“De acordo com Klinger, o dinheiro era para o PT e seria entregue ao PT. (...) Foi uma coisa imposta. Tínhamos que pagar. Ele ia para as reuniões armado, com revólver. E deixava claro que com poder não se brinca, se cumpre.”
Rosângela Gabrili, empresária do setor de transportes, em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos, denunciando que foi extorquida pela prefeitura de Santo André. O crime teria ocorrido durante a administração de Celso Daniel, assassinado em 2002.
Grande Ponto Djalma Maranhão
Nenhuma homenagem às quais a cidade deve à memória de Djalma Maranhão (que deveria ser lembrado todos os dias pela mídia, como esportista, jornalista, protetor do folclore e idealizador dos grandes projetos da cidade), nenhuma fala mais ao meu coração que a que se presta no centro da cidade com o nome de Djalma Maranhão.
As cidades antigas tinham seu lugar sagrado, no centro, na Ágora em Esparta, na Acrópole em Atenas, no Capitólio em Roma. Ali, os cidadãos se reuniam e faziam discussões sobre os assuntos mais importantes, divertidos e esportivos da cidade. Na Acrópole ateniense, realizavam-se as grandes festas de Dionísio, Deus grego da alegria e do vinho.
No Grande Ponto de Djalma Maranhão realizavam-se as grandes comemorações como a vitória da seleção brasileira em 1958. Os grandes carnavais, com a orquestra do maestro Jônatas, o Bambelô de Guedes, o Araruna de mestre Cornélio, os índios de Bum-Bum, as Lapinhas, os Fandangos, a Nau-Catarineta de Caldas Moreira. A figura patriarcal, cheia de bonomia, amizade e prestatividade de Câmara Cascudo. A Confeitaria Cisne.
Neste Capitólio, onde pontificava Djalma Maranhão, acompanhado de manhã, de tarde e por algumas horas da noite, por mim, seu filho, Marcos Maranhão, víamos desfilar a alma da cidade. João Machado, Celso da Silveira, Deífilo, Augusto de Souza, Djalma Cavalcanti, Ticiano Duarte e seu pai Temístocles, Newton Navarro, Enélio Petrovich, Meira Pires, o velho brabo Jonas, Jayme Wanderley, Boanerges Soares, Berilo, Gumercindo Saraiva, Adalberto, Chagas, Expedido Silva, Paulinho Oliveira, os freqüentadores da Casa Vesúvio, de Maiorana, Bosco Lopes, Benivaldo Azevedo, Luizinho Doblechen, Paulo Maux, José Areia, Severino Galvão, Luís de Barros, Maria Mula Manca, Moraes Neto, Nilberto Cavalcanti e seu irmão Ney, Evaristo de Souza e seu violão. José Alexandre Garcia.
Finalmente, todo o espírito da cidade capitaneado por Djalma Maranhão. Tendo ao lado Oswaldo de Souza, Garibaldi Romano, Moacir, Ubirajara Macedo, Newton Navarro. Djalma Maranhão, esta figura múltipla, alegre, paradisíaca, merece ser o patrono do Grande Ponto, que agora leva seu nome justamente.
Não é apenas o Djalma Maranhão que iniciou o asfalto, a iluminação de mercúrio, calçou 70% da cidade. Mas o Djalma Maranhão folião, dos lança-perfumes, das serpentinas e confetes. O Grande Ponto era a sede do seu reino.
Djalma Maranhão, no seu posto de comando no Grande Ponto, como disse José Condé, transformou Natal numa grande Pasárgada cultural. Restaurou todos os autos populares na autêntica revalidação do folclore natalense. Lembro-me, com que saudade, dos desfiles chefiados por Djalma Maranhão no Grande Ponto, dos carnavais, dos autos folclóricos, das manifestações políticas.
Em Natal, Djalma Maranhão, como prefeito, realizou vários Congressos Brasileiros de Folclore, Praças de Cultura, Feiras de Livros. Edificou a Galeria de Arte, na praça André de Albuquerque, o Ginásio Municipal do Baldo, a Estação Rodoviária na Ribeira. Criou as Bibliotecas Volantes que disseminavam a cultura nos subúrbios. Construiu fontes luminosas e quadras esportivas nos bairros. Completou o calçamento do Tirol, Petrópolis, Rocas, Quintas e Alecrim, com paralelepípedos. Duplicou a avenida Mário Negócio, nas Quintas, possibilitando o acesso livre rodoviário em Natal. Calçou as Rocas, incluindo a grande ladeira da Igreja. Construiu o Palácio dos Esportes, edificou casas populares.
O Grande Ponto era seu posto de comando.
Para esta cidade do Natal muito querida e muito amada, nos grandes Congressos Brasileiros de Folclore, com apoio entusiasta de Cascudo, Djalma Maranhão foi o prefeito moderno que trouxe o asfalto e a iluminação de mercúrio, realizando os projetos da Via Costeira, Estádio Municipal e Anel Rodoviário.
Djalma Maranhão identificou-se com a cidade criando raízes emocionais com o seu povo e sua gente. Seus auxiliares eram amigos aos quais comandava, conduzia e convivia com afetividade. A todos levava para o Grande Ponto.
Em Natal, Djalma Maranhão foi atleta em todas as suas modalidades. Prefeito de Natal em duas administrações. Deputado Federal, Estadual, jornalista. Presidente do Conselho Estadual de Desportos. Presidente do Partido Trabalhista Nacional e Partido Social Progressista. Diretor do Jornal de Natal e Diário. Presidente da Empresa de Rádio Rio Grande. Escritor. Autor de importantes trabalhos sobre folclore, política e economia. Abordou seriamente a problemática da industrialização do tungstênio em bases estatais.
Cito Daudet: quem não conheceu Avignom na época dos papas, não conheceu Avignom. Aqui, dizem também que quem não conheceu Natal na época de Djalma Maranhão, não conheceu Natal. Tantas foram as realizações telúricas da Administração Djalma Maranhão em Natal, consubstanciadas com o povo, que a cidade se transformou em uma festa permanente, verdadeira, multicor e paradisíaca. A central era o Grande Ponto, liderado por Djalma Maranhão.
Foi ali que aconteceram as grandes manifestações políticas da cidade. Em cima da Casa Vesúvio funcionava o Fórum de Debates Djalma Maranhão, onde todos os meses deputados da Frente Parlamentar Nacionalista falavam para o povo de Natal, esclarecendo as grandes necessidades nacionais. Foi ali que o deputado Leonel Brizola denunciou o movimento de 1964 que se tramava contra o presidente João Goulart e do qual fazia parte o general Muricy.
Djalma Maranhão era plural e dionisíaco, sentimental e romântico, vivia permanentemente em contato com todas as classes sociais. Sua alegria de viver tinha o condão de aproximar as pessoas. A este traço era aliado uma grande noção do sentimento do dever. Era chamado carinhosamente de “Caudilho”.
Continuo a sentir em Natal, cada vez mais forte, à medida que os anos transcorrem numa evocação proustiana, todas as vezes que passo pelo Grande Ponto, a presença de meu pai emoldurada num perfil de ouro e fogo, traçador de sua figura legendária.
Politicamente o nacionalismo era seu ideal. Sonhou com um Brasil politicamente livre, economicamente forte e socialmente justo. Defendia as liberdades públicas, a economia forte, o pluralismo político, a soberania nacional. Morreu no exílio. Hoje, depois de tantos anos, sua imagem de estadista, homem público de escol, escritor, poeta, político e notável administrador, começa a ser resgatada.
Como administrador, construiu uma usina de asfalto e oficinas de construção, para não precisar fazer empréstimos, terceirizar, nem contratar empresários. “Honestidade acima de tudo” era seu lema.
Hoje, o Grande Ponto Djalma Maranhão faz o grande resgate. Agradeço a todos e que esta homenagem passe a ser feita diariamente.
Marcos Maranhão
Fragmento do Auto JESUS DE NATAL
Os presentes oferecidos pelos Reis, diante da jangada-presépio:
Sou o Rei Antônio Proxóde, homem do litoral, pescador de auroras chamejantes e esperanças embriagadoras. Venho de Ceará-Mirim carregado de cajus, mas se os cajus são para os pais, para o Menino um presente mais alto e maravilhoso necessário se faz. Sendo eu um pescador de auroras e esperanças, Meste Cascudo, sentado em sua poltrona bordada com os saberes do povo, me aconselhou: por que não uma coleção de crepúsculos de Oropa, França e Bahia, e mais do Potengi amado? Assim o fiz, assim o faço: eis, meu iluminado Menino, esta coleção de crepúsculos. Com ela, saiba enfrentar os futuros dissabores da Vida.
Sou o Rei Geraldo Filó, homem do interior, pescador de delírios alucinantes e lembranças do futuro. Venho do sertão carregado de alfenins, mas se os alfenins são para os pais, para o Menino um presente mais alto e grandioso necessário se faz. Sendo eu um pescador de delírios e lembranças, o Poeta Jorge Fernandes, deitado em sua rede da mais pura seda de neblinas adormecidas, me aconselhou: por que não uma coleção de sonhos e arco-íris de Caicó, São Rafael e Mossoró, e mais da Areia Preta amada? Assim o fiz, assim o faço: eis, meu deslumbrante Menino, esta coleção de sonhos e arco-íris. Com ela, saiba resistir às artimanhas das tentações
Sou o Rei Chico Antônio, homem das estrelas, pescador de sons arrepiantes e sombras milenares. Venho de Canguaretama carregado de cordas de caranguejos, mas se os caranguejos são para os pais, para o Menino um presente mais alto e sonoroso necessário se faz. Sendo eu um pescador de sons e sombras, o pesquisador Oswaldo, caminhante de muitos e muitos caminhares, me aconselhou: por que não uma sinfonia dançante que seja a expressão musical de sua gente? E assim o fiz, assim o faço, e assim o farei: eis este coco, meu doce Menino, para vos embalar aqui e agora, e para todo o sempre.
posted by MOACY CIRNE no blog Balaio Vermelho
http://www.balaiovermelho.blogger.com.br/
Sem os cânones
Pueril e primário. Sem o "espanto", a "surpresa", a "concisão" — cânones tão reclamados e ao gosto do signatário ora escriba funcarteano.
Antoniel Campos
Mais polêmica
LIVROS E MAIS LIVROS
Sertão de espinho e de flor, de Otoniel Menezes. Natal: Departamento de Imprensa, 1952, 270p. Seus versos nem sempre são razoáveis, e, em alguns momentos, deixam-se dominar por um certo passadismo literário; mesmo assim trata-se de um livro importante. Pode parecer paradoxal, claro. Mas o que o torna um livro de inegável interesse é o conjunto de notas & comentários após cada capítulo. São notas que procuram fixar um "panorama físico e social dos sertões norte-rio-grandenses". E o que seria mais um livro de poesia, de inspiração limitada, transforma-se num rico manancial sociológico sobre os costumes da gente potiguar, inclusive com sua fala & alguns de seus provérbios mais criativos. Ou seja, estamos diante de uma obra indispensável no panorama da literatura do Rio Grande do Norte.
Moacy Cirne
Gente do Beco
Sarava!
O gênio Moacy Cirne, a mais nova e mimada – certamente muito bem remunerada - estrela fulgurante do “Auto” da Capitania das Artes de Dácio Galvão, deixando de lado os seus gibis, o poema-processo, a entrevista na “Brouhahá” (epa!) e a péssima invenção de Chico Doido de Caicó, investe, agora, valente e airoso, contra as sextilhas de Otoniel - “nem sempre razoáveis”, diz ele, a sumidade das barcas da Cantareira.
É phoda – com “ph” de “pharmacia”, de “Philomena” e de “ráido “Philipe” - arre égua !
Quer aparecer, o menino, nas costas do Poeta? Fazer pose?
Fazer o que? E agora, bardos de Beco? Dizer o que? Responder é preciso?
Laélio Ferreira
Caro Laélio e demais amigos do Beco:
Ligue não, Laélio; é assim mermo! Alguns dos que fazem poesia (?) concreta, moderna, versos livres, sem rima; deveriam ler o poema UM COLEGA DOTÔ, de Clarindo Batista de Araujo, seridoense de quatro costados e de altíssimo quilate, diga-se de passagem. Nele, Clarindo diz p'ro dotô:
A poesia do sertão,
tem chêro de muçambê.
Pru gôsto se pode lê,
um verso metrificado.
O poeta sertanejo,
compara verso sem rima,
cum viola sem a prima,
só dá tom desafinado.
Nos seus cultos versos brancos,
o sinhô fala in rinite,
cita diverticulite;
êsses nome assim bizarro.
Aqui a agente cunhece,
sete côro, nó na tripa,
ô intonce, quando gripa,
se diz qui tá cum catarro.
Tombém fala de metrô,
satélite artificiá,
de carro qui anda no má,
qui nem pru riba do chão.
Eu digo no meu poema,
qui a vantage num é tanta,
qui aqui tem carro qui canta,
pelas bôca do cocão.
E falando de animá,
vem logo rinoceronte,
mamute, saiga, bisonte,
alce, iaque, pangolim.
Nuis meus poema se vê,
rapôsa, peba, timbú,
preá, mocó e tatú,
jumento, boi e guaxiníin...
Não tenho absolutamente nada contra quem faz o verso livre; tenho sim; contra quem não respeita o estilo dos outros. Tem que respeitar, mesmo que esse estilo seja carregado de "passadismo literário"...
Agora eu pergunto, caro Laélio; a quem de direito; isso é "passadismo literário" ou preservação das nossas raízes culturais ?
Na minha terra, às margens do Rio Potengi, que banha minha cidade, isso que foi dito contra a poesia de Otoniel, tem outro nome, que é dado à atitude de quem agride à memória de quem já não está aqui para se defender...
Perdoe-me a indignação, mas não posso ficar calado...
Inspiração limitada, como diz meu compadre Norbal, cortador de carne na feira do Conjunto Santa Catarina; " é meu treistíco isquerdo"!...
Inté!
Bob Motta
Mais cacete
OS LOBOS
Mestre lobo vai indo, para a luta...
Armado de ambição e de fereza,
Só receia encontrar na redondeza,
Lobo maior, de compleição mais bruta.
A lã, de que se veste, lhe transmuta,
aos olhos do rebanho, a natureza.
- Pulsa-lhe o instinto, na pupila acesa !
Aspira os ventos, a narina astuta...
Não janta bem, aliás, se não devora
dois cordeiros, na furna, convencido
de ser o rei-dos-lobos, dentro e fora.
Todavia, não cuida de uma cousa:
- que, entre os irmãos, acabará comido,
se não aprender as artes da raposa...
Othoniel Menezes
(in “Desenho Animado”-1995)
NOTA: O Sr. Laélio Ferreira, filho do poeta Otoniel Menezes, que sempre mereceu o meu respeito, é mais um que acredita que a obra de um parente é intocável. Otoniel Menezes foi poeta importante nos anos 20 e 30. Nos anos 50 já tinha perdido o seu fôlego criativo, como, aliás, acontece com muita gente boa. Mesmo assim destaquei a importância de 'Sertão de espinho e de flor', por seus aspectos sociológicos.
Moacy Cirne
A INVENÇÃO DE CHICO DOIDO – I
Chico Doido é um vilanaço
e o pai dele é um jumento
- diz o Velho Testamento !
Se você quiser eu faço
a história desse palhaço:
nasceu sem mãe, o goteira,
na barca da Cantareira,
teso, tísico, sambudo
- logo mais eu digo tudo,
igualzinho a Zé Limeira !
Moacy Cirne, Doutor em gibi lá pelas quebradas de Niterói – querendo dar uma de Doutor Silvana, arremedando Orlando Tejo, este um indivíduo competente, autor do “Zé Limeira, o Poeta do Absurdo” e pedindo a Nei Leandro para confirmar a traquinagem -, pariu, fabricou, um tal de Chico Doido de Caicó. Nasceu um monstrengo, um “poeta” que não chegava sequer à poeira das apragatas do putanheiro bardo, paraibano do Teixeira.
O desgovernado rebento foi um desastre: chulo, sem graça, nada tinha de fescenino, de surrealista. Metido a iconoclasta, não rimava bulhufas, metrificava pouco e mal, não acrescentava nada – um absurdo de ruindade ! Brincadeira gaiata, infeliz arremedo, uma bufa, por fim.
Esse inventado Chico era uma mistura dos seiscentos diabos : sertanejo analfabeto, discutia Fernando Pessoa. No início dos anos 50, conheceu Zé Limeira (trinta anos antes do livro de Tejo) - e com o negão não aprendeu nada. Vigia de rua em Natal, dava-se a intimidades com as caras meninas de Maria Boa, vez por outra, impávido,discutindo, parelho, história pátria com Cascudinho, dirigindo, também, lérias, prosando com Otoniel, o homem da “Praieira”. Sem carta de ABC na cachola - é dose! - dava pitaco sobre Átila, Bocage, Casanova, Raimundo Correia, Gregório de Matos e outras feras...!
Tem mais: segundo o dramaturgo de plantão na Capitania das Artes, Chico Doido foi prá Marinha Mercante e conheceu mundos e fundos. Em terras de Espanha perdeu rumo e navio (o apelido era "Paco"!). Morreu, - graças a Deus! - no Rio de Janeiro – onde, perto da Lapa, antes da passagem desta para a outra, bebia cachaça com Nei. Igualzinho ao Zé Limeira, usava óculos escuros - Ray-Ban, calculo .
Ainda bem que Mãe Albina, Kalu de Angicos e Chico Xavier se foram sossegados, partindo para o Azul, livrando-se, todos, da rebordosa de incorporarem o encosto, exu brabo, desse seridoense araqueado. Dessa “alma sebosa”, como diria Walter Leitão, ex-prefeito do Assu – que também desta já se foi, muito a contragosto.
Segundo o professor de gibi, não é que,no Rio, Chico Doido, psicografado, deu uma baita entrevista ?
Do além, receitou à pamparra. Conhecia quase todo mundo aqui em Natal, cupincha de muita gente importante, luzidia – íntimo, declarou no terreiro, peremptório, compenetrado - até de Diógenes da Cunha Lima, François, Enélio, Dunga do Beco, Dácio Galvão – o escambau.
Perguntado, disse ao pai-de-santo que lá, por onde lépido flutuava, ouviu Luis Carlos Guimarães, o poetinha-juiz, se queixar ("ficou puto!") da sacanagem que, na Academia de Letras, fizeram ao amigo comum Nei Leandro – que perdeu uma vaga de imortal para um empistolado cidadão do País de Mossoró, gente dos Rosado. Pedindo marafo ao cambono de plantão, foi em frente, na embalagem, a desastrada alma do outro mundo, em dia com tudo - diga-se muito bem informado sobre as nossas picuinhas provincianas. Deitou e rolou. Vaticinou, solene e emocionado, que, um dia, “papai” Moacy seria dramaturgo em Jardim do Seridó. Errou por pouco, tirando um fino...
Laélio Ferreira
Nota do editor do Alma
O espaço está aberto para a devida resposta de Moacy ou de quem bem quiser.
O blog não toma partido, apenas diverte-se diante da contenda, esperando que tudo não passe de literatura, boa literatura, até porque isso os contendores sabem fazer.
Evitamos publicação de ataques pessoais.
Dunga
A PELEJA DA CULTURA POPULAR CONTRA O TAL DE “RALOUIN”
Essa história já aconteceu
Mas, acontece todo dia
Estou falando amigo meu
Da nossa cultura brasileira
Cheia de cor e magia
E de emoção verdadeira
Um folclore tão imenso
Que mal cabe no papel
Por isso, às vezes penso
Em Natal, Assu, Caicó
Pau dos Ferros, Mossoró
Em botar tudo em cordel
Tem Saci pererê, Boitatá
Matita Perê, a Iara
Tanta história pra contar
Do pastoreio, tem o Negrinho
Tem o Curupira que não pára
De cruzar nosso caminho
Dos índios tantas histórias
Do passado, sempre atuais
Tupã, Jaci, tantas glórias
Cobra Norato, Mani, Potira
Tanta beleza que parece mentira
Que delas não lembremos mais
É o folclore de Cascudo
Que a escola às vezes esquece
Esquece Celso, Tarcisio, Raibrito
E isso ninguém merece
Eles sabem que isso tudo
Pelos jovens deveria ser lido
Temos Boi de Reis, Dona Militana
Embolada, Mestre Marinheiro
Tanta coisa bela e bacana
Tem embola coco, Chico do Boi
Tanto folclore brasileiro
E tanta gente que se foi
Mas, a juventude de hoje em dia
Não quer saber dessa cultura
Gosta apenas de folia
E de um tal de “Ralouin”
Festa esquisita, coisa ruim
Que chega a me dar gastura
É o Dia das Bruxas, bem eu sei
Tem abóbora e coisa e tal
Máscara, monstro, fantasia
Parece até carnaval
Mas é triste, sem alegria
Do jeito que eu relatei
Festa lá da Inglaterra
Lá dos Estados Unidos
Não nasceu na nossa terra
Festa importada dos “Isteites”
Para jovens pouco vividos
É sem conteúdo, só enfeite
É festa de George Bush
Folia de Tony Blair
Pela memória, amigo, puxe
Não somos americanos
Temos samba no nosso pé
E forró no coração
Na festa do “Ralouin”
Chamam abóbora o jerimum
Tem travessuras e gostosuras
Ou pelo menos, algo assim
São essas e outras frescuras
Que não têm sentido algum
Bruxa o Nordeste não tem
Lobisomem dizem que existe
Mas o que me deixa triste
É ver criança fantasiada
De Vampiro, dessa palhaçada
Que à gente não faz nenhum bem=
“Ralouin” não tem violeiro
Não tem xote, não tem forró
“Ralouin” é uma coisa só
Não tem graça nem variedade
Não deixa marca nem saudade
Não tem viola e nem pandeiro
Mas em Natal o que mais tem
É dia das Bruxas em colégio
Isso até é sacrilégio
Digo até que tem também
“Ralouin” de universidade
Para gente de toda idade
Até em boate tem “Ralouin”
Tudo de preto e vermelhão
Gótico ou coisa assim
A música é eletrônica
Nada de orquestra sanfônica
Nem zabumba nem violão
Do meu pai lembrei então
O saudoso Zé Luiz
Padre em Touros e Pendências
Que com muita paciência
Em toda essa região
Fez muita gente feliz
Pelo folclore e com emoção
Zé Luiz lutou pra danar
Viajou por esse mundão
Sem nunca esquecer sua terra
É o afeto que nunca se encerra
Pela nossa cultura popular
Lembrei dos amigos poetas
Tantos que até me esqueço
Citarei alguns, de começo
Todos bons cordelistas
Da nossa cultura, especialistas
Em linhas tortas e retas
De Mossoró tem Cid Augusto
Poeta e jornalista dos bons
Amigo fiel e justo
De Parnamirim tem Acaci
Que vai mostrando seus dons
Com muito suor por aqui
Tem também Manoel, o Mané
Poeta cá de Natal
Bom sujeito que é
Fez até cordel da cachaça
Eita bebida da desgraça
Que faz bem e também faz mal
Tem Zé Saldanha, Crispiniano Neto
Chico Traíra, Elizeu Ventania
Zoroastro, Kydelmir, ave Maria!
Luiz Campos e outros milhares
Todos cantadores de nossos lugares
Tratando a poesia com todo afeto
Para eta estrofe finalizar
Gutenberg juntou esse pessoal
Em um livro que não tem igual
Dicionário de Poetas Cordelistas
Que reúne tantos artistas
Em uma obra tão salutar
Mas, tem jornalistas, advogados
Engenheiros, cabras danados
Valorizando a cultura potiguar
Desprezando a cultura importada
E dando a essa besteirada
O desprezo que devem dar
Em Parnamirim há quem defenda
A cultura, como Ismael
Com seu violão, faz seu papel
E tem Pinto Junior com seu jornal
Sempre alerta da defesa afinal
Da cultura e nossas lendas
E tem a galera do Beco da Lama
Que defende a Cidade Alta
Dunga, Alex, Léo Sodré
Disposição ali nunca falta
Para lutar no que der e vier
Em defesa do que se ama
Lembrei também que Natal
Tem uma lei já aprovada
Que faz o Dia do Saci
Dia trinta de novembro, nada mal
Diacho de lei arretada
Contra o “Ralouin”, já percebi
É de Jorge Araújo esse projeto
Foi sancionada pelo prefeito
Mas para ter melhor efeito
Tem que ser é aplicada
Senão nossos filhos e netos
Terão só a cultura importada
“Ralouin” que nada, eu digo
Deixe disso, meu amigo
Abandone este festa “de fora”
Prestigie a cultura regional
Invista no nosso, sem demora
No Rio Grande e em Natal
E que meus filhos nunca esqueçam
A cultura do nosso país
Para me deixar sempre feliz
Pedro e Ananda, mereçam
Uma cultura tão amada
Pela juventude abandonada
E que minha Geane querida
No caso da minha partida
Guarde meus livros e cordéis
Da vida, nada se leva
Mas o que nos salva da treva
É a cantoria dos menestréis
Fica aqui meu apelo
Para que as autoridades
Tratem com maior zelo
A cultura da nossa terra
Pois trata-la com prioridade
É coisa de quem não erra
Para terminar estes sextilhos
Peço a todos atenção
Para a cultura dos nossos filhos
Esta é a nossa intenção
Na peleja do folclore
Contra tanta enganação.
Cefas Carvalho