terça-feira, novembro 22, 2005

A DJALMA MARANHÃO

Marcus Ottoni


Léo Sodré

Seu Inácio falou:

"Nesse governo não tem política econômica do ministro Palocci. Nesse governo tem política econômica do governo.”
Luiz Inácio Lula da Silva


1915 /2005: 90 anos

A Djalma Maranhão

Djalma, eu que sou a poetisa
da cidade do Natal,
que ensinei a juventude
lhe querer muito bem
e mostrei a todo mundo
as belezas que ela tem
venho render a homenagem
a seu Prefeito também.
pela Coroa dos Reis Magos, de tantos globos de luz,
pela árvore da alegria, que dá sombra prá Jesus,
pelo encanto diferente que a cidade soube dar,
pela alegria do povo
pela crença popular
pelas festas de Natal, que nasce no mesmo dia
que o Deus Menino nasceu.
Louvado seja o Prefeito que o destino da cidade
tão cristãmente entendeu
Pelos cantos. Pelas Danças. Pelos fandangos nas praças.
Pelas lapinhas de outrora. Revivendo a tradição
Aceite meus parabéns!
(Natal, 27-11-1963)

Palmyra Wanderley


O Jogo Claro de Djalma Maranhão


História do Rio Grande do Norte
Fascículo 13 – Crise de 64 e Posterior Paz
Tribuna do Norte


Djalma Maranhão nasceu em Natal, no dia 27 de novembro de 1915. Filho de Luís Inácio de Albuquerque Maranhão e de dona Salomé de Carvalho Maranhão, teve os seguintes filhos: Lamarck (falecido), Marcos e Ana Maria.
Djalma Maranhão foi um homem simples, inteligente e que sabia exatamente o que queria da vida. Não transigia nas suas idéias. Amava os mais humildes e lutava para atender às reivindicações das classes menos favorecidas. Nacionalista, denunciava, gritava, protestava. Expressava sua ideologia de maneira clara e inequívoca, acreditando na vitória do socialismo, convicto de que "somente a dialética marxista-leninista libertará as massas da opressão e da fome através da socialização dos meios de produção e da entrega da terra aos camponeses".
Como não se acomodava às intrigas políticas, nem concordava ou se adaptava a qualquer tipo de corrupção, foi expulso de alguns partidos.
Militante comunista, quando era cabo do exército participou da Intentona Comunista de 35, sendo preso. É o próprio Djalma Maranhão que diz: "Andei pelos presídios políticos e pelos campos de concentração, martirizado pelos esbirros de Felinto Müller e de Getúlio Vargas".
Em 1946, foi expulso do partido comunista, porque denunciou os diretores do partido como desonestos. Foi eliminado, quando se encontrava ausente de plenário, sem que pudesse se defender. A acusação feita por Djalma Maranhão foi escrita.
Era de fato um homem temperamental. Às vezes, contudo, sabia se conter. Exemplo: durante a campanha de 1960 para prefeito de Natal, Djalma Maranhão entrou irado na sala de redação da "Folha da Tarde" com um exemplar na mão. Perguntou, então, quem tinha escrito a manchete de seu jornal, que dizia o seguinte: "Lott - Jango - Walfredo - Maranhão - Gonzaga. Vote do primeiro do sexto". Ao saber que o autor da manchete foi Moacyr de Góes, de conteve e disse: "A manchete está certa. É assim mesmo. Não vamos ficar em cima do muro. Jogo claro. Honrar as alianças".
Mantinha cordiais relações com a Igreja. Certo dia, uma funcionária criticou as pessoas que trabalhavam para a Arquidiocese. Djalma Maranhão sorriu e disse: "Deixe o padre fazer o trabalho dele. E nós faremos o nosso".
Na campanha "De Pé no Chão Também se Aprende a Ler" trabalhavam cristãos (católicos e protestantes), espíritas e marxistas. Por essa razão, o professor Moacyr de Góes chamou o movimento de uma "frente".
Profundamente humano. Intransigente contra a falsidade e a desonestidade, admitia o erro, desde que fosse cometido por alguém que desejasse acertar.
Para ele, governar era realizar. Nas suas administrações como prefeito de Natal, procurou deixar uma marca de dinamismo.
Nas eleições de 31/10/1954, foi eleito deputado estadual pelo Partido Social Progressista, obtendo ótima votação em Natal. Como legislador, teve um grande desempenho, sendo inclusive autor do projeto que deu autonomia ao município de Natal.
Em 1955, Djalma Maranhão apoiou Dinarte Mariz para governador, na coligação PSP-UND. Mariz derrotou Jocelyn Vilar, do PSD. Como conseqüência do acordo dessas eleições, Djalma Maranhão foi designado prefeito da Cidade do Natal, cuja posse ocorreu no dia 1/2/1956.
De acordo com Moacyr de Góes, "nessa primeira administração de Djalma Maranhão, a Prefeitura vai implantar o programa municipal de ensino, através das escolinhas de alfabetização e do Ginásio Municipal de Natal".
No ano de 1959, Djalma Maranhão rompeu com Dinarte Mariz. Suplente, assumiu o cargo de deputado federal, onde se destacou como membro atuante da Frente Parlamentar Nacionalista.
Em 1960, se candidatou a prefeito, participando da coligação "Cruzada da Esperança", juntamente com Aluízio Alves, candidato ao governo do Estado.
Vitorioso, no dia 5/11/60 Djalma Maranhão assumiu novamente a Prefeitura de Natal, sendo dessa vez através do voto. Foi, portanto, o primeiro prefeito natalense eleito diretamente pelo povo, obtendo 66% dos votos.
Em sua segunda administração, Djalma Maranhão demonstrou toda a sua capacidade de trabalho e de liderança política. Aos poucos conquistou a confiança e o respeito da classe média, aumentando seu prestígio junto das classes populares.
Djalma Maranhão não foi apenas um político. Atuou, igualmente, como jornalista. Segundo Leonardo Arruda Câmara, "a imprensa foi a grande vocação. Revisor, repórter esportivo, repórter político, redator, secretário de redação, editorialista, diretor e proprietário de jornais, percorreu na carreira de jornalista todos os postos e funções. Fundou o "Monitor Comercial", o "Diário de Natal" e a "Folha da Tarde".
"Foi diretor e proprietário do "Jornal de Natal".
Como escritor, publicou "O Brasil e a Luta Anti-Imperialista", pelo Departamento de Imprensa Nacional, edição da Frente Parlamentar Nacionalista, no Rio de Janeiro, em 1960, e "Cascudo", Mestre do Folclore Brasileiro", lançado em 1963. Tem também uma obra póstuma: "Carta de um Exilado".
Com o golpe militar de 1964, Djalma Maranhão foi preso. Libertado, posteriormente, através de um "habeas corpus", concedido pelo Supremo Tribunal Federal, conseguiu se asilar na Embaixada do Uruguai, indo morar naquele país, onde veio a faleceu, no dia 30 de julho de 1971.
No último livro produzido pelo antropólogo Darcy Ribeiro, "O povo Brasileiro - A formação e o sentido do Brasil", publicado em 1997, o escrito refere-se à morte e ao apego de Djalma Maranhão ao Brasil, sem contudo citar seu nome. "Pude sentir, no exílio, como é difícil para um brasileiro viver fora do Brasil. Nosso país tem tanta seiva de singularidade que torna extremamente difícil aceitar e desfrutar do convívio com outros povos. O prefeito de Natal morreu em Montevidéu de pura tristeza. Nunca quis aprender espanhol, nem o suficiente para comprar uma caixa de fósforo", relata Darcy Ribeiro.
Segundo Leonardo Arruda Câmara, Djalma Maranhão "foi sepultado em Natal no Cemitério do Alecrim, graças à interferência do senador Dinarte Mariz, acompanhado de grande multidão no maior enterro já realizado em nossa capital que atestou o quanto ele era amado e querido por sua gente".



Djalma Maranhão, o líder que o povo não esqueceu


“Não sei se amanhã amanheço preso ou prendendo alguém”. A frase foi dita pelo ex-prefeito Djalma Maranhão, no “Grande Ponto”, quase meia-noite do dia 31 de março de 1964. O ex-prefeito chegava ao Centro da cidade dirigindo uma caminhonete Ford Roquete, sem motorista e sem segurança. Sozinho, sem parar o motor do veículo, cercado por admiradores e amigos, Djalma disse a frase, provocado pelo ex-líder dos sindicatos rurais do Rio Grande do Norte, José Rodrigues, que perguntou a Maranhão como estava a situação e se o presidente João Goulart tinha condições de debelar o golpe que começara, por ironia do destino, nas terras lendárias das Minas Gerais.
Foi a última vez que vi e ouvi Djalma Maranhão. Depois, a prisão, o exílio, e a morte no desterro com a saudade de Natal doendo todas as noites no seu peito saudoso dos bambelôs, dos cocos de roda, das lapinhas e da tapioca com peixe frito no bar de Dalila, na Redinha. O coração de Djalma, forte e vigoroso, não resistiu à distância do seu povo e da sua terra. Morreu de saudade.
Djalma Maranhão era um político que tinha cara e alma do povo. Nasceu do ventre da vontade popular. Era autêntico. Conhecia seus hábitos, costumes, cultura, folclore, tudo, enfim, sem demagogia, porque tudo nele era natural. Ninguém mais valorizou os festejos populares do que Maranhão. Valorizava e participava. Djalma se confundia com as aspirações populares. Se podia dizer dele referindo-se ao povo: “este, sim, é um deles”.
Prefeito nomeado de Natal e eleito da vontade livre do povo, marcou a cidade com obras que ainda hoje lembram sua passagem pela Prefeitura: Palácio dos Esportes, que hoje tem o seu nome, retirado na época, e reposto no seu lugar pelo então prefeito José Agripino, num ato de reconhecimento e valorização do líder deposto; escolas ”De Pé no Cão Também se Aprende a Ler”; Estação Rodoviária; Galeria de Arte; início da Av. do Contorno e; tantas outras.
Quando o então jovem prefeito José Agripino começou a sua vida pública visitando e conhecendo os bairros de Natal, fazia questão de perguntar, aonde chegava, quem tinha sido o último prefeito a visitar aquela comunidade. A resposta, uma só: Djalma Maranhão. Em um dos bairros pobres da cidade, Agripino construiu uma escola e deu o nome do ex-prefeito.
No exílio, em cartas aos amigos, Djalma falava com saudade de Natal e, principalmente, do peixe frito com tapioca, no bar de Geraldo e Dalila, na Redinha. As cartas mostravam um homem amargurado com o exílio e com um desejo incontido de voltar à sua terra. Desejo que veio se concretizar com sua morte. Ele queria ser enterrado em Natal. E, somente um homem poderia ter atendido a vontade do amigo morto: o senador Dinarte Mariz.
Vendo-se doente e sentindo a presença da morte rondando seus passos, Djalma pede ao dono da pensão em que morava em Montevidéu, que se acontecesse algo com ele, ligasse para o Rio de Janeiro ou Brasília, procurando o senador Dinarte Mariz e dissesse a ele que seu último desejo era ser enterrado em Natal. O velho Dinarte recebe o telefonema, pela madrugada. No dia seguinte, estava no Ministério do Exército, solicitando ao ministro Orlando Geisel um avião da FAB para transportar o corpo de Djalma, de Montevidéu a Natal.
- Ministro, vim lhe pedir autorização e um avião para fazer esta viagem. Djalma quer ser enterrado na sua terra e vou cumprir o seu desejo. Se o senhor não me conseguir o avião, vou alugar um jatinho da Líder e desço com o corpo em Natal, nem que seja aos pedaços.
- Não precisa disso, Dinarte, você vai buscar o seu amigo para sepultar na sua terra, disse-lhe o ministro Orlando Geisel. O velho Dinarte me contou esta história com os olhos marejados de lágrimas, e com a voz embargada pela emoção. Era mais um gesto do homem que era amigo dos seus amigos.
Djalma marcou Natal com a construção de obras de cimento e pedras, valorizou a cultura popular do seu povo, deu escolas aos que queriam aprender sem farda e sem sapatos, governou ouvindo nos bairros os reclamos populares, morreu no exílio com saudade de Natal, mas ainda não recebeu da cidade a homenagem marcante. Natal deve a Djalma este tributo. Uma homenagem com o cheiro do povo que ele tanto amava. Ou, como diria Drummond, com o sentimento do mundo.

João Batista Machado
O Poti, 17/05/92
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Natalenses, de Antoniel Campos
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Um mural de tudo
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Um tudo feito de todas as coisas sagradas e profanas. Dos épicos e dos líricos. Dos santos e dos loucos. Dos heróis e dos vilões. Mas todos encantados por uma aura poética que salva e condena, perdoa e fere, morde e sopra. O lirismo que foge dos antigos nomes dos velhos lugares da cidade: "A Rua Grande e o antigo casario" ..."Caminho de beber, Rua do Meio, o Porto da Redinha,/ o Outeiro...", as "águas potengis".
Humilde, e por isso mesmo poeta, Antoniel , como se estivesse à sombra das velhas árvores da praça André de Albuquerque, procurando a cidade antiga, confessa:
"Tomai da minha mão que, humildemente,
Talento sei faltar nesta empreitada,
o verso que me acorre é indigente,
à Frente da tua página afamada.".
E pede:
"Dizei do que passou que, prontamente,
Na lira cantarei tua jornada,
Senhores Arquitetos deste solo,
Tal dádiva, no verso, vos imploro..."
E como se fossem indispensáveis para cumprir-se uma jornada marinheira, pouco antes da partida para sua circunavegação poética, chama os poetas da cidade, pois é com eles que espera voltar às margens do rio:
Mas venham sobretudo os poetas!
Antídio, Açucena e Edinor,
Ferreira Itajubá – musas secretas!
Gothardo e Auta de Souza – a mesma dor...
Henrique e Walflan – versos de ascetas!
João Lins Caldas – delírio e andor...
"Fernandes, balançai REDE nos ares!
Mamede, enxuga o pranto desses mares..."
E depois de tudo, ao descansar os olhos sobre suas águas potengis, todos vão chegando para a celebração final na praça onde a cidade foi fundada, numa mistura mágica das eras e dos anos, dos dias e dos séculos, numa narrativa-convocação em 44 versos.
Ali estão, diante da Matriz tocando as Trindades do anoitecer todas as figuras de nossa História. De Jerônimo a André, de Colaço a Manuel, de Cascudo a Gothardo Neto. Jorge Fernandes vem descendo a Rua da Palha, lá vão chegando as mocinhas do Tirol e de Petrópolis. Rifault, Padre Miguelinho, Del Prete, Exupèry e Jean Mermoz. O Graff Zeppelin chega boiando no mar azul do céu saudando Severo e Sachet e tudo é festa com Boi Calemba, Fandango, Lapinha e Bambelô.
De longe, com seus olhos calmos, os padres Soveral e João Maria. Os Reis Magos, índios, negros, feiticeiros. Num canto, com sua cabeleira leonina tocada pelos ventos, na elegância das brancas polainas e dos alvos colarinhos engomados, Cascudo deixa o bronze e desce do pedestal olhando as horas no velho relógio da torre da Mariz.
Natalenses, o longo poema de Antoniel Campos, é a opereta de toda essa gente nascida de índios, brancos e negros, entre o mar e o sertão, feita do sangue e do amor de pescadores e de vaqueiros.

Vicente Serejo

por Alma do Beco | 2:47 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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