terça-feira, janeiro 10, 2006

A MALA NADA NA LAMA

Marcus Ottoni


“O lado bom da crise. Ela chamou a atenção da sociedade e agora vamos dificultar o banditismo do caixa dois. (...)
Temos candidatos honestos, mas ainda existem muitos com o espírito do estelionato. Há certas pessoas nas quais falta brio na cara. "
Ministro Carlos Velloso, presidente do TSE

Franklin Serrão


A mala nada na lama
e em tenebroso conúbio


Indo e vindo se proclama,
trás-pra-frente, o mesmo tom:
— êta, palíndromo bom! —
"A mala nada na lama" !
Com cara de melodrama,
o "escariotes" Delúbio,
reticente, sonso e dúbio,
"esfaqueia" o presidente...
que, com ele, fode a gente,
e em tenebroso conúbio.

Antoniel Campos



A mala nada na lama
em tenebroso conúbio


O povão grita, reclama,
anacíclico e disperso,
declamando sempre o verso:
“a mala nada na lama !”
Nos impuseram a derrama,
deram a grana pro Delúbio
- deles, todos, o mais dúbio,
um Judas Iscariotes !
- Do Erário secaram os potes,
em tenebroso conúbio !

Laélio/2006




Cantando galope na bêra do má...

No premêro dia, in qui eu te avistei,
te ôiêi, tu me ôiô, fiquei acanhado.
Disviei a vista, meio incabulado,
porém, do teu vurto, eu num disgrudei.
Pru riba da rôpa, alí caiculei,
teu côipo intêríin, qui eu quiria apaipá.
Cumo num pudia, alí lhe agarrá,
peguei a caneta e meu caderníin,
fiz só trêis istrofe cum munto caríin,
Cantando galope na bêra do má...

Na bêra da praia, fiquei maginando,
você totaimente, sem rôpa, dispida.
E eu lhe amassando, tão feliz da vida,
no quebrá dais ôindia, drumí, fui sonhando.
Ví você acesa, prá mim se amostrando,
se oferecendo, prumode eu lhe amá.
Minha boca safada foi logo ixplorá,
você, meu poema, de carne e de osso,
e eu fui disfruitando de tu, meu colosso,
Cantando galope na bêra do má...

Te bejêi na testa, no rosto, na bôca,
lambí teu pescoço e o ispaço entre uis peito,
e cada um duis dois, bejêi sastisfeito,
e tu me dizendo: Te amo; cum a voz rôca.
Aí...fui descendo, e tu quage lôca,
pidia ansiosa, mode eu te "acunhá"!
Ai, ai, quem me dera, qui fôsse reá,
tudo isso num fôsse só um sonho, então,
prá eu num tá contando, chêíin de tezão,
Cantando galope na bêra do má...

Bob Motta




Use e abuse

Quando escrevia “A doida e o poeta” no frio da redação do O Mossoroense, trabalhando até amanhecer o sábado, apesar das mãos castigadas pela artrite, não imaginava a repercussão. Recebi e-mails, uns simpáticos como o da moça com nome de artista que se queixava de haverem tirado as aspas e a assinatura dela do meu texto; outros desaforados, do tipo “O que faz alguém trair a confiança dos amigos, expondo as suas intimidades”.

Telefonaram-me de Natal: “Você não tinha o direito de tornar público o meu caso”. Soube em Mossoró que pelo menos três amigas queridas, sentindo-se espelhadas por conta própria ou induzidas a isso por alguém estão, como diz meu filho mais novo, “tristes de mim”. Houve quem agradecesse, “Muito obrigado, adorei me ver no jornal”; e quem dissesse “É isso, é gozo, puro prazer, que torna cada encontro o desencontro de amanhã”.

Apareceu até uma suposta admiradora secreta, chamada “Olhar”, pedindo-me sinais. “Caro Cid Augusto”, diz ela, “Eu li A doida e o poeta, que inveja senti... lembro daquela outra lá no Conjunto Nacional, que sorte aquela teve. Você a desejou... a fitou. Gostaria que me desejasse. Sinto ciúme do seu corpo que não pode encontrar o meu! Sinto ciúme dos seus beijos que são de outra. Do teu olhar que é para outra! Por que não me escreve?”

Juro por Nossa Senhora das Bicicletas, por Santa Briguilina, pela Morena de Tibau do mestre Antônio Rosado e por este marzão verde de espumas brancas que meus olhos contemplam entre o espanto e o prazer que “a doida e o poeta” da crônica do último domingo não são indivíduos, que eles são filhos de várias histórias, de várias criaturas parecidas comigo, talvez com você, personificadas na linha tênue entre a realidade e a ficção.

No poeta há partes de mim, sombras de minha loucura, fraquezas de minha carne afeita a desatinos, sombras de experiências perdidas no tempo, mas não na memória. Ele, no entanto, não sou apenas eu, é a conjunção metafísica de coisas que vivi, de que muitos viveram, do cotidiano refletido em livros e jornais, de conversas malucas que somente quem freqüenta a alma das madrugadas com pretensões de cronista é capaz de reinventar.

A doida “bonita, simpática, lida, viajada, inteligente e eficaz na arte do amor” que venera os sem-vergonha “enquanto os detesta da boca para fora” é uma lista de mulheres fantásticas que povoam os sonhos e os pesadelos de vários poetas. Resumidamente, diria que nasceu da mistura cósmica de versos de Florbela Espanca com dramas rodriguianos, decepções e romances “quase secretos” de mulheres conhecidas ou vistas à distância.

Eis a verdade nua e crua para quem acredita nas mentiras de um sujeito perdido nos descaminhos do verbo. Não me justifico além daqui, pois a palavra, seja em prosa ou verso, perde a autoria quando cai no imaginário do leitor. Doida e poeta, portanto, podem ser qualquer gente, de qualquer sexo. Poeta pode ser doido e doida pode ser poetisa. Se um dos dois a seduz – ou o seduz – fique à vontade para usar e abusar dos meus delírios.

Cid Augusto



Fixação


"Seus olhos no retrato. Fixação: minha assombração. Fixação: fantasmas no meu quarto. I want to be alone". Ouvia Paula Toller cantar e perguntava-se como alguém permitia chegar a tal ponto. Nunca tinha passado por uma paixão tão intensa, quase obsessiva. Dessas que desde o primeiro abrir de olhos, pela manhã, no exato momento em que os neurônios começam a interconectarem-se, a imagem do ser amado já começa a transitar no circuito.

Achava uma tremenda mancada ter chegado a esse estado. Uma imprevidência, falta de tino. Até mesmo percebeu, para seu espanto, que havia se desligado do mundo lá fora. Amigos, família, filhos, todos tinham sido deixados em quinto plano. Agora, comia-bebia-dormia-e-sofria aquela paixão.

Sentou-se na cama, acendeu um cigarro e, enquanto fazia desenhos imaginários com a ponta dos pés no carpete, viajou ao passado para reviver alguns deliciosos momentos, quando na desordem da cama, após o apaziguar dos corpos em brasas, horas de carinhos e conversação eram gastas sem terem contas a prestar ao mundo lá fora. Submergiu desse tempo, quando a sombra leve da dúvida lhe tocou a razão:

– Essa entrega toda vale a pena?

Apagou o cigarro e pensou em ligar para um amigopara falar. A paixão, uma dessas piadas infames, deixa-nos absurdamente sós, pensou. O cansaço, misturado à melancolia típica do final de ano, fez as coisas parecerem insuportavelmente pesadas. Não sabia mais o que era tudo aquilo ou, ao menos, no que tinha se transformado.

Lembrava de maneira muito límpida do dia em que teve a certeza de estar com a pessoa certa. Foi um gesto mínimo, mas não sabia se ainda tinha seu telefone ou se teriam assuntos em comum, um carinho numa hora inesperada, e isso bastou para que entrasse numa zona de conforto típica dos amores envelhecidos com ar de eternidade. E ess’a certeza lhe incomodava: sabia que além de tudo, apesar de haver tanta movimentação em sua vida, nada lhe despertava tanto interesse que justificasse desistir daquela paixão para viver outros ares.

Num impulso repentino, levantou-se, pôs uma roupa bonita, perfumou-se, pegou a chave do carro e saiu. Precisava gritar aos quatro cantos do mundo o quanto amava aquela criatura. O quanto seu amor era intenso, profundo, difícil de guardar só para si. Tinha que dar vazão àquela agonia que lhe perseguia dia após dia. Precisava deixar-se consumir por aquele fogo tal qual lenha seca em fogueira viçosa. Sim iria viver aquela paixão até arrefecê-la. Até que a paz pudesse voltar a reinar em seu coração.

Crys/HJ



GENTE!

Berilo Nepomuceno, vulgo Lilo, nasceu e se criou nas profundezas do sertão das Alagoas. Seu pai, “Seu Pitôco”, assim como “Seu Francisco”, aquele dos dois filhos do filme que ta indo em busca do Oscar, deu um duro danado pra mandar Lilo pra Capital, querendo que ele: “fosse gente!”.

Lilo estudou, estudou, estudou mas, assim como uma burra (em inglês: she-ass) teimosa, não saía do canto. Vendo que naquele ritmo ia deixar “Seu Pitôco” “de tanga” e não ia ser “gente” nunca, resolveu arriscar. Juntou os panos de bunda que tinha, escreveu pro pai dizendo que ia fazer uma viagem e se danou pros estrangeiros em busca das oportunidades.

Pegou uma lotação e foi pro Recife embarcar “pras Europas”. Na Veneza Brasileira comprou uma passagem na British Caledonian e se mandou pra Londres, mesmo com seus parcos conhecimentos anglos-saxônicos.

Ao desembarcar, foi sabatinado pela imigração:

- Name?

- Francisco Nepomuceno de Mello.

- Country and Sex?

- Brasil, five times a week.

- No, no times, kind!

- Not so Big! (fazendo cara de modesto!)

- No, no, no...male ou female?

- Male, Female....sometimes she-asses.

Resultado: virou “gente”.

Hoje com a liberação do casamento gay é o solteiro mais cobiçado de toda Inglaterra, depois do príncipe, é claro!

Tadeu Neri

por Alma do Beco | 5:58 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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