quinta-feira, agosto 09, 2007

ÊXTASE

Marcus Ottoni


"O seu rosto de mulher transmite uma dor que somente a elas competem"

Cláudia Magalhães


AGONIA E ÊXTASE

Dezoito horas... Há pouco, o Sol beijou a lua na esquina do paraíso com o inferno. E sob o canto suave da Ave Maria, eles fizeram juras eternas de amor. A Rainha da noite, excessivamente romântica, que ama compulsivamente e detesta tudo o que é realidade, nua, brilhava incansavelmente no céu. O seu amor pegou-a por trás e ela sentiu toda a sua paixão escorrer pelo seu sexo, descer pelas suas pernas até formar um mar de sangue. Cheia de saliva, fez amor nos astros e estrelas, deliciou-se na boca do seu amante, virou música, verso, prosa...

Ele vai embora... Pelo mesmo motivo que todas as pessoas vão... Ficou imóvel, parada, não havia o que fazer. Não naquele instante, em que se encontrava diante do horror do nada...

Agora, o seu rosto de mulher transmite uma dor que somente a elas competem, uma vez que os seus ventres são os criadores do amor que nenhum freio segura. Vazio. Os seus olhos choram, cheios de espanto. A sua boca parece sufocar um gemido, um grito, dando-nos a sensação de que, a qualquer momento, explodirá em sua garganta. Por horas a fio, o seu corpo continua imóvel. Somente as formigas se mexem. Ao longe, inúmeras formigas divertem-se na poça de sangue, agora vinho, que nas horas de amor ela derramara no chão. Completamente alheias à situação, parecem rir embriagadas de prazer. Tontas, esbarram-se uma nas outras na tentativa de descobrir uma forma de melhor sorver aquele liquido. Outras, mais prudentes, preferem esconder-se em suas tocas, são frágeis ou fortes demais para enfrentar o frio da madrugada. Tudo é névoa, formas distorcidas, agonia...

Inferno...

Dezoito horas. Escuta um som melodioso, suave... Um canto sem palavras... Ela fecha os olhos e escuta mais nitidamente a música... Lembra um canto gregoriano... O seu coração acelera e sente a mesma sensação, a mesma angústia de todos os dias e pergunta a si mesma, se aquela música trás a salvação do seu espírito ou se ela esconde, como uma armadilha, a sua morte e a sua danação... Dezoito horas... Um calor forte e doce invade o seu corpo leitoso, despertando-a. Vê o seu corpo pálido tingir-se de vermelho... Êxtase. Ele voltou. O seu amor, o seu único e verdadeiro amor. Seus olhos incrivelmente brilhantes olham-na com tamanha intimidade que, por um instante, acredita estar nua. Silêncio. O seu semblante é sereno, transmite paz, muita paz. Sente-se novamente flutuando... Estaria sonhando? Que espécie de sonho era aquele? O sonho do amor ou o sonho da loucura?... Sim, ela acabara de entrar no mundo dos sonhos, mas com o coração acordado... O tempo, por algum motivo, lhe parece mais veloz. Sente o seu coração acelerado livrar-se das dores e das saudades e, sem resistir, deixa-se levar ao som de gemidos, sussurros... Agora, eles, anjo e demônio, em busca de águas santas, de exemplos de amor, amor mais forte do que a morte, amor de qualquer dor, amor das estrelas, do pó da terra, do antes do nada. Amor do Sol e da Lua, o amor mais puro do amor... Entre a agonia e o êxtase, conduzem aos quatro cantos da terra os seus sonhos, suas esperanças, suas preces, seus murmúrios de luz...

Paraíso...

Cláudia Magalhães



Maconheiro acidental

O “Abech Pub” ou Bar do Pedrinho funcionou onde hoje é o Bardallos. Todos sabem o endereço. Entre a Gonçalves Ledo e Vaz Gondim. Duas ruas bastante conhecidas da Cidade Alta.

Chamado de espelunca. Apelido carinhoso. Possuía curiosa decoração. Mesas redondas de ferro fundido, cobertas com pano cor de vinho. Cadeiras enferrujadas, jogadoras de gente no chão. Até hoje, tá lá no Bardallos algumas. O piso era de cerâmica, essas que dá pena de cuspir. As paredes lembravam uma galeria: eram pintadas na base de cor de vinho para combinar com a toalha da mesa. Um balcão de granito recortado expunha miniaturas de bebidas e lembrancinhas. No fundo do Bar, o palco com a bateria, alguns instrumentos de percussão e a guitarra de Pedrinho. No mais, a cozinha, onde hoje é o espaço aberto do Bardallos.

O Abech Pub só funcionou uma face por vez. Ou abria o lado que dava para a rua Vaz Gondim ou abria o acesso para a rua Gonçalves Ledo. Essa última foi face da entrada principal. A mais luxuosa. Onde ostentou a placa com o vulgo Abech Pub. Ao lado de Pedrinho, no atendimento, Dona Ivone, a esposa cúmplice. Não tinha garçom. Às vezes, era Gardênia quem quebrava o galho. Fiado para ninguém. Nem para autoridade.

Certa vez, um cliente acidental, desinformado ou informado demais, talvez. Viu a porta aberta e entrou. Era cedo. Tipo 18h. Os fregueses começavam a chegar. Sem cerimônias, o cliente sacou uma baga da calça e acendeu. Cena igual a do filme de Tourinho. Ele começou a degustar o fumo ali mesmo, na mesa do bar. Enfim, a liberdade. Era sua ilha particular. Bar de artistas é pra isso, pensava. Abrir portas para uma percepção diferente, sentir todos os prazeres relaxantes da alma. Pra lá de “marraquechi”, muito Huxley, muito doidcho tava o cara.

E o cheiro?

-Cabeça de nego, não é elba ramalho, que nada, isso é uma manga rosa, especulavam os bêbados do bar. Vale lembrar que a clientela chegava às 18h, mas já vinham prontas.

E Pedro Abech nervoso, cheio de mungangas e cacoetes. Abanava a orelha, mordia os olhos, cheirava os dedos e continuava nervoso.

-Que danado eu faço? O cidadão já é de maior.

Como que por instinto, Pedrinho correu para o banheiro. Vrummmm. Voltou com o balde plástico cheio d'água, pesado que só a porra. De frente pro ômi, derramou em cima dele.

Meu irmão, apagou tudo, cara.


Franklin Serrão


por Alma do Beco | 9:22 PM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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