domingo, dezembro 30, 2007

À EIRA

Marcus Ottoni

"Não há uma disciplina, um departamento, um curso nas universidades ou no ensino médio que trate de preservação histórica."
Edgard Carvalho, ex-presidente do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arquitetônico, Artistico e Turístico, SP

Bar de Pedrinho, anos 90

Sóbria poesia

Ab-sinto...

Cair em cachos

À eira, à guisa d'uma cachoeira

Tequila...

Sal, limão, etílica comunhão

Vinho...

Vem um sono bom, antes a efusão

Vem-me Bacante, uma d'elas que sou

Baco? São

Hummm, um Run...

Ou Ver-mute...

Mutantencarnado, róseo

Na passagem, "mezzo" rasgante

Na chegada, suave

Whisky...

Que lida! Uma sede na partida

Vodka com licor de café...

Uma paixão

Um Blackout

Borbulhas de Champanha ou...

Cerveja...

Refrescante para a sede urgente

Veja!

Há tantos goles pr'um porre

E para lavar?

Mansamente

Cachaça...

Na calçada ou num boteco

Ou no Pedro Abech...

Um caju no "tira"

- Mais uma lapada!?!

...o eco

Ah! água ardente!

Água benta na minha boca

De saliva sedenta e cedente

Sou a Santinha da aguardente...

...No Beco da Lama a fama

Da Odete um petisco

No Nasi uma meladinha...

A pinga, o mel, o limão, gira e mexe

D'um só gole desce

- Que poesia sóbria é a minha?

Civone Medeiros


O ano termina triste

O ano de 2007 termina velho e triste diante da enormidade dos sofrimentos que vêm afligindo a humanidade.

O Paquistão ferve de violência diante do assassinato de uma líder política. Na Venezuela, o falastrão ditador Hugo Chávez começa preparativos para resgatar reféns da FARC presos desde 2002, com claros objetivos políticos.

No Brasil, o ano velho termina registrando o maior acidente aéreo da história com um avião da TAM que bateu em um prédio após uma polêmica operação de pouso, ambientado numa crise que havia começado ainda em 2006, quando um avião da Gol caiu, após um suposto choque com outro avião.

A Polícia Rodoviária Federal registrou durante o feriadão de Natal, em todo o Brasil, recordes de mortes em estradas. A Saúde não evoluiu, apesar de todo o dinheiro arrecadado pela CPMF ao longo de 13 anos, que acaba no próximo dia 31. E o governo, diz que isso irá prejudicar uma “Saúde” que não tem mais como ficar pior.

Os atrasos nos aeroportos já viraram piada mundial e o sistema aéreo não evolui porque uma Lei não permite a concorrência internacional em vôos domésticos. A malha rodoviária continua ruim e o meio ambiente continua sendo agredido de forma intensa, apesar de todas as “providências” anunciadas pelo governo Lula.

Na política, o combalido 2007 viu a permanência dos escândalos em várias esferas, com especial enfoque para a crise moral ocorrida com o ex-presidente do Senado, Renan Calheiros, que continua com o seu mandato, apesar de tudo – e de Mônica.

Quase se arrastando em direção às sombras, o enrugado 2007 apenas sorriu quando viu os inúmeros noticiários sobre o poder de compra dos pobres, eleitores fiéis do presidente Lula, que tiveram suas rendas acrescidas pelos vários programas de ajuda governamental.

Ele, 2007, ficou apenas meio tenso quando observou a legião de pessoas que estão vivendo sem trabalhar diante dos benefícios das inúmeras “bolsas” e torceu para que sejam criadas aposentadorias especiais para toda essa gente que não vai aprender a trabalhar. Ele ainda se preocupou com 2008, inquieto, doido para nascer diante das inúmeras promessas de mudanças para melhor.

Para o experiente 2007, que já olha o horizonte quase sem ver, 2008 está muito otimista.

Leonardo Sodré



Waldick não é cachorro, não

A atriz Patrícia Pilar afirmou há algum tempo que sempre gostou de Waldick Soriano. Segundo ela, as músicas do ícone do brega têm um “que” de especial que sempre a deslumbraram. E no ano passado, ela - que reconhece não ter preconceito musical - resolveu fazer um filme sobre a vida do artista.

Waldick Soriano compôs verdadeiras pérolas da música romântica brasileira, mas sempre foi ignorado – pior do que isso: sempre foi discriminado – pela elite, pelas pessoas que acham que têm “bom gosto musical”. O artista baiano, hoje aos 72 anos de idade, de origem pobre, foi estigmatizado e sofreu o mesmo tipo de discriminação da qual foram vítimas artistas populares como Odair José, Aguinaldo Timóteo, Lindomar Castilho, Paulo Sérgio, Nelson Ned e muitos outros. Compondo e cantando um tipo de música cujo tema central geralmente era a história de amores frustrados, e geralmente com um visual berrante e inusitado – geralmente de mau gosto - , a geração brega teve seu momento forte em meados dos anos 70, em pleno apogeu da ditadura militar. Os cantores bregas não tinham uma formação cultural sólida e suas canções não tinham nenhum apelo social. Odair José era uma raríssima exceção: por compor músicas elevando a auto-estima das empregadas (Deixe essa vergonha de lado), protestando contra o programa de controle da natalidade oficial do governo no período da ditadura (Pare de tomar a pílula), quebrando, pioneiramente o preconceito contra as prostitutas (Eu vou tirar você desse lugar), foi chamado pelo jornalista Luiz Antônio Mello de “o Bob Dylan da Praça Mauá”.

Fazendo shows em circos, cinemas e clubes do interior, ganhando cachês muito abaixo da média dos “medalhões” da MPB de então, os bregueiros eram campeões na venda de discos, davam enormes lucros às gravadoras, mas mesmo assim, além de serem vítimas do preconceito da época, ainda enfrentavam (por incrível que pareça!) a perseguição da Censura, embora fossem, na sua grande maioria, pessoas despolitizadas.

O brega sempre foi considerado como um subproduto do gueto da cultura de massa, apesar de ser apenas um movimento – e de grande importância – musical. O santo protetor do brega, São Caetano Veloso, deu o primeiro passo para resgatar o movimento ao regravar, ainda no final da década de 60, “Coração Materno”, de Vicente Celestino. Depois, continuou quebrando tabus: gravou Odair José (Eu vou tirar você desse lugar), Peninha (Sonhos e Sozinho) e, mais recentemente, Fernando Mendes (Você não me ensinou a te esquecer). A partir de então, os intelectuais passaram a achar “genial” na voz de “Cae” musicas que eram “inaudíveis” na voz dos seus criadores. Por sua vez, o historiador baiano Paulo Cezar de Araújo, no livro “Eu não sou cachorro, não”, colocou o brega no seu devido lugar, como movimento musical.Graças a tudo isto, aos poucos, a música brega passou a ser vista com outros olhos. Claro que não se pode afirmar que a música brega é rica em poesia e harmonia; mas a intelectuália brasileira precisa seguir o exemplo Paulo Cezar de Araújo e Caetano Veloso: reconhecer a importância do brega e respeitar os artistas do movimento como profissionais e como seres humanos. É bom se ligar no resgate que a Patrícia Pilar está fazendo. Afinal de contas, Waldick não é cachorro, não.

Fernando Luiz Tavares

por Alma do Beco | 8:02 AM


Hugo Macedo©

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