A exemplo do que aconteceu na Câmara, às vésperas da votação da emenda que prorroga a CPMF, o governo voltou a abrir as torneiras do Orçamento para assegurar os votos dos aliados no Senado.
O Globo
Karl Leite
MAKTUB
Deixe as remotas memórias
Escreva sua própria história
Diga honestamente
Não ameaço, apenas faço
Encontre os inacabados,
Seja nos versos, nos contos, nos planos
Nos bem ou nos mal amados/humorados
Espante espantalhos
Faça cair os mascarados
Jogue a poeira nos olhos
Dos que viram e ignoraram
Atravesse fronteiras
Provoque polêmicas
Esquente o ambiente
Convide o intendente
Esparrame assim de repente
Verdades, compromissos
E até uma anedota indecente
Diga honestamente
Cansado, estou
Exausto, me sinto
Mesmo assim
Não desisto, insisto
Em mudar o rumo
Desse indefinido destino
Deborah MilgramUm estilo que rasga muitas léguas
Sertão: estes seus vazios.
João Guimarães Rosa
O romance brasileiro se resume á José Lins do Rego, Rachel de Queiroz, Graciliano Ramos, Jorge Amado e “o pai de todos” (na expressão do baiano Jorge) José Américo de Almeida. Aqui há uma ponderação. São só estes cinco representantes? E mais João Guimarães Rosa, que de tão regional se tornou universal, quase planetário de tanto virtuosismo.
Afianço que não. Do nordeste de vera, do Brasil, que pelo rio São Francisco faz sua junção com Minas Gerais(uma parcela), até o Amazonas, isto tudo parece ser sertão, lugares de vegetação e o conjunto fauna e flora muito próximos. Existe aqui outra lacuna; abecando-se toda a literatura brasileira em todo lugar haverá o bom estilo regional, a narrativa terrestre, o causo, a história simples ou ambiciosa passada em lugares característicos. Em lugares normalmente secos, áridos, rochosos, com grande possuir de vegetação rala.
Então, pois listemos aqui mais de dúzia de autores que sejam regionalistas neste país sertanejo, tropical, de políticos corruptos e de criação ameríndia (citado não é quem já o foi): Mário Palmério (O chapadão do Bugre, Vila dos Confins), Érico Veríssimo (O tempo e o vento), Ariano Suassuna(O romance da pedra do reino), Bernardo Ellis(O tronco), Nei Leandro de Castro(As pelejas de Ojuara), Amando Fontes(Os Corumbas), Ivan Pedro de Martins(Fronteira Agreste), José Cândido de Carvalho(O coronel e o lobisomem), Herman Lima(Tigipió), Afrânio Peixoto(Bugrinha, Sinhazinha, Maria Bonita), Herberto Sales(Cascalho), Inácio Magalhães de Sena(Agora Lábios Meus Dizei e Anunciai), Dyonélio Machado(Os ratos), João Alphonsus(Totonho Pacheco), Cyro Martins(Estrada nova)Jorge de Lima(Calunga), José Bezerra Gomes(Os Brutos) Octávio de Faria, Nilo Pereira, Aureliano de Figueiredo Pinto, Guilhermino César e outros escritores que não se filiam ao estilo mas porejam regionalismo seja em contos ou romances, como o manauense Milton Hatoum que revisita um local muito próximo ao nordeste e ás regiões de sertões, que é o Amazonas. Mas mesmo arejando este estilo o autor acaba sendo um romancista-contista intimista, como Rosa, que de sertanejo, do oco do mundo, deu-se ao final em profundo. A literatura sertaneja faz um ão e um cão: se espalha alhures.
A literatura sertaneja, pois, em prosa é basicamente romance e conto. Não se é incluído com grande profundidade a crônica. O ensaio aí sim teria grande força, mas é tema rombudo, enorme.
Aqui, o conto ainda não apareceu. Existe em todo o Brasil o conto. O conto regionalista é cada vez mais escasso em outros locais fora do Norte-Nordeste. No RN surge no início do século XX um contista de mão cheia, assemelhado a meu ver ao mineiro Rosa em toda profundidade e maestria alcançada no domínio da narrativa curta: Afonso Bezerra. Afonso tem um estilo seco, uma prosa que crava como espinho de palmatória. Um olhar do sertão como bisaco cheio de estórias, de arte, do ‘ o poeta não cita: canta’ (de Guimarães Rosa), do pacato mundo interiorano. O autor sabe muito a captação que possui. No mesmo Rio Grande o cidadão de Martins e Natal Manoel Onofre Jr., é autor de um magnífico bem armado livro de contos: Chão dos Simples. É a junção de alguns contos onde predomina um meio rural e bem construído do interior norte riograndense. Outros autores são Nei Leandro de Castro, Jaime Hipólito Dantas, Iaperi Araújo, Milton Pedrosa e até autores que versem mais pro lado urbano nordestino como Eduardo Alexandre, Gilbamar de Oliveira Bezerra, Tarcísio Gurgel, Newton Navarro, Anchieta Fernandes, Dailor Varela, Vicente Serejo, Clotilde Tavares, Laurence Bittencourt Leite, Bianor Paulino, Moacy Cirne, Nilson Patriota, François Silvestre e muitos outros, incluídos aí os membros cronistas e freqüentadores de páginas de artigos nos jornais natalense e de outras localidades. O Rio Grande usado aqui como exemplo, por ser um estado nordestino e afluente de vários estilos literários.
Aqui o que se vê é a escassez de literatura regionalista no Brasil. Um estilo que existe desde os tempos mais iniciais da literatura deste país ex-colonizado de portugueses. Mas pelo menos onde deve ter ele existe. Sempre com o velho fogaréu de sempre, o estilo fantasioso, a fôrma lírica e ás vezes erótica (o que é muito comum e normal). Pelo menos ele anda em suas devidas léguas e aí se espalha!
Pedro Lucas de Lima Freire Bezerra (13 anos)
Estudante da Escola Viva
Crônicas da exata circunstância
Foi grande, o provérbio já nos era conhecido.
Marcel Proust
O norte-riograndense Agnelo Alves segue em seu livro “Crônicas de outros tempos e circunstâncias” aquele velho estilo dito como Vinícius de Moraes de que "o cronista afirma-se cada vez mais como o cafezinho quente seguido de um bom cigarro", essa dupla que normalmente está presente em mãos após o regozijo dos prazeres da mesa do brasileiro”. Bem, é um estilo conciso e talvez irônico o do senhor Agnelo. Tem o fio natalense e o poder de síntese, o sabor do paladar do leitor que escreve, mesmo que seja limitando-se a um tema só praticamente e obtendo um êxito realmente até palpável e bom. Aqui, a política, as artes, o próprio futebol se entrelaçam, se abraçam e se vêem misturado à massa do cronista político. É um fidedigno e atento observador (atento como todo observador o é), como notou também na orelha da obra o jornalista Carlos Peixoto. É um verdadeiro telescópio político, afinal. Um telescópio político. O autor simplesmente apenas parece enxergar a política, geralmente é o que políticos e aficionados pela arte do Príncipe, de Niccòllo Machiavelli, ou simplesmente Nicolau Machiavel. De suas crônicas jorram a arte das urnas no país e os comentários de praxe a quem escreve este cafezinho literário basicamente tupiniquim.
Há aqui desde crônicas memorialistas a comentários (comuns à crônica jornalística) sobre fatos no Brasil e no Rio Grande do Norte. E vez por outra mesmo quando assuntos do Brasil estão sendo versados politicamente pelo riograndense do norte que não está no Rio Grande, sendo muitas das crônicas compiladas escritas para serem publicadas em jornais cariocas, em meados dos anos 1950 há o fio nordestino e sertanejo. Como no Antipoema da gota serena de Moacy Cirne, uma saudade braba do sertão está aí nesta mistura (haja o comentário que pode não existir totalmente, está presente em crônicas como a intitulada Chuvas). Um vago brilhar de estrela sertaneja. Nisto, o RN pouco explorado literariamente pelo oco do mundo brasileiro, está ativo e se mostra um lugar paradisíaco. Uma força bastante grega, espartana, Hesíodo, Homero. A não ser que o RN fosse conhecido em suas profundidades pelas leituras de Câmara Cascudo, fora de seu estado, e isso principalmente pelo meio intelectual. Talvez também Peregrino Júnior, hoje outro exemplo de autor pouco lido, mas de leitura muito proveitosa, da safra qualificada de Natal e seus apêndices, as outras cidades donde saem Nei Leandro de Castro, Moacy Cirne, Celso da Silveira, Luís Carlos Guimarães, e muitos outros.
Ao que cuida de voltar ao assunto que é aqui especialmente tratado, está um tempo negro que vai e volta em diversos textos da obra. A ditadura militar que fez do estado brasileiro Campos Elíseos torneados por combates sangrentos entre pessoas que queriam o bem para o país e as eleições diretas, está muitas vezes nos centros dos debates de Agnelo, passando-se sempre com um ar de melancolia poucas vezes e de lasciva vontade, sangue nos olhos, colhões dilatados para aí sim dizer desde o novo livro (á época) de Carlos Heitor Cony que falava da ditadura, Elio Gaspari e sua trilogia sobre os tempos de ditadura que são obras citadas tratadas com interesse pelo autor que fala de seu gosto pelas visitas a livrarias de aeroporto, lugar onde Agnelo sempre está presente, pois suas viagens são constantes, citando a crônica de nome O novo livro de Cony.
Aqui, se conclui que a obra é compilada com alegria. Ânimo e descarrego de energia grande, o que faz do livro uma agradável mostra de uma faceta admirável do político: sua habilidade com sua amiga máquina de escrever.
Pedro Lucas de Lima Freire Bezerra (13 anos)
Estudante da Escola Viva