sábado, janeiro 12, 2008

AOS TRAÇOS

Marcus Ottoni

"Natal será uma das Babel do mundo. Fados fatídicos. Íberos, itálicos, nórdicos, sinos, xicanos, arrentinos, cearenses e paraibanos. É uma invasão globalizada, sem chance para a Aldeia Poti."
Eduardo Alexandre


Arte: Afonso Martins
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VOU-ME

VOU ME DESFAZER DE MIM

AOS PEDAÇOS

PRA RECRIAR-ME INTEIRA

AOS LAÇOS

VOU ME DESPEDIR DE MIM

AOS PERCALÇOS

PRA RE-ENCONTRAR-ME INTEIRA

AOS PASSOS

E S P E L H O

C O M P A S S O

VOU ME DESLUMBRAR DE MIM

EU VOU

EU PASSO

] TEMPO [ ESPAÇO

EU VOU ME DESLUMBRAR

EU BUSCO

EU ACHO

ESPAÇO ] TEMPO [

A D E U S À M I M

A B R A Ç O S

VOU ME DESPROVIR DE MIM

AOS ESTILHAÇOS

PRA ESBARRAR-ME INTEIRA

AOS TRAÇOS

VOU ME DESCRIAR DE MIM

AOS LAÇOS

PRA REFAZER-ME INTEIRA

AOS PEDAÇOS

Civone Medeiros


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Dez em Matemática

Sempre gostei de Matemática e também sempre me saí bem nessa matéria, talvez porque nunca tenham me dito que era difícil. Aliás, meus pais me criaram dizendo que nada era difícil e que eu podia fazer o que quisesse contanto que me interessasse e tivesse dedicação. Por isso, quando entendi que muita gente achava a Matemática uma coisa dificílima e vim a notar que a maioria dos meus colegas de classe a detestavam, não adiantava mais: eu já gostava dela.

Ainda hoje parece disseminada a idéia de que quem gosta de matemática não tem temperamento artístico ou literário. E a maioria dos artistas e intelectuais afirmam, em tom jocoso, que nunca foram bons alunos de Matemática. Quem gosta dela é considerado quase um prodígio e nenhum “dez” é mais importante e goza de maior status do que aquele “dez” que se tira na prova de Matemática.

A Matemática sempre me deixou maravilhada. Aos onze anos, no então chamado curso ginasial, que equivale hoje à quinta série, comecei a estudar álgebra que, junto com a Geometria euclidiana me deixava horas em êxtase, achando genial a idéia de que se pudesse substituir quantidades por letras, ou que duas retas eram paralelas se estivessem em um mesmo plano e não possuíssem qualquer ponto em comum. Depois, muito tempo depois, vim a saber que isso se aplicava apenas a esse mundinho corriqueiro do nossso dia-a-dia, e que matemáticos bem posteriores a Euclides, como Lobatchevsky, Riemann e outros, criaram seus próprios sistemas, diferentes do de Euclides, no qual as paralelas podem até se encontrar. Assim, foi possível entender fenômenos do infinitamente grande ou do infinitamente pequeno, fenômenos próprios das galáxias e dos átomos. Mas nada se compara para mim àquele alumbramento das compreensões inciais da ciência dos números.

Ajudou muito ter lido ainda menina “O homem que calculava”, de Malba Tahan, e “A Magia dos Números”, de Paul Karlson. O primeiro desses livros, conhecido da maioria daqueles que são da minha geração, é da autoria de um brasileiro, o professor Júlio de Mello e Souza (1895 - 1974), que criou esse pseudônimo de Malba Tahan porque acreditava, com razão, que os editores não investiriam em um escritor brasileiro iniciante. Além do pseudônimo ele criou também o personagem, do qual se dizia apenas “tradutor”, tendo dele “traduzido” inúmeros livros, com temática referente à cultura árabe. “O homem que calculava” é o seu livro de maior sucesso e foi traduzido para várias línguas, tendo vendido mais de dois milhões de exemplares somente no Brasil, onde já alcançou mais de quarenta edições. Quanto ao segundo livro, “A magia dos Números”, sei que está esgotado e que saiu pela Editora Globo, de Porto Alegre, numa tradução de Henrique Carlos Pfeifer.

Este livro conta a história da Matemática e dos homens que a fizeram. É maravilhoso.

Além do acesso irrestrito a esses e outros livros, afortunadamente nunca ninguém me disse que eu não podia, que era difícil, que a cabeça das mulheres não é boa para Matemática ou que os garotos olham com desconfiança as meninas que se distinguem nessa matéria. Tudo isso só vim ouvir depois, dito por outos pais que não os meus e compreendi que esses pais estavam somente passando para os filhos os preconceitos que eles próprios alimentavam em relação a esta disciplina.

Finalmente, considero que a Matemática serve não só para deslumbrar as meninas tímidas, esquisitas e sonhadoras – como eu era – mas basicamente para desenvolver capacidade de pensar, raciocinar, resolver problemas, analisar, relacionar, comparar, classificar, ordenar, sintetizar, abstrair, generalizar e criar. A partir disso, do desenvolvimento de estruturas lógicas de pensamento, fica mais fácil adquirir novos conhecimentos em qualquer área e, também nos possibilita uma maior compreensão do mundo que nos cerca, favorecendo o exercício da nossa cidadania.

Clotilde Tavares


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Noite de imortais

Marco Boi sempre deu guarita aos artistas do Beco. Sempre incentivou. É um autêntico Mecenas. Nato. Com certeza, imortal na galeria dos heróis anônimos.

O maior colecionador de arte da cidade é Jácio Torres; na categoria mecenato visual, Júnior Offset é o único; Marco é terceiro lugar, categoria mecenato geral. Os três resumem a atividade de mecenas em Natal.

Marcos é o mais boêmio dos três, de cantar samba em mesa de bar.

Cervejas, cigarros e tira-gosto apimentado. Vida sedentária. Taí, uma combinação letal para o relógio de qualquer pessoa. Some isso ao automóvel e você terá a receita certa para um enfarte.

De casa para o elevador, do elevador até o carro, que corre até o trabalho. Do trabalho até o restaurante, de carro. Almoça, e carro novamente. Nenhum passo, nenhuma caminhada. Cerveja e cigarro entre um translado e outro.

Marcos acabou enfartando. Foi levado para a Promater, onde fez cateterismo, que até que é uma cirurgia simples. Encontra-se a aorta e nela injeta-se pressão.

Ainda sonolento, sob efeitos da anestesia Rack, Marcos acorda e nota movimento estranho na cama ao lado. Uma muralha de gente, flores nas mãos, muito choro. O paciente parecia importante, fez Marcos Boi tornar-se invisível. Em pouco tempo, o vizinho roubou toda a atenção da comunidade médica.

O efeito da Rack passou, e uma dor de cabeça chegou sem pedir licença. Imaginou logo a coisa ficando feia pro seu lado. Nenhum médico no raio de sua cama. Agora, aquela música de Paulinho da Viola, Nervos de Aço, dividia seus pensamentos com a nova preocupação.

Chegavam três, quatro, cinco médicos de uma vez. E o Boi esquecido.

Tinha muito Babão também. Sempre eles.

- Doutor, vou ficar com o senhor até o fim.

Senhoras feitas carpideiras choravam, soluçavam. Marcos Boi sem entender nada, desinformado, começava a imaginar coisas: vou morrer também. Pensava. Nenhum médico dava satisfação a e ele. Seria a mais-valia cardíaca?

E Marcos Boi ali, já de pé, na janela do quarto, pensando. E a dorzinha de cabeça.

Os barcos do Potengi, noite na ribeira, as marolas arrebentavam lascivamente sob a luz da lua que as desnudavam. Era um sábado de lua cheia. Marcos projetava seu espírito ao alto da ponte nova, para ver as ondas pixeladas do rio Potengi e não via nada, porque da ponte não se pode ver nada, nenhuma paisagem. É a modernidade. Os barcos que passavam por debaixo da ponte não eram vistos também. Nem por Marcos Boi, nem por ninguém. Os faróis dos barcos e a luz da lua, ambos, contra as marolas, iluminavam demais. Marolas pastorinhas, serelepes meninas, no frio da madrugada, doidas por privacidade.

Viagens à parte, tava na hora de se despedir da paisagem camuflada e voltar para a cama do hospital.

Finalmente, a identidade do ilustre seria revelada. Sua auta de souza estava próxima. Voltar para casa era só o que Marcos Boi queria.

Felizmente, para os dois, o hospital fora só um susto e Marcos mataria sua curiosidade em breve.

Quem será o figura?

Ao receber alta, ele vestiu a roupa, penteou o cabelo, sorriu para sua esposa. Deu uma última olhada no espelho, era ele mesmo. Foi saindo discretamente, esticou o pescoço entre a muralha humana e pode ver: na cama ao lado, deitado com a cabeça sobre dois travesseiros de pena de ganso, um imortal presidente de academia norte-riograndense de letras.

Franklin Serrão



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por Alma do Beco | 10:33 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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A imagem de fundo é do artista plástico e poeta Eduardo Alexandre©

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