"A democracia no Brasil corre o sério risco de sofrer um golpe e, devagar, vai se delineando no horizonte da política aquilo que o presidente Lula vinha fazendo questão de publicamente negar: que ele deseja pleitear mais quatro anos de poder".
De nota do PPS, sobre a defesa por deputados, como Devanir Ribeiro (PT-SP) e Carlos William (PTC-MG), de apresentação de uma proposta de emenda constitucional que viabilize um terceiro mandato ao presidente Lula a partir de 2011.
Festival Gastronômico do Beco contará com grandes nomes
Depois de uma reunião marcada pela discórdia entre os diretores da Samba (Sociedade dos Amigos do Beco da Lama e Adjacências), Dorian Lima e Júlio César Pimenta, na tarde deste sábado no bar Bardalos, que quase chegaram “às vias de fato”, finalmente a programação foi fechada.
Com o esforço de Aluízio Matias e Camilo Lemos, que se juntaram voluntariamente a Júlio César Pimenta, diretor da Samba, após o colapso nervoso de Dorian Lima, que abandonou a reunião, ficou decidido, após vários contatos telefônicos e dentro do orçamento da entidade, as seguintes atrações para os três dias do Pratodomundo:
1. Romildo Soares/Yran
Mad Dogs
2. Donizete Lima
Rodolfo Amaral
3. Chorinho da Sexta (Catita)
Kristal
No “Carnabeco”, bateria da “Malandros do Samba” e uma banda de frevos.
O evento ocorrerá nos dias 10, 17 e 24 de novembro e o Carnabeco no dia 1º de Dezembro. A Confraternização natalina será no dia 29 de Dezembro. A entidade (Samba) não dicidiu nada com relação ao Reveillon do Centro Histórico.
Trabalhando com um orçamento reduzido (apenas três mil reais), dado pela Funcarte, os diretores da Samba não tiveram como estender a programação, apesar do sucesso do Pratodomundo em anos anteriores.
O fato é que, embora a prefeitura de Natal tire enorme proveito político das ações culturais emanadas dos que fazem cultura a partir do Centro Histórico de Natal, trata os produtores da Samba como pedintes, apenas dando um orçamento que talvez não cubra uma almoço festivo da Funcarte para contratar algum nome nacional.
Mesmo assim, com cachês quase simbólico, nomes como Kristal, Rodolfo Amaral e Mad Dogs se prontificaram em estar presentes no evento.
O esforço histórico do grupo G16, que assumiu a direção da entidade após o abandono da diretoria eleita, é merecedor de todas as honrarias. O esforço empreendido por essas pessoas em favor da entidade não deverá ser esquecido. Talvez o evento não tenha a dimensão e brilho dos ocorridos em anos anteriores, mas terá a marca do esforço de poucos que se juntaram em favor de Natal, embora as "autoridades" da cultura local não consigam vislumbrar a importância do Pratodomundo para a cidade e para o turismo.
É o Beco. É a resistência!
Leonardo SodréBeco da Lama
Eu vi o Beco
não vi a Lama
vi que o Beco
só tinha fama.
Parede torta
verdade crua
nem era Beco
nem era rua.
O meu olhar
inda continua
nem vejo beco
nem vejo rua
de dia, sim!
o tempo sua
de dia, o sol
de noite, a lua
parece lama
mas não flutua
corre poesia
naquela rua
tem peito cheio
tem pouca grana
viola amiga
cara humana
quem tem dinheiro
cresce na fama
então é Beco
então é lama
amor jogado
sem ser na cama
quem come carne
que vem da lama?
o mar bem perto
a onda chama
tem caranguejo
dentro da lama
a boca é suja
inventa e trama
por que o Beco
Beco da Lama?
A lama é rica
é um oceano
o Beco fica
no meio da lama.
Geraldo Anízio
A Feira de Caicó
Farinha seca é feita de mandioca
Beiju assado, pamonha de milho verde;
Canga e cangalha, Cantareira de umburana,
Ferro de brasa, tipóia e cordão de rede.
Jibão de couro, dobradiça de porteira,
Chapéu de palha, cocorote e brilhantina;
Sela e chicote, arataca e candeeiro,
Mel de abelha e pavio de lamparina.
Além do peixe, a melhor carne de sol,
Feijão macaça, cebola e trança de alho;
Arroz da terra, rapadura de primeira,
Batata doce, manteiga e queijo de coalho.
De tudo tem pra vender na feira livre
Colher de pau, valentão, pua e quichó;
Se duvidar tem até moça bonita,
Que é o produto mais bonito de Caicó.
Geraldo Anízio
'amar-te a ti nem sei se com carícias'*
amar-te a ti nem sei se com carícias
por toda a vida sei amar-te-ei
se bem prefira seja com carícias
pois sei que assim melhor amar-te-ei
mas se disseres serem-te as carícias
desnecessárias inda amar-te-ei
transformarei palavras em carícias
e em cada verso a ti amar-te-ei
meio ao silêncio — anseio de carícias
de corpo inteiro inteira amar-te-ei
com meu olhar envolvo-te em carícias
e ao meu olhar dirás — amar-te-ei
dia após dia nem sei se em carícias
unicamente a ti amar-te-ei
Márcia Maia
*Amar-te a ti nem sei se com carícias é o título do romance de Wilson Bueno, publicado pela Ed. Planeta do Brasil, Rio de Janeiro, 2004.
Ojuara e seu desafio contínuo contra o cão atemporal
O caboclo Ojuara Abaporujucaiba foi talvez o maior macho norte-rio-grandense que há. Mais macho que o Jesuíno? Do que o tarairiú Janduí? Do que Celso da Silveira (que nas "Pelejas de Ojuara" é o glutão Celso da Silva), Cascudo e mais uma ruma de gente? Talvez. E é exatamente o que aqui se glosa que vai agora mesmo ser moteado!
Ojuara descende de Janduí. O rei dos tarairiús que teve 25 mulheres em sua vida. No romance, o historiador (já falecido) natalense Olavo de Medeiros Filho surge como Olavo Filheiros, que diz o que aqui foi dito no início deste parágrafo. Ojuara surgiu quando Zé Araújo se rebelou do título de manicaca recebido pelos homens de Jardim dos Caiacós, por onde vivia com a fogosa Duá, Dualiba. Muito sexo. Ele com a jiribaita. Ela com a poderosa perseguida, seus peitos e sua grande bunda, com atenção merecida. Um jornalista francês ao ler Jorge Amado viu o que se segue: Para começar, sexo. Depois sexo, e mais sexo e então sexo, sexo, e por fim sexo. Parecido com As Pelejas. Só que neste livro há metáforas de grande profusão filosófica, metafísica, política.
Há a luta do bem e do mal. Deus e o diabo. Tupã e o diabo, para ser mais preciso, por conta da identificação indígena de Ojuara, falando e tendo grande apreço para com a língua indígena. Continuando, Zé Araújo se revolta ao ouvir do barbeiro Pompílio: "barba ou pentelho, seu Araújo?", gozando do episódio contado pelo menino Zé Pretinho, que trabalhava na casa de Araújo e Duá, que falou o que diz neste verso do livro cantado pelo glosador Tota de Dona Biga, na obra:
Jamais conversa fiado,
Num fala de coisa feia
Nem é cabra de peia
O guarda livros coitado.
Tem o focinho fechado
Parece fazer careta
E se sabe, não é peta,
Que além de tudo mais isso:
O guarda livros magriço
É barbeiro de buceta.
Aí então José Araújo Filho se torna Ojuara Abaporujucaiba, herói norte-rio-grandense, riograndense do norte e mais um personagem que seja um herói brasileiro genuíno. Um personagem multifuncional!
O exemplar volume do potiguar Nei Leandro de Castro é uma das obras feitas para deleitar. É livro de ponta, de primeira qualidade, temperado com a inspiração do sertanejo, o miolo de quartinha, as paixões, o bovarismo, o homérico, o bélico, o sexual, o espontâneo, o Felismarte de Hircania, Palmeirim de Inglaterra, Roldão, Orlando, Rodrigo e o Pégaso e o quixotesco, o pitoresco, do povo e de suas obras, do cordel e da poesia erudita, do tupã, do deus, do Zeus, do tribufu, caningado, cão, diabo, da safadeza, da esperteza e da incógnita, do Moyses e do Sesyom, do sertão sem porteira, do menino e do homem, do homem e da mulher, do doce e da carne-de-sol, da peia e do xibiu, da cachaça e do vinho, da macaxeira e da carimã, do Rio Grande e do Brasil.
Há no livro o mesmo sertão do Grande Sertão: Veredas; o sertão que se transforma em mundo e em constelação. Há a mesma luta com uma força maior: o diabo. O diabo que diz Posso Cair e parece um caititu. Que estupra. Que não briga se restringindo ao solo. Briga até o fim dos fins. Um diabo matreiro e safado que não quer saber de nada (que é o que se espera de um cão).
No filme "O Homem que desafiou o Diabo", baseado n ´As pelejas de Ojuara, o diabo dança maracatu e fala que só um Cão mesmo. É inteligente e intenso. Chama-se Cão Miúdo, por ser bem menor que o seu inimigo Ojuara. Um personagem e tanto, pensado e muito bem pensado.
Aqui chegamos a uma conclusão, um consenso. Heidegger, quando foi versar sobre O pequeno Príncipe disse é um dos livros preferido do professor Martin Heidegger. E aí pego o que disse o das alemanhas, e abro mais, e espalho: é o livro do povo norte-rio-grandense.
Pedro Lucas de Lima Freire Bezerra
Aluno da 8ª série da Escola Viva (13 anos)
Ladies free
Apaixonado por línguas, jamais fui daqueles puristas de acreditar que qualquer estrangeirismo é atentar contra a língua pátria, a última flor do Lácio, como cantava Bilac. Sempre achei até belo que palavras de outros idiomas se incorporassem ao português, como o caso dos vocábulos franceses “soutien” e “abajour”, que viraram os corriqueiros “sutiã” e “abajur”, com a mesma fonética. Mas, sinto que atualmente a coisa parece fora de controle em relação ao uso de palavras em inglês.
Certo que a língua de Shakespeare e Hemingway se impôs mundialmente com o rock e o cinema, e com a própria dominação político-cultural dos EUA. Certo também que incorporar palavras estrangeiras ao cotidiano não é crime nem pecado. Uma das gírias que os jovens falam atualmente é “curtir a night”. Há décadas se fala “Brother” em relação a amigos. Até aí nada demais. O problema é quando o universo econômico começa a registrar termos em inglês como se normais, cotidianos, e isso passa a ser normal para uso sócio-cultural. Exemplos: nada mais hoje é entregue em domicílio. Tudo é “delivery”. Não existe mais “descontos” ou “promoção”.
Nas sempre esnobes butiques de shoppings, tudo é “off”. Dia desses no Midway Mall (Shopping do Meio do Caminho, em bom português) vi uma loja de sapatos anunciando: “Shoes off”. Diz a lenda que o sempre aguerrido defensor da língua Ariano Suassuna teria recusado participar de um evento ao saber tratar-se de um “workshop”. Que diabos será isso? Será parecido com seminário, evento, encontro, debate? E o que falar de “coffee break”, que substituiu nos convites pomposos o velho e bom “café da manhã”?
Mas, o que me motivou a escrever este texto foi uma faixa afixada na BR-101, a respeito da reinauguração de uma casa de show em Macaíba. A propaganda registrava a data da reabertura e as atrações principais: Eliane e Forró Pé de Urtiga. Até aí tudo normal, o evento até parecia convidativo à minha humilde presença, não fosse eu um homem caseiro, não estivesse apaixonado e recém-casado e não fosse mais afeito a pop-rock e MPB que a pseudo-forró.
Porém, ao continuar a leitura da faixa, me assustei com o que vi, pintado em letras vermelhas para realçar a propaganda: “LADIES FREE ATÉ 23H”. Respirei fundo. Ladies free? Quer dizer que lá as damas estarão livres? Em que sentido? Lembrei da minha época de adolescente quando as faixas e cartazes do gênero nos brindavam com um singelos: “Mulher não paga”. Meu medo é bater lá no dito lugar e dar de cara com cartazes e placas escrito “Parking” e “Open”.
Dá tristeza ver esse estrangeirismo excessivo e ilógico. Aliás, para agradar esta gente fanática por uma língua que sequer domina, vou aderir: I´m very, very sad. Poor Portuguese...