"Independente da minha continuidade ou não no cargo, há uma necessidade, por causa do turismo no estado, de se organizar circuitos culturais para o turista."
Isaura Amélia de Sousa Rosado Maia
José Augusto
Orf
Isaura e Dunga, no Center Onze - 2004
Entrevista - Isaura Rosado
O Poti, 17.12.2006
Dias contados para 2007 chegar e nesse período algumas palavras se tornam quase que obrigatórias, como: balanço e projetos para o futuro. Olhar para o ano que está acabando e conseguir identificar os erros e acertos, para que eles possam servir de exemplo para os novos 365 dias que estão por vir.
Nessa entrevista exclusiva com a atual presidente da Fundação José Augusto, Isaura Amélia Rosado, ela falou sobre as suas realizações ao longo de quase sete meses no cargo, como a documentação do patrimônio cultural potiguar que realizou o levantamento de quase quatro mil itens do patrimônio arquitetônico, móvel, museológico, de artes visuais, imaterial e sacro. Este projeto ela considera um de seus maiores feitos, ao lado do retorno do Coral Canto do Povo que está entre os melhores do país, sob a batuta do Padre Pedro.
A presidente falou ainda da sua gestão que foi iniciada após toda a turbulência causada pelo Foliaduto, comentou as dificuldades e fez um balanço de suas realizações. Apesar de ter afirmado que a governadora Wilma de Faria não se pronunciou sobre a sua permanência ou não no cargo para a próxima gestão, Isaura pontuou alguns projetos que são prioridades para os próximos quatro anos.
“A Fundação José Augusto teve vitórias em 2006”
O Poti - A senhora está na presidência da Fundação José Augusto há pouco mais de seis meses. Quando assumiu o cargo a instituição atravessava o problema do Foliaduto, como a senhora encontrou a Fundação naquele momento?
Isaura Rosado- Nós encontramos algumas dificuldades, mas que foram todas entregues a suas instâncias e devidas competências. As dificuldades estão sendo acompanhadas por doutor Jorge Galvão que está, por determinação da governadora, acompanhando todo esse processo na justiça. E na verdade eu fui tomar conta da parte administrativa e da parte cultural da Fundação.
O Poti - Naquele momento como foi entregue a senhora a parte administrativa e cultural?
Isaura Rosado - A Fundação José Augusto foi criada como uma estrutura para agilizar as ações que a administração direta não tinha condições de resolver com prontidão. Então ela não tem na história dela uma cultura de rigor processual dentro da instituição, e, com os acontecimentos nós precisamos assumir os caminhos da administração direta. Então nós tivemos que passar todas as nossas contas, todas os nossos processos, todos os pagamentos tanto para a Controladoria quanto para a Procuradoria. Isso refletiu numa certa morosidade nas ações da Fundação José Augusto na parte administrativa.
O Poti - Essa morosidade causou alguma interferência na parte cultural?
Isaura Rosado - Não acho que atrapalhou não, mas acho que a gente teve que cuidar um pouco disso, porque administrativamente a Fundação estava precisando desse cuidado. Mas isso está absolutamente superado.
O Poti - Quais as suas conquistas na área cultural?
Isaura Rosado - Nós tivemos alguns vitórias como o retorno do Coral Canto do Povo que está com 70 vozes. Considero também importante que nós estamos publicando o inventário Catálogo das Artes Visuais Pertencentes ao Governo do RN. A gente encontrou mil obras na administração direta e indireta, nós localizamos, fotografamos e descrevemos tecnicamente. Isso é importante porque significa a responsabilização dos gestores públicos pelas obras de arte do Governo do Estado. Tivemos o cuidado de incluir no catálogo, que será lançado até o fim do mês, todas as pessoas que doaram obras para a Pinacoteca. Posteriormente acho que vamos fazer um trabalho de análise desse acervo. Nós também estamos concluindo um projeto que se chama Patrimônio Cultural, que nos permitiu fazer todo o inventário de todo o patrimônio cultural potiguar em diversas áreas, como os aspectos arquitetônicos, museológicos, nas artes visuais, no patrimônio imaterial e no patrimônio sacro. Esse projeto será concluído até o final do mês, quando lançaremos as plaquetes e isso também será disponibilizados em banco de dados.
Vamos fazer ainda este ano a exposição histórica sobre a Fortaleza dos Reis Magos, que vai contar a história do Forte. Fizemos ainda os Seminários de Documentação Bom Dia, entregamos equipamentos elétricos e eletrônicos para os museus do Governo do Estado. Esses equipamentos já contém tudo catalogado que existe no acervo desses museus. Estruturalmente os museus estão organizados, o que fica faltando para o próximo ano é uma melhoria da condição das exposições que não deu para fazer agora. Nós assinamos um convênio com o Sebrae que vai nos passar R$ 100 mil para o início de um novo ciclo das Casas de Cultura. Fizemos o Encontro de Dramaturgos do Nordeste, a sexta edição do Prêmio Luis Carlos Guimarães, publicamos dois números da revista Preá, inauguramos sete Casas de Cultura, realizamos mais de 40 licitações pela Fundação e licitamos novas Casas de Cultura. No período natalino o coral Harmus vai se apresentar todos os dias em frente ao Teatro Alberto Maranhão, a partir do dia 20, na Árvore Encanto de Natal que tem dimensões muito amplas. Estamos fazendo ainda o Presente de Natal que começa no dia 20.
O Poti - Como está atualmente o acervo dos Museus vinculados à Fundação? Durante sua gestão houve alguma melhoria?
Isaura Rosado - Na Pinacoteca houve uma melhoria. Foi tudo higienizado, as molduras foram trocadas e todo o acervo está em boas condições. A estrutura interna está bem, externa não, mas foi uma decisão minha não fazer essa melhoria por causa da possibilidade do Presente de Natal ir para lá. O Presente deixa um desgaste muito grande no prédio, por ter que utilizar muita iluminação.
No Forte dos Reis Magos foi feita a reforma, ainda na época de François (Silvestre - seu antecessor na presidência da Fundação), nós vamos entrar com ambientação, novos móveis, colocando para funcionar os quiosques, ministrando cursos para aqueles que irão trabalhar nos quiosques e vamos informatizar a bilheteria. O Memorial Câmara Cascudo funciona bem, o acervo pertence a própria família de Cascudo. No Café Filho foi realizada a documentação do acervo, mas precisa de uma outra exposição assim como o Museu de Arte Sacra.
Existe pouco interesse dos natalenses em conhecer e visitar esse nosso acervo museológico. Assim como, poucos turistas sabem da existência desses nossos valores, existe algum projeto para mudar essa realidade?
Independente da minha continuidade ou não no cargo, há uma necessidade, por causa do turismo no estado, de se organizar circuitos culturais para o turista. E nesses circuitos os museus têm que estar incluídos, pois fazem parte da nossa história. Assim os museus estarão também preparados para receber os natalenses. Precisamos fazer programações culturais para os museus.
A criação das Casas de Cultura foi um projeto que terminou por mobilizar o interior do estado, descentralizou a cultura que estava, em grande parte, voltada para a capital e deu uma estrutura para que aqueles que fazem arte no interior tivessem um espaço e uma maior possibilidade de continuar o seu fazer artístico. Mas por outro lado, alguns dirigentes ou a própria comunidade dessas cidades vem mostrando um pequeno, ou inexistente, poder de mobilização, para a utilização desses espaços e até para a promoção da cultura nesses locais. A Fundação tem algum projeto ou idéia para estimular esse pessoal e impedir que algumas Casas de Culturais percam a sua função?
A governadora já me disse que quer na próxima gestão que a gente invista maciçamente na mobilização cultural a partir das Casas de Cultura. Esse convênio que a gente assinou com o Sebrae já é indicativo, é norteador do que nós vamos fazer, como: ministrar cursos de pintura, de desenho, de gravura, de dança, de direção de teatro. Nós vamos começar a abraçar essas manifestações nos locais das Casas de Cultura. Por outro lado nós vamos organizar os circuitos culturais intermunicipais, estimulando que os talentos potiguares circulem pelas Cassa de Cultura, para isso vamos precisar do apoio das prefeituras. Entre concluídas, e em conclusão, nós temos 45 Casas de Cultura que cobrem 75% da população do Rio Grande do Norte. Mas a governadora ainda quer fazer algumas. Dessas, sete foram inauguradas na minha administração, tem uma pronta em Janduís e talvez este ano a gente ainda conclua mais duas.
O Poti - A revista Preá teve uma grande importância na interiorização e documentação da cultura potiguar. Essa publicação terá espaço na próxima gestão?
Isaura Rosado - Ela continua sim. Já continuou, tem um número que foi lançado em julho, um concluído que será lançado até o fim do mês e ficaram faltando dois números que já estão prontos e licitados, no começo do ano eles devem circular.
O Poti - Com relação ao projeto Seis & Meia corre uma informação de que a Fundação, por causa de entraves burocráticos da máquina, estaria devendo passagens aéreas, a agência de turismo e inclusive alguns cachês de artistas nacionais. Isso é verdade? Como fica a situação do projeto para o próximo ano?
Isaura Rosado - O Seis & Meia tinha o financiamento de uma grande empresa e esse financiamento foi subtraído. Então o projeto ficou durante esse período bancado pelo próprio Governo, não teve apoio sequer do Governo através da lei de cultura. Então eu já conversei com o secretário da Administração para a gente procure algumas firmas, dessas grandes firmas que prestam serviços ao Governo, para ver se a gente encaixa o Seis & Meia dentro de uma linha de financiamento que pode até ser através da Lei Câmara Cascudo, mas que a gente tenha mais autoridade na execução.
O Poti - Diante disso, o Seis & Meia continua?
Isaura Rosado - Continua, ele já é patrimônio nosso.
O Poti - Qual o espaço que a cultura popular terá no próximo governo?
Vai ser talvez o carro chefe. A governadora tem me pedido, e eu lamento não ter feito ainda porque a burocracia efetivamente nos reduz um pouco, é a Estação de Cultura Popular que vai funcionar na Esplanada Silva Jardim, no antigo prédio da estação de trem. Vai ter um Museu de Cultura Popular, lojas de artistas, exposições temporárias, restaurante. O folclorista Deífilo Gurgel é o nosso consultor nesse projeto e a nossa intenção é também adquirir a biblioteca dele.
O Poti - O Foliaduto deixou algum entrave, algum problema que prejudicou a sua administração?
Isaura Rosado - Os olhos sobre a Fundação José Augusto ficaram muito mais abertos, muito mais zelosos, muito mais cuidadosos. O que é bom para a Fundação e é bom para o período em que eu estou lá. Isso na realidade significa um pouco mais de morosidade. O Governo já anda num passo mais lento e algumas coisas se perderam, como é o caso da Estação de Cultura Popular, que eu não tive agilidade e nem tempo para isso. Esse olho maior sobre a Fundação ajuda e não prejudica, pois as coisas acontecem com mais correção.
Karl LeiteIsaura é singnatária do livro de filiações da Samba. Aqui, com dona Nazaré, depois do carneirinho do almoço.
O Poti - A governadora chegou a dar algum sinal sobre a sua continuidade ou não a frente da Fundação?
Isaura Rosado - Não. Ela nem está conversando muito sobre isso. Se tiver a oportunidade de continuar colaborando vai ser muito bom para mim, pois sei o que precisa ser feito na cultura e gostaria de fazer. Mas não tenho sinalização e estou pronta para servir a ela na Fundação, na minha casa e em qualquer outro lugar como sempre fiz.
O Poti - Se a senhora continuar, o que deseja para a cultura do Estado em 2007?
Isaura Rosado - A governadora já me disse que quer fazer, nos próximos quatro anos, uma revolução cultural no Estado utilizando as Casas de Cultura como epicentro, sem descuidar a capital, onde iremos nos voltar para os eventos de folclore, o Natal em Natal, melhorar os museus para servir de atividade pedagógica, cultural e turística e outras coisas como republicar a obra completa de Oswaldo Lamartine e Othoniel Menezes, que já está em andamento. A casa ao lado do Teatro Alberto Maranhão nós recebemos da UFRN e lá vai funcionar o Liceu das Artes de Natal, onde ficarão todas as escolas de arte e vamos criar o Liceu das Artes de Mossoró. Vamos ainda criar o Memorial Chico Antônio, em Pedro Velho, na casa que foi dele. Ainda temos a construção de um novo teatro na Romualdo Galvão e do complexo cultural na Zona Norte. Temos muitos caminhos.
O Poti - Como a senhora avalia a sua administração?
Isaura Rosado - Acho que dei uma contribuição muito significativa na questão da memória. Talvez tenha sido a mais importante, não por ser melhor que as outras áreas, mas por ser a mais esquecida da Fundação. Uma crítica que me faço é por não ter tido tempo de trabalhar a questão da Biblioteca Câmara Cascudo, apesar de ter trazido para o Rio Grande Norte 16 novas bibliotecas através do programa do Governo Federal que eu coordenei. Mas a biblioteca precisa de um tratamento melhor e maior.