Band-aid
"Isso que está se fazendo agora deverá se estragar com as primeiras chuvas. São obras que não mexem com a estrutura dos pavimentos".
José Alberto Pereira Ribeiro, presidente da Associação Nacional das Empresas de Obras Rodoviárias
“Falam que o Alckmin não tem tempero, que é um picolé de chuchu. Mas é preciso cuidado: é um picolé de chuchu com tempero de pimenta malagueta. Ele tem perfil de bom moço e é perigoso, porque não sabemos até onde pode crescer. Serra nós já conhecemos.”
De um colaborador do presidente Lula, segundo Ricardo Noblat.
Franklin Serrão
Pedro Abech e Dona Ivone
Velhos guerreiros
Tribuna do Norte
12/01/06
Yuno Silva - Repórter
Como o tempo voa (é o que dizem por aí!!), e o brasileiro é um povo festeiro por natureza, os planos para o período momesco já começaram. A partir de agora, as decisões estarão cada vez mais sujeitas à programação carnavalesca. Junto com esse movimento, também surge uma porção de dúvidas na cabeça do folião: cair na farra ou aproveitar os dias de folga para descansar? Axé music, frevo ou samba?
Atentos a essas e outras questões, artistas já preparam o terreno para não deixar o Carnaval passar em branco. Um deles é o cantor e compositor potiguar Dosinho, que aproveita a chegada do Carnaval para lançar um novo trabalho. Seguindo uma tradição vista em anos anteriores, Dosinho acaba de lançar o álbum “Carnaval Festa do Povo — Músicas de Dosinho”, quinto CD em uma carreira de 53 anos. O lançamento oficial está marcada para o início de fevereiro, com shows no SeaWay Shopping e no restaurante Paçoca de Pilão, em Pirangi praia”, informa.
“Neste novo disco, fiz questão de incluir músicas que estouraram em carnavais passados, principalmente em Pernambuco, como ‘Carnaval com Bin Laden’, mais (as clássicas) ‘Doido também apanha’ e ‘Vão me levando’. Deste CD, duas já estão tocando nás rádios em Recife: ‘Bloco do Mensalão’ e Dollar na Cueca’. Devo grande parte do meu sucesso aos radialistas de lá”, aponta Dosinho.
Cansado de cantar “confete e serpentina”, atualmente o potiguar passeia na praia das paródias, com letras bem humoradas que satirizam assuntos atuais, o comportamento das pessoas, a política e as modernidades do relacionamento entre homens e mulheres: “Procuro abordar esses temas com tom de bom humor, pois Carnaval é alegria”, garante. Nascido em Campo Grande, região oeste do Estado, e batizado Claudomiro Batista de Oliveira, Dosinho ganhou projeção regional quando, em 1966, duas de suas músicas estouram no Carnaval pernambucano, “Vão me levando” e “Não se faça de doido, não”.
Banda Independente no Bar das Bandeiras
Para provar que o clima de Carnaval já toma conta dos ânimos do brasileiro, a Banda Independente da Ribeira realiza seu primeiro ensaio nesta quinta-feira, a partir das 19h, no Bar das Bandeiras, Largo da rua Chile, Ribeira. “Serão seis ensaios até o dia 16 de fevereiro, sempre às quintas-feiras a partir das 19h, lá no Bar das Bandeiras. Na sexta, dia 17/2, às 17h30, a banda sai com seus 26 músicos do Beco da Lama (Bar do Nazi) em direção à Ribeira (Bar das Bandeiras)”, adianta o arquiteto Haroldo Maranhão, um dos fundadores e diretor da Banda. “Estamos preparando uma surpresa para o público que acompanhar a prévia deste ano. Aguardem o dia 17”, diz com tom de mistério.
Pela terceira vez consecutiva, o instrumentista Gilberto Cabral (trombone) assumirá a regência da Banda Independente da Ribeira. Cabral, que também coordenou o trabalho das quatro bandas que animaram o réveillon natalense, provavelmente deverá assumir o comando das atrações escaladas pela Prefeitura/Fundação Capitania das Artes: “Ainda não fechamos nada, mas as primeiras conversas que tive com a direção da Funcart sinalizam a possibilidade de um entendimento”, disse Gilberto com cautela. “Acredito que terei uma resposta definitiva nos próximos dias”, conclui.
Gilberto Cabral, que lançou o CD instrumental “Musa” em 2004 e participou da edição 2005 do projeto Cosern Musical, planeja lançar um novo trabalho só com frevos: clássicos e autorais. “O projeto ainda está ganhando forma, mas a idéia é virar o ano com o CD nas mãos”, planeja.
Também cheio de planos, o atual presidente da Sociedade dos Amigos do Beco da Lama e Adjacências — Samba, Eduardo Alexandre, aposta em uma grande festa durante o Carnaval. “Em 2005, o Beco da Lama contabilizou uma movimentação interessante que chamou a atenção da sociedade. Realizamos o 2º festival gastronômico ‘Pratodomundo’, nosso primeiro réveillon também chamou atenção do natalense. Ainda não posso adiantar muito coisa, pois precisamos acertar detalhes referentes a parceria com as Fundações José Augusto e Capitania das Artes. O que não queremos é perder a oportunidade de fazermos um grande Carnaval sem ficarmos limitados à modelos antigos. O Carnaval do centro histórico terá um novo molde popular”, garante Eduardo.
2 Crônicas do Edgar
Envenenamento, Cabaré,
Confissão e Arrependimento no Beco
Dunga e Dona Ivone estavam planejando matar o turco Pedro Abech envenenado.
Pedrinho morto, eles casariam e transformariam a bodega da Gonçalves Ledo num grande cabaré, sonhavam.
Barbinha comemorava. Ele e Paparazzi, e Geraldo Assunção e o camarada Albérico, as duplas imbatíveis, não falavam noutra coisa.
- Com um cabaré no Beco, a coisa vai ficar mais animada. Dunga, esse cabaré tem que ser bem melhor que o de Maria Boa. Aí você e Ivone se mandam para Miami e ilhas do Caribe e podem deixar que eu e Paparazzi administramos os negócios, incentivava Barbinha.
Só que o remorso estava a martelar o juízo de Dunga. Enquanto Ivone sonhava-se livre do turco, já ensaiando a cerimônia religiosa, véu e grinalda bem brancos, Dunga sofria com a desgraça que estava por acontecer no Beco Sul.
Noite alta, lua ainda nova, porém crescente, chega o vigário geral, padre Agostinho, ao pedaço. Dunga pede para Sobrinho tocar uma canção para o vigário, a Linda Baby, de Pedrinho Mendes, e logo depois chama-o para uma conversa reservada, ao pé do poste.
- Padre, eu estou precisando me confessar.
- Si.
- Padre, eu estou tramando contra a vida de um grande amigo.
- Ma non pode...
- Padre Agostinho, o pecado é sério.
E chamou dona Ivone à conversa.
- É que essa mulher, padre, deixa todo mundo doido. Ela é muito mais perigosa que a original baiana, aquela que inspirou Jorge Amado para escrever a Gabriela Cravo e Canela. Tanto, que a estão chamando de Dona Ivone Gabriela. Ela e eu, padre, estamos planejando casar, mas ela não tem coragem de enfrentar o turco. Diz que se ele ficar vivo, jamais vai perdoar o nosso casamento e vai passar o resto da vida atanazando.
- Si.
- Aí, padre, a gente vai matar Pedrinho; vai casar e vai montar um negócio bem mais próspero: um cabaré.
A essa altura, o padre, percebendo a gravidade da confissão, intercedeu em defesa do turco.
- Ma non façam isso com o pobrecito!
E suplicou pelo amor de Deus!
Dunga pediu a bênção ao padre e rezas para que o mau espírito se afastasse do seu corpo, e... mais uma cerveja. Esperou que Pedrinho fechasse o bar e foram os três: ele, Pedrinho e Ivone, e mais dona Maria do Socorro, tomar uma saideira no Bar do Naldo.
Lá para as tantas, talvez em decorrência das rezas do padre, Dunga não agüentou:
- Dona Ivone, a senhora me perdoe, mas não vai mais ter casamento. Padre Agostinho me convenceu a não matar o diabo deste turco.
Satisfeito com a notícia, Pedrinho tomou do Chevette preto e foi deixar Dunga em casa, mas só depois de muitas outras cervejas e muita comemoração.
Feijoada Turca
Pedrinho ganhou, da prefeitura de Rio do Fogo, na praia de Zumbi, um terreno para construir sua casa de veraneio. A prefeitura dá o terreno, mas exige que, em seis meses, pelo menos o baldrame esteja construído.
Época de vacas magras, ele recebe a sugestão de fazer um "entre amigos" para levantar a grana do baldrame, R$ 500,00, segundo pedreiro da região praieira.
Vai à cozinha, conversa com a mulher, Dona Ivone, e chega com a notícia:
- Sábado, vamos ter uma feijoada, com som ao vivo e sorteio de 24 latas de cerveja! Cinco reais a senha!
- Mas Pedrinho, como é que vai ser essa feijoada? Vai ter pé de porco, orelha de porco, charque, carne de sol, livro, paio, laranja, couve cortadinha? Pergunta o jornalista Luciano de Almeida.
- Claro, responde o turco, eufórico. Vai ter tudo isso e muito mais: vocês não perdem por esperar!
Na Sexta à noite, apesar da fumaça do fogareiro a carvão que tomava conta de todo o espaço, não deixando ninguém respirar, o cheiro do feijão, vez por outra, chegava às narinas dos freqüentadores.
Com raras senhas na mão, Pedrinho comenta:
- Já vendi sessenta senhas. Até a deputada Fátima Bezerra comprou. Fátima, os vereadores Hugo Manso, George Câmara, e até Fernando Mineiro, que não é dado a esses eventos. Vai ser um acontecimento político essa feijoada! Comemora.
Dos primeiros a chegar, Luciano de Almeida toma mesa estratégica defronte ao ventilador turbinado da casa, e espera a chegada de companhia ao lado do seu Domec em taça especial.
No Beco da Lama, não se falava em outra coisa, todos despedindo-se de todos para um pulinho ao Bar do Pedrinho, para a degustação da já famosa feijoada. No Bar de Nazi, Zacarias Anselmo, da CUT, pede para que Gardênia traga a feijoada ao bar. Faz uma cota, passa dez reais para Gardênia, e espera chegar o produto do desejo coletivo.
Quando chega a quentinha com um pouquinho de arroz, um pouquinho de farinha e uma concha de feijão estrategicamente jogada no fundo do invólucro, a turma entreolha-se espantada.
- É isso a feijoada de Pedrinho? Sem carne alguma? Esse tiquinho? Essa picardia toda? A gente devia ter pedido era a feijoada de Neide!
Aperreado, morto de vergonha por ter sugerido a feijoada de Pedrinho, Zaca vai a Neide e compra a feijoada de 3 reais, do jeito que é servida no dia-a-dia.
- Uma única feijoada de Neide vale por 3 dessas de Pedrinho, comenta Dedé, o tesoureiro da Sociedade dos Amigos do Beco.
Em Odete, o cronista do cotidiano do Beco, Caubi, desce o pau na feijoada.
- Uma picardia de fazer gosto. Vocês precisam ver. Carne? Só se diluída no cozimento! Uma vergonha real de cinco contos de réis.
Em Pedrinho, chegam Fátima Bezerra e Geraldão, então pré-candidato a governador do Estado pelo PT, e começam conversa com Luciano de Almeida. Discutem assuntos do partido, da proibição de Dom Alair Villar à candidatura de Padre Fábio pelo partido, enquanto tomam aperitivos esperando o apetite chegar.
Quando a deputada pede a feijoada e vê chegar aquela baixelazinha, pequenina e rasa ña qual Pedrinho serve sua tábua de frios, envergonhada, ela pergunta:
- É essa mesmo, a feijoada de Pedrinho, Luciano? Experimenta, demora mais um pouco e se despede da turma, deixando o gordo Geraldão, do alto dos seus 160 quilos, em dúvida se compra ou não a senha da feijoada de Pedrinho.
Com medo da fome, ele toma providência:
- Pedrinho, me dê cinco dessas senhas! Mas, antes, me traga alguns copos de caldo aqui para mim e para o companheiro Luciano.
As pessoas vão chegando e a decepção toma conta do bar. Decepção que logo se transforma em galhofa e motivo de muito humor.
Uns chamam Ivone e trocam suas senhas compradas de véspera por cerveja. Outros, se mandam, dizendo ser melhor passar fome noutro lugar, o bar esvaziando-se e só conseguindo público cativo lá pelas 5 da tarde, quando o volume do som foi aumentado para que se ouvisse o especial da Rádio Universitária, com Terezinha de Jesus.
A picardia do turco chegara ao limite: não teve música ao vivo; Pedrinho não queria sortear as cervejas; para conseguir dois pedacinhos de carne no seu prato, Geraldão teve de ameaçar chamar a polícia; outros nem ameaçando com Procon, a nada mais tiveram direito; e, isso, diante de todos os comerciantes de bares e similares da vizinhança, que haviam comparecido para prestigiar o turco amigo.
Em todos os botecos da cidade, o assunto rendeu o resto do dia; todo o Domingo, e, na Segunda-feira, ainda era a feijoada turca de Pedro Abech que estava nos comentários de todos.
Na terça-feira seguinte, reconhecendo que tinha exagerado, Abech se sai com essa:
- Ora, eu não disse a ninguém que ia ter uma carnada. Disse que era feijoada. E feijão teve, ora se não!
Com a continuação dos protestos, ele, entre amigos, ainda tentou remendar:
- Sábado próximo, eu reuno a diretoria e dou uma feijoada grátis para todo mundo.
Paparazzi, que ouvia a conversa ao lado de sua Inês, comentou:
- Se a de cinco reais foi o que foi, a de grátis deve ter apenas um caroço no prato, acompanhado de palito. Venho não!
Edgar Allan Pôla