Marcus OttoniMote: "Se Jacó se achegasse lá em Pipa
Tava assim de beato no estrangeiro"
O prêmio maior
A natureza, pródiga, bondosa,
todo conforto, deu à humanidade.
Deu-lhe a visão e deu-lhe a claridade,
deu-lhe a poesia e a música harmoniosa.
Para o prazer do olfato, deu-lhe a rosa,
ao paladar, deu tudo em quantidade.
Fez o frio, o calor, fez a humidade,
e em tudo, foi bastante generosa.
Criou o luar e o sol, com seu calor,
um coração, para guardar o amor,
e inteligência, para o que quiser.
Mas, vendo triste, aquele coração,
e querendo curar-lhe a solidão,
deu-lhe o prêmio maior, deu-lhe a mulher...
Arlindo Castor de Lima
Mote:
"Se Jacó Rabi fosse lá em Pipa
Tava assim de beato no estrangeiro!"
O judeu-alemão Jacó Rabi
Matou gente demais em Cunhaú
E depois no engenho Uruaçu
Não deixou ninguém vivo por ali
Se os gringos que hoje vivem aqui
Pelas praias lavando seu dinheiro
Nossa terra fazendo de puteiro
E nas nêgas daqui metendo a ripa
Se Jacó Rabi fosse lá em Pipa
Tava assim de beato no estrangeiro!
Rocas Quintas
Iam todos pra casa do carái
Comer terra e capim pela raiz
E depois virar Santo em seu país
Noruega, Argentina ou Paraguai.
No local se ergueria um "prativái"
Como aviso daqui pro mundo inteiro
Pra dizer que o cabaço derradeiro
Foi Rabi quem tirou no "busca-tripa"
Se Jacó se achegasse lá em Pipa
Tava assim de beato no estrangeiro!
Antoniel Campos
"Se Jacó se achegasse lá em Pipa
Tava assim de beato no estrangeiro"
Vem danado pela Ponte do Forte,
Na Redinha ele toma uma cerveja
E arruma mais santo pra igreja
Pelas praias do litoral do norte...
São Miguel do Gostoso não tem sorte,
Entupido de gringo aventureiro,
Lá em Touros vai ser grande salseiro,
Quem tiver juízo não participa,
Se Jacó se achegasse lá em Pipa
Tava assim de beato no estrangeiro!
Graco Legião
(Sai Rocas Quintas pois o "jogo" ficou pesado pra ele)
Graco véi, Jacó, qui detesta intriga;
lá in Pipa tava mêrmo qui no céu.
Fundaria uma dúza de beréu,
insinava catecirmo ais rapariga.
Munto ativo, mil noite sem fadiga,
lá na praia, se fazia serestêro.
Na putada, sendo êle, pionêro,
tôda quenga passava pru sua "ripa",
SE JACÓ SE ACHEGASSE LÁ IN PIPA,
TAVA ASSIM DE BEATO NO ISTRANGÊRO...
Bob Motta
Imagem distorcida
Numa noite de julho de 2004 vivi um momento bem interessante em um café do centro de Stuttgart (Alemanha), ao ar livre, juntamente com 8 brasileiras, entre elas minha mulher, Graça, minha cunhada Mércia - que reside naquela cidade - e outras integrantes de um Centro Espírita que o medium Divaldo Franco visita e onde faz suas pregações sempre que vai à Europa. Em dado instante a conversa girava em torno da violência no Brasil.
Todas aquelas brasileiras que moram naquela cidade debulhavam, algumas até ansiosamente, argumentos para reforçar a tese de que o Brasil estaria transformado num mar de violência. Foi um momento triste para mim, por sentir que não só elas, mas seguramente colônias inteiras de brasileiros e brasileiras têm essa impressão e tratam de reforçá-la Europa afora, em detrimento da nossa amada Nação.
Rebati veementemente os argumentos que apresentavam, apelando até para que elas refletissem e evitassem aquela sinistrose, pois poderiam contribuir para construir uma imagem melhor do nosso país, sem mentiras nem maquiagens. Mas percebi que esta imagem distorcida do Brasil nem precisava daquele filme que fizeram em Hollywood sobre tráfico na saúde e que gerou tantos protestos. Os cineastas brasileiros já haviam se encarregado de empurrar o Brasil para o poço - não sei quando chegará ou se chegará ao fundo. Aquelas amigas baseavam-se nas locações que conseguem levar o Brasil aos festivais internacionais e até ao salão do Oscar, mesmo sem premiação: violência, corrupção, pornografia e miséria. É como se cada filme fosse o Brasil.
Elas vinham de duas experiências traumáticas, que foram "Central do Brasil" e "Cidade de Deus". Naquele momento o noticiário internacional destacava o confronto dos traficantes e outros bandidos com as Polícias e até o Exército, como se a violência do Rio de Janeiro e São Paulo formassem cada ponto da imagem do Brasil. Claro que não estamos vivendo num paraíso nem estamos afirmando que a violência não existe no país inteiro. Ocorre que da forma que tratam, a violência finda multiplicada e a imagem do país deformada no exterior. Lá pouca gente sabe que o Governo Lula, por questões políticas, deixou de atender ao Rio de Janeiro e São Paulo, com as verbas que combateriam a violência e evitariam prejuízos incalculáveis e irrecuperáveis. As torneiras fechadas do Planalto estão sucateando todo o sistema de segurança do Brasil, inclusive as Forças Armadas.
Mas voltemos ao cinema. Os cineastas brasileiros quase não sabem criar. Eles copiam a realidade e a transformam em ficção pelo simples fato de mudarem os nomes dos personagens. Quase todos os filmes brasileiros mostram o jeitinho corrupto e desonesto dos criminosos como se cada fato refletisse a ação do nosso povo. Não gosto de usar palavras negativas ou triste, mas excepcionalmente considero este fato lamentável. Talvez até agora estivéssemos encontrando um bom caminho, com o filme "O homem que desafiou o diabo" (cujo nome é mais uma mostra do inferno astral que o brasileiro vive), ali sim, uma ficção que passeia pelo inconscient brasileiro com criatividade e sentido literário. Talvez estivéssemos, disse, pois "As pelejas de Ojuara" e um ou outro filme mais, não são suficientes para repercutir o Brasil.
À sua frente está ganhando a mídia e o mundo o "Tropa de Elite", que trata de destruir mais um pouquinho o conceito que o Brasil tenta firmar no mundo.
Tentam justificar que faltava mostrar a violência do ponto de vista dos policiais. Violência rima com incompetência. Vez por outra lembro uma tarde em que o jornalista e jurado Sérgio Bittencourt arrancou aplausos do auditório e do Brasil inteiro, com certeza, no programa do Chacrinha, ao dizer que sonhava com o dia em que daria como notícia o nascimento de uma flor; se possível, em edição extraordinária. Cadê a criatividade? Precisamos de qualidade: filmes inteligentes e atrativos para o público.
Walter Medeiros