"Estava havendo uma discussão e decidiram escolher um grupo que representasse a classe por seis meses. Mas não combinaram conosco."
Crispiniano Neto, diretor geral da Fundação José Augusto
Palhaços, sim,
mas em determinadas e precisas circunstâncias
O diretor geral da Fundação José Augusto e presidente do Conselho Estadual da Cultura é assim mesmo: desdenhoso, característica inerente aos despóticos, aos prepotentes. Como presidente do Conselho, convocou os artistas para reuniões nas quais se discutiriam os problemas da Lei Câmara Cascudo, de renúncia fiscal (leia-se 4 milhões de reais destinados à cultura); envia representantes da Fundação para dirigirem os trabalhos de mesa e; se sai com essa: "Estava havendo uma discussão" (como se nada houvesse com ele) "e decidiram (como se a FJA não estivesse representada) escolher um grupo que representasse a classe por seis meses. Mas não combinaram conosco."
O modesto conosco do presidente do Conselho de Cultura e diretor geral da FJA é, a bem da verdade, com ele, uma vez que a FJA estava presente às reuniões através de representantes por ele indicados.
A sugestão de um mandato tampão (linguajar deles, os oficiais, mandato provisório para os artistas) de representantes da categoria dos artistas no Conselho de Cultura, partiu da própria Fundação, não dos maiores interessados, os artistas.
Foram três exaustivas reuniões onde o foco principal, "quem vota", não foi resolvido. Atas destas reuniões, que poderiam ter ido a conhecimento público através de Internet (A FJA tem página própria e assessoria de imprensa com farta lista de endereços eletrônicos, os e-mails), mas não foram. E chegou-se ao cúmulo de ter ata de reunião que não houve por falta de quórum, ocasionada pela má divulgação da mesma, como aliás, tem sido sempre (às vésperas).
Agora, vem o presidente diretor geral e desqualifica a todos, inclusive aos seus, a quem delegou poderes, para dizer que de nada serviram os debates e resoluções e que ele, sim, tem respostas e soluções para tudo: chama a uma reunião (ou assembléia de artistas?) sem pauta, onde tudo já está decidido, reunião para ele dizer: vai ser assim e ponto final, pronto!
Eu sempre achei que os palhaços fossem artistas, verdadeiros artistas do riso, da alegria e também da tristeza. Nunca imaginei que um diretor de instituição cultural, do porte da que está em foco, fizesse artistas passarem por palhaços. Sim, porque até os representantes da Fundação José Augusto que estiveram representando a instituição nos debates eram artistas, e artistas respeitados, com mais de 30 anos de serviços prestados às artes do RN, como Mirabô e Babal, nomes que não merecem pecha de palhaços em quaisquer circunstâncias, muito menos quando representam uma instituição oficial de cultura.
Soa, a declaração do diretor geral, presidente, como se o próprio Estado do Rio Grande do Norte, através dos seus dirigentes, estivesse impondo, a todos nós artistas, a pecha de palhaço. Que até somos, mas em determinadas e precisas circunstâncias.
Eduardo Alexandre de Amorim Garcia
REFERÊNCIA:
A nova novela da Lei Câmara Cascudo
200720/06/2007 - Tribuna do Norte
Rafael Duarte - Repórter
A novela em que se transformou a eleição da comissão gerenciadora da lei Câmara Cascudo promete mais emoção hoje, a partir das 19h, na Pinacoteca do Estado, quando, ao que tudo indica, a trama deve chegar ao penúltimo capítulo - aquele onde ocorrem as brigas e discussões mais fortes com a audiência lá nas alturas. Depois da desmobilizada classe artística se reunir três vezes e sugerir a criação de uma comissão de um mandato tampão com duração de seis meses para analisar os projetos e elaborar mudanças na lei, o diretor geral da Fundação José Augusto, Crispiniano Neto, ignorou a proposta, curiosamente dada por um representante da própria FJA (Mirabô Dantas), e decidiu que de hoje a definição das eleições não passa. O debate promete ser acalorado. Nesta entrevista, Crispiniano, que também acumula o cargo de presidente da comissão gerenciadora da lei, explica o que, segundo ele, deve acontecer nos próximos capítulos.
Os artistas fizeram três reuniões para organizar o processo eleitoral e propuseram um mandato tampão de seis meses. No entanto, o senhor propõe outras regras. Por que?
Estava havendo uma discussão e decidiram escolher um grupo que representasse a classe por seis meses. Mas não combinaram conosco. Não adianta fazer mandato tampão porque não há urgência em analisar os projetos agora porque os R$ 4 milhões da renúncia fiscal já foram comprometidos. Então não precisa de pressa.
Então o que os artistas discutiram até agora não valeu de nada?
Veja bem, não é que não valeu de nada. Mas também não pode valer de tudo. A primeira reunião deu 40 pessoas, a segunda deu 15...
Qual é o quorum mínimo para deliberar as questões referentes à lei?
Até hoje ninguém se preocupou em normatizar as coisas, não existe quorum definido. Mas o que não pode é 12, 14 ou 20 pessoas decidir por todo mundo... por mais que tenha sido divulgado as pessoas não foram. Precisamos ver o que está acontecendo.
O que será definido amanhã (hoje)?
As eleições. Mas é preciso que fique claro que existem dois processos correndo: um legislativo, relacionado às propostas de mudanças da lei, e um eleitoral. Amanhã vamos definir as eleições porque no dia 22 (sexta-feira) vamos publicar o edital com as normas. Estamos dando um prazo até o dia 12 de julho para que a comissão que foi instituída na reunião da semana passada nos apresente as propostas para a mudança na lei. O prazo também vale para o cidadão comum, que pode mandar a sugestão pelo email leicamaracascudo@rn.gov.br. Essas propostas serão reunidas junto com outras propostas da comissão gerenciadora da lei que se dispôs a ficar mais um pouco, uma vez que eles conhecem os problemas pelo gargalo.
Mas as propostas serão normatizadas pelos conselheiros atuais ou por aqueles que ainda serão eleitos?
A nova comissão nem eleita foi ainda. Então os conselheiros que se dispuseram a ficar alguns dias farão esse trabalho.
Quando o governo vai indicar os novos conselheiros da fatia que lhe cabe?
Até o momento os conselheiros indicados pelo governo permanecerão os mesmos. A única mudança foi a da escritora Marize Castro, que pediu para sair, mas o Conselho Estadual de Cultura já indicou o jornalista Vicente Serejo.
Mas não seria, no mínimo, falta de bom senso do governo manter os conselheiros que foram indicados na mesma época que os eleitos pelos artistas?
Olha, isso tem que ter na nova regra. É uma sugestão de mudança que pode vir agora. Mas, como eu lhe falei, até o momento o governo não sinalizou em trocar os nomes.