"Sobre a informação de um diretor da TAM acerca de um dos reversos da turbina, que foi divulgada pelo Jornal Nacional da TV Globo e que tanta polêmica gerou dando uma justificativa ao governo, posso afirmar – pois sou testemunha – que um alto personagem do governo contatou a alta direção da empresa (TAM) dizendo que ou eles davam uma boa saída ao governo, ou ele (alto personagem), garantia que baixada a poeira, o governo iria quebrar a TAM"
César Maia, prefeito da cidade do Rio de Janeiro
Vilmaci Viana
O DIA EM QUE UM ATOR RASGOU SHAKESPEARE
Um bêbado trajando luto me lembrou Carlitos. Inebriado por vinho barato e dando vida a poemas de Paulo Augusto e Cefas Carvalho, entrou em transe. E no transe se fez nu, e nu, se fez bicha.
No V Sarau da Aliança Francesa tivemos mais uma vez a presença do ator Rodrigo Bico, que encarnando as transformações dos poetas - a conversão gay de um e os estilhaços do outro – encantou a platéia que mais uma vez entrou nos versos embalada por sua expressão corporal violenta e sua voz poderosa. E como se não bastasse, foi dirigido por ninguém mais ninguém menos que Cláudia Magalhães.
Uma esfera nostálgica miscigenando os tesões do amor homossexual e do amor heterossexual dos que entregam a alma, amparada por uma vitrola, cigarros, álcool, vinis e ... livros premiou a noite. Livros obsessivamente organizados lado a lado, enfileirados, protegidos pelo tapete vermelho, pela boca vermelha, pela língua vermelha.
E a bicha se vai e incorpora o macho, e o macho ama absurdos. Só quem ama absurdos sabe o que é amar absurdos. E só poetas escrevem o amor absurdo. E só atores traduzem o amor absurdo. E só uma poesia de quem ama absurdos, revelada por um ator que ama absurdos que foi dirigida por uma atriz que ama absurdos pode falar de amor com propriedade.
E nos ‘Estilhaços’ de Cefas Carvalho, Rodrigo Bico mergulha, seus espíritos se trocam e num rompante, um livro é escolhido e amassado, rasgado, jogado longe, numa despedida do passado que só quem ama absurdos consegue fazer.
E o livro, pertencente a Cefas, era uma edição bilíngüe impressa em Portugal de Romeu e Julieta, de Shakespeare. E isso não estava no script. Mas entre tantos outros, o destino escolheu esse. O mais belo, o mais raro, o predileto, o irrecuperável. Tinha que ser esse, tinha que ser Romeu e Julieta, tinha que ser Shakespeare.
Para viver um grande amor há que se pagar um alto preço.
Meire Gomes
Estilhaços
Rasguei o passado, rompi os tratados
Icei âncora e naveguei em mares nunca
Antes navegados
Rasguei os diários, os relatos
Destruí os sonetos
Lancei por terra papéis, porta-retratos
Projetos, sonhos mal feitos
Atirei pela janela as contas
As malas já prontas
Os manuais de instrução
Quebrei o interfone, o portão
As boas intenções
Queimei o livro dos sermões, os cordéis
Estilhacei cartas, papéis
Destruí minhas alianças, meus anéis
Investi contra moinhos, mapeei
Novos caminhos
Da lei, fiz só rascunhos
Destruí com os meus punhos
Meus totens tão mesquinhos
Amassei os versos, parti espelhos
Engoli os verbos, fiquei de joelhos
Abri mapas, fechei portas
Escrevi torto por linhas tortas
Por você…
Cefas Carvalho