segunda-feira, janeiro 02, 2006

SUCESSO

Marcus Ottoni



"O PT cometeu um erro... Um erro que é de uma gravidade incomensurável. Todo mundo sabe: o PT cometeu um erro que será de difícil reparação pelo próprio PT. O PT vai sangrar muito para poder se colocar diante da sociedade outra vez com uma credibilidade que ele conquistou ao longo de 20 anos."
Luiz Inácio Lula da Silva


"As pessoas envolvidas eram defensoras do governo e asseguram que tudo foi feito por uma causa maior, o governo Lula."
Raul Pont


Sucesso, o I Réveillon do Centro Histórico

Fotos Alexandro Gurgel


Apresentador Plínio Sanderson


Banda Demalaecuia


Cabrito


Elino Julião


Muitos prestigiaram o evento



TU NÃO CABES NUM POEMA

amiga,
tu não cabes num poema.
esse dou a quem manda meu orgulho.
ali os versos são medidos, são de propósito,
mas tu me dás o verso inesperado.
assim me apraz,
assim eu gosto.
me conversas, te converso,
dizes coisas tuas e me levas coisas minhas,
assim, sem que um peça, sem que o outro se obrigue.

se a esse porto nos foi fácil a atracação,
dizer que não é escusado,
porque sabes que não.
muitas vagas e tormentas,
vírgulas e reticências,
pontos de interrogação
—areia, pedra e cimento—,
fizeram esse, teu e meu, nosso momento,
onde um —capricho do acaso, sabe do outro.

se nesse porto faz-se aconchegante o cais,
dizer que sim é redundante,
porque sabes que sim.
risos recortando papos sérios,
e aquela saudade de ouvir
quando há pouco já ouvidos mutuamente
—areia, pedra e cimento—,
fazem esse, teu e meu, nosso momento,
onde um —não por acaso, cuida do outro.

mas dizia que não cabes num poema.
não porque os faço com compasso,
tiro o prumo, ponho esquadro e tudo mais.
não.

porque és sublime.

e porque és sublime,
dou-te as mãos que escrevem os poemas.
os olhos que os lêem.
os ouvidos que ouvem os poemas ainda no devir.
dou-te o cheiro dos poemas.
e os lábios que os dizem.

Antoniel Campos



A doida e o poeta

Conheceram-se por acaso nas mil e uma noites de Mossoró. Não acordaram juntos, mas já se sentiam próximos, estavam apaixonados. Trocaram juras e poemas eróticos pelo Messenger. Mais tarde encontraram-se comeram-se, beberam-se. No dia seguinte encontraram-se comeram-se, beberam-se. Mais uma vez encontraram-se comeram-se, beberam-se. Depois do terceiro banquete, sentiam-se distantes, estavam enjoados, e tudo acabou.

Os amigos perguntaram o porquê de o fogo haver morrido no vigor da juventude, com as máquinas da usina em pleno funcionamento. As respostas, ferinas, vazias, magoadas. Ele a descreve como "chata de galochas, romântica em excesso, pegajosa, sufocante, um bicho-de-pé fincado no dedo mindinho". Ela, no mesmo tom certeiro, afiado igual navalha de barbearia, acusa-o de traidor, cretino, safado, "Um grandessíssimo canalha!"

A doida é romântica de fato. Sufocante, não. Além do mais, é bonita, simpática, lida, viajada, inteligente e eficaz na arte do amor. Segundo afirmam, domina as 64 posições do Kama Sutra, podendo utilizar-se de todos os sentidos - audição, tato, visão, paladar e olfato, além da alma - em prol do desejo carnal de seus parceiros. Embora se queixe, ama os sem-vergonhas. Para ser exato, venera-os enquanto os detesta da boca para fora.

O poeta também não é o cão em forma de gente pintado pela doida. Canalha, sem dúvida, mas canalha boa-pinta, gentil, capaz de deixar uma mulher em êxtase, desde que essa mulher, lógico, perceba o calor penetrante das palavras e não sinta ciúme da noite nem dos luares, uma mulher com propensão a poetas, com queda mortal por filhos-da-puta que embora não encontrem o prazer na monogamia conseguem se dividir em orgasmos.

Defeitos e virtudes à parte, os dois se declaram decepcionados. Quando se cruzam nos bares, cada qual faz sua cena diante dos olhos desatentos da assistência. O poeta demonstra chateação, despreza, fala sobre outras, magoa, bebe com maior entusiasmo e repete: "Não a quero nem pintada de ouro". A doida tira os óculos "para não ver a cara do cara", sacode a cabeleira, reveza o cruzamento das penas, toma seu gole, devolve o desdém.

O intrigante é que longe das platéias, depois das cantigas de escárnio e maldizer, das expressões de ódio mútuo, doida e poeta se entregam sem resistência, um ao outro. Novamente se encontram, se comem, se bebem, gemem na voz das feras, chamam por Deus, pelo diabo. E depois de tudo ainda querem que entendamos a humanidade dos amantes, se é que algo humano sobrevive à explosão do desejo no universo entre quatro paredes.

Cid Augusto

por Alma do Beco | 10:55 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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