“Parreira armou um escrete podre. Ronaldão, balofo e desinteressado, tem mais barriga do que perna; o trintão Emerson já não esconde o cansaço; os laterais Roberto Carlos e Cafu ficam largados no meio de campo acompanhando a corrida tonta de Ronaldinho, Kaká e Adriano.”
Miranda Sá, O Jornal de Hoje
"No meio da multidão do Beco da Lama, o cidadão comum esbarrava nos músicos, tropeçava nos poetas e caía no colo da cultura. Do ator ao artista plástico, do cineasta ao dançarino. E tudo isso sem falar no compositor, acostumado a ver o intérprete montar na fama que passa feito cavalo selado em disparada. Independente de cara feia, todos ali eram populares."
Rafael Duarte, Tribuna do Norte
Alexandro Gurgel
Produtor Dorian Lima agradece presença do público no I MPBeco
Antoniel Campos realiza sarau poético
A livraria Siciliano do Midway Mall convida para o sarau poético "De Cada Poro um Conto", com Antoniel Campos. Compareça!
Data/Hora do evento: 31/5/2006 - 19h
Local: Livraria Siciliano - Shopping Midway Mall
TCHIM-TCHIM
Aos beijos não dados
Aos braços não entrelaçados
Aos corpos afastados
Aos corações safenados
Eu brindo!
Ao rumo tomado
Ao que tinha que ser
Ao fazer o quê?
Ao não arrepender
Eu brindo!
Ao tratado de paz
Ao direito de mais
Ao chamado jamais
Ao bem que me faz
Eu brindo!
Deborah Milgram
Viva a música autoral
Tribuna do Norte, 30/05/06
Rafael Duarte - Repórter
A resistência do Centro Histórico de Natal empunhou a bandeira da cultura popular no fim de semana e expôs as feridas de uma cidade iluminada que vive às turras com o brilho de seus artistas.
A final do primeiro festival de Música Popular do Beco da Lama (I MPBeco), realizado sábado passado para um público superior a duas mil pessoas, quebrou tabus, mostrou falhas na estrutura do evento e não fugiu à polêmica das disputas de antigamente.
No fim das contas, mesmo debaixo de vaias e gritos de “marmelada”, a decisão do júri que premiou “Volta”, de Simona Talma e Khrystal, como a melhor canção do festival, acabou funcionando como tema da trilha sonora dos eventos ao ar livre que costumavam reunir grandes públicos no passado. Simona ainda levou para casa o prêmio de melhor intérprete. Já as composições de Tertuliano Aires lhe valeram o segundo lugar (“Tarde”, em parceria com Nagério) e terceiro (“Jesuíno”, com Zé Fontes) lugares.
Ao todo, 168 canções inscritas disputaram os R$ 6 mil distribuídos pela produção do I MPBeco, que contou com patrocínio da Prefeitura do Natal, lei Djalma Maranhão, Destaque Promoções, Cardiocentro, Offset Gráfica, além do apoio das empresas Interjato, Aeromídia, Continental e a Vtacompugraphdesign. “Fizemos o projeto através da lei Djalma Maranhão, com renúncia fiscal e conseguimos os parceiros. Para o patrocinador também foi muito positivo. Tivemos uma média de duas mil pessoas em cada um dos três dias de evento, contando as eliminatórias. Abrimos novas portas. Vamos fazer de tudo para realizar a segunda edição porque na nossa visão foi realmente um evento positivo para a cultura do nosso Estado”, disse o idealizador do I MPBeco, Dorian Lima.
Em contrapartida, apesar da declarada valorização da produção autoral do Estado, o encerramento da noite sob a batuta da banda de covers “gringos” Boca de Sino deixou meio mundo de gente sem entender. Foi o ponto negativo do festival. “A gente ficou com receio de chamar uma banda para fechar o evento que tivesse inscrito música no festival. E optamos pela certeza de não passar por isso”, explicou Lima.
Para o próximo ano, a organização também poderia repensar a questão do conforto do público. A interdição da rua por trás do palco, espaço marcado pela descontração da galera que fugia do calor e da multidão que assistia aos shows, é fundamental. Principalmente pelas crianças acompanhadas dos pais que deram um clima familiar ao evento. Com a pista liberada, o risco de atropelamentos era iminente.
Antes do “pega-pra-capar”, uma justa homenagem ao forrozeiro Elino Julião, que morreu dia 20 de maio por conta de um aneurisma cerebral. O músico Galvão Filho, acompanhado de um autêntico trio pé-de-serra, lavou a alma com os principais sucessos do mestre, para delírio do povo.
Emocionado, o produtor musical José Dias fez uma revelação durante a apresentação. “Cresci ouvindo Elino Julião na rádio Cabugi, mas o primeiro show que vi dele foi no réveillon do ano passado, aqui no Beco da Lama. Estou muito emocionado de estar aqui, e com inveja do São João que vai ter no céu, com Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Jacinto Silva e Elino Julião”, disse.
Veteranos e jovens letristas dividem o gosto da platéia
No meio da multidão do Beco da Lama, o cidadão comum esbarrava nos músicos, tropeçava nos poetas e caía no colo da cultura. Do ator ao artista plástico, do cineasta ao dançarino. E tudo isso sem falar no compositor, acostumado a ver o intérprete montar na fama que passa feito cavalo selado em disparada. Independente de cara feia, todos ali eram populares, sem aquela coisa entalada do mainstream.
O público, que não arredou pé, aplaudiu. Das canções defendidas com unhas e dentes no palco, destaques populares para o “Exterminador de Sentidos”, parceria de Romildo Soares e Lupe Albano, interpretada pelo performático Rodolfo Amaral, que só não fez chover no Beco, porque agradou até São Pedro.
A música tem uma letra forte como nos versos “Você! Tem que aprender a sangrar todo mês / Tem que saber se portar entre gays / Sem tentar embaçar meus canais / Com lições teatrais de pavor” e uma melodia que coloca num mesmo campo a MPB e o tango. Se a decoração de palco já havia deixado Rodolfo no céu, a empolgação da galera fortaleceu a mágica parceria. “Foi o destino. Veio o cupido e flechou. Me sinto orgulhoso de cantar Romildo”, disse olhos nos olhos do compositor, que brincou com a própria sorte quando soube do resultado. “Festival tem dessas coisas. Se não tiver uma injustiça, não é um festival”, ironizou.
Também orgulhoso, mas um pouco mais frustrado pela pane no som quando defendeu a música “Cultura”, o cantor, rapper, compositor e percussionista Neguedmundo disse a todo mundo que a “música de preto” é tão popular quanto o samba e a bossa nova brasileira. Depois de tentar arrancar em vão um minuto de silêncio da galera em homenagem a Elino Julião, Neguedmundo foi o único a sair do palco com os gritos de “já ganhou!”. “Tirando a sabotagem do som, só de ter mostrado a bandeira do meu Estado e o vinil de Elino Julião, me sinto um vencedor”, disparou.
Alheia às vaias do público, a grande vencedora do I MPBeco, Simona Talma, caiu no choro quando soube do resultado. Ela dedicou o prêmio à amiga Khrystal com quem dividiu a parceria de “Volta”, melhor canção. “Somos compositoras muito jovens. Khrystal é maravilhosa. Não estou acreditando que ganhei. A gente só queria participar. Tem muita gente no festival que tem muita experiência e muita coisa boa. Não vi a reação do público, mas estou muito feliz. Apostava em Khrystal como intérprete”, afirmou.
João Maria Alves/TN
A luta coletiva de defesa do Centro Histórico me premiou
Depois da surpresa de ganhar o reconhecimento de um prêmio como o do Diário de Natal de produtor cultural do ano, vem a indagação das razões que levaram a conquista do tão almejado troféu O Poti.
Ainda em meio à forte emoção do primeiro momento, as primeiras palavras foram de agradecimento aos que estiveram conosco nos primeiros momentos de atividade artística. Vieram as lembranças dos finais de semana na Praia dos Artistas, quando no final dos anos '70 fazíamos a Galeria do Povo.
A Galeria do Povo era um movimento artístico a céu aberto, quando realizávamos exposições espontâneas de poesias, crônicas, artigos, recortes de jornais e revistas, artes visuais, esculturas e faixas de manifestações políticas.
Foi da Galeria do Povo que vieram os Festivais de Artes do Natal, no Forte dos Reis Magos, e as comemorações ao Dia da Poesia, realizadas, a princípio, romanticamente, e que se tornou data que se sedimentou no calendário de eventos da cidade.
Foram anos de muito romantismo na arte potiguar e que possibilitaram um ajuntamento de artistas das mais variadas manifestações e matizes, sem nenhuma preocupação de escolas ou tendências.
Dos tempos românticos aos dias de hoje, muitas promoções realizamos. Algumas vitoriosas, outras fracassadas. E muitos sonhos ficaram pelo caminho. Lembro 'O Dia da Criação', quando estivemos à frente da Associação dos Artistas Plásticos do RN, que, como tese, era algo a se esperar muito e que dele praticamente nada ficou. As limitações financeiras sempre foram vetores de alguns desses fracassos. Outras vezes, nem essas limitações impediram o sucesso de promoções sonhadas e realizadas.
Lembro a criação da Casa do Produtor Cultural pela FJA, da qual fui o primeiro administrador por pouco mais de três meses, e da tristeza de vê-la se acabar, poucos anos depois, à falta de quem zelasse pela idéia.
Claro que o passado de quem labuta nas artes da cidade há quase 30 anos, deve ter pesado na escolha de quem trouxe a mim essa homenagem.
Mas, creio, o trabalho recente deve ter pesado mais nessa escolha.
Com certeza, o trabalho à frente da Sociedade dos Amigos do Beco da Lama e Adjacências foi de fundamental importância para esse reconhecimento.
Foi através da SAMBA que pudemos desenvolver um trabalho quase que cotidiano em defesa do nosso centro histórico. Já até se perdem na nossa memória o tanto de eventos realizados, todos tendo como preocupação primeira chamar a atenção de autoridades e da própria população para a importância de se preservar o local que foi berço da cidade.
Para tanto, foi preciso novo ajuntamento de pessoas interessadas para o trabalho coletivo. E quantos não foram os que já estavam nesse ajuntamento nesses 30 anos de dedicação?
Mas muitos outros vieram nessa soma necessária. Trouxeram idéias e delas se fizeram atitudes que procuraram dar força ao movimento cultural que emergia do centro da nossa Natal antiga e tão contemporânea, com seus novos poetas, músicos, atores, bailarinos, artistas plásticos, jornalistas, enfim, toda uma gama de pessoas que nem só queriam fazer crescer o movimento cultural que vivemos, como despertar cada vez mais o amor pela nossa cidade e sua cultura.
O ajuntamento cresceu e os eventos vieram, culminando com os ousados II Festival Gastronômico do Beco da Lama em três etapas consecutivas, o I Réveillon do Centro Histórico e o I Carnaval do Centro Histórico.
O Festival Gastronômico do Beco da Lama, o PratodoMundo, tendo, embutida em si, a pretensão de tentar transformar o nosso centro em Praça de Alimentação também para quem nos vista. Lutar pela preservação patrimonial, com olhos para o turismo, é buscar a nossa história ali viva e cheia de atrativos, desafiando escritores e alimentando sonhos e devaneios de novas gerações.
O Réveillon do Centro Histórico tentando e conseguindo preparar o Carnaval que há anos sonhávamos e que morto estava há pelo menos três décadas no nosso centro.
Esses foram os últimos eventos de nossa gestão. A eles, creditamos, talvez, a lembrança da premiação.
Mantivemos com estes três eventos uma relação de paixão. De gana em realizá-los. Mesmo diante de incompreensões e da muita dificuldade que foi fazê-los.
Hoje, não estou mais à frente da bem-amada Samba. Mas a entidade de defesa do nosso centro está consolidada e é uma referência da cidade. Uma referência forte, porque de bem-querer e porque de identidade, de pertencimento.
Aos que hoje a administram, ficou a responsabilidade de tocar o trabalho deixado. Inclusive a busca de compromissos firmados para melhorias físicas do espaço urbano, buscados junto a vereadores e firmados pelo prefeito da cidade.
As parcerias culturais para a realização de eventos estão consolidadas. Fundação José Augusto, Capitania das Artes e Agência Cultural Sebrae foram e são fundamentais para o sucesso do trabalho feito e a realizar.
Parto, individualmente, para novas iniciativas. Algumas, de caráter particular. Mas não poderei esquecer, jamais, a força que sempre os trabalhos coletivos tiveram em minha vida neste difícil, mas prazeroso, campo das artes.
Aos que estiveram conosco neste trajeto, deixo sinceros agradecimentos, ao tempo que, com todos, partilho a glória deste troféu Poti.
A todos, muito abrigado, na certeza de que ainda estaremos juntos em muitos outros projetos.
Eduardo Alexandre
Tributo a um ídolo, amigo e parceiro
Cantinho do Zé Povo – O Jornal de Hoje
Elino Julião da Silva é o nome do meu saudoso ídolo, amigo e parceiro. Nos conhecemos nos idos de 1968, numa fria noite de um sábado do mês de junho, no auditório da Rádio Borborema de Campina Grande-PB, durante o Programa Forró de Zé Lagoa. O saudoso Rosil Cavalcante era o apresentador e a cidade de Campina Grande, ainda não tinha “o maior São João do Mundo”.
A coisa era mais simples, mais poesia, mais amor, mais sertão... Um sertão onde a droga não passava nem perto (pra se falar em maconha, era por debaixo de “sete capas”...); não tinha discoteca e os forrós eram puxados a fole de oito baixos (Pé de Bode); não existia zabumba, era o melê (uma espécie de tambor feito com uma ancoreta sem tampa e o local onde o melezêro batia, não era de couro, era de borracha de câmara de ar); e complementado com o triângulo e o pandeiro, que só faltava falar na mão de um bom pandeirista. E, ali, no Forró de Zé Lagoa, tinha todos esses apetrechos.
Foi nesse ambiente que conheci meu saudoso e querido amigo Elino. Nos sábados à noite, quando eu estava por lá, pela fazenda Pocinhos ou Malhada de Roça, meu pai mandava Rivaldo Motorista na velha e saudosa veraneio, que vinha cheia para o Forró de Zé Lagoa. Lá, conheci Elino, Marinês, Jackson do Pandeiro, Genival Lacerda em início de carreira e muitos outros ícones da música popular nordestina.
Depois do forró do auditório, ia-se para o forró propriamente dito, nas Buninas, Quartel do Quarenta, Bodocongó, Santo Antonio, Zé Pinheiro, e principalmente no Canarinho, o famoso primeiro andar da Rua Quebra Quilos, esquina com o Mercado Central. E, sempre nesses lugares, além dos freqüentadores e freqüentadoras costumeiras, “abrejava” de cantores da época. Minha convivência com Elino foi muito curta, mas intensamente vivida.
Nossos laços de amizade estreitaram-se, quando o encontrei por acaso na casa de Nascimento, seu cunhado, casado com sua irmã Mariquinha, lá na Cidade da Esperança. Aí, a gente passou a se ver mais vezes, sempre que tinha um “pé de cachaça” no quintal da casa de Nascimento, lá estávamos, e Elino, quando estava em Natal, dificilmente faltava a esses encontros... Chico Brasileirinho ao violão e Zezinho do Cavaquinho ao dito cujo, acompanhavam tudo que se propunha a cantar nesses agradabilíssimos encontros.
Em 2000, compartilhamos o palco pela primeira vez, na esquina da Miguel Castro com Jaguarari, no Tributo a Luiz Gonzaga, organizado pelos nossos queridos amigos Mano Targino, do então Bar e Restaurante O Beradeiro, e pelo Marcos Lopes, hoje com o Forró da Lua. Depois, participamos juntos de vários eventos, onde estava havendo qualquer coisa sobre cultura popular, lá estávamos, às vezes sem termos nem combinado, mas estávamos juntos, nessa parceria informal e voluntária, em defesa das nossas raízes culturais.
A última vez que estivemos juntos, foi na entrega do Título de Cidadão Natalense a Dominguinhos. Na semana passada, pouco antes de “sua passagem”, nos falamos por telefone, combinando sua participação no meu segundo CD; entraríamos em estúdio dentro de uns vinte dias. Ele iria participar cantando uma marcha de minha autoria, intitulada Entre a Praia e o Cariri, onde falo de todos esses lugares que palmilhamos juntos. Mas não deu tempo. Faz mal não, querido Elino; fica para a próxima encarnação! Deus te tenha!
Bob Motta
A sombra do juazeiro murchou com saudade de Elino Julião
A sombra do juazeiro potiguar está solitária com a partida do saudoso cantador do sertão, Elino Julião. Sua copa, que outrora nos deu sombra através da criação artística musical, numa espécie de conforto espiritual, perdeu as folhas, e o tronco ficou envergado, com os galhos em forma de braços, numa súplica cristã, dando um adeus ao poeta musical que cantou o sertão potiguar com a mesma naturalidade que tem os pequenos córregos que deslizam no coração da mata.
Elino que rima com menino, era a pureza humana de um coração infantil no corpo de um adulto. O riso estampado entre as curvas enrugadas do seu rosto, expressava uma felicidade tão eterna, como os eternos beijos das ondas na beira do mar. Acredito que a tristeza e o pranto, que tanto assola os seres humanos, não encontraram moradia na alma do cantador potiguar. Como o próprio juazeiro que oferece sua copa frondosa pra o sertanejo se abrigar, fugindo do sol escaldante do meio dia, Elino oferecia constantemente a sua imensa copa de afetos para quem se aproximava dele.
O seu espírito bondoso se projetava através da criação artística, fazendo com que a sua música expressasse sempre o lado bom da vida. Elino não foi o poeta/cantador da negatividade, da falta de esperança e do descontentamento. Tudo pra ele era feito de alegria e felicidade. Mesmo com a idade avançada, onde o crepúsculo da velhice cria sombras pra existência humana, Elino em cima do palco ou fora dele era uma aurora de vigor, de vitalidade e de desempenho. Quem teve a oportunidade de assistir o cantor do sertão, viu que ele não parava um instante sequer.
O grande legado do poeta/cantador, foi o compromisso de cantar a sua terra. Através da simplicidade poética musical, Elino exaltou o sertão potiguar com a mesma verdade que Elomar usa ao cantar as barrancas do rio do gavião. Acredito que o rio seridó deve está vertendo prantos com saudade do seu filho ilustre. Elino abraçou a sua terra com os olhos da observação contemplativa, e fez do seu lugar um mundo encantado de esperança, fé e fraternidade.
Na sua música encontra-se a fé cristã do homem sertanejo; nos seu canto, a paisagem da caatinga é expressa com imagens poéticas líricas da relação homem natureza; dentro do seu canto, o romantismo sertanejo é exaltado com pureza e autenticidade; a poesia da saudade da terra é constante pra quem como ele viveu distante do seu lugar, percorrendo os palcos de várias cidades do Brasil; o sentimento ecológico é a grande marca da sua preocupação com os animais do sertão, principalmente o jumento, um dos grandes símbolos da identidade sertaneja.
Elino, foi durante o século passado, um dos pioneiros e desbravadores que levou o estandarte cultural da arte nordestina para o Brasil, junto com Luiz Gonzaga, Zé Marcolino, Zé Dantas, Humberto Teixeira, Jackson do pandeiro, Antônio Barros, Rosil Cavalcante, João do Vale e outros compositores menos conhecidos O cantador de Timbaúba foi percussionista durante alguns anos do ritmista Jackson do pandeiro, e teve várias músicas gravadas na voz de Luiz Gonzaga.
Na história da musica produzida no nordeste, Elino tem a mesma importância que têm todos os compositores acima citados. Ele não fez só discos (mais de 40); ele usou a música pra mostrar pro Brasil a sua terra, e fez da vida e da arte musical o compromisso de ser porta voz de um povo simples, que habita uma região repleta de manifestações humanas, complexa e cheia de adversidades.
Por isso Elino foi e é imprescindível como forma de patrimônio cultural. O cantador resistiu as banalidades que o forró e outros estilos passam hoje em dia com a deturpação das chamadas bandas de forró. O poeta de Timbaúba universalizou a sua terra com simplicidade, capacidade e responsabilidade. Por isso é autentico e imortal.
Acredito que nesse instante o sertão chora sua partida. Na prosopopéia da imaginação literária, os galhos do velho juazeiro estão suplicando pra que Deus envie de volta quem o cantou tão bem; as folhas da árvore que sempre estão verdes, murcharam de tristeza por não puder mais oferecer a sua sombra ao vate do Seridó; o jumento baixou a cabeça e não relincha mais ao meio dia, e o seu rabo estar assustado com medo de outros “Nascimentos”, que paradoxalmente ameaçam a vida do animal símbolo do sertão.
Todas as coisas humanas ou não, que foram cantadas por Elino, choram de saudade, sabendo que o cantador menino viajou pra região celestial, e só voltará em forma de música e poesia, se seu trabalho musical continuar tocando em rádios, televisões e demais espaços destinados à cultura nordestina.
Mas nesse momento, acredito que existe um lugar transbordando de alegria com relação a Elino Julião. Esse lugar é o paraíso celestial da música. Pode ter certeza que debaixo dum Juazeiro, lá no céu, Elino está nesse momento cantando sua musica bela pra Zé Marcolino, Zé Dantas, Luiz Gonzaga, Rosil Cavalcante, João do Vale, Humberto Teixeira, Antonio Barros e outros, numa confraternização universal, oferecida com simplicidade e amor através das coisas belas que alimentam o espírito humano.
Gilmar Leite