domingo, abril 02, 2006

MESMO SOFRENDO PERGUNTARIA

Marcus Ottoni


Derramo um gole no chão,
antes de um trago tomar,
só faz bem ao coração
e aos deuses faz alegrar.
/ Gole /


João Gualberto Aguiar


Orf



Amizades e Tempo

Lloyd Schwartz


Meu novo amigo saiu no fim de semana
(fim de semana emendado, largo),
E em casa imagino o que ele anda fazendo:
A convenção, quem sabe, excitante?
Nova gente, quem sabe, interessante?
Atlanta será tão bela como falam?
Faminto
Jogo perguntas para o ar
Enquanto o fim de semana se estende.
(O que será que ele anda fazendo?)


Meu melhor amigo acabou de ir à Europa.
Aqui, neve e silêncio me sufocam.
Penso nas fofocas, em perguntas que
Só o diabo gosta e pode responder.
Telefono?
Mas ele está fora e sei que posso esperar.
Enquanto isso
Ensino, escrevo um artigo,
Vou a um concerto.
O tempo foge.


Uma amiga morreu.
Semanas passarão.
Sem que um de nós telefone
E dê notícias:
Meses eternos vão passar sem
Que nos encontremos e, nas festas,
Nos coquetéis, falaremos de passagem no
Seu nome.
Mesmo assim, gostaremos de falar.
Mesmo assim lembraremos.
Ainda assim gostaremos do momento.
Meses já passaram.
Um dia já passou --
Como outros tantos.


Visito amigos numa cidade distante
-- como se partido alguma vez nunca tivesse.
Meu amante ficou em casa.
Sentimos falta um do outro, mas o
Tempo (agora) é de intervalo.
Essas férias, de festas e excursões,
Esse turismo educado soa eterno.


Quando eu voltar
Nem lembrarei que parti.


Nota do Tradutor:
*Tradução/Transdução de “Friends and Time”, de Lloyd Schwartz, apud “Cairo Traffic”, University of Chicago Press, 2004, por Marcilio Farias. Lloyd Schwartz é a voz mais importante da poesia contemporânea dos EUA. Prêmio Pulitzer de Criticismo em 2002, Fredrick Troy Professor da Universidade de Massachusetts-Boston, Editor Musical do jornal The Boston Phoenix. Colaborador da revista The New Yorker e do New York Times. Autor de três livros de poesia,“These People” (Wesleyan University Press), “Good Night Gracie” (University of Chicago Press), e Cairo Traffic” (University of Michigan Press), Schwartz é considerado a maior autoridade na vida e obra da poeta Elizabeth Bishop, sobre a qual escreveu o monumental “Elizabeth Bishop and her Art”, e é co-editor, juntamente com o poeta Robert Giroux, dos “Poemas Completos de Elizabeth Bishop”. Lloyd Schwartz visita o Brasil regularmente para conferências e debates sobre a vida de Bishop, que viveu no Brasil por mais de 20 anos. Seu estilo poético revolucionou a poesia norte-americana a partir dos anos 80, seu floruit. Para o critico e poeta Frank Bidart, a poesia de Lloyd é “um sopro de novidade e inovação”. Particularmente eu o considero o grande poeta moderno dos Estados Unidos da América, desde Pound.

Marcílio Farias




O SONO DE UM JUSTO

Um mundo à parte,
silêncio e sonho.
O ser mágico entoa cantos
para dentro de si.
Seu pensamento pára
e o tempo estagna
na própria fonte.
Uma fábula estranha
é narrada no idílio
e é só música,
é só cores
a dimensão
em que penetra.

O mago tem poderes
que não são os dos outros,
homens tristes,
ou, iniludivelmente,
tragados pelo real.
Realidade é um mal
que o mago não experimenta.
Foge desse universo,
desse espaço
de dimensões exatas,
exatamente limitadas.
Transmuda-se,
fixa-se
num dos planetas
manchados
das tintas
fortes
que escolheu,
da sua paleta,
depois de ter escolhido
um beco,
um Beco
onde descansar
de sua luta
lúdica,
lunática,
utópica.

Lívio Oliveira



DESABAFO

Mesmo sofrendo perguntaria
Não gastaria energia
Buscando respostas inaceitáveis
Querendo entender o óbvio

Mesmo escrevendo ousaria
Usar as palavras amoladas
Como lâminas gastas pelo tempo
Enferrujadas profundamente cortam

Mesmo estando próximo
Naturalmente longe me sentiria
Desejando sua presença ausente
Aceitando meu cômodo anonimato

Deborah Milgram




Carnaval feito e (ainda) não pago

O I Carnaval do Centro Histórico foi um sonho de anos, até tornar-se realidade neste 2006.

Para realizá-lo, foi necessário que conversássemos pessoalmente com o prefeito Carlos Eduardo Alves e com a governadora Wilma de Faria. Ambos se mostraram sensíveis à proposta da Sociedade dos Amigos do Beco da Lama e Adjacências – SAMBA, e o centro de Natal foi palco público da festa realizada.

Foi fácil fazê-lo? Não, não foi.

Muito do planejado não concretizou-se por falta de adiantamento de dinheiro. As alegorias previstas, por exemplo, que custariam quatro mil reais e que foram encomendadas ao artista plástico Gilson Nascimento, não puderam ser feitas porque não se tinha dinheiro para a compra de material. Seriam dois galos (tipo boi-de-reis), dois estandartes e quatro bonecos (Nasi, Newton Navarro, Gardênia e Helmut Cândido).

Foi um carnaval que contou com várias bandas de rua, sopro e percussão, umas contratadas pela Capitania das Artes (executora do carnaval bancado pela Prefeitura), outras pela Fundação José Augusto (executora do carnaval bancado pela Governo do Estado). Um carnaval que há muito não se tinha em Natal.

Carnaval que também contou com apresentações de doze bandas de palco, do grupo para-folclórico Folia de Rua e quatro grupos folclóricos (prevíamos doze, a princípio).

Afora as pessoas que fizeram a alegria direta dos foliões, uma equipe de trabalho foi montada para organizar a festa, com assessor de imprensa, fotógrafo, gente para organizar saídas de rua (bandas e grupos folclóricos); gente para organizar apresentações de palco; gente para cuidar de distribuição de água para quem estava se apresentando, lanche, e até limpeza do Palácio da Cultura, quartel-general do evento.

Mais material de divulgação e artista contratado (Marcelus Bob) para trabalhar a arte de divulgação da festa.

Cinco dias de pura folia no Centro de Natal. Doze horas por dia. Carnaval realizado e, em parte, ainda não pago. Mais de 100 pessoas envolvidas diretamente.

Da parte da Capitania das Artes, compromissos quase todos honrados. Exceto sanitários químicos que não foram postos e parte (R$ 6.000,00) de um total de vinte mil reais (quatorze mil seriam pagos pela FJA) do compromisso firmado com o maestro Duarte, responsável por 30 músicos que compuseram as Bandas do Galo da Rua do Caminho da Água de Beber e Galo da Santa Cruz da Bica, que durante os cinco dias do carnaval estiveram fazendo um trabalho de oito horas diárias. De Dácio Galvão, presidente da Capitania, recebemos a promessa de que os cachês das bandas do maestro Duarte seriam pagos. O problema, no entanto, persiste.

Da parte da Fundação José Augusto, nada foi pago ainda. Há boa vontade por parte do Centro de Promoções Culturais (Amélia Freire) em honrar os compromissos assumidos. E há, também, empenho do presidente François Silvestre para resolver o problema. François nos garantiu que nesta primeira semana de abril, sai o dinheiro.

Realizamos um carnaval sem adiantamento de hum real de dinheiro público. Tivemos que meter a mão nos nossos próprios bolsos para pagar lanche e água para os músicos e até adiantar algum para despesas do dia-a-dia de trabalho de auxiliares.

Nos dias 7 e 9 de março, para socializar a alegria deste carnaval realizado, disponibilizamos em Internet dois blogues de fotos: www.carnavaldocentrohistoriconatal.blogspot.com e www.carnavaldocentrohistoriconatal2.blogspot.com que podem ser acessados por quem desejar verificar o que houve. Neles, há algumas poucas fotos repetidas. Mas muitas das que ainda dispomos não foram editadas. Também nem tudo (todas as apresentações) foram fotografadas. Vale a visita, porém.

Escrevo este artigo porque recai sobre a SAMBA muita cobrança. O nosso I Carnaval do Centro Histórico, ao todo, não sei quanto custou. Não tomei conhecimento do quanto a Capitania das Artes pagou a bandas e pelos shows realizados sob sua responsabilidade. Sei que a governadora destinou 75 mil reais para suprir a parte que coube à Fundação José Augusto.

Foi um carnaval feliz, alegre, pioneiro. Uma coisa que queremos ver repetir-se nos anos que virão.

Por tudo, só temos agradecimentos a todos os que se empenharam em fazê-lo, desde o prefeito, a governadora, a FJA, Capitania das Artes, cada um dos músicos, cada auxiliar, público, imprensa, todos os que direta ou indiretamente dele participaram.

Em nome dos artistas e demais pessoas que se envolveram nesta festa da cidade, a mim só cabe esperar que o trabalho de quem efetivamente trabalhou para o sucesso (que foi) do evento seja pago e que isso se faça o mais breve possível.


Eduardo Alexandre
Diretor executivo da SAMBA
Sociedade dos Amigos do Beco da Lama e Adjacências

por Alma do Beco | 4:01 PM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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A imagem de fundo é do artista plástico e poeta Eduardo Alexandre©

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