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"Judas! Canalha! Filho da puta!"
Deputado Jorge Bittar (PT/RJ), para o companheiro de partido Delcídio Amaral, presidente da CPI dos Correios.
Hugo Macedo
PINCEL
Deixe assim como está
Congele seu sorriso
Modele bem seu olhar
Retoque suavemente
Suas curvas, seu falar
Não se mexa
Deixe a tinta secar
Nesse conjunto de cores
encontrando movimento
chega o artista e faz
Da arte seu instrumento
Deborah Milgram
AS MULHERES QUE QUERO
Não quero mulheres em preto-e-branco,
nem em cinza.
Quero mulheres a cores,
mulheres com o brilho
das manhãs de sol
de Tabatinga
ou de Honolulu.
Mulheres que deitam
e dormem, de repente,
não se doam,
doem-se,
doença do tédio.
Quero as mulheres verdes,
mulheres cor de rosa,
mulheres azuis,
como o céu do sertão
do Cauaçu.
Quero a mulher que vibra,
a mulher com tremores,
a mulher sem pudores,
a mulher que me crava os dentes,
aquela que parte suas unhas
nas minhas costas.
Quero a mulher vital,
a fatal também,
mas mulher de tentos
e de tetas suculentas.
Quero a mulher-mistério,
a mulher que ri,
mas que guarda sempre
um ar de interrogação
e um segredo de mim.
Não aceito as mulheres
que não seduzem,
mulheres sem glamour,
mulheres sem fantasias,
mulheres sem música,
sem poesia,
sem uma gula impudica
que contamine
de desejo
todo ser amante.
Quero as mulheres
que não sejam só cérebro,
mas coxas entreabertas,
seios em órbita,
lábios em rosa,
coração explodindo,
champagne que explode
sobre seu corpo
e o meu.
Quero mulheres,
urgentemente as quero,
aquelas que me ninem,
como no primeiro dia,
que afaguem os meus cabelos,
que me façam dormir,
que me dêem o seu leite,
que me derramem seu vinho,
alimentando-me, loucamente,
de paixão.
Quero mulheres de sangue,
mulheres de luta,
mulheres que gritem
e façam irromper, no ar,
a força do seus sonhos,
dos seus vícios,
desejos, todos.
Quero as mulheres
que amem as artes,
que odeiem o dinheiro,
mulheres supérfluas,
mulheres manhosas,
como gatas no cio.
Quero as mulheres
vivas,
loucas,
apaixonadas,
prontas para o escândalo
do amor.
Quero-as, todas,
desesperadamente.
Lívio Oliveira
QUANDO PARTISTE
Fazia muito calor, como há muito vem fazendo em nossa cidade. Gotículas de suor fluíam nos rostos de muitos, apesar do sol começar seu declínio e da brisa arrefecer de vez em quando nas imediações.
Um pássaro, dissidente da orquestra que saudava o pôr-do-sol, desceu do galho e pousou bem próximo ao evento. Parecia querer entender o que se passava. Depois, indiferente ao misto de torpor, pesar e incredulidade visivelmente estampado nas faces de todos, alçou vôo por sobre nossas cabeças como se estivesse convidando-te a experimentar a nova leveza e sair daquele ambiente de tanta dor.
Os dias que anteciparam tua partida foram pontilhados por evidências, mas, para o inesperado, geralmente, somos cegos. Uma frase encontrada aleatoriamente em um velho livro - “Não temo a morte. É a vida que amedronta” – parecia anunciar mudanças. Depois, recompondo fatos, vimos que tampouco economizaste palavras e declaraste incondicionalmente o teu amor a quem amavas – e amas -, apesar da mudança de estado físico. Imaginar-te dizendo entre agitado, alegre e incisivo: “Eu te amo” à namorada, num dos últimos dias que estiveste entre nós, é ter a certeza de que essas palavras precisavam ser ditas, pois aquela era a hora certa. Depois seria tarde demais.
Foste tão cedo, que partiste como quem parte no melhor da festa. Consigo imaginar claramente a saudade que levaste: das tuas filhas, da amada, do pai, irmão e irmãs, primos, tios, sobrinhos. Dos amigos do Banco, da AABB, do curso, das madrugadas alegres, dos almoços em família, quando as cervejas e a animação faziam-te esquecer o volume da voz. Relembro esses momentos e vejo-te defendendo eufórico teus pontos de vista, expondo argumentos, advogando tuas verdades com a forte convicção tão característica de todo Tinôco.
Mas ficaste em Julia e Mariana que perpetuarão tuas características através das novas gerações, nas lembranças dos primos que compartilharam brincadeiras, aventuras e namoricos nas fazendas de São José, São Gonçalo, e em Natal. Permanecerás para sempre no coração de todos, quando lembrarmos do cara sempre disposto a ajudar, a orientar, a quebrar o galho apontando a melhor solução, pragmático e direto como sempre foste.
Era uma tarde bonita e triste, como provavelmente nunca terias visto. De onde estávamos, parecia não ter muita diferença entre a cidade dos vivos e a dos mortos. Os edifícios, além dos muros daquele recanto de paz, não mostravam-se tão diferentes das sepulturas. Todos pareciam guardar histórias de amor, de lutas, glórias, alegrias e tristezas. E o esmero do pedreiro ao sobrepor tijolos e argamassa foi o nosso maior suplício. Parecia que nunca iria ter fim aquela tarefa. A cada mexida na massa, a cada bocado jogado da sua colher sobre o lacre que se erguia, era um pedaço arrancado do nosso coração.
Concluída a tarefa, sob o lusco-fusco, uma voz se fez ouvir pedindo a Deus para receber-te de volta na verdadeira morada de amor e luz. E o Pai Nosso fechou nossa despedida: “(...) que seja feita a Vossa vontade, assim na terra como no céu.”
Que tu possa Gustavo, através da ponte das orações dos que te amam, encontrar a paz.
Ana Cristina Cavalcanti Tinôco