domingo, maio 28, 2006

TIRANA DE ANTENORO

Marcus Ottoni


Resultado do I MPBeco - Festival de Música do Beco da Lama

Vencedores:


Melhor Música: Volta (Krhystal/Simona Talma) Simona Talma

2º Lugar: Tarde (Tertuliano Aires/Nagério) Carlos Bem

3º Lugar: Jesuíno (Zé Fontes/Tertuliano Aires) Zé Fontes


Melhor Intérprete: Simona Talma
Melhor Arranjo: Jesuíno (Zé Fontes/Tertuliano Aires) Zé Fontes


MPBeco: letra da música ganhadora

Volta
(Simona Talma/Khrystal) - Simona Talma

Esqueci teu sorriso, volta
Volta que eu gosto de me olhar
Por que te vejo em meus olhos
Volta que sinto a falta do meu, por favor!
Que
Eu tinha pressa o tempo todo
Agora eu durmo

Vem que só vejo resquícios
E eu quero tudo inteiro
Volta que eu não fotografei teus sentimentos
Que eu nunca tive esse letreiro
Anunciando o que é o amor.

Júlio César Pimenta
I MPBeco - Ceiça de Lima
Simona Talma foi a grande vencedora do I MPBeco

MINIMALISTAS

Possessivos
Meros pronomes…
Indiscutivelmente
Inexistentes
Nós carregamos
A real, evidente prova
Desse saboroso vácuo.

Deborah Milgram




EMBARGOS DE TERCEIRO
"Quem, não sendo parte no processo, sofrer turbação (...)
na posse de seus bens (...), poderá requerer lhe sejam (...)
restituídos por meio de embargos (CPC, Art. 1046)"


Acosta-se, embora intempestivo,
pedido de sustar-se esse processo
em que deliberei-me réu confesso
no Campo absoluto e relativo.

É pedra cada instante que atravesso,
e inútil perquirir por qual motivo
quis pedra fosse o instante onde me vivo
e por que não me paro e recomeço.

Mercê da própria vaga em que derivo,
um quê me diz de pleito impeditivo
e raras as nuances de sucesso...

Mas sendo o que me resta e ora peço,
o embargo dessa lide faço expresso:
acosta-se, embora intempestivo.

Antoniel Campos




A mais bela e quase ignota música do mestre Elino Julião

Como se fosse um poema da lavra mista de um Garcia Lorca com Patativa do Assaré, o mestre Elino Julião, juntamente com Dilson Dória ( parceiros em "Xodó de Motorista" e "Vamos Chamegar" ), compuseram uma das mais singulares músicas, dotada de um lirismo enigmático e arrebatador. Apenas Xangai e Renato Teixeira, até então, haviam contemplado tal pérola no CD "Aguaraterra", de 1995.

Trata-se da composição "Tirana do Vaqueiro Antenoro", onde a deliberada sintaxe matuta dos versos traduz a gesta de amor, tragédia e perdição dos vaqueiros nordestinos, permeada de aguda e sapiente observação dos que compartilham os segredos da natureza.

Certamente traspassado pelo impacto da perda desse "antepenúltimo moicano", representante do autêntico forrobodó nordestino (posto que também reconheço a importância de Genival Lacerda e Luiz Vieira neste contexto), ouso afirmar que pouco se tem registro de tão extraordinária criação poética e melódica em toda a obra de Elino Julião e até nas demais composições de autores da mesma cepa do mestre de Timbaúba dos Batistas.

A "Tirana do Vaqueiro Antenoro" contém os mesmos elementos emocionais e temáticos da toada e do blues, cuja linha matricial remonta aos tempos dos "cantos do trabalho":

"Oi tirana, tiraninha
trata de mim que sô tcheu
Si tu num tratá de mim
quem vai imbora sô ieu...
Eu vô morá em terra longe
Ausente do que é meu.

Retaiai os meus peitcho
cuma faca fina
E aparai o meu sãingo
cum tchas mão, minina.

Sangrai os meus peitcho
cuma faca fina
E aparai o meu sãingo
cum tchas mão minina.
Os rio preto quando enche
Nas curva faz um remanso
Dos pásso de pena que avoa
o mais bonito que eu conheço é o ganso
Apois quem tem sarna nas pôpa
As unha não tem descanso".

Foi justamente neste universo de trabalho criativo e sensível que Elino recebeu da revista Brouhaha (segunda edição), o epíteto de "Operário do Forró", denominação merecida para quem deixou uma vasta discografia em meio século de militância no mundo musical, como se percebe no título do seu derradeiro trabalho - "Por Dentro do Movimento" - a ser lançado postumamente e que pontifica a irrequieta e constante busca deste grande artista que seguiu as mesmas pisadas de Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro.

Portanto, resta aos potiguares (e principalmente estes) o zelo reivindicado na estrofe inicial da sentida "Tirana do Vaqueiro Antenoro": "Oi tirana, tiraninha / trata de mim que sô tcheu / Si tu num tratá de mim / quem vai imbora sô ieu... / Eu vô morá em terra longe / Ausente do que é meu".

Graco Medeiros



VOA, MEU SABIÁ

A cultura popular e o talento estão de luto. Todos estamos. Às nove e meia da noite do sábado, vinte de maio último, depois de pulsar por sessenta e nove anos, seis meses e sete dias, o coração generoso de Elino Julião parou de bater.

Perde o Rio Grande do Norte, perde o Nordeste, perde o Brasil. Maior forrozeiro de todos os tempos, compôs mais de setecentas músicas, das quais mais de quatrocentas foram gravadas. Ouvido em países como Portugal, Espanha, Bélgica, Itália e Japão, nosso Elino é um cidadão universal. Universalizou o forró e orgulhou esse valoroso Nordeste pelo mundo afora.

De Timbaúba dos Batistas, no querido Seridó, passa por Caicó e vem para Natal de carona, “pegando morcego” num caminhão. Em pouco tempo nossa capital fica pequena para ele. Com seu extraordinário talento, vai bater no Rio de Janeiro e de lá ganha o mundo.

Por ironia do destino, parte nesse período tão mágico, deixando com “água na boca” Santo Antônio, São João e São Pedro. Conosco, uma enorme saudade.

Ô, Elino, você não poderia nos deixar logo agora! Como é que vai ficar o forró? É certo que você voou para outro universo. Para a imortalidade, conquistada somente por aqueles que a semearam com o exemplo de vida.

Eu sei que Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro e Abdias estavam com muita saudade do companheiro. Mas para nós foi precoce. Tão precoce como a sua produção artística. Afinal ninguém consegue unir, a um só tempo, tanta simplicidade e tanto talento. Só você. É por isso que Patativa do Assaré lhe espera com um sorriso.

Você, nosso sabiá potiguar, voou alto. Encheu de orgulho o nosso peito de povo sofrido e injustiçado. É difícil explicar a relação mágica entre a alegria do canto do sabiá e o sofrimento de um povo excluído. Pela seca e pela cerca.

Cantar a realidade de seu povo é talvez o seu maior legado. Muitos conheceram o sertão através de seus versos e de sua música. No sertão, só a melodia do canto do sabiá para espantar a tristeza que a desigualdade provoca.

Em Natal, quando vereador pelo Partido Comunista do Brasil, foi um privilégio reconhecê-lo como Cidadão Natalense. A Câmara Municipal nunca viu tão bela festa como naquele vinte e oito de maio de 2004, na entrega da justa homenagem.

Uma coisa é certa: No período junino do ano da graça de dois mil e seis, com certeza o céu está muito mais animado com a presença alegre de Elino Julião. Nessa viagem, nosso sabiá certamente vai cantarolando: “... avisa ao pessoal de casa que eu vou mandar brasa em noite de São João”.

George Câmara




Armando, riso e siso
Tribuna do Norte

Na calçada do bar da meladinha, Território Livre do Beco da Lama, as mesas estavam ocupadas. A conversa girava em torno das glosas de Laélio Ferreira e da próxima candidatura de Alex Gurgel à presidência da Samba. De vez em quando, vinham de dentro do bar gritos, urros, palavrões - e nenhum bequiano se incomodava mais com aquilo. Todos já estavam acostumados com o bom humor, a educação, a delicadeza das mulheres que tomam conta do bar. Um retardatário chegou, bicou a meladinha de alguém e jogou com espalhafato um livro em cima da mesa. "Esse Armando Negreiros é o cão chupando manga!" - gritou. Um discípulo do boêmio Castilho completou: "O cão com febre e a manga quente!" Estava inaugurada uma longa sessão sobre A Folga da Dobra, o mais recente livro de Armando Negreiros.

Volonté, o poeta peripatético, disse que o livro estava em sua cabeceira, na fila para ser lido. E louvou o seu lançamento na AS Livros, numa festa onde havia "scotch" para afogar um batalhão de escoceses e comida para abastecer todo o programa Fome Zero. Volonté já está de malas prontas para comparecer à noite de autógrafos de Armando em Mossoró, nem que tenha que viajar a pé.

Outro bequiano, voltado para as artes plásticas, elogiou a capa do livro, principalmente a foto belíssima de Giovanni Sérgio. No Potengi incendiado pelo pôr-do-sol, o autor do livro observa ioles e remos que arrepiam o rio, sentado numa mesa onde seu copo de cerveja também se incendeia. "Giovanni é um dos maiores fotógrafos do país! É o nosso Sebastião Salgado em cores!", exclamou alguém. Houve aplausos.

Em seguida, o único intelectual que havia lido o livro começou a discorrer (intelectual não fala, discorre) sobre A Folga da Dobra. E todos, até o vendedor de umbu, ficaram sabendo que Armando Negreiros é um médico que escreve muito bem, tem um humor rico e maravilhoso, que ele externa num estilo preciso, irreverente, bem superior a muitos jornalistas de carteirinha. Domina temas como medicina, a língua portuguesa, leitura, literatura e até direito. E o que prevalece nele é sempre o humor, nunca o pedantismo. Demonstra ser um leitor compulsivo, com o privilégio de uma memória que fotografa e guarda tudo que lê.

"Parece o pai dele, Rafael Negreiros, que sabia de tudo e mais alguma coisa. E ainda era brabo que só a gota, macho dos seiscentos diabos", disse em voz alta um mossoroense bairrista (redundância?). O intelectual aproveitou o aparte para tomar uma meladinha, fumar um cigarro, depois continuou sua incursão pelo mundo de Armando Negreiros. Disse que os perfis elaborados pelo autor beiram a perfeição. E dá o exemplo de Negócio Neto, um talento extraordinário, que trocou figurinhas com Millôr Fernandes, que fez a versão para o latim do inglês traduzido literalmente por Millôr no seu "The cow went to the swamp" (A vaca foi pro brejo). A galeria de mortos e a legião de amigos de Armando desfilam pelas páginas do livro, com elegância e desenvoltura, e fazem a festa do leitor.

O intelectual bequiano, depois de uma breve pausa, remata (intelectual não conclui, remata): "Há um velho ditado que diz: 'Muito riso, pouco siso'. Armando Negreiros derruba essa aparente verdade proverbial."

Nei Leandro de Castro


Alex Gurgel
I MPBeco - Alex Gurgel
Margot, bela presença ontem no I MPBeco

por Alma do Beco | 8:05 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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Praieira
(Serenata do Pescador)


veja a letra aqui

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A imagem de fundo é do artista plástico e poeta Eduardo Alexandre©

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