"O meu título é de Ceará Mirim. Mas confesso que estou sob pressão para transferir o título."
Geraldo Melo, sobre a possibilidade de vir a ser candidato à Prefeitura de Natal - Diário de Natal
Orf
Poeta Helmut Cândido
CRUZAMENTO
Nosso ponto de encontro
Se encontra no desencontro
Imprevisto, inconsistente
Inevitável, evidente
Sem dúvida emocionante
Quicas um tanto excitante
Ora se aproxima
Ora se distancia
Feito mar, feito música
Anima o corpo
Purifica alma
Traz o cheiro de
Carícia e de calma
Deborah Milgram
A prefeita de Olinda no Beco da Lama
Eu bebia cerveja sozinho. Esava sentado na calçada do bar de Aluízio, lugar bastante conhecido na Cidade Alta. Hoje, o bar de Aluízio fechou ou está em reformas, sei lá. Nessa hora, chega Dunga e Júlio César. Na época, os dois viviam encangados, faziam dupla, tipo comensalismo. Dunga tomava um porre com Júlio César, que dirigia o carro na volta.
Parecia uma noite como outra qualquer, os três bebiam cerveja, levavam sereno na cara. Tudo normal.
Aí, passou um Chevet 96. Era o comunista Albérico e sua esposa Marta. Estavam como motoristas de uma figura que vinha na penumbra do banco de trás.
Como de costume, força do hábito, gritamos:
- Albérico, rapaz!
- Peraí, que vou estacionar e volto já - respondeu o comunista.
E voltou. Voltou e trouxe a prefeita de Olinda junto.
Luciana Barbosa de Oliveira Santos Nascimento é mulher bonita, inteligente, educada e alta. Uma comunista de fazer inveja. Uma Olga Benário, Rosa de Luxemburgo dos trópicos. O suficiente pra deixar um petista como Dunga bobo. O ômi entrou em estado de “fall in love”.
A prefeita tava com fome. Depois de uma maratona de eventos políticos, queria relaxar, recarregar as baterias. Fátima, a mulher de Aluízio, dona do bar, ficou de fazer um caldo de carne, desses de levantar a moral. Bem reforçado.
- Capriche no caldo, heim, Fátima: é pra prefeita de Olinda! Disse Júlio César.
- Eu devo a essa rapariga véia, sacou a resposta na mesma velocidade, Fátima.
Depois dessa, a prefeita percebeu que estava longe de casa, mas tomou seu caldo como uma rainha, ao lado dela, o bobo que caningava sem parar.
Queria trocar e-mail, lista do beco, blog, etc... Mas a prosa tava boa, era uma noite ímpar.
Claro que um clima desse não dura muito. Foi quando chegou a comitiva comunista. Eles tinham se perdido de Albérico, mas acharam a prefeita pelo faro. Era comunista pra danado. Chegavam, não paravam de chegar. Vinham de todos os cantos. Da Gonçalves Ledo, da Heitor Carrilho, da Vaz Gondim. Rebocaram a prefeita e saíram da mesma forma que chegaram. Aos poucos, fora de controle. Enfim, começaram a esvaziar a mesa. Deixaram uma conta danada contra a gente. Albérico, de longe, ainda gritou:
- Vamos para o Veleiros de Ponta Negra!
Milagres acontecem, pode apostar. Diante daquele prejuízo, comecei a ficar triste. Era a média trimestral do que costumava consumir. Mas, como eu disse: milagres acontecem.
Dunga e Júlio César pagaram tudo. Penduraram a conta. Dizem que até hoje Julinho deve a Aluízio. Depois de acertada a despesa, entraram no carro e foram me deixar em casa. No carro de Dunga, aquele mesmo que roubaram e devolveram no Diário de Natal. O carro que só anda em linha reta agora subia até ladeira. Desovaram-me, literalmente, no bairro Nordeste.
No outro dia, soube que os dois foram atrás da prefeita. Por que não me levaram?
Dunga caningou Luciana a noite toda. Babava a mão da menina, enchia o copo dela de cerveja quente, comia pastel e alisava seus cabelos. Enfim, ele ficou com Luciana, Luciana é que não ficou com ele.
Encontrei Júlio e Dunga no outro dia, lá em Nazaré. Eles numa ressaca de dar dó. Estavam numa disputa de tristeza, desânimo.
- Vamos jogar porrinha? Perguntei.
Júlio César contou a resenha da noite olindense, e disse:
- O Veleiros é meio careiro, cobra 10% e couvert artístico. Pra lascar tudo, os comunistas foram embora, levaram a prefeita, e deixaram a conta pra gente pagar.
Franklin Serrão