quarta-feira, maio 31, 2006

APAGARO O GÁS

Marcus Ottoni


“A resistência do Centro Histórico de Natal empunhou a bandeira da cultura popular no fim de semana e expôs as feridas de uma cidade iluminada que vive às turras com o brilho de seus artistas.”
Rafael Duarte, na Tribuna do Norte, sobre o I MPBeco

Alex Gurgel
Alexandro Gurgel
Túlio Ratto, da revista O Papangu (dir), conversa
com Rafael Duarte na redação de Tribuna do Norte

Sarau:
Antoniel Campos é homenageado na Siciliano

31/05/2006 - Tribuna do Norte

O homenageado da vez no projeto Poéticas e Prosas Potiguares, idealizado pela livraria Siciliano, no shopping Midway Mall, é o poeta potiguar Antoniel Campos. O sarau poético “de cada poro um poema”, ocorre hoje a partir das 19h. Em junho, as honras serão oferecidas ao escritor ficcionista, Francisco Sobreira.

O tema é o título do segundo livro de poesias de Campos, lançado em 2003. Antes desse, o poeta já havia publicado “Crepes e Cendais”. A terceira obra dele, “Esfera”, foi lançada em 2005.

Na esteira dos títulos, Antoniel Campos coleciona o primeiro lugar no Concurso Literário Eros de Poesia Sensual, com o poema “é como se as paredes respirassem”, além de menções honrosas nos concursos literários Othoniel Menezes e Luís Carlos Guimarães.

Engenheiro por formação acadêmica pela UFRN e natural de Pau dos Ferros pela sorte do destino, o poeta não esconde dos amigos que ainda carrega o sonho de se tornar um poeta por tempo integral.

Serviço:
Sarau poético “de cada poro um poema” Homenagem a Antoniel Campos
A partir das 19h
Livraria Siciliano do shopping Midway Mall

Papangus em Natal

Nessa quarta-feira, a partir das 18 horas, será lançada o 28º número da revista Papangu na AS Livros do Praia Shopping, em Natal. A mais irreverente revista do Estado destaca na sua capa, o Senador José Agripino no maior dilema político do mundo. Afinal, José Agripino não ganha nem para vice, imaginem do que esse homem é capaz. Conquistou o Troféu Papangu do mês.

Uma matéria especial com o poeta Bob Motta, o Trovador do Sertão, mostra seu talento e sua insatisfação pelo preconceito que sente na sua poesia por parte de alguns “modernistas”. O forrozeiro Elino Julião será homenageado nas páginas da revista.

Com fotos de Hugo Macedo, o presidente da Academia Norte-riograndense de Letras, poeta Diógenes da Cunha Lima é entrevistado pelos papangunistas Alexandro Gurgel e Lívio Oliveira e conta sua história como advogado e poeta, além de falar sobre o baobá, Nova Cruz, cultura, política, Saint Exupéry, etc...

O escritor Pery Lamartine está na seção Artigo com “A última boiada do Piauí”. Na crônica de maio, o professor Márcio de Lima Dantas conta como se deu o encontro com uma das professoras de sua infância.

A revista Papangu ainda tem nas suas páginas a colaboração de Damião Nobre, Antônio Capistrano, Marcos Túlio, Railton Lucena, Céfas Carvalho, Amâncio (charges), Túlio Ratto (editor), David Leite, Antônio Alvino e a estréia da jornalista Yasmine Lemos como papangunista, assinando a coluna “Deunomundo”.

SERVIÇO:
Lançamento da Papangu
Data: 31 de maio
Local: AS Livros (Praia Shopping)
Hora: 18:00

Alexandro Gurgel



Casa da Ribeira
Um espaço sempre aberto para a arte do RN

O segundo Prêmio Cultural Diário de Natal contemplou a Casa da Ribeira com o troféu O Poti, por ter sido a escolhida a Instituição Sem Fins Lucrativos que mais Apóia Cultura. ‘‘Estamos muito felizes, é importante observar que se trata de um prêmio analisado por um júri conhecedor de todos os aspectos avaliados, curadores que sabem o que estão fazendo, o que agrega diretamente valor ao prêmio’’, comentou Gustavo Wanderley, representante da Casa da Ribeira.

Desde 2001, a ong Casa da Ribeira realiza ações e projetos em parceria com artistas, públicos e empresas, com o intuito de promover uma política cultural que privilegia a formação de públicos apreciadores da arte e a defesa de iniciativas nos setores do ‘fazer cultura’ e do ‘sentir cultura’, priorizando assim ações em áreas não cobertas habitualmente pela indústria ou mercado cultural.

‘‘Os conceitos contemporâneos de produção cultural nos dão esse sinal de que a cultura e a mídia precisam estar em comum acordo para que a população como um todo tenha acesso e valorize as manifestações culturais e artísticas, e esse prêmio vindo de um grupo de mídia local fortalece essa vertente. O Diário esteve muito presente no processo de reabertura da Casa, e agora reafirma esse compromisso’’, afirma Gustavo.

Com programas nas áreas social, de fomento e de acesso, articulados a processos educacionais de sensibilização, a Casa vem desenvolvendo projetos a favor da sustentabilidade da cultura potiguar. Entre eles estão: Cosern Musical 2005 (programa de incentivo à música), Casa da Ribeira em Cena (programa de incentivo ao teatro), Natal Arte Contemporânea (espaço aberto para a arte contemporânea produzida em Natal e no Brasil), Da Escola pra Casa (promove e amplia o acesso à cultura de jovens da rede pública de ensino), ArteAção (projeto aprovado pelo Ministério da Cultura que promove ações que buscam o desenvolvimento artístico da cidade. Dirigido para jovens acima de 16 anos do bairro das Rocas), Ruas da Memória (classificado pelo Minc como Ponto de Cultura no Brasil, esse projeto promove a diversidade cultural no bairro das Rocas), Clube do Professor (garante aos professores do ensino infantil, fundamental e médio acesso gratuito aos espetáculos oferecidos pela Casa em 2006) e Projeto Terceira Idade (garante 50% de desconto para pessoas com mais de 60 anos nos espetáculos artísticos da Casa).

O segundo Prêmio Cultural Diário de Natal contou com o patrocínio da Cosern, do Governo do Estado, Prefeitura de Natal e de Mossoró, Banco do Brasil, Fiern, Sebrae/RN, Assembléia Legislativa, Fecomercio e Sesc. Além do apoio do grupo ADS, Capuche, Delphi Engenharia, BRA Transportes Aéreos, UnP e Unifarma.




O ATLETA

Desci dois lances de escadas aos pinotes, algo heróico para quem sofre de poliartrite congênita. Entrei no carro, corri o quanto o bom-senso e a fiscalização eletrônica permitiram e, mesmo assim, perdi as primeiras apresentações. Pudera, Cid Filho avisou-me que lutaria caratê nos Jerninhos vinte minutos antes do início da competição.

O importante é que, embora sujo, despenteado, sentindo gosto de guarda-chuva na boca e o peso de dois quilos de remela em cada olho, cheguei a tempo de vê-lo em ação, de torcer, de gritar, de xingar o juiz, essas coisas típicas de pai babão.

Ao final do torneio, que felicidade, que maravilha, que orgulho, o cabra estava no podium recebendo mais uma medalha para a coleção. Ficou em terceiro lugar. Eu, na platéia, sentia-me o vencedor por merecer aquele sorriso povoado de dentes, aquele aceno largo, aquele beijinho lançado de longe rumo ao centro do meu coração e o privilégio de gritar "É meu filho! É meu filho! É meu filho!".

Só não me perguntem a quem esse menino puxou, porque o pai dele, além de frouxo militante, é o único caso registrado pela literatura esportiva mundial de dono da bola que emprestava a bola na condição de não ser convidado para jogar.

Tentei futebol, basquete, tênis, pingue-pongue, natação... Ah, fui campeão de handball. A reserva da equipe do Colégio Diocesano estava incompleta, então emprestei meu nome para constar na súmula e desapareci sem assistir à partida.

Sim, preciso dizer de minha experiência nas artes marciais. Comecei, a exemplo de Cidinho, treinando caratê, mas desisti no primeiro dia de aula para não morrer de rir. Cada vez que alguém gritava "Iáááááá!" eu caía na risada.

Depois passei cinco ou seis anos no judô, atingindo a faixa laranja e até vencendo uma luta memorável. Apliquei o golpe no sujeito e o dito-cujo reagiu suspendendo-me do chão pela cintura, mas não agüentou meu peso. Caí sentado na barriga dele, que desmaiou.

De outra vez, mal o professor Deusdete Couto pronunciou a palavra que autoriza o início do combate e eu já estava no chão com o oponente apertando-me a goela e gritando, para ganhar força, algo parecido com "Suuuuuuuuul!". Na falta de alternativa decente, respondi-lhe berrando desesperado: "Noooorrrrrrteeeee". Risada geral, fim da disputa.

Experimentei capoeira, para horror de certos parentes metidos a besta. Sucumbi à falta de ritmo. Por último, matriculei-me na musculação tentando reduzir o colesterol e quase morro de tédio repetindo à exaustão movimentos chatíssimos.

Hoje, estou convicto de que meu lugar no esporte é o de torcedor, de tiete, na denominação afetiva do poeta Genildo Costa, do "velho Cidinho".

Cid Augusto




"Tem Maimota"

Uma das figuras mais conhecidas da região do açude Gargalheiras, no município de Acari, no Seridó, é o pescador e dono de bar Dudé. Ele não é de muitas brincadeiras, mas o seu jeito de ser o torna divertido, singular. Os avisos do seu bar, por exemplo, são hilariantes. O que proíbe som de carros é no mínimo complacente: "Atenção! É proibido som de carro, mas se outro carro estiver com o som ligado, espere a sua vez."

Como o seu estabelecimento, que serve excelentes tira-gostos e mantém a cerveja sempre na temperatura ideal, fica no entroncamento principal de acesso ao açude, é um dos mais procurados. Mas, Dudé não gosta muito de trabalhar no bar. Ele gosta mesmo é de pescar e cuidar de um pedaço de terra que tem na beira do açude, onde cria umas ovelhas e coloca suas redes. E, como dorme cedo, detesta clientes que entram noite adentro, mesmo que seja uma mesa lucrativa. Tanto, que num sábado de chuva e movimento fraco, quando estava quase por optar em ir pescar, já por volta das 11 horas, e viu o carro de um farrista conhecido que vinha chegando, ficou contrariado.

Quando a velocidade diminuiu e o veículo começou a fazer a curva, que pode significar parar no seu bar ou continuar em direção ao Gargalheiras, ele virou o rosto dizendo baixinho e compassadamente: Passando, passando, passando...

Ele nasceu na região e construiu sua casa vizinha ao bar, sendo que num outro terreno, mais próximo de uma montanha, mas também perto, ergueu outra casa para alugar ou, até para vender, como apregoa.

Ele é assim, diferente. E quem cuida da cozinha do bar é Aparecida, sua esposa, por quem nutre um grande amor. Nota-se. Mas Dudé também é teimoso e gosta das coisas organizadas do seu jeito. Se não for da forma como planejou, "o mundo cai" e, como todo casal já briga sem trabalhar juntos, imaginem reunidos num bar.

Por lá existe uma espécie de confraria liderada pelos artistas Dimas e Tatá, o primeiro escultor em granizo e o segundo escultor em madeira, que se reúne diariamente para tomar uma saideira, antes de seguirem para a rua - Acari -, onde moram.

Num final de tarde, chegaram e pediram a cachaça habitual, sob a complacência financeira do jornalista e fotógrafo Hugo Macedo, que atualmente mudou-se para aquele paraíso, e que relatou o caso ao cronista. Segundo Hugo, todos notaram que Dudé estava sombrio, triste, pensativo e olhando muito para a montanha. Nem tira-gosto de tilápia tinha.

- O que foi Dudé? Aconteceu alguma coisa?

- Aparecida me deixou. Foi embora morar naquela casa perto das pedras. Não sei porque. Foram somente umas tapinhas...

- Vige, emendou Dimas, é por isso que você não tira os olhos daquela casa...

- É, concluiu Tatá, ele fica somente pastorando.

- Tem maimota, Hugo, disse Dudé, olhando para a casa com expressão de extrema desconfiança. Eu sei que tem...

Ele estava mortificado, acreditando que Aparecida tinha ido embora por outro homem. Nunca pensou em viver sem Aparecida. Estava triste, arrasado. Olhou para Hugo em busca de auxílio. Não disse nada e seu olhar era recorrente, como o de uma criança. Mas, antes que Hugo dissesse qualquer coisa, Tatá, que não mede palavras e adora parecer perspicaz, foi logo admoestando:

- Calma, meu amigo, ninguém é de ninguém.

Ele não respondeu. Não precisava. Seu olhar foi mortal e aquela foi a noite mais longa de Dudé, que ficou olhando a casa, e a única em que o bar ficou aberto até o amanhecer.

Leonardo Sodré




DA PETROLÍVIA À VENEZUELA BRASILEIRA

Vareite, San Ernesto de La Higuera!

Um vate lá dos Esteites, um tá de Eliot, já dixe em suas escrevecenças qui "Jerônimo outra vez enlouqueceu".

Será qui êle já aduvinhava qui o índio pancadão Evo Morales ia butá pra reiá na Petrobrás do campãeiro Inaço?

E agora, acuma é qui fica a camisa do time do Framengo? Será qui a urubuzada vai carregá no lombo a marca da "PETROLÍVIA", hem!?

Já pensaro se o coroné Champolim Colorado, em nome do generá Abreu e Lima, arresorve mudá o epíteto (vixe!) de Recife pra "VENEZUELA BRASILEIRA", a troco de bancá a refinaria pros pernambuquins abestaiados qui vévem cantano goga e dizeno qui "a refinaria é nossa"?

Desse jeito e nessa pisada o majó Fidé Castro vai ganhá é muntcha sustança e vivê mais uma carrada de tempo pra mode George Bucho nenhum butá defeito, visse? "El Comandante" já mandou desenterrá inté "Camilo Cem Fuegos" e seus malungos qui sustentaro fogo com a macacada de Fulgêncio Baptista lá em Sierra Madre...

Inté o Ché Dieguito Maradona já tá de sobreaviso em "Boi nos Ares" pra mode subí os Andes e defendê o bugre cocaleiro no causo do camarada vira-casaca brasileiro arresorvê tomá os conselhos da negona Condoliza e mandá os milicos tupiniquins tirá õinda fuleira lá em riba dos Andes bolivianos.

O mió mermo era qui Lulinha "Peace and Love" matasse de réiva e de uma só tacada, tanto o pinta-braba boliviano, acuma o bode véio de Havana e o coroné metido a arrochado e a cavalo-do-cão, o tá do Champolim lá de Caracas na venta!

Era só radicalizá às avessas, qui nem fez "Collor Culhão Roxo" e o tucano Efiagacê... bastava trazê de vorta a "Light", a "Great Western", a "São Paulo Railway", a "Western Telegraph Company" e todo o resto do truste ingrêis e americano de cabo a rabo e priu! Queria vê só os três patetas arrumá jeito pra dá!!!
Ou será qui Inaço vai ficá escuitano o chará e conterrâno Lua Gonzaga cantá e puxá o fole:

- "Eu nesse coco num vadeio mais, apagaro o candeeiro e derramaro o gás".

Rocas Quintas
http://www.sanatoriodaimprensa.com.br/colunista.asp?idu=6&ida=2200

por Alma do Beco | 6:22 AM | | Ou aqui: 0




terça-feira, maio 30, 2006

GANHOU O COLETIVO

Marcus Ottoni


“Parreira armou um escrete podre. Ronaldão, balofo e desinteressado, tem mais barriga do que perna; o trintão Emerson já não esconde o cansaço; os laterais Roberto Carlos e Cafu ficam largados no meio de campo acompanhando a corrida tonta de Ronaldinho, Kaká e Adriano.”
Miranda Sá, O Jornal de Hoje

"No meio da multidão do Beco da Lama, o cidadão comum esbarrava nos músicos, tropeçava nos poetas e caía no colo da cultura. Do ator ao artista plástico, do cineasta ao dançarino. E tudo isso sem falar no compositor, acostumado a ver o intérprete montar na fama que passa feito cavalo selado em disparada. Independente de cara feia, todos ali eram populares."
Rafael Duarte, Tribuna do Norte

Alexandro Gurgel
I MPBeco – Alex Gurgel
Produtor Dorian Lima agradece presença do público no I MPBeco

Antoniel Campos realiza sarau poético

A livraria Siciliano do Midway Mall convida para o sarau poético "De Cada Poro um Conto", com Antoniel Campos. Compareça!

Data/Hora do evento: 31/5/2006 - 19h
Local: Livraria Siciliano - Shopping Midway Mall



TCHIM-TCHIM

Aos beijos não dados
Aos braços não entrelaçados
Aos corpos afastados
Aos corações safenados
Eu brindo!

Ao rumo tomado
Ao que tinha que ser
Ao fazer o quê?
Ao não arrepender
Eu brindo!

Ao tratado de paz
Ao direito de mais
Ao chamado jamais
Ao bem que me faz
Eu brindo!

Deborah Milgram


Viva a música autoral
Tribuna do Norte, 30/05/06
Rafael Duarte - Repórter

A resistência do Centro Histórico de Natal empunhou a bandeira da cultura popular no fim de semana e expôs as feridas de uma cidade iluminada que vive às turras com o brilho de seus artistas.

A final do primeiro festival de Música Popular do Beco da Lama (I MPBeco), realizado sábado passado para um público superior a duas mil pessoas, quebrou tabus, mostrou falhas na estrutura do evento e não fugiu à polêmica das disputas de antigamente.

No fim das contas, mesmo debaixo de vaias e gritos de “marmelada”, a decisão do júri que premiou “Volta”, de Simona Talma e Khrystal, como a melhor canção do festival, acabou funcionando como tema da trilha sonora dos eventos ao ar livre que costumavam reunir grandes públicos no passado. Simona ainda levou para casa o prêmio de melhor intérprete. Já as composições de Tertuliano Aires lhe valeram o segundo lugar (“Tarde”, em parceria com Nagério) e terceiro (“Jesuíno”, com Zé Fontes) lugares.

Ao todo, 168 canções inscritas disputaram os R$ 6 mil distribuídos pela produção do I MPBeco, que contou com patrocínio da Prefeitura do Natal, lei Djalma Maranhão, Destaque Promoções, Cardiocentro, Offset Gráfica, além do apoio das empresas Interjato, Aeromídia, Continental e a Vtacompugraphdesign. “Fizemos o projeto através da lei Djalma Maranhão, com renúncia fiscal e conseguimos os parceiros. Para o patrocinador também foi muito positivo. Tivemos uma média de duas mil pessoas em cada um dos três dias de evento, contando as eliminatórias. Abrimos novas portas. Vamos fazer de tudo para realizar a segunda edição porque na nossa visão foi realmente um evento positivo para a cultura do nosso Estado”, disse o idealizador do I MPBeco, Dorian Lima.

Em contrapartida, apesar da declarada valorização da produção autoral do Estado, o encerramento da noite sob a batuta da banda de covers “gringos” Boca de Sino deixou meio mundo de gente sem entender. Foi o ponto negativo do festival. “A gente ficou com receio de chamar uma banda para fechar o evento que tivesse inscrito música no festival. E optamos pela certeza de não passar por isso”, explicou Lima.

Para o próximo ano, a organização também poderia repensar a questão do conforto do público. A interdição da rua por trás do palco, espaço marcado pela descontração da galera que fugia do calor e da multidão que assistia aos shows, é fundamental. Principalmente pelas crianças acompanhadas dos pais que deram um clima familiar ao evento. Com a pista liberada, o risco de atropelamentos era iminente.

Antes do “pega-pra-capar”, uma justa homenagem ao forrozeiro Elino Julião, que morreu dia 20 de maio por conta de um aneurisma cerebral. O músico Galvão Filho, acompanhado de um autêntico trio pé-de-serra, lavou a alma com os principais sucessos do mestre, para delírio do povo.

Emocionado, o produtor musical José Dias fez uma revelação durante a apresentação. “Cresci ouvindo Elino Julião na rádio Cabugi, mas o primeiro show que vi dele foi no réveillon do ano passado, aqui no Beco da Lama. Estou muito emocionado de estar aqui, e com inveja do São João que vai ter no céu, com Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Jacinto Silva e Elino Julião”, disse.


Veteranos e jovens letristas dividem o gosto da platéia

No meio da multidão do Beco da Lama, o cidadão comum esbarrava nos músicos, tropeçava nos poetas e caía no colo da cultura. Do ator ao artista plástico, do cineasta ao dançarino. E tudo isso sem falar no compositor, acostumado a ver o intérprete montar na fama que passa feito cavalo selado em disparada. Independente de cara feia, todos ali eram populares, sem aquela coisa entalada do mainstream.

O público, que não arredou pé, aplaudiu. Das canções defendidas com unhas e dentes no palco, destaques populares para o “Exterminador de Sentidos”, parceria de Romildo Soares e Lupe Albano, interpretada pelo performático Rodolfo Amaral, que só não fez chover no Beco, porque agradou até São Pedro.

A música tem uma letra forte como nos versos “Você! Tem que aprender a sangrar todo mês / Tem que saber se portar entre gays / Sem tentar embaçar meus canais / Com lições teatrais de pavor” e uma melodia que coloca num mesmo campo a MPB e o tango. Se a decoração de palco já havia deixado Rodolfo no céu, a empolgação da galera fortaleceu a mágica parceria. “Foi o destino. Veio o cupido e flechou. Me sinto orgulhoso de cantar Romildo”, disse olhos nos olhos do compositor, que brincou com a própria sorte quando soube do resultado. “Festival tem dessas coisas. Se não tiver uma injustiça, não é um festival”, ironizou.

Também orgulhoso, mas um pouco mais frustrado pela pane no som quando defendeu a música “Cultura”, o cantor, rapper, compositor e percussionista Neguedmundo disse a todo mundo que a “música de preto” é tão popular quanto o samba e a bossa nova brasileira. Depois de tentar arrancar em vão um minuto de silêncio da galera em homenagem a Elino Julião, Neguedmundo foi o único a sair do palco com os gritos de “já ganhou!”. “Tirando a sabotagem do som, só de ter mostrado a bandeira do meu Estado e o vinil de Elino Julião, me sinto um vencedor”, disparou.

Alheia às vaias do público, a grande vencedora do I MPBeco, Simona Talma, caiu no choro quando soube do resultado. Ela dedicou o prêmio à amiga Khrystal com quem dividiu a parceria de “Volta”, melhor canção. “Somos compositoras muito jovens. Khrystal é maravilhosa. Não estou acreditando que ganhei. A gente só queria participar. Tem muita gente no festival que tem muita experiência e muita coisa boa. Não vi a reação do público, mas estou muito feliz. Apostava em Khrystal como intérprete”, afirmou.

João Maria Alves/TN
TN/João Maria Alves


A luta coletiva de defesa do Centro Histórico me premiou

Depois da surpresa de ganhar o reconhecimento de um prêmio como o do Diário de Natal de produtor cultural do ano, vem a indagação das razões que levaram a conquista do tão almejado troféu O Poti.

Ainda em meio à forte emoção do primeiro momento, as primeiras palavras foram de agradecimento aos que estiveram conosco nos primeiros momentos de atividade artística. Vieram as lembranças dos finais de semana na Praia dos Artistas, quando no final dos anos '70 fazíamos a Galeria do Povo.

A Galeria do Povo era um movimento artístico a céu aberto, quando realizávamos exposições espontâneas de poesias, crônicas, artigos, recortes de jornais e revistas, artes visuais, esculturas e faixas de manifestações políticas.

Foi da Galeria do Povo que vieram os Festivais de Artes do Natal, no Forte dos Reis Magos, e as comemorações ao Dia da Poesia, realizadas, a princípio, romanticamente, e que se tornou data que se sedimentou no calendário de eventos da cidade.

Foram anos de muito romantismo na arte potiguar e que possibilitaram um ajuntamento de artistas das mais variadas manifestações e matizes, sem nenhuma preocupação de escolas ou tendências.

Dos tempos românticos aos dias de hoje, muitas promoções realizamos. Algumas vitoriosas, outras fracassadas. E muitos sonhos ficaram pelo caminho. Lembro 'O Dia da Criação', quando estivemos à frente da Associação dos Artistas Plásticos do RN, que, como tese, era algo a se esperar muito e que dele praticamente nada ficou. As limitações financeiras sempre foram vetores de alguns desses fracassos. Outras vezes, nem essas limitações impediram o sucesso de promoções sonhadas e realizadas.

Lembro a criação da Casa do Produtor Cultural pela FJA, da qual fui o primeiro administrador por pouco mais de três meses, e da tristeza de vê-la se acabar, poucos anos depois, à falta de quem zelasse pela idéia.

Claro que o passado de quem labuta nas artes da cidade há quase 30 anos, deve ter pesado na escolha de quem trouxe a mim essa homenagem.

Mas, creio, o trabalho recente deve ter pesado mais nessa escolha.

Com certeza, o trabalho à frente da Sociedade dos Amigos do Beco da Lama e Adjacências foi de fundamental importância para esse reconhecimento.

Foi através da SAMBA que pudemos desenvolver um trabalho quase que cotidiano em defesa do nosso centro histórico. Já até se perdem na nossa memória o tanto de eventos realizados, todos tendo como preocupação primeira chamar a atenção de autoridades e da própria população para a importância de se preservar o local que foi berço da cidade.

Para tanto, foi preciso novo ajuntamento de pessoas interessadas para o trabalho coletivo. E quantos não foram os que já estavam nesse ajuntamento nesses 30 anos de dedicação?

Mas muitos outros vieram nessa soma necessária. Trouxeram idéias e delas se fizeram atitudes que procuraram dar força ao movimento cultural que emergia do centro da nossa Natal antiga e tão contemporânea, com seus novos poetas, músicos, atores, bailarinos, artistas plásticos, jornalistas, enfim, toda uma gama de pessoas que nem só queriam fazer crescer o movimento cultural que vivemos, como despertar cada vez mais o amor pela nossa cidade e sua cultura.

O ajuntamento cresceu e os eventos vieram, culminando com os ousados II Festival Gastronômico do Beco da Lama em três etapas consecutivas, o I Réveillon do Centro Histórico e o I Carnaval do Centro Histórico.

O Festival Gastronômico do Beco da Lama, o PratodoMundo, tendo, embutida em si, a pretensão de tentar transformar o nosso centro em Praça de Alimentação também para quem nos vista. Lutar pela preservação patrimonial, com olhos para o turismo, é buscar a nossa história ali viva e cheia de atrativos, desafiando escritores e alimentando sonhos e devaneios de novas gerações.

O Réveillon do Centro Histórico tentando e conseguindo preparar o Carnaval que há anos sonhávamos e que morto estava há pelo menos três décadas no nosso centro.

Esses foram os últimos eventos de nossa gestão. A eles, creditamos, talvez, a lembrança da premiação.

Mantivemos com estes três eventos uma relação de paixão. De gana em realizá-los. Mesmo diante de incompreensões e da muita dificuldade que foi fazê-los.

Hoje, não estou mais à frente da bem-amada Samba. Mas a entidade de defesa do nosso centro está consolidada e é uma referência da cidade. Uma referência forte, porque de bem-querer e porque de identidade, de pertencimento.

Aos que hoje a administram, ficou a responsabilidade de tocar o trabalho deixado. Inclusive a busca de compromissos firmados para melhorias físicas do espaço urbano, buscados junto a vereadores e firmados pelo prefeito da cidade.

As parcerias culturais para a realização de eventos estão consolidadas. Fundação José Augusto, Capitania das Artes e Agência Cultural Sebrae foram e são fundamentais para o sucesso do trabalho feito e a realizar.

Parto, individualmente, para novas iniciativas. Algumas, de caráter particular. Mas não poderei esquecer, jamais, a força que sempre os trabalhos coletivos tiveram em minha vida neste difícil, mas prazeroso, campo das artes.

Aos que estiveram conosco neste trajeto, deixo sinceros agradecimentos, ao tempo que, com todos, partilho a glória deste troféu Poti.

A todos, muito abrigado, na certeza de que ainda estaremos juntos em muitos outros projetos.

Eduardo Alexandre



Tributo a um ídolo, amigo e parceiro
Cantinho do Zé Povo – O Jornal de Hoje

Elino Julião da Silva é o nome do meu saudoso ídolo, amigo e parceiro. Nos conhecemos nos idos de 1968, numa fria noite de um sábado do mês de junho, no auditório da Rádio Borborema de Campina Grande-PB, durante o Programa Forró de Zé Lagoa. O saudoso Rosil Cavalcante era o apresentador e a cidade de Campina Grande, ainda não tinha “o maior São João do Mundo”.

A coisa era mais simples, mais poesia, mais amor, mais sertão... Um sertão onde a droga não passava nem perto (pra se falar em maconha, era por debaixo de “sete capas”...); não tinha discoteca e os forrós eram puxados a fole de oito baixos (Pé de Bode); não existia zabumba, era o melê (uma espécie de tambor feito com uma ancoreta sem tampa e o local onde o melezêro batia, não era de couro, era de borracha de câmara de ar); e complementado com o triângulo e o pandeiro, que só faltava falar na mão de um bom pandeirista. E, ali, no Forró de Zé Lagoa, tinha todos esses apetrechos.

Foi nesse ambiente que conheci meu saudoso e querido amigo Elino. Nos sábados à noite, quando eu estava por lá, pela fazenda Pocinhos ou Malhada de Roça, meu pai mandava Rivaldo Motorista na velha e saudosa veraneio, que vinha cheia para o Forró de Zé Lagoa. Lá, conheci Elino, Marinês, Jackson do Pandeiro, Genival Lacerda em início de carreira e muitos outros ícones da música popular nordestina.

Depois do forró do auditório, ia-se para o forró propriamente dito, nas Buninas, Quartel do Quarenta, Bodocongó, Santo Antonio, Zé Pinheiro, e principalmente no Canarinho, o famoso primeiro andar da Rua Quebra Quilos, esquina com o Mercado Central. E, sempre nesses lugares, além dos freqüentadores e freqüentadoras costumeiras, “abrejava” de cantores da época. Minha convivência com Elino foi muito curta, mas intensamente vivida.

Nossos laços de amizade estreitaram-se, quando o encontrei por acaso na casa de Nascimento, seu cunhado, casado com sua irmã Mariquinha, lá na Cidade da Esperança. Aí, a gente passou a se ver mais vezes, sempre que tinha um “pé de cachaça” no quintal da casa de Nascimento, lá estávamos, e Elino, quando estava em Natal, dificilmente faltava a esses encontros... Chico Brasileirinho ao violão e Zezinho do Cavaquinho ao dito cujo, acompanhavam tudo que se propunha a cantar nesses agradabilíssimos encontros.

Em 2000, compartilhamos o palco pela primeira vez, na esquina da Miguel Castro com Jaguarari, no Tributo a Luiz Gonzaga, organizado pelos nossos queridos amigos Mano Targino, do então Bar e Restaurante O Beradeiro, e pelo Marcos Lopes, hoje com o Forró da Lua. Depois, participamos juntos de vários eventos, onde estava havendo qualquer coisa sobre cultura popular, lá estávamos, às vezes sem termos nem combinado, mas estávamos juntos, nessa parceria informal e voluntária, em defesa das nossas raízes culturais.

A última vez que estivemos juntos, foi na entrega do Título de Cidadão Natalense a Dominguinhos. Na semana passada, pouco antes de “sua passagem”, nos falamos por telefone, combinando sua participação no meu segundo CD; entraríamos em estúdio dentro de uns vinte dias. Ele iria participar cantando uma marcha de minha autoria, intitulada Entre a Praia e o Cariri, onde falo de todos esses lugares que palmilhamos juntos. Mas não deu tempo. Faz mal não, querido Elino; fica para a próxima encarnação! Deus te tenha!

Bob Motta



A sombra do juazeiro murchou com saudade de Elino Julião

A sombra do juazeiro potiguar está solitária com a partida do saudoso cantador do sertão, Elino Julião. Sua copa, que outrora nos deu sombra através da criação artística musical, numa espécie de conforto espiritual, perdeu as folhas, e o tronco ficou envergado, com os galhos em forma de braços, numa súplica cristã, dando um adeus ao poeta musical que cantou o sertão potiguar com a mesma naturalidade que tem os pequenos córregos que deslizam no coração da mata.

Elino que rima com menino, era a pureza humana de um coração infantil no corpo de um adulto. O riso estampado entre as curvas enrugadas do seu rosto, expressava uma felicidade tão eterna, como os eternos beijos das ondas na beira do mar. Acredito que a tristeza e o pranto, que tanto assola os seres humanos, não encontraram moradia na alma do cantador potiguar. Como o próprio juazeiro que oferece sua copa frondosa pra o sertanejo se abrigar, fugindo do sol escaldante do meio dia, Elino oferecia constantemente a sua imensa copa de afetos para quem se aproximava dele.

O seu espírito bondoso se projetava através da criação artística, fazendo com que a sua música expressasse sempre o lado bom da vida. Elino não foi o poeta/cantador da negatividade, da falta de esperança e do descontentamento. Tudo pra ele era feito de alegria e felicidade. Mesmo com a idade avançada, onde o crepúsculo da velhice cria sombras pra existência humana, Elino em cima do palco ou fora dele era uma aurora de vigor, de vitalidade e de desempenho. Quem teve a oportunidade de assistir o cantor do sertão, viu que ele não parava um instante sequer.

O grande legado do poeta/cantador, foi o compromisso de cantar a sua terra. Através da simplicidade poética musical, Elino exaltou o sertão potiguar com a mesma verdade que Elomar usa ao cantar as barrancas do rio do gavião. Acredito que o rio seridó deve está vertendo prantos com saudade do seu filho ilustre. Elino abraçou a sua terra com os olhos da observação contemplativa, e fez do seu lugar um mundo encantado de esperança, fé e fraternidade.

Na sua música encontra-se a fé cristã do homem sertanejo; nos seu canto, a paisagem da caatinga é expressa com imagens poéticas líricas da relação homem natureza; dentro do seu canto, o romantismo sertanejo é exaltado com pureza e autenticidade; a poesia da saudade da terra é constante pra quem como ele viveu distante do seu lugar, percorrendo os palcos de várias cidades do Brasil; o sentimento ecológico é a grande marca da sua preocupação com os animais do sertão, principalmente o jumento, um dos grandes símbolos da identidade sertaneja.

Elino, foi durante o século passado, um dos pioneiros e desbravadores que levou o estandarte cultural da arte nordestina para o Brasil, junto com Luiz Gonzaga, Zé Marcolino, Zé Dantas, Humberto Teixeira, Jackson do pandeiro, Antônio Barros, Rosil Cavalcante, João do Vale e outros compositores menos conhecidos O cantador de Timbaúba foi percussionista durante alguns anos do ritmista Jackson do pandeiro, e teve várias músicas gravadas na voz de Luiz Gonzaga.

Na história da musica produzida no nordeste, Elino tem a mesma importância que têm todos os compositores acima citados. Ele não fez só discos (mais de 40); ele usou a música pra mostrar pro Brasil a sua terra, e fez da vida e da arte musical o compromisso de ser porta voz de um povo simples, que habita uma região repleta de manifestações humanas, complexa e cheia de adversidades.

Por isso Elino foi e é imprescindível como forma de patrimônio cultural. O cantador resistiu as banalidades que o forró e outros estilos passam hoje em dia com a deturpação das chamadas bandas de forró. O poeta de Timbaúba universalizou a sua terra com simplicidade, capacidade e responsabilidade. Por isso é autentico e imortal.

Acredito que nesse instante o sertão chora sua partida. Na prosopopéia da imaginação literária, os galhos do velho juazeiro estão suplicando pra que Deus envie de volta quem o cantou tão bem; as folhas da árvore que sempre estão verdes, murcharam de tristeza por não puder mais oferecer a sua sombra ao vate do Seridó; o jumento baixou a cabeça e não relincha mais ao meio dia, e o seu rabo estar assustado com medo de outros “Nascimentos”, que paradoxalmente ameaçam a vida do animal símbolo do sertão.

Todas as coisas humanas ou não, que foram cantadas por Elino, choram de saudade, sabendo que o cantador menino viajou pra região celestial, e só voltará em forma de música e poesia, se seu trabalho musical continuar tocando em rádios, televisões e demais espaços destinados à cultura nordestina.

Mas nesse momento, acredito que existe um lugar transbordando de alegria com relação a Elino Julião. Esse lugar é o paraíso celestial da música. Pode ter certeza que debaixo dum Juazeiro, lá no céu, Elino está nesse momento cantando sua musica bela pra Zé Marcolino, Zé Dantas, Luiz Gonzaga, Rosil Cavalcante, João do Vale, Humberto Teixeira, Antonio Barros e outros, numa confraternização universal, oferecida com simplicidade e amor através das coisas belas que alimentam o espírito humano.

Gilmar Leite

por Alma do Beco | 5:01 PM | | Ou aqui: 0




domingo, maio 28, 2006

TIRANA DE ANTENORO

Marcus Ottoni


Resultado do I MPBeco - Festival de Música do Beco da Lama

Vencedores:


Melhor Música: Volta (Krhystal/Simona Talma) Simona Talma

2º Lugar: Tarde (Tertuliano Aires/Nagério) Carlos Bem

3º Lugar: Jesuíno (Zé Fontes/Tertuliano Aires) Zé Fontes


Melhor Intérprete: Simona Talma
Melhor Arranjo: Jesuíno (Zé Fontes/Tertuliano Aires) Zé Fontes


MPBeco: letra da música ganhadora

Volta
(Simona Talma/Khrystal) - Simona Talma

Esqueci teu sorriso, volta
Volta que eu gosto de me olhar
Por que te vejo em meus olhos
Volta que sinto a falta do meu, por favor!
Que
Eu tinha pressa o tempo todo
Agora eu durmo

Vem que só vejo resquícios
E eu quero tudo inteiro
Volta que eu não fotografei teus sentimentos
Que eu nunca tive esse letreiro
Anunciando o que é o amor.

Júlio César Pimenta
I MPBeco - Ceiça de Lima
Simona Talma foi a grande vencedora do I MPBeco

MINIMALISTAS

Possessivos
Meros pronomes…
Indiscutivelmente
Inexistentes
Nós carregamos
A real, evidente prova
Desse saboroso vácuo.

Deborah Milgram




EMBARGOS DE TERCEIRO
"Quem, não sendo parte no processo, sofrer turbação (...)
na posse de seus bens (...), poderá requerer lhe sejam (...)
restituídos por meio de embargos (CPC, Art. 1046)"


Acosta-se, embora intempestivo,
pedido de sustar-se esse processo
em que deliberei-me réu confesso
no Campo absoluto e relativo.

É pedra cada instante que atravesso,
e inútil perquirir por qual motivo
quis pedra fosse o instante onde me vivo
e por que não me paro e recomeço.

Mercê da própria vaga em que derivo,
um quê me diz de pleito impeditivo
e raras as nuances de sucesso...

Mas sendo o que me resta e ora peço,
o embargo dessa lide faço expresso:
acosta-se, embora intempestivo.

Antoniel Campos




A mais bela e quase ignota música do mestre Elino Julião

Como se fosse um poema da lavra mista de um Garcia Lorca com Patativa do Assaré, o mestre Elino Julião, juntamente com Dilson Dória ( parceiros em "Xodó de Motorista" e "Vamos Chamegar" ), compuseram uma das mais singulares músicas, dotada de um lirismo enigmático e arrebatador. Apenas Xangai e Renato Teixeira, até então, haviam contemplado tal pérola no CD "Aguaraterra", de 1995.

Trata-se da composição "Tirana do Vaqueiro Antenoro", onde a deliberada sintaxe matuta dos versos traduz a gesta de amor, tragédia e perdição dos vaqueiros nordestinos, permeada de aguda e sapiente observação dos que compartilham os segredos da natureza.

Certamente traspassado pelo impacto da perda desse "antepenúltimo moicano", representante do autêntico forrobodó nordestino (posto que também reconheço a importância de Genival Lacerda e Luiz Vieira neste contexto), ouso afirmar que pouco se tem registro de tão extraordinária criação poética e melódica em toda a obra de Elino Julião e até nas demais composições de autores da mesma cepa do mestre de Timbaúba dos Batistas.

A "Tirana do Vaqueiro Antenoro" contém os mesmos elementos emocionais e temáticos da toada e do blues, cuja linha matricial remonta aos tempos dos "cantos do trabalho":

"Oi tirana, tiraninha
trata de mim que sô tcheu
Si tu num tratá de mim
quem vai imbora sô ieu...
Eu vô morá em terra longe
Ausente do que é meu.

Retaiai os meus peitcho
cuma faca fina
E aparai o meu sãingo
cum tchas mão, minina.

Sangrai os meus peitcho
cuma faca fina
E aparai o meu sãingo
cum tchas mão minina.
Os rio preto quando enche
Nas curva faz um remanso
Dos pásso de pena que avoa
o mais bonito que eu conheço é o ganso
Apois quem tem sarna nas pôpa
As unha não tem descanso".

Foi justamente neste universo de trabalho criativo e sensível que Elino recebeu da revista Brouhaha (segunda edição), o epíteto de "Operário do Forró", denominação merecida para quem deixou uma vasta discografia em meio século de militância no mundo musical, como se percebe no título do seu derradeiro trabalho - "Por Dentro do Movimento" - a ser lançado postumamente e que pontifica a irrequieta e constante busca deste grande artista que seguiu as mesmas pisadas de Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro.

Portanto, resta aos potiguares (e principalmente estes) o zelo reivindicado na estrofe inicial da sentida "Tirana do Vaqueiro Antenoro": "Oi tirana, tiraninha / trata de mim que sô tcheu / Si tu num tratá de mim / quem vai imbora sô ieu... / Eu vô morá em terra longe / Ausente do que é meu".

Graco Medeiros



VOA, MEU SABIÁ

A cultura popular e o talento estão de luto. Todos estamos. Às nove e meia da noite do sábado, vinte de maio último, depois de pulsar por sessenta e nove anos, seis meses e sete dias, o coração generoso de Elino Julião parou de bater.

Perde o Rio Grande do Norte, perde o Nordeste, perde o Brasil. Maior forrozeiro de todos os tempos, compôs mais de setecentas músicas, das quais mais de quatrocentas foram gravadas. Ouvido em países como Portugal, Espanha, Bélgica, Itália e Japão, nosso Elino é um cidadão universal. Universalizou o forró e orgulhou esse valoroso Nordeste pelo mundo afora.

De Timbaúba dos Batistas, no querido Seridó, passa por Caicó e vem para Natal de carona, “pegando morcego” num caminhão. Em pouco tempo nossa capital fica pequena para ele. Com seu extraordinário talento, vai bater no Rio de Janeiro e de lá ganha o mundo.

Por ironia do destino, parte nesse período tão mágico, deixando com “água na boca” Santo Antônio, São João e São Pedro. Conosco, uma enorme saudade.

Ô, Elino, você não poderia nos deixar logo agora! Como é que vai ficar o forró? É certo que você voou para outro universo. Para a imortalidade, conquistada somente por aqueles que a semearam com o exemplo de vida.

Eu sei que Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro e Abdias estavam com muita saudade do companheiro. Mas para nós foi precoce. Tão precoce como a sua produção artística. Afinal ninguém consegue unir, a um só tempo, tanta simplicidade e tanto talento. Só você. É por isso que Patativa do Assaré lhe espera com um sorriso.

Você, nosso sabiá potiguar, voou alto. Encheu de orgulho o nosso peito de povo sofrido e injustiçado. É difícil explicar a relação mágica entre a alegria do canto do sabiá e o sofrimento de um povo excluído. Pela seca e pela cerca.

Cantar a realidade de seu povo é talvez o seu maior legado. Muitos conheceram o sertão através de seus versos e de sua música. No sertão, só a melodia do canto do sabiá para espantar a tristeza que a desigualdade provoca.

Em Natal, quando vereador pelo Partido Comunista do Brasil, foi um privilégio reconhecê-lo como Cidadão Natalense. A Câmara Municipal nunca viu tão bela festa como naquele vinte e oito de maio de 2004, na entrega da justa homenagem.

Uma coisa é certa: No período junino do ano da graça de dois mil e seis, com certeza o céu está muito mais animado com a presença alegre de Elino Julião. Nessa viagem, nosso sabiá certamente vai cantarolando: “... avisa ao pessoal de casa que eu vou mandar brasa em noite de São João”.

George Câmara




Armando, riso e siso
Tribuna do Norte

Na calçada do bar da meladinha, Território Livre do Beco da Lama, as mesas estavam ocupadas. A conversa girava em torno das glosas de Laélio Ferreira e da próxima candidatura de Alex Gurgel à presidência da Samba. De vez em quando, vinham de dentro do bar gritos, urros, palavrões - e nenhum bequiano se incomodava mais com aquilo. Todos já estavam acostumados com o bom humor, a educação, a delicadeza das mulheres que tomam conta do bar. Um retardatário chegou, bicou a meladinha de alguém e jogou com espalhafato um livro em cima da mesa. "Esse Armando Negreiros é o cão chupando manga!" - gritou. Um discípulo do boêmio Castilho completou: "O cão com febre e a manga quente!" Estava inaugurada uma longa sessão sobre A Folga da Dobra, o mais recente livro de Armando Negreiros.

Volonté, o poeta peripatético, disse que o livro estava em sua cabeceira, na fila para ser lido. E louvou o seu lançamento na AS Livros, numa festa onde havia "scotch" para afogar um batalhão de escoceses e comida para abastecer todo o programa Fome Zero. Volonté já está de malas prontas para comparecer à noite de autógrafos de Armando em Mossoró, nem que tenha que viajar a pé.

Outro bequiano, voltado para as artes plásticas, elogiou a capa do livro, principalmente a foto belíssima de Giovanni Sérgio. No Potengi incendiado pelo pôr-do-sol, o autor do livro observa ioles e remos que arrepiam o rio, sentado numa mesa onde seu copo de cerveja também se incendeia. "Giovanni é um dos maiores fotógrafos do país! É o nosso Sebastião Salgado em cores!", exclamou alguém. Houve aplausos.

Em seguida, o único intelectual que havia lido o livro começou a discorrer (intelectual não fala, discorre) sobre A Folga da Dobra. E todos, até o vendedor de umbu, ficaram sabendo que Armando Negreiros é um médico que escreve muito bem, tem um humor rico e maravilhoso, que ele externa num estilo preciso, irreverente, bem superior a muitos jornalistas de carteirinha. Domina temas como medicina, a língua portuguesa, leitura, literatura e até direito. E o que prevalece nele é sempre o humor, nunca o pedantismo. Demonstra ser um leitor compulsivo, com o privilégio de uma memória que fotografa e guarda tudo que lê.

"Parece o pai dele, Rafael Negreiros, que sabia de tudo e mais alguma coisa. E ainda era brabo que só a gota, macho dos seiscentos diabos", disse em voz alta um mossoroense bairrista (redundância?). O intelectual aproveitou o aparte para tomar uma meladinha, fumar um cigarro, depois continuou sua incursão pelo mundo de Armando Negreiros. Disse que os perfis elaborados pelo autor beiram a perfeição. E dá o exemplo de Negócio Neto, um talento extraordinário, que trocou figurinhas com Millôr Fernandes, que fez a versão para o latim do inglês traduzido literalmente por Millôr no seu "The cow went to the swamp" (A vaca foi pro brejo). A galeria de mortos e a legião de amigos de Armando desfilam pelas páginas do livro, com elegância e desenvoltura, e fazem a festa do leitor.

O intelectual bequiano, depois de uma breve pausa, remata (intelectual não conclui, remata): "Há um velho ditado que diz: 'Muito riso, pouco siso'. Armando Negreiros derruba essa aparente verdade proverbial."

Nei Leandro de Castro


Alex Gurgel
I MPBeco - Alex Gurgel
Margot, bela presença ontem no I MPBeco

por Alma do Beco | 8:05 AM | | Ou aqui: 0




quinta-feira, maio 25, 2006

LETRAS DO MPBECO

Marcus Ottoni


"Como sou um partidário da defesa da liberdade de expressão, cada um utiliza esses termos como melhor lhe convém."
Lula, ao Le Monde


Elino Julião, o artista do ano:
veja no http://www.eduardoalexandre.blogspot.com/
ou no linque aqui à direita, nos Contatos Imediatos: O Bobo da Corte.

Raquel Souza

Dunga recebe o Troféu Poti, de Produtor Cultural.




Beco com saída
Tribuna do Norte – 27/05/2006

Rafael Duarte - Repórter

A música do beco é potiguar. Depois de transformar o sábado no dia municipal da cultura regional durante as duas últimas semanas, os companheiros de copo do Beco da Lama recebem o público, hoje, para a grande final do primeiro festival de Música Popular do Beco (I MPBeco). O encerramento fica por conta da banda Boca de Sino.

A festa começa a partir das 16h com uma homenagem póstuma ao forrozeiro pé-de-serra Elino Julião, que faleceu há uma semana. Os discípulos Isaque Galvão e Galvão Filho, devidamente acompanhados de uma zabumba, uma sanfona e um triângulo, puxam o fogo do repertório de Julião antes do “pega-pra-capar” das dez canções que disputam os R$ 6 mil em prêmios do festival.

Entre os compositores que concorrem à parada, muita gente boa como Simona Talma, Khrystal, Tertuliano Aires, Nagério, Neguedmundo e Romildo Soares.

A batata quente de escolher os melhores está nas mãos do maestro Neemias Lopes, o professor João Batista de Morais Neto e os músicos Carlos Zens, Camilo Lemos e Geraldo Carvalho.

A expectativa da organização é de espaço lotado, como ocorreu durante as eliminatórias. “Recebemos duas mil pessoas em cada final de semana da seleção. Ficamos até surpresos com tanta gente. Para as próximas edições temos que pensar em dar um conforto maior ao público. Tenho certeza que amanhã vai ter muita gente de novo. A homenagem a Elino Julião não estava prevista, mas a gente tinha que fazer. O último show dele em Natal foi no Beco, no reveillon”, previu o idealizador do MPBeco, Dorian Lima.

Sábado passado, o natalense só arredou pé do beco quando Os Grogs tocou a saideira no encerramento da noite num clima meio samba, bossa nova e rock in roll.

Lima faz um balanço positivo do evento, que teve o patrocínio da prefeitura do Natal, lei Djalma Maranhão, Destaque Promoções, Cadiocentro, OffSet Gráfica e apoio da Interjato, Aeromídia, Continental Cervejaria & Sanduicheria e Vitacompugraphdesign. “Saiu tudo dentro do que planejávamos. A qualidade das músicas, dos intérpretes... tivemos alguns problemas normais, como reclamação de regulamento, mas no fim saiu tudo muito bom”, analisou.


RELAÇÃO DAS MÚSICAS, POR ORDEM DE APRESENTAÇÃO

01 - Anglicana (Yrahn Barreto/Clésio Torres) - Lene Macedo
02 - Tarde (Tertuliano Aires/Nagério) - Carlos Bem
03 - O Exterminador de Sentidos (Romildo Soares/Lupe Albano) - Rodolfo Amaral
04 - A Filha da Lua (Yrahn Barreto) - Yrahn Barreto
05 - Santa TPM (Franklin Novaes) - Franklin Novaes
06 - Volta (Simona Talma/Khrystal) - Simona Talma
07 - Ninguém Merece (Marcondes Brasil) - Michelle Lima
08 - Natália (Tertuliano Aires/Nagério) - Khrystal
09 - Cultura (Neguêdmundo) - Neguêdmundo
10 - Jesuíno (Zé Fontes/Tertuliano Aires) - Zé Fontes

Veja abaixo as letras das canções classificadas para a Final do I MPBeco
Festival de Música do Beco da Lama
(Por ordem Alfabética)


A filha da Lua
(Yrhan Barreto) - Sueldo Soares

A lua no espaço
Distante daqui
Se ouve que o fim
Tá na rua
E nua aparece pra ti
A deusa da lua
Que impera e voa dali
Mensageira da alma que vai se partir

Anunciando que o fim dessa terra virá
Implorar não faz parte do plano
Nós herdamos o filho que a lua dará
Mensageira da deusa que impera
E se faz voltar

Na rua um rastro de raio nuclear
A lua num instante se parte num claro
De fato que a linda mulher tava nua
E na sua direita, um cavalo branco
E montado o guerreiro Jorge, de punho armado
O guerreiro ogum Jorge montado a cavalo.

É aí que a lua explode no ar
Sem juntar os pedaços, faz logo cair
Bem longe daqui pra podermos amar
A tal filha da lua que eu tento encontrar

A filha da lua virá
E solitário espero
Pois é tudo que eu espero
Esse amor vingará.


Anglicana
(Clésio Torres/Yrahn Barret) - Lene Macedo

Do igarapé Mucuripe
De lá não vejo o sertão
Eu vejo o verde bonito
Que move o meu coração.

Alçando vôo eu vejo
Encanto e muito esplendor
No verde nasce, nasceu
Uma história de amor.

Desbravando a cana brava
Emma Anglicana e o senhor
Do verde nasce, restou
Uma lembrança de dor.

Alçando vôo eu vejo
Encanto e muito esplendor
Do teu olhar sagaz
Eu vejo um certo pudor.

Do igarapé Mucuripe
De lá não vejo o sertão
Eu vejo o verde bonito
Que move o seu coração.


Cultura
(Neguêdmundo) - Neguêdmundo

Eu vou cantar aqui agora
A Cultura Potiguar
Que veio de uma mistura
Vem do rio e vem do mar
Vem correndo pelas veias
E saindo do pensar
É rock end Roll, forró e samba
Embolada e baião
O coco de Chico Antônio
A rebeca de Fabião
O folclore do nordeste
Aqui na palma da mão

(Eu vou cantar, eu vou cantar)
(Viva a Cultura Potiguar)

Na Ribeira do Potengi
Todo mundo vem notar
Vem gente de todo lado
Veio nego até da lua
Todo mundo quer saber
De onde vem essa cultura
É hip hop, soul e zambê
Hard core, reggae e blue
Embolada e baião, o xaxado do sertão
O folclore do universo
Aqui na palma da mão

Eu vou cantar, eu vou cantar)
(Viva a Cultura Potiguar)

Inácio da catingueira
Criado de João Luiz
É doutor preto formado
E vigário da matriz
Tanto fala como “abóia”
Como sustenta o que diz
Por isso é “cabra” de fama
Por isso sabe cantar
É, por isso que eu digo
Só lá sabe “aboiar”

(Eu vou cantar, eu vou cantar)
(Viva a Cultura Potiguar)


Jesuíno
(Zé Fontes/Tertuliano AIres) - Zé Fontes

Riograndino comedor de camarão
Minha nação é a tribo potiguar
Maçaranduba, quixaba
Manipoeira, estrada
Lamparina, “chucai véi”
Lazarina, caçuá

Do folclore vim do livro de Cascudo
Meu violão não é mudo
Canto madrigal
Deus do mar
Abraça meu torrão natal

Tonheca sopra no vento a canção
Djalma estrela nova a guiar
Sou pirilampo, passista, araruna
Mestre Lucarino e seu cantar
Assis Marinho uma ceia noutro plano
Zila Mamede nos braços do oceano

Sou João Gualberto
Sou potiguarino
Sou quem mata a fome
Eu sou Jesuíno
Eu não tenho nada
Só sei cantar
Na canção da estrada desanuviar


Natália
(Tertuliano AIres/Nagério)

Meu canto corta a ribeira
Cidade nova de amor
Grito pelos igapós
Um desafio em flor

Tempero a minha alma
Com um ramo de alecrim
O meu coração de rocas
Picado de maruim

E a esperança que descansa
Numa redinha pequena
Capim macio do pátio
Mãe Luiza flor morena

Dix sete botões rosados
Lagoa nova secou
O grande ponto dos sonhos
Candelária, virgem amor

O forte da negra ponta
Cantinho de Mirassol
Brasília teimosa, reis
Barreira d’água, Tirol

O morro branco que guarda
A areia preta do mar
Cidade alta de mágoas
Bom pastor a vaquejar

E a esperança que...



Ninguém Merece
( Marcondes Brasil) - Michelle Lima

Quem disser que está tudo bem
É porque já não tem coração
Basta olhar em cada esquina
Homens, mulheres meninas
Todos espalhados pelo chão
São pessoas inocentes
Dispersas do contingente
Por excesso de discriminação
Cada rosto uma história
Cada ruga um pesadelo
Desamparo, desespero distorção
Ninguém merece, ninguém merece não
Ninguém merece, ninguém merece não
São guerreiros desarmados
Que lutam desesperados
Pra sobreviverem mais um dia
à espera de um milagre
Que os libertem pra sempre
Dessa total, dessa total desvalia
Ninguém merece, ninguém merece não
Ninguém merece, ninguém merece não
Vivem como condenados
De um crime inexistente
Passam dia meses anos
Esquecidos impotentes
Tão dizendo que é normal
Isso muito me aborrece
É desumano, é imoral
É indecente ninguém merece
Ninguém merece, ninguém merece não
Ninguém merece, ninguém merece não



O Exterminador de Sentidos
(Romildo Soares/LupeAlbano) - Rodolfo Amaral

Você! Tem me levado em banho-Maria
Drogado nessa vidinha vadia
Relegado à taquicardia
Toda alegria do meu coração

Você! Na eternidade do meu dia à dia
Tem feito sopa da filosofia
Jogado muita água fora da bacia
Pra quem só queria teorizar o tesão

Refrão
Eu não! Eu quero o ouro do teu supra-sumo
Só quero o resumo da ópera
Eu quero fugir pra Europa
Eu vou inventar outro céu

Você! Tem que aprender a sangrar todo mês
Tem que saber se portar entre gays
Sem tentar embaçar meus canais
Com lições teatrais de pavor

No mais,
Em nome do exterminador de sentidos
Falseia dores, sufoca gemidos
Pelo prazer estreitamente vigiado do lado doído
De toda espécie de amor!

E a dor é só um conceito da nossa psique
É só pra quem ama e tem pique
Quiser ser feliz que se arrisque
Pra lá muito além do beleléu...

Refrão
Eu não! Eu quero o ouro do teu supra-sumo
Só quero o resumo da ópera
Eu quero sumir pra Europa
Eu vou inventar outro Céu



Santa TPM
(Franklin Novaes) - Franklin Novaes

Ela me disse que ia embora
Que não ficava mais aqui
Não era Amélia e nem Aurora
Que escala de mi tem la e si
Fala franco, sei não... Minha nossa!

E eu cá pensando, me perguntando
Se todo mês vai ser assim
E se tivesse um só kilinho de paciência para mim...
Eu fumava!
E ficava bem paciente a dizer: - Meu amor, fique...
Enrolava e fumava o kilo de paciência:
Um e mais dois fazem três e mais sete, dez
Quero onze, doze, treze, quatorze
Nunca mais, hoje, TPM.

Ah! Se um dia a TPM brigasse com o doutor “Piti”
E seu chilique fosse só truque
Perfeito pra me seduzir
É sim, é não... Quem me dera!
E se um kilo de paciência já não bastasse para mim
E eu me enervasse com a TPM,
Com a Santa e com o doutor “Piti”
Fala franco, sei não, me lascava!
Depois saía a buscar a paciência pra dois
Encontra e fumar outro kilo de paci...
Um, passe dois, passe três, três e mais sete, dez
Quero onze, doze, treze e quatorze
Nunca mais, hoje, TPM

... Meu coração não sei porque...
Quer onze, doze, treze, quatorze
Nunca mais, hoje, TPM


Tarde
(Nagério/ Tertuliano AIres) Carlos Bem

É tarde e eu não conheço a vida
Meu peito é uma ferida
E nunca mais vai sarar
Eu ouço seus passos

A tarde destino vem me buscar
Não tenho o que levar
Só um acalanto na fala
E o sonho na mala

A vida é um gole de cachaça
Sorte falta em meu caminho
E nunca que me guiou
A um ventre quente de amor

A dor faz parte da minha alma
E eu não tenho mais calma
De soletrar sofrimento
A margem da estrada

Viver nessa agonia constante
Destino de retirante
Acorde de uma viola
Que o vento devora

A tarde, a vida, a dor...


Volta
(Simona Talma/Khrystal) - Simona Talma

Esqueci teu sorriso, volta
Volta que eu gosto de me olhar
Por que te vejo em meus olhos
Volta que sinto a falta do meu, por favor!
Que
Eu tinha pressa o tempo todo
Agora eu durmo

Vem que só vejo resquícios
E eu quero tudo inteiro
Volta que eu não fotografei teus sentimentos
Que eu nunca tive esse letreiro
Anunciando o que é o amor.

por Alma do Beco | 11:40 AM | | Ou aqui: 0




quarta-feira, maio 24, 2006

DOIDO AO MAR!

Marcus Ottoni


"Ouvi [do senador Renan Calheiros] que seria muito difícil ter candidato por conta da verticalização. Saio magoado porque achei que podíamos sentar para conversar. Ele está inflexível."
Senador Pedro Simon, tentando construir sua candidatura à presidência pelo PMDB

Alex Gurgel

Fábio de Ojuara, depois do Salão da Capitania,
criou o movimento “Toda Merda Agora é Arte”

VIA DOLOROSA

Há dias
Que a inércia
Vence,
Me leva, me traz
Me abandona, me convence

Há dias
Que a iniciativa
Chama
Me assedia, me acorda
Me sacode, me reclama

Há dias
Que a realidade
Machuca
Me afronta, me encanta
Me saboreia, me espanta

Há dias
Que a hostilidade
Inspira
Me satura, me instiga
Me fatiga, me atormenta

Há dias
Que a inocência
Aparece
Me surpreende, me entende
Me alerta, me compreende

Há dias
Que o silêncio
Provoca
Me engole, me domina
Me vicia, me ilumina

Deborah Milgram


Caro Eduardo,

Vejo que o forró Eliniano está sempre pegando fogo. Que Bom!

Estou aqui na Itália, gravando mais um CD. Se chama “Mar”. Estamos em curso: violinos, violas, cello, baixo, percussão, coro, eu e o violão.

Canções minhas adormentadas nos cadernos que vou enchendo diariamente com notas e letras. Adotei a regra de pescar tudo. Às vezes, até cai peixe bom. O pessoal gosta e me anima a sair da minha rede em Cidade Verde, pra tocar aqui nos teatros de Trento, Roma, Nápoles, Riva del Garda e, logo em seguida, Nova Iorque, aonde me espera um lançamento de outro CD, que quase ficou na sucata das torres. Aquela estória: lagartixa adora escombros.

Reapareceu com direito a lançamento no Joe's Pub, em NY, e tour em agosto, em alguns estados dos Estados Unidos. Vamos lá: rede é bom, mas tem que trabalhar também, um pouquinho, noutros balanços ritmados pelo business, o qual, cada dia, me independentizo mais para poder voar e cantar realmente feito passarinho. Vou porque, afinal, os produtores rendem contas com as Cias. distribuidoras. Contudo, agora tô comendo macarrão do bom e vinho do bótimo aqui em Roma, que também é minha casa.

Este e-mail tá ficando ridiculamente grande e babado de babados chovinistas. Abraço procê. Obrigado pela new do beco.

Tico da Costa




CAR(NA)TÉIS

Alguns amigos, transeuntes
(e até personas de relação intermediada pelas parassimpáticas)
têm me perguntado por que não apresentei o MPBeco.

Declinei respondendo que nem sequer pude
comparecer a primeira classificatória
ou mesmo a posse dos confrades.
O fígado acusa esbórnias, boemias e farras homéricas (e precoces).
Assolado por cruel ressaca e delirium tremens
amarrei o bode e a dor-de-cotovelo da ausência.

Em verdade, não fui convidado pelo dileto amigo Dorilima
e acho que o brother Abadon
dá plena e performaticamente a conta do recado
ele, discípulo do poeta da praça (do poeta) Antônio Short
e cúmplice de histórias mis na Natalvesmaia.

Se convidado, também não sei se toparia.
Como ágora, desejo o Beco sem responsabilidades
ou preocupações organizacionais
out side levitante na lama.

Soteropolitanamente, seu Silvasaura Jabaquara Ululante matou a charada,
o apresentador foi imposição da Destaque
única exigência dos meninos do staff da governança
era essencial haver no palco a presença
de no mínimo um baiano.

Plínio Sanderson



O ROCK DOS GROGS, A BABA DO BÊBO E O MPBECO

Sábado, 19 de maio. Boquinha da noite. 2ª eliminatória do primeiro festival de Música Popular do Beco, o MPBeco. Pelo palco, estrelas regionais distribuíram brilhos e acordes. Sou suspeita para falar. Claro que os do peito ganhariam ovações. Mas, como não pude prestigiar as apresentações, não posso falar de preferências ou deferências. Apenas de encerramento.

E ele foi em alto estilo. O bom e velho rock and roll e seu antecedente e ainda vizinho blues agitaram a multidão que fez as estreitas adjacências do Beco ficarem mais estreitas ainda. Num cálculo aproximado, 2 mil pessoas compareceram e deram vida às velhas ruas do centro da cidade, causando um movimento completamente atípico para o dia.

Jovens de todas as idades, crianças, adultos, idosos, todos compartilhavam de uma alegria esfuziante, anárquica até. O território era liberdade. O passaporte poderia ser escolhido ao bel prazer: cerveja pra animar, pinga pra aquecer, meladinha pra lembrar Nasi, água pra naturalista, drink para a turista, coca-cola pra meninada, guaraná pra comemorar. E fumaça, muita fumaça: dos churrasquinhos de gato, dos cachimbos da paz, do cigarro cheiroso do rapaz, do cubano e do pernambucano. Os bares mostraram sua culinária pratodomundo. Som, risos, gritos, muita alegria, quase euforia. Todos se divertiam ao som d'Os Grogs. O casal maduro rebolava indiferente ao calçamento irregular; outro, mais verdoso, beijava-se com sofreguidão. Olhares cruzavam a distância qual flecha certeira, e, mesmo no meio de tantas luzes, o brilho do olhar conseguia distinção.

O Bêbado, anestesiado e desnorteado por tantos alcalóides, babou ao ver a moça bonita. A saliva escorreu reluzente e gosmenta no exato momento em que um raio de luz denunciou sua transparência. Num lapso de lucidez, olhou para os lados, conferindo se alguém percebeu. Ninguém viu, imaginou ele. Feliz por livrar-se do flagrante, caiu no rock, para, depois, muito doidão, cair no chão.

Jimmy Hendrix, Janis Joplin, The Doors e outros contemporâneos fizeram-nos fechar os olhos e lembrar de Woodstock. Epa! É apenas o Beco da Lama em dia de festa.

E que festa!

O poeta subiu ao palco e derramou poesia. Não foi entendido. Não é fácil entender poeta. Ora, e poesia numa hora daquelas? Difícil entender tais questionamentos.

Deus é denunciado por fumar seu baseado. Alguém sabia? Alguém viu? Claro. O sol é a ponta do seu baseado. Apologia? Não! Simples liberdade de expressão que não agradou aos cristãos presentes. A mesma liberdade que se revelou através das escolhas, dos estilos, das tribos reveladas numa noite colorida e repleta de sons e cheiros delirantes.

Que venha o sábado decisivo, com sua alegria e loucura ambulante. Das janelas do infinito, Raul, Cazuza, Bob e outros queridos participantes invisíveis assistirão extasiados a festa. Ao nosso redor, seres mil de universos paralelos vibrarão ao som da música e se alimentarão da nossa energia. Que ela seja da melhor qualidade!


Ana Cristina Cavalcanti Tinôco

RELAÇÃO DAS MÚSICAS CLASSIFICADAS PARA A FINAL DO I MPBECO - FESTIVAL DE MÚSICA DO BECO DA LAMA

(POR ORDEM ALFABÉTICA)

01 - A Filha da Lua (Yrahn Barreto)- Sueldo Soares
02 - Anglicana (Clésio Torres/Yrahn Barreto) - Lene Macedo
03 - Cultura (Neguedmundo)- Neguedmundo
04 - Jesuíno (Zé Fontes/Tertuliano Aires) - Zé Fontes
05 - Natália (Tertuliano Aires/Nagério) - Khrystal
06 - Ninguém Merece (Marcondes Brasil) - Michelle Lima
07 - O Exterminador de Sentidos (Romildo Soares/Lupe Albano) - Rodolfo Amaral
08 - Santa TPM (Franklin Novaes) - Franklin Novaes
09 - Tarde (Tertuliano Aires/Nagério) - Carlos Bem
10 - Volta (Simona Talma/Khrystal) - Simona Talma




Barrados: crítica da crítica II

O Beco da Lama é realmente uma escola. Foi de lá que veio estímulo, para rabiscar estas palavras mal rabiscadas (tá parecendo carta para namorada).

Lá no Beco, a galera dá uma corda amuada. Por isso, engoli corda. Não devia. Mas, agora, prova maior de nossa independência, devo um botijão de água mineral à Pinacoteca.

Mas, falando sério, Barrados, meu jovem, é, acima de tudo, uma mágoa. Porque quando, espontaneamente, o povo protesta, é vulgar ou magoado? Pensamento elitista Hein! Companheiro? Protesto soa melhor do que mágoa. Sabemos da independência e imparcialidade das comissões julgadoras do Salão de Arte de Natal. Artistas conceituados também sabem: por isso, também não participam.

A crítica maior dos Barrados (temos que explicar tudo) é a respeito do pequeno número de Salões oficiais oferecidos pelo “Estado” na cidade do Natal (dois). Essa foi nossa motivação maior. Pode ler no impresso da apresentação, no documento (ficha de inscrição) do Salão.

Pois bem, muito bem, nunca mais vi Carlinhos Bem: polêmica que não é alimentada pela imprensa, só a do casal que engatou no parque industrial. Discussão elegante (Hein!). É bom ser elegante, mas, a deselegância da Funcart enfureceu a todos. Nos dias de hoje, um órgão de cultura vergonhosamente empreendeu uma censura, no melhor estilo “ditadura militar”, contra um bando de pobres coitados.

O Napoleão III daqui ainda disse, na imprensa, que no seu “jornal” não saía nome da oposição. Mas, tudo isso, é pouca bobagem. Muita bobagem é comparar (pensando-se todas as circunstâncias?) Barrados com o “Salón des Refuses”.

Pra início de conversa, nos incluídos, também, Não tinha nada, nem de longe, que se comparasse a um “O Ateliê” de Gustave Courbet: dois pesos, duas medidas.

Ainda assim, nobre Vitoriano, não podemos analisar os Barrados no Salão 2006 sob pressupostos e contexto do século XIV. Aqueles dias eram dias de um mundo pré-industrial. Aqui, vivemos numa província de um mundo moderno, onde mais vale um vitoriano que um vitorioso. Brincadeirinha, não resisti ao trocadilho fulo. Refiro-me, mesmo, sobre àquela velha história do “QI” (quem indica).

Por tudo isso, valeu o Salão. Foi um pé no saco. Incomodou muita gente, que viu os proletariados excluídos, a classe poetaria, fazendo arte. No mundo de Velázquez, de Rembrandt, o vassalo também fazia arte ou não?

É isso aí: talvez no futuro, a exemplo dos excluídos de Paris, que só foram reconhecidos 200 anos depois, a gente também possa ser reconhecido como marco na História da Arte. Todavia, o futuro de nosso legado é duvidoso. A única certeza que temos é a de que os críticos do “Salón des Refuses”, esses, ninguém, nem mesmo o homem que sabe de tudo, sabe quem foram.

Além do mais, rapaz, no ano que vem, tem mais. Até lá, como tudo não é perfeito, vamos tentar corrigir os erros. Falhamos feio, pois a intenção pictórica era a de que figurasse, principalmente, “o mínimo de bom senso” e não a quantidade de artistas consagrados, que lá, na Pinacoteca, figuraram.

Franklin Serrão



CANÇÃO DO DESESPERO

Rasgaram a fantasia de menino e eu não posso mais voar com asas nos olhos. Retalharam-na sem dó nem piedade em tiras transversais no peito da esfinge. Logo essa à qual eu tanto amava e que me caía perfeitamente. Estou seminu, perambulando nas vagas da histeria, apanhando trapos entre sombras que me apontam o dedo, riem das minhas vergonhas expostas e gritam: "Idiota! Idiota! Idiota! Mil vezes idiota!".

O bodoque se quebrou, arranharam o disco de rock, Neruda sumiu na poesia do caos, sufocaram o sorriso de Eurídice nos lábios enrugados da falsidade. Tudo isso enquanto me arrancavam das entranhas da primeira e derradeira estrela - a fórceps - e o desprevenido Orfeu olhava para trás em desobediência aos deuses. Depuseram-me do trono na porrada. Perdi a coroa. Em vez dela, toneladas de silêncio no juízo.

Guardem os conselhos e as certezas num bornal de couro de lacraia prenha. Soquem-nos, se necessário, nas coxas dum buraco negro. Não me venham com ilusões vestidas de diamantes, esmeraldas, rubis ou luas cretinamente cheias que nascem nos braços da serpente, pois tudo é mentira. Enjoei, não cabem mais pedras na boca do meu estômago. Preciso de paz e tempo para digeri-las nos subúrbios do desespero.

Na madrugada de Pasárgada, somente putas tristes feridas na face pela gilete das horas desfilam nas ruas do Alto do Louvor reacendendo pegadas ancestrais de outras damas. Momento infértil para a traição, para a vingança. Possuir a mulher que eu quero na cama que escolherei é metáfora do desejo impossível porque o desejo tornou-se matéria morta na consciência do pobre anjo barroco que despencou do céu.

Doido ao mar! Lancem a bóia de fantasias! Desistam, talvez seja tarde para o resgate. Parece que a treva venceu a última canção na luta contra o fogo. Triste fim da alma no oceano habitado pelo mostro de olhos verdes. Apesar da alegre menina na radiola de ficha do convés, a tristeza é maior que o perdão. Se há brecha no orgulho, o amor não a encontrou e também morrerá na tempestade do velho copo d'água.

A noite embarcou nos braços do pesadelo, mas a memória das estrelas continua a correr em veias de PVC. Criaturas ainda guardam mistérios entre as pernas, a espera de alguém capaz de desvendá-los. Ainda há cadeiras nos bares, garçons amigos chorando uísque no copo nosso de cada dia e garçonetes videntes, tradutoras de corações, afirmando que "nasci para pregar o amor, não para vivê-lo cem por cento".

Cid Augusto

por Alma do Beco | 8:08 AM | | Ou aqui: 0




terça-feira, maio 23, 2006

ELINO SEMPRE

Marcus Ottoni


Franklin Serrão
Franklin Serrão

"Avisa ao pessoal de casa queu fui mandar brasa com o senhor São João."
Elino Julião



Elino, sempre!

Levar Elino Julião ao Beco da Lama foi minha maior alegria enquanto diretor executivo da Sociedade dos Amigos do Beco da Lama e Adjacências. Maior ainda por representar um desafio, aos olhos de muitos, intransponível: levar público ao centro de Natal durante uma passagem de ano.

Para mim, aquele evento seria, se alcançado sucesso, a porta aberta para a realização do I Carnaval do Centro Histórico.

Quando, durante a segunda etapa do Pratodomundo, o Festival Gastronômico do Beco da Lama, o secretário de turismo da cidade, Fernando Bezerril, trouxe-nos a notícia de que podíamos anunciar a realização do ‘Réveillon do Beco’, não tive outra reação: dessa vez trazemos o maior forrozeiro vivo do Nordeste para uma apresentação aqui.

Elino era a única garantia de sucesso, se pensássemos em atrações com artistas norte-riograndenses. Era o nosso maior nome. O que representava o que de melhor tínhamos em nossa música. Não podia ser outro.

Porque Elino era, e continua sendo em sua música, pura alegria. Um menino que trouxe no sangue o vírus da música de sua terra. Uma caixa de fósforos bastava como acompanhamento. Ou só as palmas das mãos. Bate aqui, bate ali, abria a voz e a música fluía fácil de sua alma. E vinha o puladinho que o acompanhava em todas as apresentações. Puladinho que puxava o ritmo, que trazia a coreografia que caracterizava o seu forró mais genuíno de pé-de-serra: sanfona, pandeiro, zabumba e triângulo.

Da combinação destes instrumentos com a voz de Elino, estava servida a melhor receita do som do nordeste. E como Elino contagiava! Como, além de alegre, era bem humorado em sua música! E como cantava com amor a sua terra, seja o Seridó, seja Natal ou o próprio RN, o Nordeste, o Brasil!

Sim, porque Elino representava e representa o que de melhor temos de Brasil e de música brasileira. Até na picardia. Na pulha nordestina.

Os temas de Elino podiam ser o São João ou próprio forró, como o rela-bucho de tanto sucesso interiores afora. Podia ser a cidade e seus logradouros, como no Forró da Coréia.

Quando anunciei a programação que propúnhamos para o Réveillon, chamaram-me de doido: Forró em plena passagem de ano?

Forró, sim. Forró de Elino Julião.

Tomei coragem e telefonei para ele.

Como dizem os daqui: pense numa conversa gostosa! O homem era pura simpatia. Que energia transmitia em cada palavra!

Ah, Elino! Sei ser fácil em palavras e gestos como você, não. Deixo aqui, entre os que ficaram, mais que uma palavra de saudade e homenagem. Deixo uma palavra de agradecimento por você ter-nos feito felizes em tantos momentos, e por toda essa vasta obra que continuará para sempre, com grande alegria, invadindo os sertões nordestinos e brasileiros.

Sei que você merecia muito mais do que teve em vida. Mas também sei que você partiu feliz por ter deixado tudo o que deixou. Especialmente o ritmo alegre e o jeito feliz que foi você e todas as suas composições, até nas debochadas, todas, sempre, cheirando a povo. Povo do Nordeste do Brasil.

Obrigado, esse menino de Timbaúba. Valeu!


Eduardo Alexandre



Calou-se Elino Julião!

Morreu um dos últimos grandes cantores da música nordestina. Elino Julião com seu canto sagrado já não embelezará a vida dos que se orgulham de terem nascido sob o sol causticante dos sertões. A MPB fica com menos poesia, com menos gorjeios, com menos graça. Todos nós que nos encantamos com essa estirpe nobre, computamos outra baixa, o exército dos cavaleiros inspirados por Miguel de Cervantes, chora mais uma despedida.

Elino faleceu no sábado (19) e foi sepultado anteontem, com certeza sem as honras merecidas, com um toque de quase silêncio. Certamente em uma campa sem plumas e sem paetês, mas rodeado dos anjos tortos que se negaram a ser gauche na vida. Foi juntar-se a Jackson do Pandeiro, Gordurinha, Lindú, Ary Lobo e Luiz Gonzaga. Foi ter com o Divino, oferecer-lhe seu canto de ave sagrada.

Nascido no município de Timbaúba dos Batistas, fronteiriço com o sertão do Rio Grande do Norte, nas beiradas dos rios mortos. Gravou mais de 40 discos, entre todos os formatos, sendo que um deles marcaria sua carreira: “O Canto do Seridó”, já na fase do CD, cantando em dueto com estrelas como Fagner, Lenine, Dominguinhos, Elba Ramalho, Marinês, Maciel Melo, Silvério Pessoa, Tetê Espíndola e Ná Ozzetti. Diversas gerações da Música Popular Brasileira decente e pura, saudando uma garganta bendita capaz de me embalar nos bosques férteis da minha alma cansada.

Cantor de qualidades diversas, Elino Julião era compositor não menos genial. Escreveu obras como “Amor Enchucalhado”, “Tamarineira”, “Presente de Papai Noel” e “Relampiou”. Emplacou o sucesso “Rabo do Jumento”, que embalou muitos forrobodós nos chãos de latada desta nação nordestina. Herói. Sim, herói Julião. Se não das ligas camponesas, das ligas quixotescas musicais. Herói entre heróis.

Recomendo a quem puder a aquisição dos CDs “O Canto do Sertão” e “O Canto do Sertão 2” tentando o endereço eletrônico: mensagens@candinhabezerra.com. Todo esforço será recompensado com uma música de fino humor e de musicalidade tão plena quanto viçosa. Lá vamos nós, chorar mais um morto. Nós que empunhamos as armas poéticas e os ritmos soberanos, na luta contra a prostituição do meio musical nordestino.

Perdemos Elino Julião. Enquanto isso, sobrevivem os canalhas que engendram bandas e mais bandas asquerosas, deturpadoras do forró. Vivemos a era dos arremedos, era da falsidade, das mentiras. E, enquanto nos enlutamos de um artista do porte de Elino, um punhado de calhordas analfabetos engordam suas contas bancárias rebolando as nádegas e vomitando a decadência cultural e moral, sim, senhor, sobre nossas cabeças.
Vai lá, Elino Julião! Canta para Deus! Ficamos aqui mais tristes e mais desamparados, mas não deixaremos esses moleques travestidos de grupos musicais nos fazerem de trouxas.

Até a vista!

Ricardo Anísio



Nota musical de falecimento
Jornal de Hoje, 22.05.06

“Eu vou ali fazer uma viagem
cadê coragem pra me despedir
não quero ir, meu Deus peço socorro
eu sei que morro de saudade do Siri.”

(Elino Julião, Siri Siridó, 1976)

Eu havia acabado de deixar a sessão de “O Código Da Vinci”, no Praia Shopping, pouco antes das 22 horas, e fui para uma resenha em Ponta Negra com Jacqueline, Ailton Medeiros, Jener Tinoco, Robinson Faria e sua mulher, Julianne. Nem tinha tomado o primeiro gole de guaraná e o telefone toca. Ouço a voz do produtor cultural Zé Dias. Pensei: lá vem sacanagem (aquele papo de uso do cachimbo faz boca torta).

Mas diferente de todas as outras milhares de vezes em que a voz de Zé vem carregada de provocações ideológicas (quando o assunto é Lula), zombarias futebolísticas (quando há derrotas - perdão da redundância - do Botafogo) e vibrações musicais (quando é o caso de sucesso de algum artista local), daquela vez o timbre era de tristeza. Falando num compasso de marcha fúnebre, ele avisou: “Elino Julião acabou de morrer”.

Minha cabeça rodou e me levou de volta à estreita travessa Mário Lira, nas Quintas, quando a partir dos anos 1960 aprendi a gostar das canções de Elino, tocadas numa constância em todas as rádios de Natal e do interior. Sempre que quero viajar àquele passado lúdico, coloco no CD do carro sua coletânea com o melhor daqueles anos: O Rabo do Jumento, de 1967, Puxando Fogo e Xodó de Motorista, de 1970, A Festa do Senhor São João, de 1973, e Na Sombra do Juazeiro, de 74.

Se a vida fosse um filme, e o gênero fosse bang-bang (quem disse que não é?), Elino seria o meu Ennio Morricone, o compositor de temas dos melhores filmes do diretor Sergio Leone. Suas canções funcionam como trilhas de bons tempos, cada uma delas rememora períodos da minha infância e adolescência. Quando tive o privilégio de gozar da sua amizade, coisa rara entre ídolos e tietes, contei-lhe sobre isso. Ele expressou um orgulho que era para ser só meu. O poeta Graco Medeiros, meu mano, ficou lhe devendo a promessa de me levar para um palmo de prosa em sua casa, como ele queria.

Elino também foi trilha sonora das emoções da Copa do Mundo de 1970, quando seus clássicos foram sucessos em todos os campos radiofônicos do Brasil. Nenhum som me lembra mais aqueles instantes do que Xodó de Motorista, um forró pisado numa seqüência rítmica que mistura lirismo e linguagem popular, numa métrica de soneto aleijado. Naquele tempo, o “quadrado mágico” era formado por ele, Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro e Marinês.

Elino Julião está para a cultura do Rio Grande do Norte como Jackson para a da Paraíba. Sua carreira e discografia são marcas de um artista com fôlego musical e atemporal. Seu forró é original como o trio de instrumentos que agora experimenta ressurreição nos salões de dança, aquele que foi destaque até no “The New York Times”. As louras que hoje rebolam cantando letras ridículas em forrós pasteurizados não amarram a chinela da “deusa do Mercado José”.

Elino se foi como um pássaro cantante. Morreu na sua estação preferida, a estação das sanfonas, dos arrasta-pés, das fogueiras, dos balões, das canjicas. Elino não vai mais amanhecer o dia na festa do Senhor São João, em Mossoró. Mas em sua memória, vamos todos mandar brasa, pois ele gostava mesmo era de animação. Agora, cada vez que meu filho de nove anos pedir para ouvir “O Rabo do Jumento”, eu vou morrer de dor. E por favor, avisa ao pessoal de casa: quem esquecer Elino Julião é um filho de goiamum.

Alex Medeiros


Morreu cantando...
Jornal de Hoje, 22.05.06

O natalense acordou hoje com o céu nublado, com chuviscos que representavam o sentimento de perda daqueles que se despediam de um dos maiores ícones da cultura popular brasileira. O forrozeiro Elino Julião faleceu no último sábado, por volta das 21:30 horas, e desde o começo da tarde de ontem estava sendo velado no Palácio da Cultura.

Às 8 horas da manhã, fãs, familiares e amigos se aglomeravam ao redor do caixão que mostrava o semblante de Elino Julião que, assim como em vida, transmitia paz e a alegria. A missa de corpo presente foi presidida pelo padre Antônio José, que enfatizou que naquele momento estavam celebrando a vida e não a morte. O acompanhamento musical foi feito pelo grupo de forró pé-de-serra "Meirinhos do Forró" que, além das canções litúrgicas da celebração eucarística, homenagearam o cantor e compositor com as músicas "O cajueiro de Pirangi" e "O rabo do jumento", ao lado do flautista Carlos Zens.

Elino Julião faleceu aos 69 anos, em um dos melhores momentos de sua carreira e se preparando para a época do ano que mais amava, o São João. No seu velório, estiveram presentes diversos parentes de uma grande família. Elino Julião teve 14 filhos, sendo três deles com a cantora Lucimar. Ela conta que conheceu o cantor em Campina Grande, sua cidade natal, e que aos 16 anos, já como cantora, fugiu com ele para o Rio de Janeiro. "Vivemos 29 anos juntos, cantamos muito e tivemos três filhos, Elino Julião Júnior, 26, André, 25, e Priscila, 19. Soubemos que Elino tinha falecido às 4:00 horas da manhã do domingo. Tínhamos acabado de chegar de um show dos meninos que têm um grupo de forró chamado 'Os manos' e viemos direto para cá", revela.
Elino Julião Júnior também é professor de Educação Física e era o mais emocionado dos filhos. Ao chegar perto do caixão, conversou com o pai, segurando sua mão. Disse que guardava tudo o que tinha recebido dele, como uma chuteira, e, bastante trêmulo, pedia para que o pai não o deixasse. Amparado pela família, Júnior foi levado para perto dos irmãos, André e Priscila, para tomar um pouco de água e tentar se acalmar diante da perda.

Segundo André, que é jornalista e pretende estudar Direito, além de seguir a carreira do pai, a agenda de shows tanto do grupo que mantém com os irmãos, como a do pai, dificultava o contato entre eles. "A última vez que o encontrei foi no São João de 2004. A Paraíba está em luto por causa da morte do meu pai, ninguém esperava porque ele estava em um momento muito bom da carreira dele. Ele esteve em Campina Grande semana passada, mas não nos falamos", lamenta.

Lucimar explica que as divergências existentes entre ela, os filhos e a atual família de Elino Julião tornaram a convivência difícil. "Há 7 anos ele não via Júnior e Priscila. Mas tivemos muitos momentos bons e agora o que queremos é perpetuar o que ele deixou. Dos anos que vivemos juntos, além de termos em comum o amor pela música e cantar, tivemos quatro filhos, mas o mais novo, João Paulo, morreu aos 8 meses. O céu nublado de hoje foi em homenagem a Elino Julião que adorava a chuva", diz.

Maria Veneranda de Araújo, atual mulher de Elino Julião, ressalta que morte do marido aconteceu no auge de sua carreira. "Ele conseguiu assumir a paternidade das suas mais de 400 obras, inclusive muitas que as pessoas até hoje não sabem que são dele. Agora vivemos um momento de perda de um dos maiores incentivadores da cultura popular.

Nos últimos dias ele soube que seria homenageado pela Prefeitura de Natal durante o São João deste ano, e gravou um documentário pela TV Globo Nordeste (que será transmitido no dia 17 de junho) no qual reconstruiu sua trajetória e contou como era sua vida em Timbaúba dos Batistas, quando cantava e tocava batendo em lata, depois fugindo em um caminhão para Natal, a amizade com Jackson do Pandeiro e depois o seu auge tocando com Dominguinhos no Forró da Lua, no último dia 13. Ele também estava lançando o CD 'Dentro do Movimento', todo produzido cuidadosamente por ele. E ainda estava em estúdio gravando outro disco", conta Veneranda, que também é compositora e costumava fazer a divulgação de todos os trabalhos do marido. "Ele morreu nos meus braços e de Arakém, minutos depois de ter me pedido para que ficasse com a aliança dele 'pois ela estava folgada'", relembra a viúva.


O último adeus ao forrozeiro

Músicos, produtores culturais, artistas, políticos e populares. Todos juntos em torno de um mesmo nome: Elino Julião. O músico, cantor e compositor que na década de 60 conseguiu um espaço nas rádios do país graças ao poder de sua música. A última homenagem, de corpo presente, feita ao ícone do forró pé-de-serra foi durante o seu velório, realizado ao som da música que ele tanto amava.

O produtor cultural Zé Dias enfatiza que a morte de Elino Julião representa a perda do último cantor nordestino popular que fez o rádio se render ao seu talento. "Depois de ter conquistado o sucesso nos anos 60, Elino foi esquecido, caiu no ostracismo na década de 90 e no começo dos anos 2000, Dácio Galvão, Candinha Bezerra e Marcos Lopes (idealizador do Forró da Lua) se uniram para resgatá-lo, colocando-o de volta no lugar de onde ele jamais deveria ter saído, perto do povo. Elino foi do mesmo tamanho de nomes como Jackson do Pandeiro e Luiz Gonzaga, que também foram seus parceiros. A obra dele está acima da média e não há dúvida de que estamos órfãos", diz.

A cantora Khrystal esteve no velório e, bastante emocionada, lembrou o show do reveillon deste ano do Beco da Lama, no qual dividiu o palco com Elino Julião. "Ele era a tradição da música nordestina e agora a fórmula acabou. Somos os responsáveis por levar tudo isso adiante, cada um a sua maneira. Sempre fui louca por ele, vou lançar meu novo CD em julho e nele gravei uma música dele, o 'Forró da Coréia', mas como minha música é uma mistura de rock com forró, e por isso meio psicodélica, ficava me perguntando se Elino iria gostar. Infelizmente não deu tempo dele ver", lamenta.

O presidente da Fundação Capitania das Artes (Funcarte), Dácio Galvão, afirma que o Brasil acaba de perder o último representante de uma geração da elite do forró. "Ano retrasado faleceu Jacinto Silva que foi parceiro de Elino. O trabalho dele sempre teve consistência, assim como o de Jackson do Pandeiro e Luiz Gonzaga, e exatamente por isso trabalhamos para traze-lo de volta ao cenário musical em um momento em que ele estava completamente excluído. A Prefeitura realizou a gravação de dois CDs dele, o 'Canto do Seridó' I e II, com a participação de nomes como Elba Ramalho, Zeca Baleiro, Lenine, Xangai, sanfoneiros como Toninho Ferragui, além do reencontro com Dominguinhos. Todos esses artistas se entregaram ao projeto pela pessoa de Elino e não pelo cachê. Esta é sem dúvida uma grande perda, tanto local como nacional", enfatiza.
A Prefeitura de Natal vai homenagear o forrozeiro no São João deste ano. De acordo com o prefeito Carlos Eduardo, durante o lançamento da festa, 20 dias atrás, Elino dançou e cantou muito ao receber a notícia. "Ele estava muito feliz com a homenagem, mas, infelizmente, agora será póstuma", observa.

Durante a missa, alguns fãs choravam bastante, como Cléofas Caldas, 45 anos. Natural de Assu, ele afirma que acompanhava o forrozeiro desde a infância. "Tenho diversos discos dele e sua morte é como se estivesse ficando órfão, culturalmente mais pobre". O mesmo sentimento carrega sua mulher, Zelda, que por influência de Cléofas passou a admirar o trabalho de Elino Julião. "Ele é um artista que merece a homenagem que está recebendo, mas infelizmente somos da terra do 'já teve' que espera as pessoas morrerem para lembrar o que elas fizeram", afirma.

Lainês Batista de Araújo, 74 anos, é de Timbaúba dos Batistas - terra natal de seu ídolo. Durante o velório permaneceu ao lado do caixão e seguiu, com o primo, José Gerson de Araújo, para o enterro realizado no Cemitério Morada da Paz, em Emaús. "Acompanhava o trabalho dele, somos conterrâneos. Fiquei bastante emocionado ao saber da morte dele e não poderia deixar de vir aqui, gosto muito dele e lembro que quando ele trabalhava no sítio do prefeito, lá do município, ele via se ia chover quanto relampejava e por isso escreveu aquela música 'Relampeou'. Uma pena não terem cantado hoje", disse enxugando as lágrimas.

Élida Mercês



Elino cala, o sertão chora
Diário de Natal, 23.05.06

Expressão maior da música norte-riograndense, Elino Julião da Silva deixa uma imensa obra musical construída em mais de 50 anos de carreira. O artista, falecido na noite do último sábado, gravou 48 Lps e nove CDs,compôs até seus ultimos dias cerca de 400 canções entre forrós, xotes, baiões, xaxados, marchas juninas, baladas e até um rock (Rock do Camelo). Gravou ainda cerca de 300 canções de outros autores. Mas foram os clássicos Rabo do Jumento, Xodó do Motorista, Na Sombra do Juazeiro, Filho de Goiamum, O Burro e Forró da Coréia e A festa do Senhor São João que o elevaram à condição de mito, tal qual o paraibano Jackson do Pandeiro de quem foi ritimista e amigo.

Nascido em Timbaúba dos Batistas, Seridó, em 13 de novembro de 1936, Elino Julião da Silva era filho de Francisca Augusta, uma lavadeira que ajudava a na criação de treze filhos. O pais, Sebastião Pequeno, era tocador de cavaquinho e concertina. Ainda criança trabalhou como carregador de água e alegrava os habitantes da fazenda onde morava cantando e batendo em latas as músicas que aprendia nas festas de Sant’Ana em Caicó.

Rádio Poti

Aos 14 anos veio para Natal de carona e foi morar com uma tia no bairro das Quintas. Logo estava participando do programa Domingo Alegre, apresentado por Genar Wanderley na Rádio Poti. Obteve reconhecimento. Na emissora, cantava Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro e outros. Padre Eymard Lérecat Monteiro, amigo da família, o ajudou nos estudos à noite no Colégio Marista

Foi também na Poti, segundo relatou à revista Brouhaha em sua última entrevista, que conheceu Jackson do Pandeiro, após apresentar-se no auditório da emissora. O paraibano convidou Julião para juntar-se ao seu grupo. O ingresso definitivo só se daria no ano seguinte após Elino cumprir o serviço militar. Foi para o Rio de Janeiro onde passou oito anos na banda tocando triângulo e pandeiro e percorrendo todo o país.

Incentivado por Jackson gravou o primeiro disco em 1961, na gravadora Chanticlê, que além dele, lançou à época Noca do Acordeon, João Silva, Geraldo Nunes, Mineiro e Teixeirinha

Despertou a atenção da Phillips/Polygram e posteriormente da CBS, nesta graças ao interesse do produtor Abdias Filho, marido de Marinez e sua Gente, responsável pelo cast nordestino da gravadora Foi aí que compôs os sucessos - Relabucho (interpretado por Sebastião do Rojão), A festa do Senhor São João, Xodó do motorista (‘‘não há quem resistas/ser motorista sem ter um amor’’) e Puxando fogo, as duas últimas o promoveram bastante como intérprete com presença freqüente em emissoras de TV e Rádio.

Em meio ao sucesso saiu do Rio e foi para São Paulo trabalhar com Pedro Sertanejo (pai de Oswaldinho do Acordeon), permanecendo por seis anos. Luiz Gonzaga estreou o show Chapéu de couro na TV Cultura e o convidou para trabalhar como ritmista. Nesse período o seridoense morou com o Rei do Baião e seu irmão Zé Gonzaga.


Homenagem ao Cantor do Seridó

Uma homenagem especial a Elino Julião marca o projeto Seis e Meia desta noite. O cantor Romil Soares, atração potiguar cantarça canções do autor de Rabo do Jumento. O último show do mês de maio do projeto Seis & Meia terá a cantora mineira Maria Alcina que interpretará sucesso nas décadas de 70 e 80

O show começa às 18h30 e os ingressos estão sendo vendidos na bilheteria do Teatro Alberto Maranhão ao preço de R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (estudantes e idosos).

Completando 25 anos de Carreira, o show de Romildo terá a participação de Pedro Mendes, Geraldo Carvalho, Valéria Oliveira, Khrystal. Na banda estão os músicos Paulo Brunis e Riva (guitarra),Ranier (baixo), Juquinha (bateria) e Gabriel Souto.

Maria Alcina é mineira de Cataguases. Foi para o Rio de Janeiro em 1972 decidida a seguir carreira como cantora, fazendo sua estréia no Maracanãzinho vencendo um festival com a música “Fio Maravilha‘‘, de Jorge Benjor. Com voz grave e estilo irreverente, chegou a ser comparada a Carmen Miranda pelo guarda-roupas escandaloso. Fez sucesso em 1973 interpretando “Alô Alô‘‘, samba de André Filho consagrado por Carmen.

Alcina sempre incluiu em seu repertório músicas dos ícones do rádio, como Marlene, Emilinha Borba, Aracy de Almeida, Bando da Lua, Lana Bittencourt e Carmen Costa. Outro de seus maiores sucessos, em 1974, foi “Kid Cavaquinho‘‘, de João Bosco e Aldir Blanc.

Depois de um período longe das gravações e palcos, gravou em 1992 o disco “Bucaneira‘‘. Mais tarde, em 1995, foi ao Estados Unidos participar de uma homenagem a Carmen Miranda.

Atualmente lançou um CD ao lado do Grupo Paulista Bojo e tem se apresentado com o show ôAlmas femininas‘‘, que é um homenagem as grandes intérpretes. Este será a base do seu repertório para a apresentação do Seis & Meia desta terça-feira, além de sucessos consagrados na sua voz.



No Forró da Lua, o último show

Baiano Fotografia/Divulgação

O último registro fotográfico de uma apresentação de Elino Julião foi realizado no dia 13 de maio no Forró da Lua

A lua tomava conta do céu quando Elino Julião subiu no palco pela última vez. O calendário marcava 13 de maio. Cheio de vitalidade, ele parecia estar adivinhando que seria a sua despedida. Em um momento de grande felicidade, tanto profissional quanto pessoal, a sua música convidou casais para lotarem o salão do Relabucho, construído em sua homenagem no conhecido Forró da Lua, na Lagoa do Bonfim. Quando entrava em cena ele voltava a infância, pulava, cantava e dançava muito. A sua maior alegria era ver o salão repleto de gente dançando. Depois de sua apresentação ele cedeu o palco para o amigo Dominguinhos. "Foi um sucesso", afirmou Marcos Lopes, proprietário do local.

"Naquele dia ele estava muito feliz. Todos os músicos se cansaram e ele não. Ainda voltou para o palco para fazer uma participação no show de Dominguinhos", acrecenta o periussinista de sua banda, Michel Artur de Miranda. Marcos Lopes lembrar de uma conversa com Dominguinhos, em sua casa, ‘‘ele lembrando que tocou com Elino no início de sua carreira. Eles eram amigos e quando liguei para Dominguinhos para dar a notícia ele se emocionou’’

Lopes, que é fã e conhecedor da obra de Elino, fará uma homenagem ao forrozeiro no próximo Forró da Lua, em 10 de junho. "Vou pedir aos sanfoneiros de Natal que façam um repertório em cima das músicas de Elino. Ele era uma pessoa muito humilde, muito simples. Uma pessoa excelente. Era a maior representatividade da música de raiz do nosso estado".


Grandes gravadoras e discos independentes

Elino Julião permaneceu 23 anos na CBS e seu contrato terminou devido a uma política da gravadora que passou a previlegiar cantores estrangeiros em detrimento dos artistas regionais.

A partir dos anos 80, já definitivamente consagrado em toda a região, passou a gravar num esquema independente, priorizando apresentações em cidades do interior do Nordeste, principalmente no período junino. Apresentou-se em todos os estados brasileiros divulgando a raiz da música nordestina. Nunca parou de compor.

Em 1997 voltou a se fixar em Natal em uma casa em Cidade Satélite. ‘‘Eu enjoei do Sul e descobri que poderia morar em qualquer lugar trabalhar’’. Costumava a dizer. Gravou dois discos - O canto do Seridó e Canto de Seridó , produzidos pelo Projeto Nação Potiguar com a presença de artistas como Marinês, Fagner, Dominguinhos, Tetê Spíndolla, Ná Ozetti, Lenine, Xangai, Oswaldinho do Acordeon, entre outros. Nos últimos anos sua produção alcançara dimensão internacional chegando a países de língua portuguesa como Portugal e Angola e também à Bélgica, graças a participação de Elino no evento Brasil 500 realizado em Lisboa em 2000.

Inúmeros artistas gravaram suas canções: Luiz Gonzaga (Meu Saudoso Ceará). Jackson do Pandeiro (Na Bodega do Expedito), Anastácia, Geraldo Correia, Abdias, Genival Lacerda, Inezita Barroso, Coronel Ludogero, Zé Gonzaga, Dodô e Osmar, Jorge de Altinho,Marinês, Trio Nordestino, Sebastião do Rojo, Marinalva, Capilé, Lenine, Elba Ramalho. Zeca Baleiro, Xangai e Fagner Chico César, Silvério Pessoa.


Entre a sanfona de Gonzaga e a poesia de Jackson

Elino Julião é daqueles artistas onde o destino parece ter assentado como sina em sua vida. Não por ser nordestino. Talvez por ser natalense. O que mais os artistas populares locais reclamam, muitos donos de talento digno de reconhecimento mundial, é a falta de bairrismo dos potiguares. Pernambuco fez conhecido Luiz Gonzaga: fez conhecido o nordestino. A Paraíba distribuiu a poesia de Jackson do Pandeiro, a voz "arrochada" de Marinês. No Ceará, uma "turma" de artistas também se projetou nacionalmente.

Em Natal temos Elino Julião. E se ele debandou-se para o sul logo cedo, ainda nos anos 50, não foi por causa da seca, mas por falta de espaço nas rádios locais. O reconhecimento de seu trabalho em sua terra natal foi tardio. Não tem 15 anos. E foi pouco para a grandiosidade de sua obra. São 48 LPs e nove CDs gravados. Quase 400 composições. Um de seus clássicos foi gravado por Jackson do Pandeiro (Na bodega do Expedito). Mas muitos foram os intérpretes – aqueles cantores que sabem reconhecer uma boa música – que adotaram suas composições: Chico César, Silvério Pessoa, Marinês, Zeca Baleiro, Dominguinhos.. a se perder de conta.

Seu último CD, ainda inédito, intitulado Dentro do movimento traz alguns desses clássicos, além de quatro músicas inéditas: Meu novo caso, Embalo pé de serra, O sapo e a faixa que dá nome ao CD. Todas composições próprias. Todas ainda fiéis ao ritmo que adotou em seus mais de 50 anos de carreira. Letras simples a contar causos, costumes, cenários, alegrias e tristezas de ser sertanejo; do ser nordestino. Em Embalo pé de serra, ele diz: "Eu vou voltar pra minha terra/ Meu pé de serra/ Onde eu tenho alegria/ Eu sempre gostei dessa cidade/ Mas nunca encontrei felicidade".

É que Natal não é mesmo bairrista (será mesmo defeito valorizar o talento local?). Quando da notícia de sua morte, ouvi muitos perplexos a perguntar: "Quem é esse?". E como Elino Julião ainda temos alguns ícones, dignos de melhor reconhecimento e incentivo. No forró pé de serra ele foi o último, talvez do Nordeste; uma linhagem de bambas que se encerra aqui, em Natal.

Cultura perde Elino Julião

Carlos Santos/DN

Fãs, amigos e familiares em oração

Morreu por volta das 21h30 de sábado, aos 69 anos, o cantor e compositor Elino Julião. Ritmista de Jackson do Pandeiro e parceiro de nomes como Luiz Gonzaga, Dominguinhos e Inezita Barroso, Elino Julião da Silva foi vítima de um aneurisma cerebral. A morte de um dos maiores ícones da música popular brasileira comoveu grande parte da cena cultural do Estado, que compareceu ao Palácio Potengi, durante a tarde e a noite de anteontem, onde foi realizado o velório do cantor.

Pai de 14 filhos e casado há 10 anos com Maria Veneranda de Araújo, Elino Julião teve como últimos trabalhos autorais gravados as canções Embalo pé de serra, Dentro do movimento, O sapo e Meu novo caso, que fazem parte do CD Elino Julião dentro do movimento, 49º disco do músico, que, em 53 anos de carreira, compôs mais de 400 músicas. Somadas às interpretações, esse número ultrapassa a marca dos 700 trabalhos, gravados, muitas vezes, em parceria de músicos como Joca Costa, Jubileu Filho, responsáveis pelo arranjo de obras de Elino Julião.

A última apresentação de Elino, foi no dia 13 de maio, no Forró da Lua, ao lado de Dominguinhos. Homenageado com o título de cidadão natalense, concedido pela Câmara Municipal, em novembro de 2005, Elino Julião morre em casa, quando assistia à TV. O cantor, segundo disse a viúva Veneranda de Araújo à reportagem do Diário de Natal, sentiu fortes dores de cabeça e caiu da cama, repentinamente.

"Ele teve uma reação súbita. Ele caiu da cama, aí levantou. Ele teve um dia muito alegre ontem, passou o dia todo cantando. Embalou uns 12 discos para entregar nas rádios. Em seguida, ele avisou que estava com muita dor de cabeça de ar. Fizemos massagem e respiração boca a boca. Ligamos para o 192, mas quando o Samu chegou ele já tinha morrido", contou Veneranda.

Nascido em Timbaúba dos Batistas, Elino Julião foi tema de dois cordéis: O forrozeiro do sertão, obra de Chicó Gomes; e Mil reis do forró, de autoria do poeta Bob Motta, integrante da Academia de Trovas do Rio Grande do Norte e um dos primeiros a chegar ao Palácio Potengi, para dar o último adeus ao "meu parceiro véi, que vi pela última vez em novembro". O poeta classificou o episódio que marca a perda de Elino Julião como 'inavaliável'. "Não dá para imaginar alguém, mesmo com tantos outros bons artistas, que ocupe o espólio cultural desse homem", comentou Bob Motta.

Em 13 de maio foi entrevistado no programa especial de aniversário de um ano do Toque de Rádio, veiculado na Rádio Poti. Bob Motta o conheceu em Campina Grande, nos idos da década de 1970, no Forró do Zé Lagoa, no Auditório da Rádio Borborema. "Meu pai tinha propriedade por lá e eu, que vivia mais no meio do mato, gostava também de ir ao Forró do Zé Lagoa", lembrou o poeta. Além dele, outro que chegou ao Palácio Potengi muito antes das 17h44 - momento exato da chegada do corpo -, foi o cantor e compositor Chiquinho do Acordeon.

Coincidentemente, ele tocou seis músicas de Elino Julião, na noite em que o mesmo morreu, em meio à uma apresentação realizada no Circuito Estadual de Exposições Agropecuárias, em Caicó. Dentre elas, estavam obras como Na sombra do juazeiro e Rabo do jumento. Elino Julião ainda compôs sucessos presentes no imaginário popular, como é o caso de Na minha rede não, Filho de goiamum e Forró da Coréia.

Em sua agenda, estavam previstos shows em Timbaúba dos Batistas, em 15 de junho, na Casa de Cultura Elino Julião; em Mossoró, durante o Mossoró Cidade Junina, no dia seguinte e em Campina Grande, onde há mais de 20 anos ele participa do São João. Em 22 do próximo mês, ele tocaria ainda em Sítio Novo, e, dois dias depois, em Natal.

VELÓRIO

"Elino de Natal, Elino do Rio Grande do Norte, Elino de Timbaúba, Elino do Nordeste, Elino do Brasil, Elino do Rabo do Jumento, Elino do Rela Bucho, Elino da Coréia. Elino não morreu, se transformou, se encantou!". Este foi o discurso feito por Francisco de Assis Nascimento, sobrinho de Elino Julião, por volta das 18h de domingo, durante o velório. Cerca de quatro horas, por volta das 14h, uma dúzia de pessoas já esperava a chegada do corpo.

A diretora do Teatro Sandoval Vanderley, Ivonete Albano, foi uma das primeiras a chegar ao Palácio Potengi, e, abraçada ao produtor cultural José Dias, chorou a morte de Elino Julião. "É uma perda muito grande por ele ter sido um ícone da MPB. Soube da notícia através de Beethoven (músico), 15min depois de Elino morrer. Depois disso, falei com Veneranda, que me na hora disse ainda não entender o que realmente estava acontecendo. Ela pediu o apoio dos amigos", disse Ivonete Albano. A Fundação Cultural Capitania das Artes homenageará Elino Julião neste São João.

Um dos mais emocionados no velório era José Dias. "Vai ficar uma lacuna grande. Elino era do nível de Jackson do Pandeiro, de Luís Gonzaga e o São João no céu vai ser arrebatador, o São João em Natal vai ser talvez o mais triste. Ele foi um grande artista". Um ônibus vindo de Timbaúba dos Batistas trouxe amigos e familiares de Elino Julião para o velório, que terminou por volta das 22h. A edição de hoje à noite do Projeto Seis & Meia prestará homenagem póstuma ao cantor.



Forró domina velório do artista

O semblante sério que exibia e o paletó com o qual estava no caixão, nem de longe lembravam a pessoa que foi Elino Julião, sempre sorridente e com a camisas estampadas para combinar com a alegria que ele tinha de viver. No Salão Nobre do Palácio da Cultura, seu corpo foi velado pelos irmãos, filhos, amigos, artistas e admiradores. Por volta das 8h30 de ontem o padre Antônio Murilo iniciou a celebração da missa de corpo presente. Antes, o grupo Os Meirinhos do Forró, acompanhados pela flauta de Carlos Zens e de Danúbio Gomes, regente do grupo Pau e Lata, foi prestada uma homenagem a Elino através de suas músicas.

Toda a missa foi no ritmo que ele tanto ajudou a divulgar, as músicas religiosas todas foram cantadas como um forró. Ao final, Isaque Galvão cantou diversas canções do compositor para dar adeus ao representante da cultura popular. Na ocasião, diversos filhos seus prestaram a última homenagem ao pai, comparecendo em seu velório e sepultamento. Do Rio de Janeiro veio Magnólia, irmã de Simone que mora em Recife e também esteve presente.

Filhos

Vindos de Campina Grande estavam presentes Elino Julião Júnior, seus irmãos André e Priscila, acompanhados da mãe Lucimar Costa da Silva que viveu com Elino 29 anos. "A gente estava tocando no sábado quando recebeu a notícia", contou André bastante emocionado. Junto com os irmãos, ele forma o grupo de forró Os manos. Elino Júnior durante vários momentos do velório permaneceu ao lado do corpo do pai e chorava muito, "Não vá meu pai. Você sempre foi o meu orgulho", dizia enquanto chorava. "Vai ficar todo mundo, não deixe a gente", dizia André, amparado pela irmã Priscila.

Também foi ver o pai pela última vez Marco Antônio, um caminhoneiro que mora em Santa Cruz e somente este ano conheceu Elino, "só vi meu pai esse ano, tudo o que sei dele é através do que me contam. Hoje também conheci alguns irmãos meus". Outro filho presente era Arakem, o único que morava atualmente com ele, filho da união com Maria Veneranda de Araújo, sua mulher. Os irmãos de Elino também estavam muito emocionados, alguns artistas não conseguiram conter as lágrimas.

Edmar/Everaldo

Sepultamento

Depois das 10h, o cortejo partiu em direção ao cemitério Morada da Paz. Uma longa fila de carros tomou conta da BR-101. O corpo de Elino foi recebido ao som de sua música mais famosa O rabo do jumento, tocada pelos Meirinhos do Forró. E foi ao som do forró, como Elino gostava, que ele foi enterrado. Os artistas presentes, como Galvão Filho, Dimas Carlos, Valéria Oliveira, Fernando Luiz, Khrystal, Isaque Galvão, Roberto do Acordeon, entre outros, entoaram músicas conhecidas do forrozeiro como Forró da coréia, Na sombra do juazeiro, Cajueiro de Pirangi, Cofrinho do amor, O burro, entre outras.


Centro Cultural terá nome do cantor

O cantor e compositor Elino Julião, tinha uma identidade muito forte, com o município de Timbaúba dos Batistas, onde a Casa da Cultura, que está em fase de conclusão receberá o seu nome. O prefeito Ivanildo Filho, que ontem esteve em Natal, participando dos funerais do artista, lamentou sua morte. “Sem dúvida alguma é uma perda irreparável, não só para o município, pelo qual Elino tinha um carinho profundo, não tendo esquecido nunca a sua origem. A gente tem uma profunda gratidão, por Elino Julião, por tudo que ele representou e ainda representa, porque se foi o homem, mas ficou a sua obra”.

Como reconhecimento pelo que representava Elino Julião, no meio artístico do Rio Grande do Norte, o prefeito Ivanildo Filho já tinha decidido homenageá-lo, dando seu nome, à Casa da Cultura que será inaugurada no próximo mês.

“Creio que existem ícones nas nossas vidas e na nossa cidade, que a gente precisa dar uma maior relevância, ressaltar. Timbaúba dos Batistas é conhecida pelo bordado, a gente está fazendo um Centro de Artesanato e Timbaúba também é conhecida pelos seus artistas, notadamente pela pessoa de Elino Julião e a gente pretendia fazer uma homenagem em vida a ele”, declarou.

A obra está sendo edificada numa parceria da prefeitura com o governo do estado. “Elino Julião já havia agendado para fazer no dia 15 de junho, uma apresentação em Timbaúba dos Batistas, na inauguração da Casa da Cultura. Agora infelizmente a homenagem vai ser “in memoriam”, à sua imagem, à sua história e vamos trazer para se apresentar nesta data, o grupo de forró, que é integrado pelos filhos dele”, assinalou o prefeito Ivanildo Filho.



“Eu vou te esperar na sombra do Juazeiro”

João Maria Alves

ADEUS
No sepultamento, ontem, o adeus de amigos e o carinho dos fãs

Tribuna do Norte
23/05/2006
Rafael Duarte e Tádzio França

Elino Julião, 69 anos, trouxe o sertão nordestino para ver o mar durante o tempo em que danou a bandeira do forró no pé-de-serra mais autêntico da cultura brasileira.

E foi assim, na companhia da sanfona, da zabumba, de um triângulo, um pandeiro e um cavaquinho dos “Meirinhos do Forró” que Julião deixou as boas lembranças para os fãs, amigos e a família — que mesmo dividida pela fronteira física se uniu para prestar as últimas homenagens. O sepultamento do corpo da maior referência da cultura popular no Rio Grande do Norte ocorreu às 10h30 de ontem no cemitério Morada da Paz em meio à comoção popular e muito forró pé-de-serra.

Julião foi vítima de um aneurisma cerebral. Ele estava dormindo em casa por volta das 21h30 do sábado quando caiu da cama e foi socorrido pela esposa Maria Veneranda de Araújo. “Ele ainda disse que estava bem, mas reclamava de uma forte dor de cabeça. A mão dele estava contorcida. Em seguida, apagou. Ainda fizemos respiração boca a boca, mas não adiantou. Quando o SAMU chegou ele já estava morto”, contou emocionada logo que chegou ao velório realizado domingo no Palácio da Cultura.

O que mais surpreendeu parentes e amigos que conviviam com ele, foi a forma repentina como tudo aconteceu. “Ele estava com todas as taxas em dia, o médico disse que a saúde estava muito bem. Na manhã de sábado ele acordou cedo, saiu para caminhar, depois vendeu discos, distribuiu autógrafos, recebeu amigos... foi de repente. A gente ia começar a distribuir o novo CD “Elino Julião - Dentro do Movimento” esta semana para a imprensa. Ele ia trabalhar o disco no São João”, contou.

Através das canções consagradas na voz e no coração de gente tão grande quanto a obra que começou a montar ainda no lombo do jumento (antes do faca de Nascimento), na fazenda Toco, município de Timbaúba dos Batistas, região do Seridó, Elino Julião criou uma barreira contra qualquer estágio de tristeza.

Aos poucos, as lágrimas deram lugar à alegria das letras que deixou de presente na praça. Teve o brega “Cofrinho do amor”, os sucessos “Forró da Coréia”, “Rabo do Jumento”, “Coqueiro Pirangi” e a quase profética “Vá com jeito”, todas puxadas pelo músico Isaque Galvão - o “filho de Guaiamum” do forrozeiro. “Meus primeiros discos tiveram participação de Elino. No segundo cantei o repertório dele. Lembro que quando acabamos de gravar ele me chamou e disse que eu era seu filho de Guaiamum. Respondi que ele era o pai, nós rimos e me deu um grande abraço. É isso que fica”, conta.

Julião deixa uma obra intensa com mais de 700 composições, contando ainda participações nos trabalhos dos parceiros e de outros músicos. Ainda assim, existe um acervo guardado no baú da família. “Tenho que sentar com calma e ver quantas músicas inéditas ele deixou. Não posso dizer quantas são agora, tenho que esperar um pouco para me recuperar”, disse a companheira, amor e amiga Veneranda.

Julião também estava engajado no lançamento de um DVD e da própria biografia. O amigo e jornalista Alex de Souza afirmou que possui material suficiente, mas não sabe se terá condições de encampar o trabalho após a perda do músico. A criação da Fundação Elino Julião, no bairro Cidade Satélite, também era um sonho. Agora, os amigos prometem transformar a idéia num grande Memorial.

Elino Julião foi músico, representante da cultura popular brasileira, amigo, mas antes de tudo, foi pai e marido. Atualmente, morava na casa da esposa e do filho Araken Araújo, no bairro Cidade Satélite. Veneranda sempre foi tida por quem conhecia o casal como a fortaleza de Elino. Sempre presente, deixava tudo pronto. O filho mencionou a ausência paterna, mas definiu o momento com orgulho quando indagado sobre a importância do pai num dos depoimentos mais emocionados. “Como pai ele era um artista. Mas o importante é que ele sabia que eu o amava e eu sabia que ele me amava”, desabafou.



Elino se perpetua em sua obra
Tribuna do Norte
23.05.06

A primeira oportunidade da carreira de Elino Julião foi dada no início da década de 50 pelo radialista Genar Wanderley, que comandava o programa de auditório Domingo Alegre na rádio Poti. Na época, morava no bairro das Quintas com a família, onde ficou por 18 anos. Após o alistamento militar, voltou à rádio e conheceu o futuro parceiro Jackson do Pandeiro, que o convidou para integrar a banda dele no Rio de Janeiro. Mas acabou conhecendo o Brasil inteiro.

Desse tempo, dizia que cantava mais que Vicente Celestino, apesar da dificuldade em gravar. O trabalho autoral de Elino começou em 1961, na casa de Jackson, quando gravou o primeiro disco pela Chanticlê.

As decepções vieram quando Teixeirinha, que lançara o trabalho ao mesmo tempo que ele, fez sucesso primeiro. Mas Jackson o demoveu da idéia de abandonar a carreira. A mudança de gravadora surtiu efeito. Pela Philips/Poligran gravou os primeiros sucessos, como Puxa-fogo e Xodó do Motorista, que logo viraram hits. Em seguida, foi para a CBS, hoje Sony Music, onde ficou 23 anos.

Ainda no Rio, foi contratado da extinta Rádio Tupi e da Rádio Nacional. São Paulo virou casa por seis anos , quando conheceu Oswaldinho do Acordeon, Luiz Gonzaga e o irmão dele, Zé Gonzaga. O fim do casamento com a CBS, que chegou a promover uma caravana com os músicos pelo Brasil, acabou em 1986, para dar lugar a Michael Jackson e Júlio Iglesias..

Mesmo assim, à essa altura do campeonato, onde se acende uma fogueira Julião tem que estar presente. Do sertão ou nas vilas suburbanas existe um pedaço de Elino. A irreverência e o humor das letras, espécie de crônicas sociais, chegaram a lhe render a alcunha de machista, como quando gravou, já em Natal, o CD “A mulher é quem manda”. Numa das letras, Julião retratava a realidade das mulheres que gostam de apanhar dos maridos. Sobre os anos de carreira, desconversava, como lembra a viúva Veneranda. “Ele só dizia que tinha 50 anos de Rio de Janeiro”, contou.

Um fervoroso torcedor do América

Elino Julião colecionou paixões arrebatadoras na carreira. “Caba invocado” quando o assunto era o coração das donzelas que passaram feito cavalo celado em sua frente, o peito do forrozeiro também ardia por um outro encantamento.

De acordo com o sobrinho Francisco Nascimento, Julião balançava pelo América. O que pouca gente sabe é que dentro daquela máquina de produzir sucessos populares havia um torcedor vibrante daqueles que se descabelam quando o time vai mal e enchem o peito para contar vantagem com o maior rival. “Ele torcia mesmo. Quando ele estava em Natal a gente ia muito para o Machadão ver os jogos do América. Meu tio torcia muito, adorava futebol”, conta.

Francisco lembra de uma história passada em 1997, quando o Mecão figurava entre os principais clubes do país, na série A do campeonato brasileiro. “Não lembro agora qual foi o jogo, mas cheguei na casa dele e foi logo dizendo: `Meu sobrinho, vamos ao estádio? ´ Sim senhor, respondi. Lembro que ainda falei que a vitória daquele dia seria dedicada a ele, que riu antes da gente ir. Foi bom porque conseguimos ganhar o jogo. Ele teve até um desentendimento com um pessoal na emoção da vitória, mas conseguimos contornar a situação. Elino era assim, quando o América entrava em campo era daquele tipo de torcedor que vibrava muito”, disse.

Durante o sepultamento, o sobrinho sentiu a falta da bandeira do clube do coração no caixão. “Acho que ele deve estar reclamando em algum lugar do céu”, afirmou.

por Alma do Beco | 9:01 AM | | Ou aqui: 0


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