"O líder cubano Fidel Castro solicitou neste domingo que o presidente dos Estados Unidos, George Bush, suspenda o embargo econômico contra seu país e não ameace o mundo com uma guerra nuclear. "
O Globo OnLine
Orf
Reunião da Samba, sábado, 20 de outubro, para decidir sobre o Pratodomundo 2007
A LA CARTE
Ficou gosto de pouco
Pouco gosto ficou
ficou gosto de mais
um gosto indefinido
com sabor dominante
para paladares extravagantes
mesclados
a sentidos embebidos
de sonhos embutidos
emaranhados
a palavras e trocadilhos
suaves, afilados,
precisos, diretos,
camuflados, insensatos
foi pouco
ficou o gosto
Deborah Milgram
DE POETAS E QUIXOTES, DOIDAS E MUSAS
Em outubro comemora-se o Dia do Poeta. E gosto do termo poeta para os dois gêneros. E sobre poesia, poderíamos ficar aqui horas falando sobre mímesis, retornando a Platão, o pai da matéria, o que daria uma tese. Mas, um de seus estudiosos, Erick Havelock, lembra com propriedade que o termo mímesis é “a mais instável das palavras do seu vocabulário filosófico” , e portanto, o leitor interessado que procure, caso queira se enveredar pelos caminhos mais labirínticos da filosofia e da arte. E ademais, concordo com Edson Cruz – músico, poeta e co-editor do site Cronópios, que Platão é profundamente cruel com os poetas. E ponto.
Gosto mesmo do que diz Artur da Távola: “o poeta vê o verso, vê o outro lado. Por isso ele é perigoso (...). O poeta é perigoso porque prefere ficar com o verso”. E Cruz e Souza: “entre raios, pedradas e metralhas, ficou gemendo, mas ficou sonhando”. Podemos rir, mas isso é muitíssimo verdadeiro.
O quê? Você pensou que eu faria aqui o discurso romântico que todos fazem sobre o poeta? Não, não farei isso. Vou falar sobre o reVERSO. Vá dizer, que você não acha um(a) poeta uma pessoa esquisita? Nunca pensou no porquê? Para mim, uma das muitas verdades é porque o poeta (homem ou mulher) está sempre só, independente de quantas pessoas estejam ao seu redor. Pode crer. Quer uma prova? Experimenta falar com um desses seres quando está absorto com alguma idéia ou com o olhar perdido no horizonte. Ele simplesmente NÃO TE OUVIRÁ. Não porque não queira, mas porque vive atemporalmente. É, sim. Ele vive no presente, no passado e no futuro, ao mesmo tempo. Por isso – e o mais perigoso de tudo - a sua morada é o labirinto, e no labirinto, você sabe, só há entrada. Por isso está sempre a buscar a porta de entrada, na infância, nas pessoas, nos mais inusitados lugares. Quem é poeta tem o seu próprio reino profundo. Tão profundo que às vezes vai e não retorna nunca mais de lá. Vai parar, quem sabe, como Peter Pan, na Terra do Nunca, um lugar para onde vão também os meninos perdidos.
Poetas são todos um pouco Peter Pan e meninos perdidos. Uma pessoa normal, feito a Wendy – que quer crescer como todo mundo -, não se adaptará à Terra da Fantasia onde moram os sonhos. E os sonhos das pessoas comuns, que não querem ser crianças nem poetas, onde estarão escondidos? Em baús fechados a cadeados grandes? Numa gaveta bem fechada, onde, de vez em quando vão lá e abrem bem pouquinho, só para dar uma espiadinha, pois é perigoso que escapem e daí ninguém sabe o que poderá acontecer. Gavetas e baús são como a caixa de Pandora. Perigosos, muito perigosos. E vai que escapem e não reste no final nem a Esperança?
Então não há saída para quem é poeta? Não pode ser feliz? Claro que pode, mas pelo fato de que pensam muito, fica mais difícil... Isso fica. Mas veja: quem é poeta é também um tantão de Dom Quixote, que sempre foi feliz, não foi? Tinha a sua Dulcinéia d'El Toboso, imaginada, é claro, mas tinha. E pense, poetas são charmosos. Homens e mulheres. Como Neruda, em O Carteiro e o Poeta, são quase sempre rodeados de musas apaixonadas. Esse é o grande mistério de quem é poeta: “Quando um homem toca uma mulher com palavras...” (e vice-versa). Mas vou contar outro segredo: as musas, se são apaixonadas, são todas umas doidas. Montariam sem exitar na garupa do Cavaleiro de La Mancha e sairiam por aí, enfrentando moinhos de vento. E os musos (nem sei se o termo existe), esses, não exitariam em disputar mesmo que a duelo, o amor de sua Poeta. Existem, também, poetas solitários e solitárias, eternamente apaixonados. E se não correspondidos – e não são poucos -, se fecham no seu reino mais profundo, no seu labirinto. E esse assunto vai longe, longe. Talvez vá parar na Terra do Nunca. E daí, era uma vez...
Neide de Camargo Dorneles.