em Natal


"A oposição mantém o governo num estado de sítio permanente".
Deputado José Dirceu






É COMO SE AS PAREDES RESPIRASSEM

É como se as paredes respirassem

e os cheiros misturados se sentissem
e todas as palavras não calassem
embora no silêncio se fundissem
É como se o olhar soubesse o toque
e o toque adivinhasse o que não visse
mas visse no murmúrio o mesmo enfoque
na imagem que se viu mas não se disse
É como se a manhã não mais chegasse
e o dia fosse noite todo o dia
É como não querer que se acabasse
o instante em cada instante que se adia
e o teto fosse o chão e o chão o teto
e toda a atmosfera fosse afeto

É como se de pétalas chovesse
o lustre mas tal chuva não caísse
É como se o desejo percebesse
aquilo que a razão não mais medisse
É como se a pergunta respondesse
e o ventre da resposta perguntasse
É como não se ouvisse e compreendesse
o mínimo cicio que faltasse
É como se arranhasse e não ferisse
e tudo o que sentisse, delicasse
É como se dos poros se parisse
a alma em cada gota que suasse
e o gosto fosse o gosto de um só gosto
e o fogo não soubesse de qual rosto

E sem que se pedisse, se virasse
e em forma de pirâmide se erguesse
Uma mão que no espelho se agarrasse
e a outra o travesseiro pertencesse
e o beijo noutra boca deslizasse
e enquanto esse subisse, essa descesse
e a boca desse beijo se molhasse
e o beijo nessa boca mais bebesse
e o que não fosse beijo se encostasse
e a boca mais ainda recebesse
e o beijo no pescoço assemelhasse
da boca que pulsasse a que gemesse
e o mais só sussurrasse, sussurrasse
e sem que se dormisse, mais sonhasse

Antoniel Campos



Mais nada

guardarei meus versos exclusivos.
qualquer palavra quererei calada.
tua resposta - silêncio incisivo -
quero em murmúrio: "mais nada... mais nada..."

escreverei meu grito em tua pele
(pouco importando se calma ou suada),
escreverei o que ora me impele,
só para ouvir teu "mais nada... mais nada...".

os teus cabelos que te cobrem o rosto,
com minha boca afasto os fios, cada.
descubro a face, descubro teu gosto
e eu quem te digo "mais nada... mais nada...".

sorvo teu sumo, bebo do teu mosto,

que mais? pergunto. respondo: "mais nada..."

Antoniel Campos



TATUAGEM

"... ficar no teu corpo feito tatuagem"
Chico Buarque


e leva, por bagagem, o meu no teu sentir.
e quando eu for sorrir, ou for dizer bobagem,
que seja a minha imagem, a imagem que é de ti.

tu ficas por aqui - embora de viagem -
em mim, feito bandagem, na pele a me cobrir.
e eu faço coincidir - perfeita camuflagem -
meu corpo e tua linguagem, num doido possuir.

começo a te despir - e, a mim, tu, de passagem -
e eu (de sacanagem) assim te revestir
no beijo mais selvagem, das cores da celagem
e delas me vestir.

eu quero é te curtir! e ser teu personagem
dessa longa-metragem, só para te aplaudir.
eu vou me colorir com a tua maquiagem,
fazer tua dublagem sem fala a traduzir.

e para concluir, te quero por blindagem
na máxima dosagem que a pele permitir.
e sem te resistir, entrego-me à flambagem,
pra tê-la em tatuagem enquanto eu existir.

Antoniel Campos

.

.

Inconfidências Becodalamenses

Axé, caro Laélio, nas madrugadas desta Cidade do Natal!

Por falar em madrugadas natalenses, houve tempo em que as conheci todas. Hoje, nem tanto. Conheci, por exemplo, aquelas em que saíamos, os da Rua Camboim, para as aulas de educação física, dadas e passadas no Ginásio Silvio Pedroza, anexo ao Colégio Estadual do Atheneu Norteriograndense, celebrizado pelos feitos de seus alunos (você um deles). Tempo sobrando, sempre dávamos um jeito de passar pela Princesa Izabel, onde morava Dr. Esmeraldo Siqueira, tão sábio, quanto mal humorado. Ora, a contramão se impunha, porque havia um leiteiro/padeiro que deixava suas encomendas nas portas dos habitantes daquela artéria. Pão e leite na porta dos outros toda vida foi uma gosma para atrair meninos arteiros. Mas a gente somente beliscava os bicos dos pães e tomava um ou dois goles do leite deixado nas garrafas. Madrugada dessas, eis que o Dr. Esmeraldo abre a veneziana da porta, respira fundo e, peito cheio de orgulho, dá uma belíssima banana, dizendo: "Natal, ó, aqui pra você!". Carreirão grande, meu caro! Salvou-nos o Prof. Tião, que àquela hora se dirigia para o seu mister.

Abraços matinais.

Taumaturgo


Taumaturgo, axé também

Vossa Mercê, hoje, acordou inspirado, relembrando coisas do nosso tempo.
Na Camboim, hoje Fontes Galvão, morava meu tio-avô Gabriel Menezes. Tinha uma vila de casinhas, criava uma centena de gatos. Era alto, os olhos azuis. Foi um dos solteirões mais cobiçados da praça, chefe da Estação Central Great-Western. Conheci-o já caducando, sempre invicto (nunca casou!), elegante, empertigado, vestido de casimira inglesa, fina bengala encastoada a ouro. Na esquina de cá, da Jundiaí, morava Palmira Wanderley, sempre à janela, emperequetada, o rosto empoado, cheio de "rouge", ainda bonita - a Regina Poetarum apelidada por Othoniel.
Você, certamente, é mais "moderno" do que eu: quando cheguei ao Atheneu (novo) Sílvio Pedroza não havia, ainda, construído o Ginásio que levaria o seu nome. O Professor de Educação Física era Roque. Tião, o assistente. No "Sílvio Pedroza" joguei basquete pelo Centro Náutico e pela AABB. E lá fiz, orador do Centro "Celestino Pimentel"e da canalha toda do Ginasial, um discurso (cheio de Ron Merino) saudando a Miss RN. Esqueci o primeiro nome da menina ! Era Furtado o sobrenome, filha de um caminhoneiro da Jovino Barreto. Casou depois com Érico Hakcradt, filho de Dona Nevinha - irmão daquele cavalo batisado, Erwin, zagueiro do América. A miss era do Femenino (na Jundiaí, ainda).
Esmeraldo (uma espécie de irmão siamês de Papai, amigo de fé) morava, sim, na Felipe Camarão, onde também morávamos nós. Vocês, larápios madrugadores, escaparam de boa... Esmeraldo era afobadíssimo, brabo como os seiscentos. Havia comprado a casa quando casou com Íris, filha do Investigador de polícia Meira Lima (sempre muito bem vestido), pai, também, de dois desembargadores - um deles, João, meu amigo, uma figura notável, sem pose, falecido há pouco tempo.

Laélio


por Alma do Beco | 8:04 AM | | Ou aqui: 0




quinta-feira, novembro 17, 2005

SEM ORINTIMBÓ, NÃO DÁ

Marcus Ottoni




Léo Sodré
Léo Sodré


O empresário Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, afirmou nesta quinta-feira à CPI dos Bingos, que é "vítima" do caso Celso Daniel. Na sessão, o empresário, que chegou a ser preso como suspeito de ser o mandante da morte do prefeito de Santo André, disse que após o crime, perdeu várias vezes o controle e se arrependeu de parte das declarações que deu na época. "Tinha perdido meu melhor amigo. Sofria um linchamento público, insinuações. Fiquei descontrolado em muitas ocasiões. Eu fui a vítima neste caso".
Rose Ane Silveira, da Folha Online




É Lula no cemitério
incorporando o seu santo


Não vejo maior mistério,
essas coisas acontecem,
às vezes os santos descem
- é Lula no cemitério !
Em Moçoró, muito sério,
foi ele curar quebranto,
foi rezar no campo-santo,
receber “Seu” Jararaca
- tava mesmo co'a macaca,
incorporando o seu santo !


Acendeu dúzias de velas
na campa de Jararaca

Com u’a vontade daquelas
de compor cenário sério,
bem cedo, no cemitério,
acendeu dúzias de velas...
Para o sucesso nas telas
não contou com a urucubaca...
Eis que o filme quase empaca
- um incêndio quase gasta
a barba do cineasta
na campa de Jararaca !

Laélio Ferreira



Léo Sodré
Léo Sodré

FESTAS

Romildo Valentim sempre foi um festeiro. Não ia a uma festa que não arranjasse duas ou três namoradas. Muito antes do “ficar”, ele já aplicava esse verbo sempre sem contemplação.
Mitim, como era conhecido em Brejo do Cruz, na Paraíba, tinha sua fama de “bode” namorador nas bocas e nas cabeças das morenas da região. Era bem apessoado, boas falas e, o melhor: tinha um pai rico, o que, na acepção da palavra, fazia-o um vagabundo endinheirado, que não estudava nem trabalhava, mas que era cobiçado por 9 entre 10 solteiras do lugar.
Acontece que, na volta de uma dessas suas festanças, Mitim sofreu um ataque cardíaco fulminante ao volante de sua camionete 4 X 4 e, ali mesmo, despediu-se do mundo dos vivos, na juventude dos seus 29 anos. Foi um baque para sua família e para a sociedade de Brejo.
Só que ninguém ficou sabendo dos detalhes do “post-morten” do finado.
D. Zefinha, a rezadeira, é que espalhou a notícia recebida num sonho: Mitim, quando chegou ao seu destino final, sentiu-se em casa. Se deu conta de estar no meio de um grande forró. Abafado, quente e com um cheirinho de enxofre, mas um forró super animado. E o melhor: todo mundo nu.
Ele não contou conversa, partiu pra cima de uma loiraça que estava ao lado e foi logo apertando a bonitona no meio do salão. E apalpa daqui, passa a mão por ali, até que ele nota que a loira não tem o “oritimbó”: é tudo liso, fechado.
Ele estranha, afasta ela um pouco, e passa a mão por entre as pernas dela e vê que também é tudo liso, fechado. Sem “xibiu”, sem "orintimbó", sem entradas nem saídas. E replica:
- Mas aqui todas as mulheres são assim???
E ela respondeu:
- Ora, meu bem, se nós mulheres tivéssemos entradas e saídas, isso aqui não era inferno, era um céu!!

Tadeu Neri




Chegados ao Grupo:

Discurso proferido por Oswaldo Lamartine de Faria quando do
recebimento do título de Doutor Honoris Causa na UFRN, neste dia 16 de
novembro de 2005.




À UFRN, na pessoa do seu reitor Dr. Ivanildo Rêgo, professores, funcionários
e alunos.

Perdi horas de sono e de sossego tentando entender a razão de tudo isso.

De primeiro, cuidei ter sido pelos descaminhos dos homens neste mundo de ranger dentes, desassossegado que nem as ondas do mar. Depois, quem sabe, o afago de vosmecês, no adeus desse meu imerecido viver. Sei lá. É que a balança do julgamento dos amigos costuma ser manca.

E não é astúcia, pantim, nem cavilação, pois o que botei no papel foram apenas momentos do dia-a-dia do nosso sertanejo.

Convivi com alguns deles debaixo das mesmas telhas - tenho repetidamente
confessado.

Mestre Pedro Ourives e seu filho Chico Lins - magos do couro, zelosos e ranzinzas, da escolha do couro-verde ao derradeiro nó-cego da costura. Ramiro e Bonato Dantas, pescadores d'água doce e memorialistas. Zé Lourenço, tora de homem, analfabeto, cujos instrumentos de trabalho se resumiam em um nível de pedreiro e um novelão de cordão. Pois bem, apenas com eles,
levantou 640 metros de parede do açude Lagoa Nova sem deixar um caculo nem uma barroca - o que deixou o engenheiro do DNOCS de queixo caído.

Olinto Ignácio, rastejador e vaqueiro maior das ribeiras de Camaragibe. Vi, um dia, ele se acocorar na beira do caminho e ler no chão da terra: "Passou fulano, beltrana e uma menina. É que a gente dessa terra tanto faz eu espiar a cara cumo o rastro..." E todos já envultados com a Caetana.

Daí eu repetir: é mais deles do que meu esse título.

Mesmo assim, encabulado, areado e zonzo, tenho de confessar: não sou soberbo nem ingrato.

Agradeço a vmc e, mais ainda, ao doutor Reitor - sertanejo das Terras do Pôr-do-sol. Onde, naqueles ontens, os condutores das boiadas ferravam o tronco de um pé-de-pau onde se arranchavam. Coisas de um Sertão de Nunca-Mais. Tempos do imperador velho. Mas isso é outra conversa.

Boa noite. Façam, agora, como manda aquele menino:

Batam palmas com vontade,
Faz de conta que é turista...





DO BLOG DO CASCUDO
Postado em 2 de novembro de 2005, quarta


Uma conspiração visível

Estou lendo no Digest of the Americas, da Andrux Press, que o geógrafo Prof. Hans Ahlman afirma que desde 1900 a temperatura do Ártico subiu dez graus centígrados, elevando-se o nível das águas do oceano e os gigantescos
glaciares se dissolvem como manteiga em chapa quente.

No centro d'África os lagos secam e, na parte ocidental, desapareceram nascentes e o imenso Lago Vitória desceu dezessete centímetros nos últimos dez anos.

O professor Hans Ahlman apela para uma campanha de estudos de caráter internacional. Trata-se de conspiração real, absoluta, ostensivamente feita aos olhos dos sábios, contra a integridade, equilíbrio e perpetuidade do Homem na Terra.

A circulação das águas nos lençóis subterrâneos será multiplicada pelo acréscimo desses volumes monstruosos e como processo fixar-se-á apenas em um hemisfério, ou melhor, numa região determinada cuja coordenada geográfica não posso precisar, deduz-se que haverá um desequilíbrio da massa terráquea, desequilíbrio cujas proporções são incalculáveis, imprevisíveis e cataclísmicas.

Até aqui estou comentando o sábio professor da Suécia, Hans Ahlman. Não vou adiante. Fico, entretanto, perguntando a mim mesmo porque essa conspiração dos elementos naturais contra o Rei da Criação, o Homo Sapiens, o Bicho Homem, todo poderoso criador da ciência e da técnica. Certamente os elementos realizaram um congresso e os 'leaders' discursaram sobre o assunto
milenar. Há milhares e milhares de anos que o Homem se apossou da Terra e disciplinou, dentro do possível, os elementos naturais, as forças vivas da Natureza, dispondo-as ao seu serviço. Esgotou mares, furou montanhas, desviou rios, amordaçou cachoeiras, arrasou serras, trepou colinas, cavou mistérios. Andou debaixo da terra e na estratosfera. Os elementos consentiam
em tudo, confiantes no papel de uma colaboração para a Felicidade, a Paz no Trabalho, a Harmonia, a Alegria de viver e de ser útil.

Devem, os elementos, ter chegado a essa conclusão: foram utilizados para o egoísmo e para a morte. Quererão expulsar o homem da terra em que ele é hóspede e se julga dominador?

Luís da Câmara Cascudo
Diário de Natal, 1 de outubro de 1947

por Alma do Beco | 11:40 PM | | Ou aqui: 0


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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Praieira
(Serenata do Pescador)


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A imagem de fundo é do artista plástico e poeta Eduardo Alexandre©

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mariza lourenço

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