"Um dia, 20 de maio de 1956, Eloy de Souza começou a escrever. Fui seu datilógrafo nas primeiras 180 páginas, colaborando nas datas e pormenores nominativos."
Luís da Câmara Cascudo
MEMÓRIAS DE UM VELHO
Eloy de Souza nasceu em 1873 e bacharelou-se em Ciências Sociais na turma de 1894, no Recife.
Pedro Velho não permitira que tivesse o curso completo. Fizera-o chefe político, delegado de polícia em Macaíba.
Na eleição de novembro de 1894 Eloy saiu Deputado Estadual, “leader” do Governo.
Desincumbiu-se perfeitamente. Era a unanimidade mas os interesses administrativos gerais colidiam, às vezes, com os particulares, necessitando ladear, desviar, convencer.
Pedro Velho prometeu-lhe a Deputação Federal mas foi obrigado a eleger Amaro Cavalcanti ex- Senador na Constituinte de 1891.
A estrela velava por Eloy de Souza. Prudente de Moraes convidou Amaro Cavalcanti para Ministro da Justiça e este aceitou. Renunciou à deputação em Janeiro de 1897. Em Junho, Eloy de Souza era Deputado Federal. Tinha 24 anos de idade...
Ficou na Câmara dos Deputados até 1914 quando, em março, passou para o Senado da República. Em Janeiro de 1927 renunciou, para acomodação distribuitiva dos chefes de savindos.
Voltou à Câmara dos Deputados em 1927, décima terceira legislatura e aí se encontrava em outubro de 1930 quando a Revolução dissolveu o Legislativo.
Ainda em outubro de 1935 foi eleito Senador pela Assembléia Constituinte do Rio Grande do Norte. Mandato, até 1942 mas Getúlio Vargas, fundou o Estado Novo e Eloy de Souza encerrou sua carreira parlamentar, novembro de 1937.
Ficara na Câmara e no Senado de 1897 a 1930 e ainda 1935 a 1937. Toda a história política da primeira república passara ao alcance dos seus olhos e muitas vezes com sua participação, conhecimento, colaboração de Prudente de Moraes e Getúlio Vargas, vira todos os Chefes de Estado, as batalhas e as escaramuças partidárias.
Privara com os grandes Jornalistas brasileiros, os poetas, os romancistas, os historiadores, os cronistas.
Capistrano de Abreu alude sempre a Eloy de Souza com simpatia, ato consagratório para a feroz independência do historiador.
Quer no pequeno mundo norte-rio-grandense, quer na política nacional, Eloy de Souza foi uma testemunha e mesmo um ator.
Jornalista, economista, conversador magnífico. Viajou pela Europa. Viu a Grécia e o Egito, estudando-os de perto.
Faleceu com 86 anos, outubro de 1959.
Não era possível que essa vida nobremente exercida no plano parlamentar e político, a visão de um homem brilhante, honestíssimo, memória excepcional, deixasse unicamente algumas centenas de artigos e anedotas que o tempo faria evaporar nas lembranças contemporâneas.
Insisti anos e anos para que escrevesse suas reminiscências. Era patrimônio de experiência, observação, depoimento presidencial no terreno histórico e psicológico.
Um dia, 20 de maio de 1956, Eloy de Souza começou a escrever. Fui seu datilógrafo nas primeiras 180 páginas, colaborando nas datas e pormenores nominativos. Eloy disse-me ter ampliado e completado os capítulos. Não sei em que ponto deixou, ao falecer.
Daniel Pereira, um diretor da Livraria José Olímpio Editora, prometeu-me editar esse livro, historia da vida de um dos mais antigos parlamentares do Brasil.
Eloy de Souza atravessou, vivendo e compreendendo, as fases mais sugestivas da história nacional.
As suas Memórias de Um velho terá revelação e surpresas dignas de constatação.
Não pode e não deve continuar inédita.
Luís da Câmara Cascudo, 24.12.1959
In O Livro das Velhas Figuras – Vol.4 pág. 148.
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