"O Beco não cabe em si. Funda-se em altíssimos saberes."
Plínio Sanderson - Pichação na esquina dos quatro cantos do Beco da Lama
Foto e Capa: Alexandre Oliveira
LIVRO
Leonardo Sodré lança “Crônicas do Beco da Lama”
O jornalista Leonardo Sodré lança no próximo dia 14, às 19h no Restaurante e Bar Bardallos o livro Crônico do Beco da Lama. A obra reúne diversos artigos já publicados em jornais, blogs e sites. “A idéia do lançamento desse livro foi do editor Ivan Júnior, dono da Editora Offset, que ao longo do tempo foi reunindo as crônicas mais bem humoradas de histórias e ficções envolvendo vários personagens que freqüentam os bares do Beco da Lama e das adjacências, geralmente formada por artistas plásticos, escritores, jornalistas, músicos, comerciantes, comerciários, enfim, por todo mundo que gosta da magia libertária do ambiente do Centro Histórico de Natal”, disse Leonardo Sodré.
A obra, que irá custar R$ 20,00 tem 100 páginas e contém, além dos textos do autor, a apresentação e prefácio dos escritores Plínio Sanderson e Eduardo Alexandre e “orelhas” assinadas pelos jornalistas Alexandro Gurgel e Eugênio Meio-Quilo.
Sobre o autor, o escritor Plínio Sanderson escreveu: “Idiossincrático convicto, de santíssimos saberes, é o exegeta dessa paróquia dos pecados. De fé inquebrantável, na contramão do batalhão de suicidas sindicalizados que aporta sorrateiramente, esse menino de cinqüenta e poucos anos é sobrevivente de todo dia...” Eduardo Alexandre, prefaciador da obra, definiu: “Saber o que é acontecência ou ficção (ou mentira) é o grande dilema do leitor destas Crônicas do Beco de LeoSodré. É o mistério que os textos deixam, fora um prazer imenso, oriundo de um humor cativante e da certeza de se tratarem de textos de amizade”.
O jornalista Eugênio Meio-Quilo foi mais além: “Todos são vítimas contumazes da sua pena, ou melhor, do seu teclado sem pena”, enquanto o jornalista Alexandro Gurgel contemporizou: “Qualquer relação com os personagens contidos no livro não é nenhuma coincidência, é proposital. Não se surpreenda se alguém que você conheça for personagem das Crônicas do Beco da Lama”.
Show – O músico Camilo Lemos, um dos responsáveis pelo Grupo de Chorinho que tem animado o Beco da Lama todas as sextas-feiras, fará uma apresentação (solo) especial durante o lançamento do livro, que também contará com performances poéticas.
O autor – O jornalista Leonardo Sodré é natalense desde os 30 dias de vida, depois de ser apresentado ao Mundo na cidade de Campina Grande, Paraíba, e vir para Natal com seus pais. Aos 53 anos é pai de um filho (já falecido), duas filhas e tem cinco netos. Atualmente, depois de trabalhar em vários jornais – entre eles O Mossoroense, onde exerceu o cargo de Editor Geral, seu último contato com ambiente de redação -, dedica-se a assessorias de imprensa, fazendo parte da equipe de redação da Mais Comunicação e apresenta o programa “Câmara Cultural”, na TV a Cabo 37 da TV Câmara de Natal. Já participou de várias antologias, como “Cantões, Cocadas – Grande Ponto Djalma Maranhão”, organizada por Eduardo Alexandre e “Dom Nivaldo – Um Semeador de Alegrias (biografia), de Diógenes da Cunha Lima. No livro “Beco Estreito”, do fotógrafo Hugo Macedo, participou fazendo as ilustrações. Esse é o seu primeiro livro solo. Publica crônicas em diversos sites e jornais de Natal, e mantém o blog www.becopress.blogspot.com onde escreve diariamente.
MEU CHAPÉU DE CÔRO - Poema Matuto
Foi no Manhã Sertaneja,
qui na frente de um ispêio,
eu ricibí um cunsêio,
de um poeta, artista, irmão.
O Gaúcho da Frontêra,
dixe: Bob, cumpanhêro,
use rôpa de vaquêro,
nais sua apresentação.
Ela retrata o calibre,
o distemô, a corage,
qui é sua própria bagage,
imposta puro distino.
Tombém mostra cum clarêza,
cum a limpidêiz do orváio,
a durêza do trabáio,
do vaquêro nordestino.
Eu dixe: É munto pesado!
Bota e calça, meu irmão,
mais guarda peito e gibão;
o cabra inté fica fraco.
Adispôi, sô munto feio,
e mêrmo disinibido,
eu fico mais paricido,
trêiz velocípe num saco.
Mais vô dá um jeito nisso,
resgatando p'ru meu lado,
um apetrêcho do passado,
um verdadêro tisôro.
Cumpanhêro inseparáve,
qui traiz mil rescordação;
tô falando, meu irmão,
do meu véi chapéu de côro.
No mêi da chuva ô no só,
na lida, na brincadêra,
no currá ô na cochêra,
no açude ô no roçado;
êsse chapéu véi, surrado,
lhe juro, sem atrapáio:
Foi instrumento de trabáio,
no meu tão feliz passado.
Me potregeu de imbuzêro,
de tronco de caatinguêra,
de ispíin de quixabêra,
tombém de ispíin de jurema.
Êsse mixto de vaquêro,
cum poeta e trovadô,
se orgúia, seu dotô,
in amostrá no seeu poema.
Tombém síiviu de caneco,
mode matá minha sêde.
Nuis recanto de parêde ?
No chão, foi meu travissêro.
Tombém foi abanadô,
no mato, longe de casa,
nais trempe, in fogo de brasa,
prá cunzinhá p'ruis vaquêro.
Qui êle é feio, inté concordo,
cumo adôrno ô aderêço.
Mais êsse chapéu num tem preço,
quem tem um, nunca s'isqueça.
Mêrmo sendo êle tão feio,
cum o meu eu vorto ao passado,
e tenho um orgúio danado,
dêle na minha cabeça.
É verdadêra relíquia,
qui eu curtuo e quero bem,
sem mais, taivêiz nem porém,
prá mim, êle vale ôro.
Nunca ví ninguém sê prêso,
na cidade ô no mato,
p'ru rôbo ô assassinato,
usando um chapéu de côro.
Jamais saiu do meu quengo,
prá pegá jumento ô gado,
eu in pano ô incôrado,
nais festa de apartação.
Êsse amigão do peito,
quero pidí prá você:
No dia qui eu morrê,
bote êle no meu caixão...
Bob Motta
jul.2003