quinta-feira, setembro 25, 2008

CEGOS

Marcus Ottoni

"O candidato Miguel Mossoró é descendente de Alves e de Maia. O pai tem sobrenome Maia e Suassuana. A mãe se chama Joana Alves."
Sérgio Vilar, Diário de Natal


Dia da Poesia, 2007

Sem luz

Eduardo Alexandre

Sexta-feira passada, comecinho da tarde em Nazaré.
Eu, numa mesa apertada de calçada devido ao sol, conversava com o monotemático Vatenor, que passava para o almoço:
- E, aí? Fala-se que a Pinacoteca foi toda transferida para a sede do CEDOC?
- Nada. No CEDOC, estamos eu e o Luciano Rock. O acervo está na sala de reserva, no Palácio.
Chega Helmut Cândido e pede a caneta que sobressai-se no bolso da camisa de Vatenor.
O ex-carteiro entra no bar, senta-se, toma um guardanapo de papel e começa a escrever.
Volta e entrega o papel a Vatenor:
- Dois reais.
Vatenor diz que não tem e o poeta-carteiro deixa pra lá:
- O próximo poema você paga. E devolve a caneta do diretor da Pinacoteca do Estado.
Sol descido mais um pouco, forma-se uma mesa, já no calçamento.
Um circunstante noviço no pedaço, também com uma caneta no bolso da camisa, logo é abordado por Helmut, que faz o mesmo pedido e volta à mesa onde estava. Pega outro guardanapo e volta a escrever novo e inédito poema.
Volta ao camarada, devolve a caneta e entrega-lhe o papel:
- Dois reais.
O cara lê o poema, dá de ombros e diz:
- Não está muito caro, não?
Helmut esbraveja, toma-lhe o papel e amassa-o, para depois jogá-lo na rua, ao vento.
Fui buscar:



Abusei da autoridade
encontradiça na cidade
e perdida lá nos campos!

Mesmo até os pirilampos
perderam o brilho do olhar!

Cegos ficaram
e pelos campos foram-se
para não mais voltar.



A vida boêmia de Natal - 1939
Elísio Augusto de Medeiros e Silva


Por volta de 1939, início da II Guerra Mundial, os cabarés mais famosos de Natal situavam-se na Ribeira. Bastante freqüentados, eram muito populares, fazendo parte integrante da vida boêmia da cidade, que se iniciava depois das 9 horas da noite, quando as famílias já tinham se recolhido.
Na vida noturna provinciana encontravam-se as prostitutas, os cáftens e os gigolôs, que também serviam de inspiração aos poetas e escritores.
Naquela época, a cerveja era vendida ao preço de mil e quinhentos réis, sendo uma das bebidas mais consumidas pelos pândegos da boemia. As mulheres da zona pediam martini aos acompanhantes, que era servido ao preço de cinco mil réis a dose. A popularização do whisky ocorreu somente depois, com a chegada dos americanos a Natal.
Nos cabarés, às vezes, aconteciam pelas madrugadas brigas e pancadarias, entre os freqüentadores, sendo necessária a presença da polícia, para acalmar os mais exaltados.
Normalmente, dentro das pensões alegres existia uma figura andrógina, alegre, com requebros e trejeitos femininos, cabelos oxigenados, muito conhecida pelos freqüentadores. Por aquela época, uma era conhecida por "Afago verde".
Nesse tempo, as parteiras eram responsáveis por grande parte das vidas que surgiam. O parto era feito em casa, com o resguardo de vários dias e muita canja de galinha. Em partos mais difíceis, surgia o médico, com a sua inseparável valise e o estetoscópio.
As pensões alegres eram freqüentadas por pessoas de diferentes níveis sociais. À noite, já com o dólar correndo solto, surgiram os vendedores clandestinos, que vendiam perfumes, isqueiros, sabonetes, whiskys, cigarros, etc.
As músicas mais tocadas nas radiolas de ficha eram os tangos e maxixes, que, aos poucos, foram sendo substituídos por swings, blues e fox trotes, já na década de 1940.
Naqueles anos, apareceu na zona uma novata: morena, de olhos e cabelos negros, que circulou por várias casas noturnas e despertou a paixão de muitos freqüentadores. Os seus pretendentes eram selecionados pela disposição de abrir a carteira. Contam que ela terminou os seus dias abandonada e esquecida no Beco da Quarentena, tomando injeções diárias de "914", aplicadas por um enfermeiro da Saúde Pública aos portadores de sífilis. A profilaxia era uma lavagem à base de permanganato.
As notícias da guerra, via BBC Londrina, transmitidas pela Agência Pernambucana, antes da inauguração da REN - Rádio Educadora de Natal, eram geralmente acompanhadas pela "Canção do Expedicionário", que traduzia a saudade da pátria e a esperança de vitória dos Pracinhas Brasileiros, na Itália. Por ali se tinha notícias dos últimos acontecimentos da II Guerra Mundial na Europa.
No Cine Polytheama, na Praça Augusto Severo, Ingrid Bergman, Diana Durbin, Judy Erland e outros artistas encantavam os telespectadores.
O movimento do Porto, ali perto, era intenso, guarnecido pelos fuzileiros navais que, sob o tema "Adsumus", que significa "aqui estamos", eram admirados e respeitados pela população, em virtude do exemplo de dedicação e profissionalismo em defesa da pátria.
As notícias da noite corriam velozes, de boca em boca, e terminavam no Grande Ponto, ou no Bar Cova da Onça, na Av. Tavares de Lira, onde o garçom "Cara larga" atendia aos clientes, na parte de trás do Estabelecimento. Muitas dessas histórias já modificadas pelo povo.
Assim era a vida noturna da Natal boêmia do início dos anos 40.

por Alma do Beco | 11:14 AM | | Ou aqui: 0




terça-feira, setembro 16, 2008

RICO PODER

Marcus Ottoni

"Me dê o seu voto e eu lhe dou a minha honestidade."
Joanilson Rêgo, candidato a prefeito de Natal


Decepada Rua da Palha
Eduardo Alexandre


É chão
O centro da memória

Todos os fantasmas
Que descansavam entre aquelas paredes
Perambularão agora
Por aqueles becos
Que cismam ficar

Voltarão a Nasi
Ao Potiguarânia
Deixarão um dedo de prosa em Odete

Do sax do velho Mainha
Ouvirão saudosos
Doces acordes de uma praieira a cantar

Climatizado
Virá o magazine
Asséptico
No coração da cidade de plástico
Sem alma



Rico poder
Eduardo Alexandre

Não voto mais no PT.
Não voto em Lula e tudo o que hoje envolve e representa sua política.
Nele votei e vesti a camisa do partido.
Saber que sua primeira eleição foi um embuste eleitoral, com compra de coronéis e partidos; que quem elegemos pagava a parlamentares votos favoráveis a projetos que meses antes eram combatidos fere a dignidade da República, avilta a verdade democrática do voto livre.

Todo o jogo sujo da política suja brasileira, Lula e o PT abarcaram, tomaram para si.
Não voto em quem assume e defende vitórias a qualquer custo.
O poder hoje é esse poder do grampo que atinge o Supremo, do dinheiro na cueca, da compra – sabe-se lá com dinheiro ou política de qual origem - de muitos e outros, de mais e mais podres poderes. Cruciais. Ricos poderes.

por Alma do Beco | 10:17 AM | | Ou aqui: 0


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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