quarta-feira, maio 23, 2007

CANTE CONOSCO

Marcus Ottoni


"Meus cumpadres, vocês tão com a responsabilidade! Vocês tão no ambiente mais carregado de enzimas e raiz musical que existe no mundo que é o Nordeste. Vocês podem até não vender na TV, mas o mundo está procurando vocês. Façam, trabalhem, sejam exigentes com tudo que sai do útero de vocês. Estão em condições de fazer a melhor música do mundo que é a música nordestina."
Tom Zé


SIMPLES PALAVRAS

Essa rima
Me persegue
Me hipnotiza
Me corrói
Me fertiliza

Essa rima
Me intriga
Me aparece
Me silencia
Me enlouquece

Essa rima
Me suporta
Me espanta
Me machuca
Me encanta

Essa rima
Me sussurra
Me acaricia
Me entristece
Me fortalece

Essa rima
Me abandona
Me engana
Me ganha
Me estranha

Essa rima
Me sorri
Me satisfaz
Me nega
Me entrega

Essa rima
Me chama
Me ensurdece
Me censura
Me enfurece

Essa rima
Me queima
Me afoga
Me domina
Me ensina

Deborah Milgram

O caricato traço expresionista de Léo Sodré

O traço de Leonardo Sodré é fino e preciso, gracioso e, às vezes, engraçado. Seus temas, vários: peixes, cangaço, cenas do cotidiano, rostos.

Gosto da caricatura da vida dos bares, seus personagens, suas cenas descontraídas. Por várias vezes, escolhi trabalhos seus para ilustrarem cartazes de festas da Samba, a Sociedade dos Amigos do Beco da Lama e Adjacências.

Léo é desses que gostam do desenho. Na mesa do bar, numa sessão legislativa, onde está, toma sua caneta e inicia o estudo dos personagens que, rápido, surgem do branco do papel.

Conheci-o no início da adolescência já desenhando cartuns e quadrinhos, às vezes reproduzindo, às vezes criando personagens que ganhavam vida.

O desenho era algo obsessivo em sua vida.

Mais tarde, quando em 1977 começamos o movimento da Galeria do Povo na Praia dos Artistas, ele me chegou com uma temática marinha, um polvo em fundo branco e azul, numa tela que devia medir uns 80 X 50 cm.

Trabalhozinho ruim, com tinta economizada em solução de querosene. Nunca esqueci. Ele não gostou da crítica, mas também não deixou de pintar.

Hoje, sabe que, como dizia uma antiga propaganda de tinta de parede, "o segredo de quem pinta é a tinta".

E ele abandonou o querosene, e suas telas ganharam um colorido especial para traços mágicos e cheios de humor na maioria das vezes.

Léo foi caricaturista do Jornal de Brasília. Esse estágio lhe proporcionou muita experiência nesse aprendizado constante que é a pintura.

Hoje maduro, suas aquarelas são vibrantes, precisas, cheias de luzes e de coloração alegre. Seus óleos ou acrílicos, bem mais ricos.

Nesta sua exposição na Aliança Francesa, ele nos apresenta um pouco de cada técnica que hoje domina com grande maestria.

O título escolhida para a exposição, nada mais condizente com a obra: expressionismo caricatural.

Vale a pena conferir.

Sarau na Aliança Francesa

Local: Aliança Francesa (Rua Potengi, 459. Petrópolis)

Data: 24 Maio 2007

Horário: 19hInformações: 3222 1558

Entrada franca

Eduardo Alexandre


"Sou formado no folclore"

Entrevista com Tom Zé



O cara mais jovem do mundo tem 70 anos de idade. Esse cara poderia ser muito bem o estético- inovador e eterno tropicalista Tom Zé, um dos mais originais artistas da música contemporânea. O compositor, cuja obra encanta a intelectualidade européia e norte-americana aparece pela primeira vez em Natal. Vem para tocar Danc-Êh-Sá, novo disco inserido na música eletrônica, fazer um apanhado da carreira, mas também para passear com esposa Neuza. ''Serão as primeiras férias da minha vida''. Ele se apresenta hoje a partir das 18h30 no Projeto Nação Potiguar na Capitania das Artes. A atração local serão os instrumentistas Paulo Lúcio (violino) Carlos Guedes (saxofone).

No show Tom estará acompanhado por acompanhado de Lauro Léllis / Bateria; Cristina Carneiro / Teclados e Voz; Jarbas Mariz / Percussão, Cavaco, Violão de 12 cordas e Voz; Sergio Caetano / Guitarra e Voz; Daniel Maia / Baixo e Voz; Marcelo Blanck / Produção e Inserção de Timbres; Luanda / Voz e Teclado.

Nesta entrevista o músico fala sobre seu novo disco, a carreira, elogia Câmara Cascudo, relembra o período de ostracismode que foi salvo pelo britânico David Byrne e celebra a música nordestina.


Diário de Natal -É a primeira vez que você vem aqui?

Tom Zé - È isso mesmo, na terra do Câmara Cascudo é a primeira vez que vou, faço tantas idéias do que sejam as coisas da aí. Pela primeira vez vou fazer turimo na vida e aproveitar com minha mulher pra ficar uns quatro dias após o show.

Você vem com uma proposta de fusão com música eletrônica?

O disco não e de musica eletrônica. É que como eu trabalho sempre naquela linha limítrofe entre o que é e o que não e música, as pessoas dão um nome apressado, porque não tem classificação. Foi comovente aqui no Sul a perplexidade da sociedade na hora em que saiu a pesquisa da MTV na qual a juventude, em números acima dos 80%, dizia que era hedonista, consumista, egoísta, que não queria saber de solidariedade, nem de futuro, nem de gastar tem o com os povos mais pobres. Isso espantou porque até aquele momento se tinha a juventude como aqueles que tinham o coração doador. Me senti desesperado e o disco é o resultado do meu desespero. É uma tentativa de me aproximar dessa juventude e podemos chamar de música eletrônica, me botando como um dos inventores disso no mundo. Em 1978 coloquei no palco o primeiro sample inventado no mundo - era um sample artesanal mais outros, como o instrumentos das buzinas e o Fontes de Hertz (ou HertZé). Um incidente gozado: Em 1988 o Instituto Goethe, aqui de São Paulo, convidou jornalistas para assistirem uma música feita com eletrodomésticos e um jornalista da Veja comentou na época em que ninguém mais falava em mim: ''Fomos assistir a audição de uma música feita com eletrodomésticos. Nenhuma novidade para quem assistiu o show do Tom Zé em 1978". Isso foi tão importante pra mim que estava obscurecido pelo ostracismo que me tornei um amigo deste repórter. Em Minas certa vez houve um festival de música eletrônica e fui convidado porque era inventor de instrumentos eletrônicos. Aí no Norte, graças às pesquisas da Petrobras, estão inventando novidades na área de captação de energia. Aqui no Sul as crianças brasileiras participam de eventos de inventores mirins e a delegação brasileira sempre faz sucesso. Na Bahia Dodô e Osmar, são os iniciadores da guitarra eletrônica no começo do século 20. Não temos portanto que pedir licença.

E o disco?

Vou apresentar apenas duas ou três músicas porque como nunca cantei aí tenho que fazer uma espinha dorsal da minha carreira. E ate por que recebo emails de pessoas de cidades do interior, de Fortaleza e de João Pessoa que vão para aí para ver meu show. Também vou levando para vender o novo disco e outros como Estudando o pagode, Opereta sobre a segregação da mulher, meu livro Tropicalista lenta luta e os DVDs - um com estes intrumentos originais que em 2002 a Trama me permitiu refazer.

O que um homem que estudou com Walter Smetak e fundou o tropicalismo escuta hoje em dia?

Escuto a música dos amigos e do Nordeste porque a nossa região tem um destino em direção à música. Quando nasci em Irará(BA) estava em minha frente a Escola de Sagres, de que fala Cascudo; tava em minha frente a saga de Roland, estava a canção árabe, a canção celta, os poetas provençais, a coisa moura, judia. Quando nasci tudo isso estava em torno de mim. Como está aí no RN que conheço um pouco graças a Cascudo, um dos maiores escritores do mundo, um homem de sensibilidade, que viveu aí a vida toda, de quem falo muito quando viajo. Mas eu ouço o Jair Oliveira, produtor do meu disco anterior. Ouço musica do Nordeste porque tem sempre novidade. E quando um festival europeu quer ter respeito ele tem que ter pelo menos três nomes brasileiros. E aí aparecem nomes aí do RN, do Maranhão, Ceará que nem são conhecidas aí mesmo. Minha gravadora lançou uma coletânea de autores nordestinos.

O que significou o músico David Byrne em sua vida?

Eu já ia para Irará pra tomar conta do posto de gasolina de um sobrinho em 1988 quando decidi largar a música. E apareceu a notícia de que Byrne ia me procurar e o produtor Roberto Santana, que lançou muita gente e era diretor da Polygram fez a ponte e me aconselhou: ''Seja um alvo visível, fique aí em São Paulo''. Byrne veio aqui,acabou lançando um disco meu e minha carreira reiniciou como se tivesse me desenterrado. Eu havia sido enterrado na divisão do espólio do Tropicalismo em 1971 e fiquei no ostracismo até 1990 no quando Byrne me lançou nos Estados Unidos e Europa, fiz sucesso e comecei a viver.

Mas há vilões nesse ostracismo?

Não há vilões, mas há pessoas que estavam perto que se tornaram um tropeço. Por exemplo, no filme sobre minha vida que deve passar aí, que ganhou prêmios, em que Caetano confessa que houve uma coisa egoísta, que me colocou de lado. Não é vilania, mas é a disputa do espaço normal nesse trabalho de música. O Augusto de Campos disse uma vez: ''música popular quem mais tem é quem mais precisa''.

Que panorama traça dessa nova MPB?

Durante muito tempo nos vamos ser ainda um reservatório que o mundo tem de proteína criativa, daquele caldo onde começaram a nascer insetos e micróbios para depois aparecer as vidas mais complexas. O Brasil vai ser ainda isso muito tempo devido a grande força cantada no subsolo do Nordeste. Eu sou músico formado pelo folclore, embora não seja folclorista. A música daí é igual ao que provençais sonhavam de fazer uma poesia que fosse som e signnificado. O Nordeste vai ser ainda durante muito tempo a teta, o seio em que o mundo mama música. E os músicos, oráculos de Apolo, que respiram gases envenenados que vêem do Sertão. A música nordestina me dá grande curiosidade. Quando aparecem as bandas do Nordeste aqui eu sempre vou ouvir. Gostaria de conhecer as bandas dái e espero que essa rapaziada possa ir no meu show.

Quando e onde você ouviu pela primeira vez ouviu o disco em Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band do Beatles que agora completa 40 anos?

Caetano sabia que eu não ouvia música e nem falava inglês. Ele me trancou num quarto da casa de Guilherme Araújo em São Paulo e me traduziu palavra por palavra do Sgt pepper's e à noite me levou pra assistir O rei da vela, de José Celso Martinez no Teatro Oficina. Foi um dia inesquecível que eu tive esses dois choques maravilhosos. O disco é a fusão da música erudita, o refinamento da escala diatônica que transformam em harmonia, miscigenado com a música pop, resultou numa obra importante para a humanidade.

Qual a sua visão da política cultural do governo Lula?

Todo mundo adora falar mal de Gilberto Gil. Ele deixou dois Grammy, a carreira, a fama internacional, a família, os amigos, todos o que adora para deixar de ser pedra e se tornar vidraça. É um trabalho de sacrifício. O pessoal do cinema que no início se posicionou contra ele, agora estava lutando para que ele continuasse no segundo governo. É um consenso que Gil tem uma ventilação para o problema da arte pela sua capacidade pela fama que tem em todo o mundo.

E que mensagem deixa para os artistas potiguares.

Meus cumpadres, vocês tão com a responsabilidade! Vocês tão no ambiente mais carregado de enzimas e raiz musical que existe no mundo que é o Nordeste. Vocês podem até não vender na TV, mas o mundo está procurando vocês. Façam, trabalhem, sejam exigentes com tudo que sai do útero de vocês. Estão em condições de fazer a melhor música do mundo que é a música nordestina.

Moisés de Lima
Da equipe do Diário de Natal

por Alma do Beco | 1:20 PM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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Praieira
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A imagem de fundo é do artista plástico e poeta Eduardo Alexandre©

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mariza lourenço

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