"Quero dar um exemplo de ex-presidente: quero deixar a Presidência e não vou virar palpiteiro."
Lula
VERSÍCULOS
Faz de conta
Que esse capítulo não foi lido
Escolha um lindo happy end
Para seu epílogo
Embaralhe, troque
As escritas
Economize elogio
Rasgue os rascunhos
Permita-se erratas
Sublinhe o poder
Rasure o saber
Traduza a única
Palavra que falta
Leia o que não foi escrito
Lembre do que foi esquecido
Deborah MilgramDE NATAL A MANHATTAN
(HOLANDESES E JUDEUS)
Pero Mendes de Gouveia, Capitão-mor (espanhol, segundo alguns), ferido nos combates, muito macho, não entregou a Fortaleza. A rendição (1633) se deu por obra e graça da covardia dos subalternos. Começara mal, assim, a dominação holandesa no Rio Grande. A galegada flamenga de Olinda e Recife, cinco anos depois da conquista de Pernambuco, estava de olho no gado, no açúcar e na mandioca da terra. O Reis Magos virou Castelo Keulen, a incipiente vila de poucas palhoças, na Cidade Alta, foi rebatizada: Nova Amsterdã. Começou a inhanha: a exploração, a violência, os massacres – um deles, o de Uruaçu, poucos dias depois da conquista.
Jacó Rabi (rabbi, em hebráico, significando “mestre”), Conselheiro da Companhia das Índias, judeu alemão, pintou e bordou em Cunhaú, em 1645, matando muita gente. Esse camarada arranjou amizade com os tapuias Janduís, comandando uma tropa de choque, violenta longa mano dos interesses batavos. Era tão ruim que os próprios judeus, portugueses e protestantes, prejudicados com suas façanhas, forçaram o seu assassinato, a mandado do coronel holandês Garstman, casado com uma brasileira.
Significativa, intensa até, foi a presença israelita no Nordeste durante a ocupação flamenga. Tangidos de Portugal e Espanha, acusados de heresias - vivendo outros na própria Holanda mas originários da Península, - os sefardins, ricos, chegavam aos nossos portos, atraídos pelo comércio, ganhando dinheiro, prosperando. No Recife, fundaram a primeira sinagoga das Américas. Gilberto Freyre afirmava que, desde Cabral, de dez portugueses que vinham para cá, oito eram judeus marranos (cristãos-novos).
No Rio Grande, hoje, pouca gente se dá conta da sua origem hebraica. Vencidos os holandeses nos Guararapes, liberada a Capitania, seu forte e sua vila primeira (Natal), a maioria dos judeus afortunados da região - marranos ou não - se escafedeu para o Caribe e para uma outra “Nova Amsterdã”, um entreposto flamengo, na ilha de Manhattan – que depois, sob o guante da espada inglesa, viria a ser chamada de Nova Iorque. Esse grupo ajudaria a fundar o império capitalista americano. Os outros, os menos bafejados pela sorte, obrigados novamente a se cristianizarem, foram palmilhar os caminhos do sertão, misturando-se às populações indígenas. Ficaram, todavia, os sobrenomes reveladores: Carvalho, Moreira, Nogueira, Oliveira, Pinheiro, Lopes, Dias, Nunes, Souza ou Sousa, Medeiros, Costa, Cardoso, Fonseca e tantos outros. Dos costumes e manias - afirmam, por aí - , deixaram-nos a carne de sol; o comércio à prestação, de porta em porta; a pintura das casas no final do ano; a sangria dos animais para a alimentação; o sepultamento dos defuntos envolvidos em mortalhas.
Os holandeses, por sua vez, parece (ainda bem, ainda bem!), só nos deixaram os Wanderley do Assu - salvo algumas poucas exceções -, gente de brio, de prumo, de engenho e de muita arte, até nossos dias.
Laélio Ferreira
Setembro de 2007-10-14