sábado, fevereiro 18, 2006

ALMA EM PULSAÇÃO



"Eu deixo a 'presidência do Beco' com uma saudade danada, mas com uma alegria maior: desde a gestão anterior, quando estivemos na direção cultural da entidade, buscamos esse I Carnaval do Centro Histórico que estaremos realizando agora."
Eduardo Alexandre




Karma

Aceito o karma
De ter nascido no carnaval
Fevereiro, verão, sedução
Retiro a máscara (que alívio)
Palhaços, pierrôs, colombinas e bobos
Invadem sonhos
Inundam corações,
Afogam emoções

Deborah Milgram



Entrevista: O Mossoroense
Dunga: o embaixador do Beco da Lama

Eduardo Alexandre de Amorim Garcia, o Dunga, é natalense e tem 53 anos.
É jornalista, escritor e artista plástico com mais de 500 exposições de rua realizadas.
Criador da Galeria do Povo, movimento semanal de arte desenvolvido durante mais de 10 anos na Praia dos Artistas (Natal) é ex-presidente da Associação dos Artistas Plásticos Profissionais do RN e um dos iniciadores do movimento Dia da Poesia, em Natal (1978).
Há alguns anos, Dunga e mais um grande grupo de intelectuais residentes em Natal resolveram revitalizar um dos redutos boêmios mais tradicionais da cidade, o Beco da Lama.
Atual diretor executivo da SAMBA - Sociedade dos Amigos do Beco e Adjacências, foi com ele que conversamos esta semana.

Por Caio César Muniz

O Mossoroense - Apresente-nos o Beco da Lama?
Dunga - O Beco da Lama é o último reduto da verdadeira boemia natalense: o lugar onde a alma da cidade está guardada e em constante pulsação. Local onde se reúnem poetas, artistas plásticos, músicos, gente de teatro, dança, imprensa, mídia, médicos, engenheiros, comerciantes e comerciários, vagabundos, pedintes, desempregados, todo tipo de gente, sem diferença de classe social. Fisicamente, está quase na lama e não é nenhum cartão postal honroso. Mas estamos trabalhando para mudar essa realidade, ainda triste.

OM - Como surgiu a Sociedade dos Amigos do Beco e Adjacências?
D - A Samba surgiu de uma idéia do doutor Zizinho, médico, a partir da Sociedade dos Amigos do Largo da Carioca - SARCA, no Rio de Janeiro. Ele, junto a outro médico, doutor Chiquinho, iniciaram a coleta de assinaturas para constituir a Sociedade dos Amigos do Beco da Lama e Adjacências, que tem estatuto registrado em cartório e CNPJ. Zizinho foi o primeiro diretor-executivo e hoje é presidente de honra da Samba. Fui diretor cultural nessa primeira gestão e um dos elaboradores do estatuto e, hoje, sou diretor-executivo da entidade.

OM - O que mudou com a criação deste grupo?
D - Com a criação da Samba, mudou a forma de ver e pensar o centro abandonado e decadente da cidade. As pessoas passaram a ter consciência da necessidade de realização de um trabalho que evitasse acontecer à Cidade Alta, bairro que abriga o Beco da Lama, o que aconteceu à Ribeira, que perdeu o comércio forte dos anos 20 a 60 do século passado, perdeu seus moradores, e hoje é quase um bairro fantasma. Com o surgimento da Samba, passou-se a ver o potencial cultural da gente do lugar e a se aproveitar esse potencial para chamar a atenção da cidade e de autoridades para um trabalho cultural que pudesse ser desenvolvido trazendo renda e trabalho também para os artistas, que, em contrapartida, passariam a reivindicar por melhores condições ambientais do Centro, defender seu patrimônio histórico, arquitetônico, cultural e sobretudo humano dos que por ali convivem. Hoje, a Samba tem parceiros fortes na luta pela revitalização do centro histórico da cidade (foi ali onde a cidade nasceu), inclusive um bloco parlamentar na Câmara Municipal do Natal, que briga pelos nossos interesses. Temos reconhecimento e parcerias com o governo do Estado, Prefeitura do Natal, Fundação José Augusto, Capitania das Artes, Sectur, Agência Cultural do Sebrae, Semurb, sindicatos e mandatos parlamentares e outras. Conseguimos junto à Prefeitura, com a ajuda do bloco parlamentar, inserir no Orçamento Anual da cidade recursos para melhorias no espaço físico do Beco e Adjacências e, junto à Semurb, estaremos estudando esse projeto a ser executado pela Prefeitura. Para esse ano, também está prevista a vinda de recursos do Ministério da Cultura para o Festival Gastronômico, o Pratodomundo, via Fundação José Augusto, e cada vez se consolida mais a idéia de transformar o Beco e Adjacências numa praça de alimentação para receber, além dos seus, os turistas que nos visitam e percorrem o centro histórico, a procura de atrações. Temos visto a necessidade do desenvolvimento de uma política cultural forte e de identidade com a cidade, com nossas raízes, para receber com arte essa gente que se desloca muitas vezes de tão longe para nos conhecer. Temos a visão de que é com uma atuante prática cultural que evitaremos o turismo predador, de exploração sexual, por exemplo. O turismo cultural é o que nos interessa. E para receber bem turistas e mesmo o cidadão natalense, temos que ter a casa arrumada, em segurança, com praças e logradouros cuidados com zelo e também de gente receptiva, hospitaleira, informada.

OM - Os poderes Públicos têm colaborado de alguma forma para a revitalização do Beco?
D - Sim. Nossa principal meta foi a de buscar e consolidar parcerias. Esse foi o primeiro item discutido pela nossa diretoria e transformado em prioridade de gestão. Acredito que alcançamos esse objetivo.

OM - Quem pode participar da Sociedade e como os interessados devem fazer?
D - Participa da Samba quem freqüenta o Beco da Lama e suas adjacências. Qualquer pessoa, de qualquer proveniência social ou nacionalidade, pode assinar o livro de filiações da entidade. Estatutariamente, o candidato becodalamense à Samba deve ser apresentado por um sócio e aceito pela Diretoria Executiva. Na prática, não é bem assim: o livro é levado a festas da entidade e novas assinaturas são colhidas entre os que notoriamente são freqüentadores do lugar. Sempre é um prazer a chegada de um novo membro à entidade. O que não queremos é que, diante do crescimento que estamos experimentando, a sociedade se transforme em braço eleitoral de políticos ou partidos, como acontece a vários Centros Comunitários espalhados pelo Brasil. Nós temos consciência de nossas força e fragilidade e também de nossa responsabilidade social. A Samba é uma entidade lúdica, boêmia, mas também bastante severa consigo própria quando os temas em pauta são, por exemplo, defesa do patrimônio humano ou físico do nosso espaço. Todos temos um carinho bem especial pela entidade e não queremos vê-la dirigida a fins que não sejam o da defesa dos bens coletivos que construímos ao longo da história da cidade.

OM - Haverá eleição para nova diretoria da Sociedade este ano? Você pretende concorrer para esta nova gestão?
D - As eleições para a escolha da nova Diretoria Executiva da Samba ocorrerão em abril, com posse em maio. Não serei candidato, apesar de estatutariamente nada impedir, nem apoiarei chapas concorrentes. Na verdade, atuarei como magistrado, cuidando para que a lisura do pleito não seja maculada. Sou favorável à formação de uma chapa planejada, de consenso. Mas já existem candidaturas postas e estas não querem abrir para a tese de um pacto por uma chapa planejada, onde os melhores nomes seriam escolhidos, quer para a direção executiva, cultural, tesouraria, secretaria e diretoria adjunta. Pela experiência que somamos nas duas gestões que participamos, vejo a necessidade de ampliarmos a Diretoria Executiva. Estamos estudando o estatuto e vamos propor alterações antes da eleição de abril, para que a nova diretoria trabalhe com mais participação coletiva. O candidato que ganhar terá os meus apoio e empenho para uma gestão profícua e sintonizada com a cidade.

OM - Qual a avaliação que você faz do seu período administrativo?
D - Essa avaliação não me cabe. Deixou-a aos becodalamenses isentos de paixões.

OM - Compensa realizar um trabalho dessa natureza?
D - Sim. Congregar pessoas com propósitos elevados por ideais sempre é uma experiência de vida enobrecedora. E, como diz Fernandão, o cigano de Maracajaú, "o Beco é nobre". Esses sete anos que dediquei à Samba e à cidade acho fizeram um bem imenso à minha alma.

OM - Qual o passo inicial para quem deseja fazer esse trabalho de revitalização de áreas históricas em suas cidades?
D - Cada cidade tem suas características próprias, sua vida, sua maneira de ser. Em todas elas, o segmento cultural é sensível ao apelo da preservação. Quando a iniciativa de preservação vem desse segmento, vem desprovida de interesses menos monetaristas e mais humanizadores. Acho que é esse o início de caminho. Depois, procurar parcerias para o desenvolvimento conjunto de um projeto de defesa do que temos de mais caro e que nos foi legado pelos nossos pais, avôs, tetravôs, nossa própria história, que é onde pulsa o segredo da identidade que guardamos e precisamos fazer aflorar.

OM- Como será o carnaval do Beco?
D - Eu deixo a "presidência do Beco" com uma saudade danada, mas com uma alegria maior. Tenho que tocar minha vida, que nunca foi fácil e no mais das vezes muito tumultuada e sempre pobre de grana, apesar de rica de alma e determinação. Fazer ressurgir o carnaval urbano de Natal tem sido um desafio que me toca de modo particular e especialmente coletivo, enquanto executivo de uma entidade que zela pelo centro histórico da cidade. Desde a gestão anterior, quando estivemos na direção cultural da entidade, buscamos esse I Carnaval do Centro Histórico que estaremos realizando agora, a partir do próximo dia 24, graças, principalmente, à sensibilidade da governadora Wilma de Farias e do prefeito Carlos Eduardo Alves e ao empenho de Amélia Freire, Dácio Galvão e Fernando Bazerril. Ainda não será o carnaval que planejamos, já que a limitação financeira nos impôs também a limitação de sonhos. Muitas coisas não teremos agora, mas outros carnavais ainda virão. O deste ano, apenas três prêmios criamos: Foto, Fantasia e Destaque de Grupo Folclórico do Carnaval. Poderíamos ter prêmios para troças, carros alegóricos, bonecos, papangus, entre outros. Teremos uma programação de rua e outra de palco, além de uma Feira da Fantasia que será montada na praça André de Albuquerque. Para o carnaval de rua, duas bandas foram criadas buscando a história da cidade: o Galo da Santa Cruz da Bica e o Galo da Rua do Caminho da Água de Beber, como era chamada a Rua da Conceição. Convidamos também um grupo folclórico, o Folia de Rua. A já tradicional Banda Independente da Ribeira vai se somar em pelo menos um dia a esse carnaval que terá também atrações de palco, reunindo o que temos de melhor na música natalense, todos apresentando carnavais. Serão pelo menos doze horas seguidas de carnaval. Eu acho pouco, queria mais. Mas reconheço que é um bom recomeço. Só espero que o público compareça e torne grande essa festa que queremos deixar para a cidade. Destaco o Prêmio Câmara Cascudo de Melhor Grupo Folclórico do Carnaval, por saber que o folclore foi responsável pelo surgimento dos maiores e mais expressivos carnavais brasileiros. E fico torcendo para que já a partir do próximo ano possamos realizar concursos de melhores temas musicais do nosso carnaval e torcendo mais ainda para que as músicas a serem criadas venham com a pureza e o conteúdo forte deste folclore, para que comecemos a consolidar uma coisa bem nossa em termos de carnaval, que ainda não temos, mas podemos criar, e que pode ter no preservado popular uma inspiração para firmarmos essa identidade bem nossa, hoje ainda tênue, mas que pode aflorar rica e alegre como o próprio carnaval.



AMOR DE RAPARIGA

O coração é um moleque,
do bem safado e fajuta.
Na base da macieza,
ignora a força bruta.
Miguel caiu que nem pato,
pois se apaixonou, de fato,
nas Rocas, por uma puta.

A turma tentou abrir,
os olhos daquele amigo.
E alertaram o Miguel,
p'ro tamanho do perigo.
E Miguel, pobre coitado,
cego, surdo, dominado,
por capricho ou por castigo.

Mercedes, que era o nome,
da tão formosa mulher,
aprisionara o Miguel,
como um pássaro qualquer.
E a turma, pensava então,
que era só empolgação,
acredite se quiser.

O Dedé sentenciou:
Meu povo, isso é natural.
Depois de umas três trepadas,
o Miguel cai na real.
Se ela não for muito boa,
o sacana logo enjoa,
e volta tudo ao normal.

Porém, era ledo engano.
Após três meses de orgia,
Miguel estava mais doido,
contente, em si, não cabia.
Totalmente apaixonado,
com os pneus arriados,
como no primeiro dia.

Mercedes foi competente,
agindo desde o começo.
No arame, de olhos vendados,
andou sem nenhum tropeço.
Banhou o cabra com seu mel,
e revirou o Miguel,
em sexo, pelo avesso.

Magalhães, numa bebedeira,
falou: A coisa está ruim.
Do jeito que a coisa vai,
nosso amigo leva fim.
Me respondam esse quesito:
O que ela tem no priquito,
prá deixar Miguel assim ?

Mas, se encarava o problema,
ainda, como besteira.
Levavam o fato na troça,
tudo em tom de brincadeira.
Até Miguel começar,
a quase sempre, faltar,
às farras da sexta feira.

E uma força tarefa,
foi logo designada.
Para tratar do problema,
in loco, na madrugada.
Pra encontrar a solução,
e resolver a questão,
daquele irmão, camarada.

Cefas, Dedé e Rubinho,
numa noite de quarta feira,
quando Miguel trabalhava,
foram bater na Ribeira.
Da Rua Chile, nas Docas,
foram investigar nas Rocas,
se Mercedes era primeira.

Missão que para o trio,
foi até fácil cumprir.
Não era nenhuma mocréia,
tiveram que admitir.
Mas não podiam deixar,
o amigo se acabar,
e em Mercedes, sucumbir.

Que foram atrás de Mercedes,
Miguel logo descobriu.
E quem foi o delator?
Ninguém sabe, ninguém viu.
E Miguel, puto, de vez,
aloprou, mandando os três,
para a puta que os pariu.

Deixaram em paz com Mercedes,
o infeliz camarada.
Miguel rompeu mais ou menos,
porém, na trégua acertada,
um acordo sem brincadeira;
na noite da sexta feira,
a cerveja era sagrada.

A trégua, ali, foi selada,
sem brigas nem aperreio.
O Beco naquela noite,
da "resenha" ficou cheio.
Beberam em Nazaré,
em Nasi e desceram até,
à velha Praia do Meio.

E lá na Praia do Meio,
numa barraca decadente,
testaram a fidelidade,
do Miguel, nesse ambiente.
Miguel, amante porreta,
só lembrava da buceta,
de Mercedes, tão somente.

Arranjaram uma rapariga,
da qual os três eram fãs.
Frequentadora da praia,
tardes, noites e manhãs.
Que num papo ligeirinho,
ali, trepou com Rubinho,
no carro de Magalhães.

Enquanto isso Miguel,
num ronco ensurdecedor,
deitado ali na calçada,
sonhava com seu amor.
Nosso Dedé que o diga;
pois amor de rapariga,
é assim, devastador.

Eis que uma noite, Miguel,
chega no Bar das Bandeiras,
e o que ele falou p'ros caras,
lhes juro, sem brincadeira,
estremeceu as paredes:
Eu vou casar com Mercedes,
jurou, ali na Ribeira.

O Rubinho, já melado,
começou logo a cantar:
Do Odair José, "eu vou,
tirar você desse lugar".
Nosso querido Rubinho,
por pouco, muito pouquinho,
escapou de apanhar.

E outra força tarefa,
foi logo ali, instaurada.
Com Cefas e Cristiano,
que emburacou na enrascada.
Desprezando o perigo,
pra demover o amigo,
daquela sua empreitada.

E os dois lançaram mão,
de todos os argumentos.
Pouca idade, ganho pouco,
moradia, apartamento.
E o infeliz do Miguel,
que nem abelha no mel,
teimava que nem jumento.

Na sexta feira seguinte,
os pacatos cidadãos,
sofrendo com o Miguel,
do qual eram como irmãos;
estudando seus relatos,
que nem o Pôncio Pilatos,
lavaram as suas mãos.

Até que numa bela noite,
de um quente mês de Janeiro,
estavam eles, no beréu,
e chega o Miguel, faceiro.
Comunicando, animado,
que havia terminado,
com a Mercedes do puteiro.

Passada uma semana,
o Dedé, bom camarada,
convidou a turma toda,
para uma cervejada.
Uma festa de aniversário,
que tinha como cenário,
a casa da namorada.

Era um evento social,
de confraternização.
Que se levava as esposas,
para a tal reunião.
E também as namoradas,
várias mesas rodeadas,
na maior educação.

Cristiano lembra a Miguel,
ali, pra sua alegria:
Por que não leva a Shirlene,
que conheceu outro dia ?
Miguel, logo discordou.
Eu não sei, sentenciou,
se conveniente, seria.

E o pobre do Miguel,
prosseguiu encabulado:
Ela não estuda letras,
como eu havia falado.
E o que danado ela faz ?
Responde logo, rapaz;
diz Magalhães, aperreado.

Com um riso amarelado,
para não se aborrecer,
Miguel, com outra pergunta,
lhes aguçou o parecer.
Como quem está confessando,
ou um crime praticando,
disse: O que posso fazer ?

Nesse preciso momento,
cada um compreendeu;
mais um golpe do destino,
nosso Miguel recebeu.
Apesar da grande luta,
o vírus do amor de puta,
de novo, o Miguel, mordeu.

Após um breve silêncio,
um silêncio sepulcral,
o nosso amigo Miguel,
falou manso, ao natural:
Dessa vez, não vai ter briga;
mas amor de rapariga,
não existe um outro igual.

Ficaram todos calados,
não tocaram mais no assunto.
Pediram mais uma cerva,
com queijo prato e presunto.
E ali no Beco da Lama,
encheram a cara de "rama",
em Nazaré, todos juntos.

A moral dessa estória,
vou lhe dizer, meu irmão.
Sem mais, talvez nem porém,
sem qualquer inibição.
Pra concluir, seu menino;
o Sirano e o Sirino,
é quem têm toda razão...

Bob Motta
Estória em Prosa: Cefas Carvalho

por Alma do Beco | 8:51 PM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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A imagem de fundo é do artista plástico e poeta Eduardo Alexandre©

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mariza lourenço

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