quarta-feira, julho 25, 2007

AMAR ABSURDOS

Marcus Ottoni


"Sobre a informação de um diretor da TAM acerca de um dos reversos da turbina, que foi divulgada pelo Jornal Nacional da TV Globo e que tanta polêmica gerou dando uma justificativa ao governo, posso afirmar – pois sou testemunha – que um alto personagem do governo contatou a alta direção da empresa (TAM) dizendo que ou eles davam uma boa saída ao governo, ou ele (alto personagem), garantia que baixada a poeira, o governo iria quebrar a TAM"

César Maia, prefeito da cidade do Rio de Janeiro



Vilmaci Viana



O DIA EM QUE UM ATOR RASGOU SHAKESPEARE

Um bêbado trajando luto me lembrou Carlitos. Inebriado por vinho barato e dando vida a poemas de Paulo Augusto e Cefas Carvalho, entrou em transe. E no transe se fez nu, e nu, se fez bicha.

No V Sarau da Aliança Francesa tivemos mais uma vez a presença do ator Rodrigo Bico, que encarnando as transformações dos poetas - a conversão gay de um e os estilhaços do outro – encantou a platéia que mais uma vez entrou nos versos embalada por sua expressão corporal violenta e sua voz poderosa. E como se não bastasse, foi dirigido por ninguém mais ninguém menos que Cláudia Magalhães.

Uma esfera nostálgica miscigenando os tesões do amor homossexual e do amor heterossexual dos que entregam a alma, amparada por uma vitrola, cigarros, álcool, vinis e ... livros premiou a noite. Livros obsessivamente organizados lado a lado, enfileirados, protegidos pelo tapete vermelho, pela boca vermelha, pela língua vermelha.

E a bicha se vai e incorpora o macho, e o macho ama absurdos. Só quem ama absurdos sabe o que é amar absurdos. E só poetas escrevem o amor absurdo. E só atores traduzem o amor absurdo. E só uma poesia de quem ama absurdos, revelada por um ator que ama absurdos que foi dirigida por uma atriz que ama absurdos pode falar de amor com propriedade.

E nos ‘Estilhaços’ de Cefas Carvalho, Rodrigo Bico mergulha, seus espíritos se trocam e num rompante, um livro é escolhido e amassado, rasgado, jogado longe, numa despedida do passado que só quem ama absurdos consegue fazer.

E o livro, pertencente a Cefas, era uma edição bilíngüe impressa em Portugal de Romeu e Julieta, de Shakespeare. E isso não estava no script. Mas entre tantos outros, o destino escolheu esse. O mais belo, o mais raro, o predileto, o irrecuperável. Tinha que ser esse, tinha que ser Romeu e Julieta, tinha que ser Shakespeare.

Para viver um grande amor há que se pagar um alto preço.


Meire Gomes


Estilhaços

Rasguei o passado, rompi os tratados

Icei âncora e naveguei em mares nunca

Antes navegados

Rasguei os diários, os relatos

Destruí os sonetos

Lancei por terra papéis, porta-retratos

Projetos, sonhos mal feitos

Atirei pela janela as contas

As malas já prontas

Os manuais de instrução

Quebrei o interfone, o portão

As boas intenções

Queimei o livro dos sermões, os cordéis

Estilhacei cartas, papéis

Destruí minhas alianças, meus anéis

Investi contra moinhos, mapeei

Novos caminhos

Da lei, fiz só rascunhos

Destruí com os meus punhos

Meus totens tão mesquinhos

Amassei os versos, parti espelhos

Engoli os verbos, fiquei de joelhos

Abri mapas, fechei portas

Escrevi torto por linhas tortas

Por você…


Cefas Carvalho

por Alma do Beco | 9:37 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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A imagem de fundo é do artista plástico e poeta Eduardo Alexandre©

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