sábado, outubro 13, 2007

NASCERAM

Marcus Ottoni


"Tem havido uma demonstração flagrante, infeliz de incompetência de liderança entre nossos líderes nacionais. Como diz um provérbio japonês, ação sem visão é um pesadelo. Não há dúvida de que a América está vivendo um pesadelo sem fim à vista. Enquanto os políticos mantêm uma retórica desenhada para preservar suas reputações e seu poder político, nossos soldados morrem."
Ricardo Sánchez, general reformado, ex-chefe das Forças Armadas dos Estados Unidos no Iraque


EANikita, ao fundo; Tutankamon (centro) e; Sherazade

A Máscara

(Uma homenagem a Paulo Autran, em 12/10/2007)

A máscara que vesti

não era a máscara que

alguns homens

e mulheres,

incautos,

desavisados,

insistiram

e teimam em ostentar.

A máscara que vesti

e o nariz de palhaço

me trouxeram dignidade

e honra.

E o sonho

me chegou,

bem perto,

bem perto!

Com aquela máscara,

com aquela fantasia,

eu, um mero clown,

um operário sonhador,

dei, de volta,

o sorriso surrupiado

do povo.

Dei, de volta,

àqueles que me viram

em cena,

àqueles que me tomaram

no ato,

toda força do meu corpo

e de minha alma,

e, ainda, do meu sonho,

algo que nunca

teve máscara!

Lívio Oliveira



Não se lê nesse país

Na fila, a multidão se espremia. Cansadas, as catracas rangiam quase se opondo à passagem das pessoas. Dentro fazia calor. Fora, chovia. Dentro, entremeado de estantes, livros em labirinto. Sonhos ofertados a preços módicos e aos montes. Gente passando, gente querendo, gente comprando. Não se lê nesse país, dizem os intelectuais. Não se lê nesse país, afirma a mídia. Não se lê nesse país? ela pensa. E o que dizer da multidão a se espremer ali, uma semana inteira e, ainda mais nessa tarde, em pleno feriado, numa feira cuja única atração são os livros?

Márcia Maia


Sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Tenho ficado em casa, dias e dias sem pôr os pés na rua.

Na sexta-feira passada, contudo, tive que sair para uma conversa à qual fora chamado e não podia postergar.

Quando volto, mamãe estava inconsolável. Havia mais de duas horas, procurava encontrar pela rua, sem sucesso, Nikita, a sua poodle branca. Segundo ela, haviam deixado aberto o portão de acesso à casa, e a cachorra, em dias de ganhar filhotes (barrigão deste tamanho!) ganhara o mundo, fugira, escafedera-se.

Procuro em todos os cantos da casa, mas não a encontro. Faço uma caminhada pelas ruas adjacentes, mas nada. Nada de Nikita, coitada, que vai parir na rua, na casa de alguém desconhecido ou vai ter destino pior, vai ser atropelada no tráfego louco de todos os dias da avenida Hermes da Fonseca.

O sábado amanhece em nossa ilha de proteção do Tirol, guardada pelo seus limites: o morro e sua vegetação ainda virgem de Mata Atlântica, o muro do quartel, a AABB e a avenida, que, nos idos da guerra, recebera "a pista" dos americanos, caminho entre o aeroporto de Parnamirim e a pracinha Pedro Velho, em Petrópolis.

Nikita, se viva ainda, deveria estar neste pequeno quadrilátero. E buscas e buscas infrutíferas foram realizadas. Recados com a vizinhança, deixados. E, o mais importante, conversas sobre o assunto despejadas em profusão em todas as bodegas das adjacências. Digo mais importante porque conversa de bodega chega fácil ao mundo, e, se a notícia do desaparecimento da cadela chega ao mundo, havia uma esperançazinha de ainda encontrá-la, talvez já parida e sem os filhotes, mas viva, para reintegração ao lar.

Por esses dias, no quadrilátero, uma novidade nos assombrava, pela felicidade que traz. Um canto mavioso de graúna é ouvido, forte e melódico, bonito, cativante. Com sua elegância e penas reluzentes, tinindo de preto, uma graúna livre todos os dias acompanha um bando de anuns, pretos como ela, mas de um preto fosco e feio, fora o vôo desengonçado e toda a barulheira que fazem com o seu alvoroçado cantar, mais parecido a grito de desespero.

Ficaria a graúna, pelo menos. Até que alguém a capturasse em alçapão e a colocasse em gaiola, dessocializando sua presença majestática e o seu canto nobre, a encantar nossa ilha.

Manhã e tarde inteiras de sábado sem a mínima notícia de Nikita.

Comecinho de noite, depois de servir alguma coisa para o jantar de mamãe, chega Márcia e formamos uma mesa de pif-paf, para distrai-la, até que o sono chegue.

No meio da décima quinta cartada, eis que irrompe, casa a dentro, esbaforida, inquieta, faminta e sedenta, a super Nikita!

- Mas como, se o portão de acesso à casa estava fechado?

Nikita passara resto de tarde e noite inteira da sexta bem escondida, manhã e tarde do sábado, também, e, agora, sem quem a chamasse, dava o ar da graça para trazer a notícia: nasceram.

Apresento-vos: Gulliver, D'Artagnan e Maria Bonita.

Eduardo Alexandre

por Alma do Beco | 11:02 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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A imagem de fundo é do artista plástico e poeta Eduardo Alexandre©

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