"Deseja-se convencer o eleitorado de que ele deve se dar por satisfeito com a ausência de alternativas. Ou vamos de Lula X Serra ou de Lula X Alckmin. E ponto final. É como se o país estivesse condenado a uma espécie de quarto mandato à FHC.
Em 2006, a pregação de campanha talvez possa ser resumida num único não: não voltaremos a fazer as coisas que fizemos. A plataforma serve tanto para PT quanto para PSDB. E quem quiser que acredite.
Enquanto Lula decide entre o ser e o não ser e o PSDB opta entre o chuchu e o pepino, você, caro leitor, pode refletir sobre a armadilha que estão lhe aprontando. Caia no Fla-Flu das pesquisas, se quiser. Ou cobre um pouco mais de consistência no debate eleitoral."
Josias de Souza
Ilustração: Léo Sodré Foto: Hugo Macedo
Aventuras de Paulinho a cores
Bar de Fátima
Paulinho é uma figura muito conhecida em Natal, filho de Raimundo Barros, conhecido como Raimundo do Cartório, Raimundo Perna Santa ou Raimundo Lombo Preto. Era tabelião do sexto cartório, situado no Cantão das Cocadas, assíduo freqüentador do Bar de Nasi, no Beco da Lama.
Paulinho, que só estudou até a terceira série do primeiro grau (diz que não terminou o colégio, porque faltou tijolo), fez um acordo com o pai para que o apurado do cartório na sexta-feira ficasse pra ele. Depois desse dia, ele começou a trabalhar: foi a todos os clientes que gostavam de pagar na segunda, pra dizer que daria mais quatro dias de prazo, pois "a partir daquela data só precisaria pagar na sexta."
Depois disso, já cheio de dinheiro no bolso, com a renda polpuda do cartório, arranjou uma namorada muito bonita, chamada Fátima. Rapidamente, apaixonou-se por ela, que além de bonita e carinhosa, era muito experiente no assunto de sexo.
Ora, Paulinho a cores (tem um olho cinza e outro verde), também conhecido por Paulinho Feio, ficou encantado com a namorada e resolveu fazer-lhe todos os gostos. Comprou uma casa na Redinha pra ela e instalou um bar na Bernardo Vieira, esquina com Hermes da Fonseca, a Quinze. O bar era situado onde hoje é a passarela do “midueimól”.
Fátima que era filha de um soldado da polícia, morava com os pais na Redinha e trabalhava no bar, que tinha um balcão e mesas no térreo e uma mesa de sinuca no primeiro andar.
Antônio Mecânico, que tinha uma oficina na quinze, só vivia no bar tomando cachaça e jogando sinuca. Saía pela bola cinco e terminava o jogo de uma tacada só. Com alguns mais afoitos, ele jogava só com uma mão, apostando, e nunca perdia. Só não conseguia ganhar de Paulinho. Quando iam jogar, o taco de Antônio espirrava, ele arriscava bolas fáceis e errava, então, Paulinho, tranqüilo, proprietário do lugar, derrotava o mecânico.
Um belo dia, depois de uma farra pesada, Paulinho foi pegar Fátima em casa às cinco horas da manhã. Quando chegou, acionou a buzina do “bugue”, um Selvagem zerado, acordando todo mundo. A mãe dela apareceu, dizendo que Fátima havia ido para o bar receber umas bebidas. A Cores extranhou: receber bebida às cinco da manhã? Mas, resignado, foi ao encontro da amante no bar.
Quando se aproximou do local, percebeu que o bar estava fechado, mas, como tinha uma cópia da chave, resolveu dar uma olhada. Abriu a porta e, no térreo, estava tudo calmo, não tinha ninguém. Foi quando ele escutou um gemido, que, a princípio, julgou que fossem dois cegos fumando, um passando o cigarro para o outro e se queimando: aiii, uiii, aiiii, uiii...
Resolveu subir à sala do sinuca para checar. Sacou o Taurus 38, niquelado, cano curto, e começou a subir os degraus, de costas para livrar o flagrante. No meio da escada, ele resolveu espreitar e viu as pernas de Fátima ainda com a sandália japonesa nos pés, abertas, apontando pro teto e, no meio delas, Antônio Mecânico, com as calças arriadas, saindo pela bola cinco. Foi o suficiente.
Paulinho saiu em disparada, resmungando:
- Por isso que eu nunca perdi no sinuca pra esse filho da puta.
Começou a gritar na frente do bar:
- Quem quiser comprar uma casa barata na Redinha, ainda leva um bar de lambuja, com rapariga e tudo.
Frei Carmelo