"O senhor não vai bagunçar a minha audiência. Aqui não é a Câmara dos Deputados. Você chegou aqui com uma carinha de coitadinho, de humildezinho, que veio do Pará ou não sei lá de onde. Mas aqui o senhor não manda. Fique quieto e responda às perguntas."
Maria de Fátima Costa, juíza titular da 10a. Vara da Justiça Federal, em Brasília, ao deputado Paulo Rocha (PT-PA), um dos 40 acusados do Caso do Mensalão, depois que este respondeu de dedo em riste ao procurador da República José Alfredo de Paula Silva.
Pragmatismo
Não amei a deus
Nem ao diabo
Para nenhum dos dois
Acendi minhas velas
Não me ajoelhei
Em orações
Não me joguei na cova
dos leões
Vade retro satanás
Vade retro querubins
Não quero mais dualidades
Luz e trevas
Meias verdades
Se sou pó, ao pó voltarei
Dormir, talvez sonhar
E só
JANGO EM SANTA CRUZ
1962. João Goulart (Jango) era o presidente do Brasil. Aluísio Alves era o governador do Rio Grande do Norte e José Ferreira Sobrinho, meu tio, irmão do meu pai, era o prefeito de Santa Cruz.
O Major Theodorico Bezerra, deputado federal, era o líder político da região do Trairi e havia conseguido junto ao Presidente Juscelino, seu companheiro do PSD, o asfaltamento da estrada que liga Natal à Santa Cruz, concluída no governo de João Goulart. O Governador Aluísio Alves, por sua vez, estava trazendo, para o Rio Grande do Norte, a energia de Paulo Afonso e a primeira cidade a ser implantada, era Santa Cruz, no Trairi.
Com as obras concluídas, marcou-se a inauguração. Palanque armado na praça, todos os preparativos prontos, aguardando o governador que viria com todo o seu secretariado, além dos deputados estaduais e federais, e a comitiva do presidente da República.
A cidade inteira se agitava, aguardando a visita de personagens ilustres do Estado e do País: a estrada asfaltada traria para Santa Cruz uma quantidade de automóveis, ônibus, mixtos e caminhões nunca vista antes na região. Todos os municípios próximos e até de regiões mais distantes mandaram seus representantes para receber o presidente da República.
Início da noite, a praça apinhada de gente esperando ouvir o discurso das autoridades. O Governador Aluísio Alves, grande orador, fez um empolgante discurso, resgatando uma promessa de campanha: trazer a energia de Paulo Afonso para o Rio Grande do Norte. O presidente ressaltou o apoio dado através da CHESF, para a concretização do sonho dos norte-riograndenses, e do Ministério dos Transportes na melhoria da rodovia ligando a região à capital do estado.
Terminada a festa de inauguração, todas as autoridades presentes se dirigiram para o Trairi Club, para o coquetel de comemoração.
O clube estava lotado. Lá fora, o povo cercava a entrada principal, querendo ver o presidente. O Exército guarnecia toda a entrada e as laterais, com o auxílio da segurança da presidência.
Quando terminou o coquetel, Jango aproximou-se da porta de saída, ladeado de autoridades e seguranças. Caminhando na frente, firmemente, deixava notar o defeito da perna direita, cujo joelho não dobrava, vítima que fora de uma doença na adolescência.
Quando pôs os pés na calçada, eu, muito pequeno, corri em sua direção. Um soldado do Exército tentou me alcançar, colocando a mão sobre meu ombro e segurando pela camisa, quando ouviu a voz do presidente:
- Deixa!
Eu me aproximei, meio atônito, estirei a mão de menino para cumprimentá-lo. Ele apertou minha mão, e falou com a voz grave:
- Como vai, guri?
Continuou seus passos firmes e eu fiquei imaginando: o que será "guri"? Feliz da vida, por ter apertado a mão do presidente.
Chagas Lourenço