"Tenho que trabalhar."
Lula, dizendo-se sem tempo para acompanhar o julgamento do mensalão.
"O estilo agora-vai-não-foi dos companheiros da FJA nos brindou com o insólito: conseguiram transferir a semana do folclore (logo ela?) para setembro, como se a data não fosse comemorada em agosto desde os tempos de Cascudo menino."
Alex de Souza
Foto: Tribuna do Norte
Decisão
Hoje acordei disposto
a retalhar meus sonhos...
Navalha na carne das ilusões!
Esquartejar desejos...
Hoje acordei disposto
a não ser eu mesmo!
A me perder na multidão...
Desvanecer na fumaça...
Hoje, serei milhares
e ninguém
Hades, Eros, Hécate
Hoje, quebrarei juras...
Contarei mentiras...
Brincarei com meus pulsos...
Cefas Carvalho
Georges Seraut
Circulando, companheiro
Há um estranho descompasso entre o que fala o diretor-geral da Fundação José Augusto, Crispiniano Neto, e as ações impetradas pela instituição. A primeira mostra disso foi durante o lamentável episódio do Fest em Cena, o que foi cancelado sem nunca ter sido. Esta semana, o estilo agora-vai-não-foi dos companheiros da FJA nos brindou com o insólito: conseguiram transferir a semana do folclore (logo ela?) para setembro, como se a data não fosse comemorada em agosto desde os tempos de Cascudo menino. Fizeram um armengue de última hora e os convidados, pasmem, foram desconvidados de véspera.
Tenho em mãos a mais nova empreitada da Fundação: o Circulador - Roteiro da Cultura Potiguar. Pois bem, sabe qual é proposta revolucionária do jornaleco? Divulgar a programação cultural da cidade. Como diria o amigo Caio Vitoriano: Noassa! É isso mesmo, a FJA resolveu direcionar suas parcas forças para fazer o famoso agendão, algo que este portal e os jornais impressos fazem diariamente e - vamos combinar - com muito mais competência.
Afinal, os veículos de comunicação desta cidade, com pontuais exceções nas edições diárias, há muito que fizeram a opção editorial de abandonar o jornalismo cultural propriamente dito para se especializarem na mera divulgação de eventos - se bem que esse não é o cerne da questão aqui.
A Fundação José Augusto tem uma tradição histórica de debate intelectual de primeira linha e jornalismo cultural realmente relevante. Primeiro com O Galo, que chegou a ser premiado pela União Brasileira de Escritores quando teve a escritora Marize Castro à frente, e depois com Nelson Patriota. Posteriormente com a revista Preá, um primor gráfico e de conteúdo.
Fica a pergunta: que lacuna a FJA espera preencher com essa publicação? Terá ela um esquema de distribuição mais eficiente que o dos jornais impressos? Ou ela sabe de alguma coisa que está acontecendo nessa cidade e da qual mais ninguém foi avisado? Talvez estejam achando que os eventos internos da instituição não estejam recebendo o devido espaço na mídia local e decidam massificar a distribuição no interior do Estado, na esperança de que caravanas e mais caravanas venham lotar as dependências do Teatro Alberto Maranhão e do Teatro de Cultura Popular...
Conjeturas à parte, é de espantar que estejam literalmente jogando fora o pouco dinheiro que têm e desperdiçando talentos como o de Cefas Carvalho neste Circulador - que, em termos gráficos, está pau a pau em feiúra com o Nós do RN.
Qual o problema em retomar a Preá, esta sim um diferencial em nosso mercado editorial? Será por que o editor Tácito Costa não é do partido? Ora, demite o cara então. Só acho complicado achar algum companheiro à altura para substitui-lo...
Enquanto isso, pensem na quantidade de árvores que estão morrendo para manter o Circulador girando e lembrem que Mineiro é da Comissão de Meio Ambiente, gente.
Alex de Souza
coluna de Alex de Souza, nominuto.com
"A cultura do RN parece mesmo um grande folclore."
A frase acima, de Michelle Ferret, abrindo o que seria a matéria comemorativa à Semana Internacional do Folclore em terras de Cascudo, eu não vou esquecer.
Passei a noite anterior conversando com o meu amor sobre o sucedido na FJA. E eu dizia:
- Você estava tão envolvida nos últimos dias... Acordava cedo e logo se levantava para preparar essa festa. Eu até ficava com ciúme.
Coisa de quem se dedica e é apaixonado pelo que faz: passava a noite esperando a manhã chegar para preparar o que seria o XIII Encontro de Folclore e Cultura Popular do RN. Deixava de sair à noite para não se cansar. Queria ver as pessoas da cultura popular. Conversar com elas. Fazer planos de apresentações. Opinar sobre o que poderia ou não acontecer. Ouvir sugestões. Sugerir. Propor uma bela e significativa arte para os impressos. Tentar descobrir uma manifestação inédita. Abrir processos para os pagamentos tão bem-vindos aos muitos que esperam meses por uma apresentação. Tão rica. Tão pouco valorizada.
E o meu amor:
- Depois de tantos contatos, tantos planos e planejamento, tanta alegria, vou ter que ir à FJA hoje para desconstruir tudo o que foi feito. Telelefonar para, a um e um, dizer o que ninguém vai conseguir entender: o Encontro foi adiado de véspera.
A frustração, assim, tão estampada, dolorida, até. E eu pensando no que ela havia dito: desconstruir.
Devia ser muito doloroso para ela comunicar aquela notícia. E desconstruir o evento com o qual sonha o ano inteiro para a alegria dos brincantes, gente simples do povo.
Você liga e pede a alguém para fazer esse serviço, sugeri.
E ela:
-Não. Sou eu mesma que tenho de fazer as comunicações. Aqui não tem estória de Rei Mandinha mandou dizer que Rei Mandinha mandou dizer que... Vou lá fazer a desconstrução, em lugar dos "companheiros".
Me deu um beijo e foi. Triste como aboio de vaqueiro quando perde o boi.
Dunga
Referência
E joão-redondo ficou de fora
22/08/2007 - Tribuna do Norte
Michelle Ferret - Repórter
A cultura do RN parece mesmo um grande folclore. Assim como a sereia Iara, o boto e o saci que se encantam nas águas e matas do imaginário popular, a programação da semana do folclore que seria promovida de hoje até a próxima sexta-feira desapareceu do mapa. Restou apenas o vestígio de comemoração no dia de hoje, sem a homenagem ao mestre Chico Daniel. O que deixou seu filho, Josivan de Chico Daniel, a ver navios, sem entender se o desaparecimento da programação seria lenda ou verdade.
Muitos percalços para os participantes e a falta de um esclarecimento que pudesse ao menos suprir a decepção de alguns, não foram dadas a tempo. Josivan conseguiu unir em DVD imagens com entrevistas cedidas por Chico em diversos veículos do país especialmente para ser lançado na noite de hoje. “Passei um tempo trabalhando nisso e preparei tudo contando com a semana do folclore da Fundação José Augusto, e agora confesso que estou me sentindo decepcionado”, desabafa Josivan. Ao todo foram gastos R$ 4.200 para a produção e reprodução do vídeo e o dinheiro serviria para a família de Chico que está no momento necessitando de ajuda. “É estranha essa sensação, é uma falta de respeito sem tamanho. Tudo bem que a semana irá acontecer em setembro, mas tivessem me avisado antes. Não compreendo realmente isso”, disse Josivan indignado ontem pela manhã, ao saber que o evento havia sido cancelado.
Segundo a assessora de imprensa da FJA, Mary Land Brito, a semana foi adiada para a segunda quinzena de setembro, mantendo hoje a programação oficial. “A semana seria realizada em três dias, mas com a greve do Ministério da Cultura, não tivemos repasse de verba para o evento, por isso permanecemos com a programação de hoje, com a mesa de debates, Boi de reis de Manuel Marinheiro, discussões sobre cordel, repente e viola, Congos de Calçola, Araruna, entre outros”, disse
O que Josivan não entendeu é manter a programação e retirar a exibição e venda do vídeo de Chico Daniel. “Poderiam ter pensado um pouco, deixando ao menos eu lançar o trabalho, para não ter prejuízos”. Para a assessora não teria lógica lançar o DVD se a homenagem será feita em setembro. “Como iremos fazer a semana em setembro, o DVD ficará guardado até lá”, argumenta a assessora. A TRIBUNA DO NORTE tentou falar por telefone com o presidente da fundação José Augusto, Crispiniano Neto, mas o mesmo não atendeu.
Além de um certo descaso com a data, Os realizadores também deixam brechas para outra polêmica. Segundo informações de uma funcionária da FJA que pediu para não ser identificada, Josivan de Chico Daniel ficou sabendo que em reunião com representantes de comissão do folclore, a homenagem a seu pai foi questionada. “Disseram que a contribuição de Chico para a cultura era pequena diante da riqueza do folclore. Fiquei perplexo e estou sentindo uma traição dupla. Isso é uma covardia grande. Por que é ínfima a participação? Como dizer isso de um mestre que conseguiu transformar a nossa cultura! Logo meu pai que batalhou tanto por um espaço e hoje vem um membro da comissão de folclore desmerecer seu trabalho, estou realmente muito triste, não sei nem o que dizer”, desabafa Josivan. Sobre o assunto, Mary Land disse que “isso é natural, cada um tem sua opinião. Chico Daniel não foi deixado de fora, é um reconhecimento mais que justo por toda a sua contribuição para a cultura do nosso Estado. Temos consciência da importância do mamulengueiro, nunca deixaríamos de lado. A semana foi adiada para os dias 19, 20 e 21 de setembro, mas ainda não é certo que aconteça. Quem quiser adquirir o DVD, é só ligar para Josivan (9985-9563).
A lista de Terto
*Fulô. É por causa dela que seu nome é Cabrito.
Terto nasceu na cidade de Jucurí, na fazenda poço perdido. Um lugar escondido entre Mossoró e Apodi. Diz a lenda que numa pedra em Jucurí, Lampião, depois de fugir de Mossoró, botou um cálculo renal pra fora.
Cidade de vida bucólica. Em meados dos anos 20, não existia o movimento anarquista no Brasil e Jucurí já estava alheia a qualquer forma de civilização.
Tertuliano Aires, menino cabrito, desde cedo, saltitava nas pradarias de Jucurí. Corria nos campos de nome cerrado. Certa vez, ele estava na fila do banco Mossoró, ia receber o Furrural do avô e conheceu seu destino, Fulô. Foi ali que tudo começou. Sua vida não seria a mesma. Ele encontrou seu primeiro amor. Tórrido, duradouro, eterno.
Fulô era uma cabritinha branca, borrada de marrom que balançava freneticamente sua calda. Por causa disso, Terto encantou-se.
Ele andava com ela pra tudo que é canto. Na praça tomava sorvete, no clube brincava de correr na grama, no rio tomavam banho juntos. Totalmente terceiro sexo, terceiro mundo, terceiro milênio. Por isso a meninada começou a apelidá-lo de cabrito. Somente no cinema não podia ir com ela. Fulô era barrada. Era ver Fulô na fila e o lanterninha logo gritava: aqui ela não pode entrar!
O menino chorava. Nessa época sofria as primeiras crises existenciais:
-Eu sou cabrito? Eu sou um animal?
-Fulô é mais humana que muita gente. Nunca fez mal pra ninguém, nunca politicou por cargo público. Vou ser sociólogo ou endoido, pensava.
Infelizmente, a alegria de Terto duraria pouco. Um dia Fulô conheceu Inácio. Bode de raça, preto, borrado de branco. Tinha um chifre que amedrontava qualquer concorrente. Parecia um bode das estepes do Himalaia. Era gaiato e paquerador. Tava de olho também numa cabritinha que pastava nas terras do coronel Odilon Garcia. Mas, foi por Fulô que Inácio amansou. Logo surgiu uma prole de cabritinhos.
Terto foi embora da cidade. Veio pra capital. Aqui estudou, se formou em sociologia e virou artista. Hoje, perambula pelas ruas da cidade com um caderninho de anotações. Todo mundo da cidade tem seu nome nessa lista. A lista de Terto. É um que deve R$ 10,00; outro R$ 20,00; R$ 5,00 e por aí vai. Se a companheira Márcia não pagar a dívida de Dunga, ele não tira o nome da lista. O curioso é que Terto não aceita pagamento a vista. Só aceita fiado. Quando perguntado, ele responde:
-Só se paga adiantado no cinema!
Franklin Serrão