Deise Areias
Filosofia das Nuvens
Sou poeta e pintor porque poesia
Tem cores gerais de sentimentos.
Descobri que o amor não nasce pronto,
Mas é tudo que a gente não consegue.
Ser pássaro é o meu desejo
E não posso sequer ser avião.
Tenho medo, sim, pois ter coragem
é lutar contra o medo até a morte.
Rubens Lemos - 1976
PONTE NEWTON NAVARRO
De xarias e canguleiros, travessia
Eduardo Alexandre
Era um sonho de natalenses: uma imagem na retina, sólida como a Fortaleza, que ficaria como cenário de fundo quase natural, não tivesse também sido erguida pelas mãos dos nossos homens. Força.
Quase na boca do rio, da Limpa à amada Redinha, a gamboa do Jaguaribe embaixo, exposta em seus manguezais. Vida. Progresso que se vislumbra em futuros. Barra. Baliza.
Sobre águas serenas que descansaram catalinas de vôos curtos, de pequenas asas, és a argamassa que leva, como bandeirante, ao porvir de grandes viagens. Sul a Norte, trajetória desbravada em quatro séculos de espera e labuta. Passado e presente. Perseverança.
O mercado do peixe, a igrejinha branca da Senhora dos Navegantes, a de pedra, dos veranistas, souberam esperar em paciência de décadas. Foram mirantes de conjecturas, planos, traçados e polêmicas, assunto.
Muitos se foram e não viram, vislumbraram, quiseram, pediram. Seus rogos ouvidos.
Os bois, as lapinhas, os fandangos brincados na areia fina e branca, amaciante para pés descalços, revivem cenas, cantam memórias, aplaudem resultados, comemoram graças.
O empecilho não transposto em passos por Jerônimo de Albuquerque, hoje é via de asfalto. União de margens antes distantes, ventura, conquista do Norte consolidada em tempos de paz.
Ponte Forte/Redinha, a Cidade dos Reis crescerá contigo, chegará a horizontes nunca transpostos.
Por ti, faz-se festa na terra de Poti, cantam-se praieiras, enaltecem-se seus feitos, suas glórias poucas e singelas. Vitais.
Como o amor de Porangaba, demoraste, chegaste madura, permanecerás.
Como tresmalhos em secagem, aguardarás os frutos do mar do amanhã, alimento laborado por muitas mãos.
Serás postal, marca, darás identidade única a povoamentos separados de uma mesma gente. Desenvolvimento.
Navarro não te rabiscou em papel. Demarcou, em foto, o local onde virias.
Para ti, potiguares hoje voltam olhares, contemplam tua silhueta de imensidão.
Compreendem, és, de xarias e canguleiros, travessia, materialização do nosso primeiro desejo, primeiro sonho: transpor o obstáculo que o Rio Grande nos impunha em sua foz; fazer-se desembocadura de novos sonhos.