domingo, janeiro 06, 2008

COMO E COM

Marcus Ottoni

"Eu não tenho condição de escolher o que fazer e o que não fazer. Eu faço o que dá. Depois do que aconteceu comigo, eu não tenho muita escolha. Meu nome, o que vai ficar de nós para a História, tudo isso é muito complicado. Eu estou muito pessimista quanto ao meu futuro".
José Dirceu, ex-ministro do governo Lula

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THE END ENFIM


Uma dor lancinante

cortando a carne

reprisando cenas,

definitivamente,

caminhando para o fim,

"the end" enfim.

As mesmas canções

repetidas

milhões de vezes

acalmando lembranças,

acentuando dores.

No ar

o som da voz

na boca

o sabor do beijo

nos olhos

o sorriso derradeiro

na alma

uma grande saudade.

Chagas Lourenço

Jan/2008


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Não sei de nada

Não é o fim do ano, nem o clima repetitivo , sempre observei o campo minado em que vivemos.

Perceber a felicidade e me fazer indiferente é quase impossível. É difícil captar o instante em que ela se faz presente sem parecer alienada ou insana. Como o momento exato da foto.

A loja de importados populares, o calor infernal e as filas nos caixas com trocos de balas que qualquer criança rejeitaria comer. Mas havia algum sorriso distante, algum olhar com brilho longe dos artificiais enfeites. O brilho no olhar da moça que me atendeu. O gorro na cabeça, grávida de seis meses e um sorriso tão aberto que não me contive e perguntei se ela não estava cansada de ficar em pé. Parece que nesses momentos tenho um lado meio cruel em querer fazer aflorar a realidade que talvez, só minha visão enxergue, acredito que não faço em total consciência, puro impulso. Sinto uma certa urgência e agonia em querer acordar alguém de um sono leve e devastador, como a ilusão corrosiva. Ela respondia minhas perguntas com suavidade, aquela mesma história: Mora longe, ganha pouco, primeiro filho, aos domingos tudo fica na paz vendo as pegadinhas do Faustão. As mil sombras que moram em mim, me faziam perguntas que eu não respondia, mas passava a bola para a vendedora, talvez a simplicidade me fizesse desafios, mostrando uma capacidade imensa em ser feliz. Sentia naquele momento uma incompetência emocional me corroer.

Como não havia percebido o caminho tão fácil? É apenas viver feliz ou estar neste momento ?

Era o tom da voz, a felicidade tão normal que me causava um certo receio em me enxergar por dentro. Tudo lógico e a melancolia teimando em me fazer uma espécie de autoridade no assunto chamado vida, quando ela mesma me dá lições e quem nem ouso questionar. Teve momentos da conversa em que não me concentrava no que ouvia mais nas imagens que ela me fazia enxergar: jardim, mesa arrumada, jarrinho com flores, contas a pagar, sopa na panela, choro de criança, as minhas imagens, em outra narração. Como aquela gente humilde da música de Chico, onde encontro a alegria tristonha, cíclica e adoravelmente simples, nem tampouco distante da minha realidade, algumas pequenas diferenças, detalhes.

Já não escolhi mais sininhos, os da minha consciência já me despertara, havia desistido da compra, não suportaria enfrentar mais uma fila de espera além das rotineiras.

Não fiz mais perguntas, mas já não havia mais retorno em não sair sem desejar um Feliz Natal.

Eu tive o reflexo em não deixar claro que não gostava desta época e que as músicas natalinas que tocavam na loja não me transmitiam nenhuma alegria, pelo contrário.

Não seria justo com a vida, com a vendedora, estragar a sua rotina.

Na vida, colho poucas verdades ou talvez nenhuma. Das minhas trago ou venho construindo conforme o roteiro que o mundo me entrega. Das que já vivi e vivo, ainda posso confirmar: o amor verdadeiro, aquele que já é certo porque é pleno e não tem explicação. O filme predileto, onde me emociono todas as vezes que assisto, o perfume, onde o aroma embriaga minhas dores e soluços bons, a música onde não se revela tudo, mas se escancara à alma, seja no tempo que for, além ou aquém de qualquer sentimento. E agora, que existe uma transparência estúpida em ser feliz.

Desejei boas festas, não comprei nada. Só levei mais uma certeza da minha verdade: de que não sei de nada.

Yasmine Lemos


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Metamorfose

Hoje, ao abrir uma de minhas contas de correio eletrônico, deparei-me com o alerta:

[O BOBO DA CORTE, Blog de Eduardo Alexandre] OUTUBRO, GALERIA DO POVO - 30 ANOS tem um comentário novo.

Fui lá conferir:

Anônimo disse...

Dunga é um mestre de cerimônias das artes e um nome grande na pintura abstrata, seus personagens sombrios e diabólicos são emocionalmente inesquecíveis. Só me desapontou quando uma certa data criticou LULA, com os mesmos argumentos da direita mais nojenta, que o pfl a representa, como um genérico de coisa ruim que é. Dunga, a direita não tem arte nem merece respeito, eu ainda acredito em você.

10:32 PM

Respondi:

Ao amigo anônimo

Com meu pai, desportista de todos os esportes e de todos os clubes, aprendi a ver o mundo sem a paixão, no caso do futebol, por clubes.

Essa visão me permitiu ver o mundo da política também sem paixões exacerbadas. Tenho paixão pela seleção brasileira, pela cultura brasileira, este ser brasileiro diferente de ser de outras gentes.

Tomei partido. Sonhei partido.

Partido do Povo Brasileiro.

Depois compreendi que o partido com o qual sonhava não ia ser realizado. O empecilho seria o homem. Formado por homens, o partido ideal seria tão imperfeito quanto eles, fazendo de sua práxis, a práxis partidária, identificação, espelho.

O ceticismo não me corroeu ao ponto de desistir do mundo. Apostei "no Lula".

Era o que se supunha representar a luta das esquerdas brasileiras em décadas de reação difícil contra forças continuístas.

Ocorreu que milhares de pessoas decepcionaram-se com a práxis dos homens que fizeram o governo Lula. Com, e principalmente, o próprio Lula também.

A luta, companheiro, no entanto, continua. Eu sei que é difícil aos apaixonados digerir, mas a história é soberana.

Como as paixões turvam a compreensão mais imediata do presente, um dia você vai ter da História a resposta de como foi a metamorfose dele, não a minha.

Ele, sim, tornou-se o PFL de antes: governou com as mais legítimas forças da tradição coronelista brasileira, emperradiça, corrupta.

Aqui, acrescento para os amigos:

Governou COMO E com as mais legítimas forças da tradição coronelista brasileira, emperradiça, corrupta.

Eduardo Alexandre


Referência:

http://eduardoalexandre.blogspot.com/2007_05_01_archive.html#1259638967716450595


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Leituras de Ano Novo

Como andei nos últimos dias mudando de apartamento, passei pela experiência de transportar meus cerca de mil e quinhentos livros, que foram retirados das estantes, embalados em caixas, desembalados no novo local, e colocados de qualquer jeito nas estantes para serem arrumados depois. Quem tem muitos livros sabe o que é isso, e se gosta deles como eu sabe que não deixa de ser um prazer arrumá-los vagarosamente nos seus lugares, manuseá-los um a um, limpando carinhosamente a poeira de suas capas, abrindo-os para ler algum trecho preferido ou para recordar alguém que deixou sua mensagem numa dedicatória.

Foi nessa atividade que gastei boa parte desses feriados de final de ano, e felizmente os meus queridos amigos já se encontram alinhados em suas prateleiras, organizados como gosto. Separei também alguns para ler nesses dias. Livros novos, que ainda não havia lido, e outros, que já li e quero ler de novo.

Separei, por exemplo “Minha formação”, de Joaquim Nabuco, e ontem já me deliciei com o capítulo onde ele fala de sua infância no Engenho Massangana, na região do Cabo, perto de Recife. Separei também a obra de uma americana, Janet H. Murray, “Hamlet no Holodeck”, que discorre sobre as formas narrativas que têm como suporte o computador, um link fundamental entre literatura e informática que todo escritor deveria ler. A autora desenvolve pesquisa no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachussets) e escreveu um livro empolgante, com muito estilo. Também quero ler O “Diário íntimo”, de Amiel, do qual possuo um edição da Livraria do Globo de 1947.

Finalmente, a poesia, porque quero começar este ano novo em grande estilo, lendo em voz alta para as paredes da minha nova morada o “Uivo” de Allen Ginsberg, texto emblemático para a minha geração, tantas vezes lidos, e sempre com prazer renovado. Lerei depois “Fúcsia”, de Vitória Lima, onde “cada poema é uma conta desprendida do imenso colar do tempo”. Em seguida, um passeio pela poesia de Sérgio de Castro Pinto, reunida em “O cristal dos verões”, que ainda não tive tempo de ler e em cuja primeira página, o autor me oferta a obra em dourada dedicatória no papel preto. Também quero reler o “Romanceiro Gitano”, de Lorca, onde “as picaretas dos galos cavam em busca da aurora”.

Para fechar o firo, “Trigal com Corvos”, obra-prima de W.J.Solha, lido e relido tantas vezes, sublinhado, riscado, comentado, e do qual posso dizer, como disse Bloom sobre Hamlet, que é o meu “poema ilimitado”.

Clotilde Tavares


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por Alma do Beco | 1:09 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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Praieira
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A imagem de fundo é do artista plástico e poeta Eduardo Alexandre©

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