“Vou ter que ser o coordenador de mim mesmo.”
Lula, segundo assessor da presidência
De tanto desperdiçar o presente negando o passado, Antonio Palocci tornou-se mais um petista sem futuro.
Josias de Souza
Karl Leite
Cruz da Bica
MULHER DE LOT
Nossas bocas se tocaram
Assim de repente
Que gosto tinham?
De tudo um pouco
Agonia
Arrependimento
Audácia
Curiosidade
Delírio
Distância
Saudade
Tranqüilidade
Sabendo do perigo
Mas assim mesmo
Olhei para trás
Petrifiquei
Deborah Milgram
BABUSKA
Sua fonte inesgotável
Alimenta prazerosamente
os vencidos
os cansados
os orgulhosos
os perigosos
os inocentes
os mal amados
os egoístas
os socialistas
os patéticos
os poéticos
os estrangeiros
os potiguares
os antiquados
os modernistas
os sonhadores
os trovadores
os organizadores
os sistemáticos
os decadentes
os paparazzi
os violentos
os ganhadores
os bobos
os ninguém
os todos
amém!
Deborah Milgram
BRINCADEIRINHA
Sem motivo AMOR daçada
Sem aviso AMOR tecida
Puramente AMOR talhada
Sem razão AMOR rinhada
Sem argumento AMOR nada
Seriamente met AMOR foseada
Deborah Milgram
TUDO NADA
O dois que ora divide, ora duplica.
O fogo ainda arde e é já fumaça.
O amargo a mesma língua dulcifica.
Nem sempre o sempre é muito — tudo passa.
O último leitor se chama traça.
O tempo doutros tempos se edifica.
A boca que diz fez dizia faça.
O sempre morre o sempre — nada fica.
Somente quando tudo se erradica
e faz-se do vazio a argamassa,
o sempre se diz sempre — tudo fica.
E aos olhos tudo o mais será mordaça.
E à fala nada mais se clarifica.
E ao sempre sempre o sempre — nada passa.
Antoniel Campos
QUANDO SE ACABA O TEZÃO
Nem ostra, nem catuaba,
nem caldo de tubarão,
culhão de touro ou pirão,
nem mesmo, uma caldeirada;
vai levantar a "finada",
que vive olhando p'ro chão.
Nem pentelho de barrão,
lhe digo, na minha verve;
isso de nada lhe serve,
QUANDO SE ACABA O TEZÃO...
Bob Motta
REMÉDIO PRA SUBIR PAU
Seu dotô, aqui no mato
Tem remédio perparado
Para pau amolecido
Pra pinto véi arriado
Pra mulé num se queixá
Pra madeira levantá
E resultado tem dado
A mulé de Zé Tomaz
Só anda agora se rindo
Pois o Zé tomou um gole
Pois o pau tava caindo
E ela foi quem me disse
- Eu queria que tu visse
Zé agora anda tinindo
Vou ensinar pro sinhô
Cuma é que o cabra faz
Pro pau não esmorecer
Pro véio ficar rapaz
Pro pau nunca mais cair
Anote pois eu não vou repetir
O cabra pega Jurema,
raiz de Urtiga Branca,
Quebra-pedra, Vassourinha
Xanana, Flor de Jucá
Babosa, Pereiro Branco
Quina-Quina, Mulungu
Velame, Casca de Ameixa
Resina de Catingueira
E a casca do Cumaru
Xique-xique, Macambira,
Oiticica, Juazeiro
Flor de Sabugo, Amargoso
Preto Angico, Baraúna
O sumo da Craviúna
a raiz da Cerejeira
Pau de mastruz, Umbuzeiro
Três de folha de Gameleira,
Semente de Trapiá
Uma Cabeça de Frade
Leite do Aveloz e raiz de Jatobá
Pila tudo piladinho
Cuma se fosse Cominho
Numa bacia de barro
E pra ficar mais sacana
Bote mei copo de cana
E pode empurrar o carro
Toma três gole e tá bom
A bicha fica no tom
Todo mundo que tomou
Ficou bom e aprovou
A bicha fica de pé
É tiro e queda
Se não der certo cum tu
O jeito é tu dá o c...
Fazer papé de mulé
Paulo Varela
COIMBRA EM JUNHO
“Matei a saudade que tu perdeste.”
Coimbra consegue viver no presente. Agostinho já enunciava, antes das obras manuelinas que hoje enchem-nos a vista, sobre a fusão entre as esperanças e as lembranças no tempo em que o eu vive.
Nisso, Portugal parece apreender e conseguir, didaticamente, nas suas calçadas, paredes e detalhes, mostrar, numa perfeita fusão arquitetônica, esse ideal, construído num passado desta terra de navegantes, que se perpetua e permite a escolha de cada um pelas lembranças ou pelas esperanças.
Diz-se que às primeiras pertence o fado conimbrincence, repositório da saudade que não cala naqueles que a busca de si, da verdade que somos, distanciou daqueles que não somos, daqueles onde nos vemos, daqueles onde nos distinguimos e que apenas neles nos conhecemos. Então, longe de si. Então, a inexplicável partida para longe em busca do que está perto. Então, a perplexidade. Daí a saudade.
Seguindo do Largo da Portagem em direção à praça 8 de maio, um rápido suspiro guia o olhar para o arco da Almedina, antiga porta medieva das muralhas de uma cidade que mesmo desaparecida ainda existe. O largo a seguir se descortina em cada esquina, como se estivesse a se desdobrar e curvar o olhar do transeunte incauto. Para o alto, muralhas parcialmente enterradas mostram sua presença e as pedras cuidadosamente chantadas no chão mostram o caminho para uma seqüência de ruelas que culmina com o esplendor opaco da Sé Velha.
Mas o som guia os passos de quem, sem fôlego, tem os sentidos cegados pelo recorte que as torres da Almedina fazem na cartolina escura do céu.
No caminho, crianças singram o frio vento noturno, jogando bola entre as barras de um andaime.
À frente, um coral entoa fados e antigas canções para menos de duas centenas de privilegiados espectadores no adro da Santa Cruz. Sob o arco de sua entrada, canções e sentimentos são desfiados para exultação geral. A fonte central do largo, providencialmente desligada e impedida de competir em seu espetáculo de movimentos, serve de arquibancada para os que excedem à quantidade de cadeiras disponibilizadas.
Ao final, um rápido percurso em sentido inverso, por sobre a ponte de Santa Clara, leva até uma visão ímpar da cidade, onde, no dia seguinte, uma apresentação de ranchos folclóricos vai mostrar a origem de tudo. Levas de portugueses, cada um a seu turno e trajando roupas representativas de diversos tipos e estratos sociais de épocas passadas, executam o “changê”, passeio na roça, túnel, “balancê”, “x” a galope, rodas e passos outros, que, com perfeição, representam nossas quadrilhas juninas, neste mês de santos populares.
Numa bem executada contradança e em italianas quadrilhas, o ritmo, por vezes nordestinamente brasileiro, é executado por sanfona, triângulo e caixa. Não faltam guitarras acústicas dos mais variados tipos e instrumentos típicos.
A noite conclui sua visita guiada com uma suave taça de vinho verde.
Fabiano Mendonça