sábado, agosto 04, 2007

VIRANDO CÃO

Marcus Ottoni


"Lula se dirige aos brasileiros como se todos fossem participantes de uma sala de jardim da infância."
Leonardo Sodré

"Jamais imaginei que chegássemos a tal ponto de degradação."
Fernando Henrique Cardoso

Ilustração: Valderedo Nunes - Foto: Diogo Moreno
Fissura

rosário de coisas não ditas

desmemórias colhidas

nas tardes feitas silêncio

e distância


Márcia Maia



NARGUILA


Sorrio frente

A essa boca afiada

Calada, ecoa

Penetra profundo e desata

O nó da garganta

Injeta profundo e suave

Libera

A perfeita e exata dose

Cumplicidade...

Não há dor,

Não há temor

O resto já se sabe

De cor...


Deborah Milgram



JOGADOR DE FUTEBOL


Jácio era jogador do América, egresso do Ferroviário, que se destacou por sua raça e disposição em campo. No Ferrim, era quase um amador, porém, quando o AFC, comprou seu passe, ele passou a ser um verdadeiro profissional. Foi pior !

Quando o América ganhava um jogo, que distribuia o "bicho"(gratificação dada aos jogadores, quando venciam a partida), Jácio, mais que depressa, descia para a velha Ribeira e eram três dias de cachaça, baralho e rapariga e mais cinco ou seis carteiras de Continetal sem filtro.

Em um jogo amistoso, contra o Campinense, em Campina Grande, na Paraíba, ele deu um verdadeiro show e o América ganhou o jogo folgadamente. A torcida aplaudiu o atleta e a diretoria do Campinense ficou impressionada. Não houve tempo nem de comemorar, porque logo entraram no ônibus de volta para Natal, onde o bicho seria pago na chegada.

Ao chegar na Rua Maxaranguape, sede do alvi-rubro, Jácio pegou sua sacola e dirigiu-se para a tesouraria, a fim de receber a gratificação pela vitória sobre o Campinense.

Recebeu o dinheiro, foi até o vestiário, deixou a bolsa em um canto de parede, foi para a Rodrigues Alves e já foi gritando :

- Táxi !

Ao entrar no Corcel ll, falou para o motorista:

- Toca pra Ribeira, começando pelo Ideal ou Boate Estrela, como queira, que quero chiar com o carrasco Piaba do ABC, que é amigado com a dona do cabaré e só vive lá.

Passou uma semana na farra. Quando se apresentou pra treinar com dez dias, a diretoria do clube mandou barrar Jácio.

Quase um mês depois, por acaso, esteve em Natal um olheiro do Campinense, procurando reforço pra sua equipe, passou no América e foi informado que Jácio estava no estaleiro, contundido. Não deram nenhuma informação da farra. O cidadão resolveu ira até a casa do jogador, para ter uma conversa com ele, sobre sua ida para Campina.

Fez logo uma inquisição. Perguntou se bebia, fumava, jogava baralho ou tinha qualquer outro vício, ao que Jácio respondeu em cima da bucha:

- Meu vício é ficar em casa com a minha patroa e meus bruguelos, batendo pelada no quintal.

Imediatamente, o dirigente do clube dirigiu-se à sede do América e negociou Jácio. Comunicou ao jogador, pediu que arrumasse a roupa para partir naquele dia mesmo para Campina Grande. Assim foi feito. O jogador conheceu as instalações do novo clube e já dormiu lá, para assinar contrato no dia seguinte.

Com a assinatura do contrato, Jácio pediu um adiantamento e uma folga, para mandar o dinheiro por um portador para sua família. Recebeu na hora e saiu da sede no rumo do Bodocongó.

Três dias depois de muita procura e anuncio em rádio e jornal, encontraram Jácio com duas raparigas em um boteco de Lagoa Seca, cidade vizinha de Campina. O presidente pegou o jogador pelos braços e disparou :

- Você não disse que não bebia, não fumava, nem andava com rapariga ?

Jácio, com a voz embargada, olhos vermelhos de sono e ressaca, respondeu com calma:

- É quando eu estou liso. Com dinheiro, eu viro o cão.


Chagas Lourenço


O Brasil acordou sem sonhar

É impressionante a rejeição que o presidente Lula da Silva está tendo de toda a imprensa brasileira e do povo que pensa e analisa suas ações. Esta semana, um amigo me ligou da Paraíba dizendo que vinha para Natal e que se hospedaria no hotel tal. Eu disse a ele que o presidente Lula tinha ficado neste mesmo hotel na semana passada, quando veio lançar mais um programa do seu governo de poder, o tal do PAC, que todo mundo já ouviu falar, mas que ninguém ainda viu, e ele, imediatamente, disse que iria procurar outro hotel.

O povo brasileiro e particularmente a imprensa tem perdoado muita coisa ao longo da história da Nação, mas ultimamente a imprensa tem cumprido o papel do povo e não se resigna mais com tantas ironias de Lula, que outro dia disse ter duas orelhas seletivas. Uma para ouvir vaias e outra para aplausos. Se não bastasse, minimizou o trágico acidente do Airbus da TAM no último dia 17 de julho dizendo que todo mundo tinha medo de avião. Disse mais, se referindo a ele próprio, como medroso, e ao fechamento da porta do seu moderno avião e tal e coisa. Como se os brasileiros fossem crianças. Isso mesmo, Lula se dirige aos brasileiros como se todos fossem participantes de uma sala de jardim da infância. Para ele, todo mundo está no primeiro grau.

E aplausos ele ouve muito. Sim, porque o seu governo aplaude as crises. É aquela história de dizer que uma coisa está errada e que vai consertar. É aquela história de encontrar uma multidão de miseráveis e de fazer toda uma maquiagem sobre essa miséria, mas, colocando no paredão a classe média e a mídia que pensa. Empobrece a classe média e diz tantas tolices que faz com que a imprensa passe a vê-lo como objeto de despreparo, como símbolo de quem somente diz bobagens.

Lula, em quem votei acreditando no discurso, na mudança para o bem, protagoniza um momento terrível da história do Brasil. Um País que não cresce, que não tem estradas, que não tem ferrovias, que não tem mais uma estrutura aérea de confiança e que somente tem programas para acalentar miseráveis e muitos escândalos sem solução, e que ficará na história como o “Presidente Irônico”, que não dá bola para ninguém e é incapaz de raciocinar na direção do que é bom para todos os brasileiros. Que pensa ser esmola, como moeda de voto, uma coisa importante que irá colocá-lo na história.

Mas, ele ainda tem tempo para mudar, para trocar o comando inerte de muitos órgãos do governo. Tem tempo para tentar ser humilde e bom para o povo brasileiro e fazer jus a tenaz do nordestino, do pernambucano em particular. Tem tempo para ser tão trabalhador quanto foi durante o tempo em que foi operário. Tem tempo para pensar que não é intelectual e muito menos engraçado, quando faz seus discursos travestidos de ironias, para lutar contra a imaginação de que todos, menos os seus comandados, estão contra ele. Tem tempo para, carregado do sentimento de que toda Nação esperava um governo sadio, mudar tudo de ruim que está acontecendo, inclusive determinar a punição de todos os culpados dos vários escândalos do seu governo, começando pelos envolvidos no mensalão, que humilhou o Brasil diante do mundo.

Ele pode mudar. Basta deixar que as duas orelhas ouçam tudo de uma só vez. Que não tenha medo de voar e que voe alto na direção do bem. Do sadio e do melhor para todas as camadas sociais do Brasil.

Muda Lula, pelo amor de Deus!


Leonardo Sodré

por Alma do Beco | 2:05 PM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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