“A implosão da mentira”
Manchete do JB
"Palocci, venha aqui!"
Lula, ao telefone
"Houve quebra de confiança. Com o depoimento de Mattoso, não tem mais como Palocci ficar. A situação ficou insustentável. Houve uma quebra ilegal de sigilo. Não posso mais sustentar um suspeito."
Lula, segundo assessores palacianos
“O núcleo duro do primeiro ano da Era Lula desmoronou.”
Ana Maria Tahan , Editora-chefe do Jornal do Brasil
“Assessores próximos ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva alertaram para o risco de o agravamento dessa crise evoluir de tal forma que acabaria comprometendo o presidente e deixaria portas abertas para a retomada dos discursos de impeachment pela oposição.”
Sheila D´Amorim, Folha de S. Paulo
"Consideramos inaceitável que uma irregularidade como essa e a conseqüente saída do ministro da Fazenda continue sendo usada como combustível de uma insidiosa, oportunista e hipócrita campanha da oposição, com a ajuda de setores da mídia, para desestabilizar o governo federal."
Nota da CUT
"Temos testemunhas que dizem que Lula estava a par de tudo. Mas não temos mecanismos que estabeleçam que tipo de informação foi passada a ele."
Deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), relator da CPI dos Correios, ao Financial Times
Orf
Meladinha dá o tom
No Beco
Violões juntam-se a vozes
Nas tardes de sábados
Noites de qualquer segunda-feira
Para o Beco vão os pedintes
Em busca da sopa
De um cigarro
De algo qualquer
Jornalistas, poetas, doutores
Caminho de deserdados
O Beco foi a lama da cidade
Hoje é alma e cana
Paraíso etílico
Recanto de comida gorda:
Costela, rabada
Buchada
Charque na fava
Pirão no cozido de peixe
No Beco
As vozes se soltam
As que cantam
As que falam mal
da vida alheia
Exposição diária de vida
E de vida difícil também
Onde explode o riso
Soltam-se almas fechadas
Em duros corações
A meladinha,
No Beco
Dá o tom do discurso
Na batuta do maestro
Eduardo Alexandre
PROSTITUTA
Essa-uma era
em-si um não-ser,
um não-sendo.
Em-si um não-ser,
essa-uma era
um não-sendo.
Um não-sendo,
em-si um não-ser,
essa-uma era.
Francisco Alves Sobrinho
SEM MAIS CIÚMES
Tangidas pela brisa de depois da tempestade ou pela razão posterior à cegueira vêm uma bruta ressaca nas vagas da consciência, a espinha envergada pelo chumbo do juízo e a angústia ante a impossibilidade de se devolver à boca do passado, de onde jamais deveriam haver saído, palavras que vomitadas ao vento ganharam anatomia mortal de adaga feita do aço da desconfiança e a cuja lâmina enfeitam pepitas de orgulho.
Terrível abrir as vistas no fim da crise, com a coluna freqüentada por calafrios e o refluxo arrastando sucos gástricos até a porta da garganta. Dá vontade de chorar, de sair gritando, de cometer suicídio, de se enforcar nos trapos da vergonha, de se envenenar vestindo essa fantasia macabra, suja e falsa, esse sentimento que não se confessa mentira, embora falseie a verdade, nem se declara doidice, mesmo afetando o bom-senso.
Trago na memória Tom Jobim cantando que "o ciúme é o perfume do amor". Antes fosse! A não ser que o maestro refira-se àqueles perfumes doces, fortes, insuportáveis, que provocam enxaqueca, porque o ciúme é coisa dos seiscentos diabos inventada pelo ser humano. Senti-lo é correr de peito aberto em vereda estreita no meio da caatinga, lançando-se de corpo e alma contra espinhos de jurema, cardeiro e chique-chique.
"Quem amar deste modo antes prefira/ morrer...", adverte Martins Fontes no soneto Otelo, referência ao Otelo de Shakespeare, onde está escrito: "Meu Senhor, livrai-me do ciúme! É um monstro de olhos verdes, que escarnece do próprio pasto que o alimenta. Quão felizardo é o enganado que, cônscio de o ser, não ama a sua infiel! Mas que torturas infernais padece o homem que, amando, duvida, e, suspeitando, adora".
Ninguém forjado em carne está livre dessa praga, dessa maldição que contamina o sangue transformando veias e artérias em córregos de amargura. Alguns, porém, convivem melhor com o bicho do que outros. Infelizmente sou da laia dos outros, dos que se devoram a partir dos pés. Por vezes, fragilizado na auto-estima, passo a crer na legião de fantasmas do caos que invento e à qual me incorporo rumo ao Vale das Sombras.
Afogado em treva, desespero-me. Toda criatura ciumenta sofre, e sofre muito fazendo da neurose vala comum para enterrar paixões sob toneladas de cal virgem. Mas não se pode perder as esperanças, o sonho de liberdade. Assim, quando o mundo se abre ao novo amor, sussurro versos de Vinícius de Morais, desejando alto:
"Ah, quem me dera amar-te
Sem mais ciúmes
De alguém em algum lugar
Que nem presumes".
Cid Augusto
Tá Liberado!
A mais nova do nosso turismo chinfrim: querem, os que lucram com o setor, criar uma zona livre de prostituição em Natal. Certamente imitar o que fazem cidades como Amsterdam, na Holanda, que criou o bairro da Luz Vermelha, onde as pessoas freqüentam, muito mais por curiosidade, como turistas - como eu mesma já fiz uma vez - do que para consumir as mulheres expostas em vitrines.
E sentada em um banquinho de uma daquelas ruas estreitas, onde é proibido até mesmo fotografar, deu pra sentir a diferença cultural das mulheres da vida, que apesar da pouca roupa que vestiam - a maioria usava uma lingerie sensual - se exibiam com a fineza de uma mulher que estava ali apenas trabalhando.
Ao contrário do que a gente passou a ver em nossas praias. Mulheres e meninas - às vezes meninos também - desfilam uma sensualidade forçada que cheira a sexo barato, apesar de cobrado em euro. Em Ponta Negra elas esperneiam feito cobra em areia quente, e atraem cada vez mais o perigo que Natal passou a conviver com a chegada dos operários de outras plagas, sem origem nem classe, que juntam os trocados da moeda européia para trocar, como se fossem ricos, pela nossa moeda cada vez mais desvalorizada.
E aqui eles compram de tudo. Mulheres e meninas, serviços que o turismo oferece, e muitas vezes até caráter. Porque já são muitos os que acabaram se envolvendo com as delícias do lucro fácil.
Vamos ser bem claros. Quem disse que uma zona livre de prostituição vai tirar as "moças" de Ponta Negra? Quem vai poder levar pra cadeia uma prostituta, apenas por estar caminhando na frente de bares e hotéis, negociando o corpo para ser entregue num lugar próximo com a ajuda dos taxistas colaboradores? Quem vai poder prender uma prostituta, mesmo que esteja mal vestida e seja feia, apenas por freqüentar um restaurante chique da cidade na companhia de um gringo endinheirado? Inocente quem pensa que, criando uma zona livre, vai tirar a prostituição de Ponta Negra.
A tal zona livre, que não se enganem seus defensores, só vai triplicar o problema, hoje aliadíssimo do tráfico de drogas e da lavagem de dinheiro. Porque os gringos vão descobrir que "agora tá liberado", e vão chegar de ruma em vôos charters. E no aeroporto, ninguém nem pense em mandar de volta aqueles vôos lotados de homens... porque agora tá liberado! E em vez de dois vôos por dia, serão seis... oito... E nas nossas praias, os casais suspeitos vão continuar circulando... e poucos vão baixar na tal zona do baixo meretrício que estão querendo criar.
Sujeita a se tornar um antro de doenças sexualmente transmissíveis, a tal zona do baixo meretrício, se instituída em Natal, no mínimo terá que ter algumas regras. Como garantia de saúde pública para as prostitutas que atraem o dinheiro perigoso para o Estado.
Mas se por aqui, trabalhador honesto, que não se droga nem contribui para a criminalidade, morre à míngua por falta de saúde pública...imagine as mulheres e meninas que vendem o corpo... a alma... a vida!
Thaisa Galvão