quarta-feira, setembro 26, 2007

LONGO PRAZO PROVISÓRIO

Marcus Ottoni


“O Senado acaba de rejeitar por 46 votos contra 22 a Medida Provisória que criava a Secretaria Especial de Longo Prazo.”
Gustavo Noblat

José Luiz Silva


Sétima

Não tenho acanhamento,

nem medo de lhe dizer.

Me abestalhei de repente,

me apaixonei, pode crer.

E de tão apaixonado,

quero morrer afogado,

nesse teu mar de prazer...


Bob Motta



MAGNO GORDIO

Esse nó na garganta

Aperta, espanta

Mesmo assim

Não amendronta

Faz doer

Faz não esquecer

É parte do viver

Chega às vezes

Quase desaparecer

Engana, esgana,

Encanta entranha

Nos toca definir a sensação...

Estranha?

Deborah Milgram



O Grande Ponto não mais existe

O centro de Natal chamou-se, noutros tempos, “o Grande Ponto”. Esse centro, presentemente, não guarda mais as feições que teve lá pelos anos de 1910 a 1945.

Por essa época, era palco de desfiles carnavalescos e era onde costumava reunir-se a gente daquele tempo. Cinema Rex, Cruz Vermelha, Bar Acácia, onde está o Ducal.

Atualmente, virou feira, mendicância em quantidade, ruído de sons de lojas. Caiu no olvido da população natalense, que não sabe mais o que é Grande Ponto. Perdeu sua fisionomia.

E, relembrando aqueles carnavais, uma papanguzada circuitando em todos os seus cantos. Foi no Grande Ponto que ferveu o carnaval nas décadas de 30 a 50.

O Grande Ponto morreu. Não vive mais. Perdeu-se no tempo.

No presente, não mais se ressente.

Helmut Cândido



O Grande Ponto existe?

O Grande Ponto não existe. Onde é que fica o Grande Ponto? Existe o Café São Luiz. Tão importante quanto o Café de La Paix, de Paris, onde Sartre, diariamente, respirava seu existencialismo e os episódios tristes e heróicos da guerra são permanentemente ruminados.

No Café São Luiz, diariamente, de graça, você poderá escutar os poemas de Luiz Rabelo ou as quadrinhas de Soares. Declamados por eles.

No Café São Luiz, permanentemente, há gritos e olhos arregalados: são os poemas de Walfran de Queiroz, feitos metafisicamente para Alá.

No Café São Luiz há sonetos vendidos por Milton Siqueira, distribuição ostensiva de cultura, sem esquema, sem escola, peripatética, transmitida ao vivo, saboreada com café.

No Café São Luiz, João Batista de Lira é um aleijado amigo de todos, que faz marketing da esmola, ficando perto do caixa, aguardando infalivelmente o troco.

No Café São Luiz, você escuta opiniões de Carrapicho, Manoel Rodrigues de Melo, Pimenta, Nogueira, Romeu, Prestes, Jovino, Danilo Martins, Sinésio, Zé Edson, Eugênio Neto, Nilo, Meroveu, Catolé, Carioca, Paulo Martins, Motinha, Pé de Chumbo, desembargadores, poetas, juizes, aleijados – tudo ao mesmo tempo e no mesmo espaço.

No Café São Luiz, há salinas e miragem, porque, todos os dias, Pedrinho, Amom, Apolônio. Geraldo, Chico Cavalcanti, Aluísio de Antão, Ivan de Zé Bezerra, Magela, Zé Alves e Delau carregam, nas costas, as saudades de Macau, sem barrilha e petróleo, mas fiel a seu destino.

No Café São Luiz, todos os dias, se escutam os desaforos de Gasolina; e os cheques que retornam, se chamam boêmios. Nenhuma calçada é mais temida. Sua força é maior que a “Crônica Social”, de Jairo Procópio.

No Café São Luiz, há um juiz distribuindo fichas de café: Dr. Dário Jordão. Uma espécie de oásis. Ontem, o surpreendi sozinho, na ponta da calçada, sofejando “Sonho meu”, de Dona Ivone Lara. Somente lá, um octogenário consegue sonhar. E a gente só envelhece quando não sonha mais.

No Café São Luiz, os prefeitos de Brejinho e Extremoz assinam o ponto; Severino Galvão organiza mistérios; políticos passam pelo crivo das deduções; Absalão traz notícias do forró de Joaninha de Pipiu.

Eu já vi, no Café São Luiz, o reitor Diógenes explicando a origem do verbo recuar e; o Grande Ponto deserto porque morreu Luiz Veiga.

No Café São Luiz, Bosco Lopes me garantiu que, um dia, governaria o estado (de embriaguez).

Quem vai ao Café São Luiz? Os puros? Os viciados? Os desocupados?

A calçada do Café São Luiz é o território livre dos potiguares. Antes, bem muito antes da abertura, a liberdade era (embora cochichadamente) exercida em puro estado de graça.

Na calçada do Café São Luiz, é doce escutar os passos da vida. E, onde reside a vida? Não é nas calçadas?

José Luiz Silva

por Alma do Beco | 9:47 PM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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A imagem de fundo é do artista plástico e poeta Eduardo Alexandre©

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