sábado, julho 07, 2007

CHARUTO BABADO

Marcus Ottoni


"Sê sábia, ó minha dor, e queda-te mais quieta."
Charles Baudelaire

Hugo Macedo



Esperanto

Falo sua língua
Com meus dedos
Românticos, agressivos
Tímidos, nostálgicos
Perambulam, intercalam
Expressam e se calam
Fazem cair barreiras
Criam raízes profundas e rasteiras
Meus dedos
Sua língua,
Constante fusão.

Deborah Milgram


Linhas do mando

Não sigo as linhas do mando,
Nem mando as linha a seguir.


Sou ser.
Sou gente.
Presente da mãe-natureza,
Ciente,
Do seu bem-querer.

Bem quero.
Bem amo.
E ando
Sem me prevenir.

Apanho.
Não ganho.
Confesso:
Não sei se sei resistir !

Me armo de flores na mão.
No verso,
Eu sei,
Aqui não há solidão.

Há clima.
Há luta.
Esperança de não ser em vão
O canto,
A vida,
O dia de dor do poeta,
Dia de dor da canção !

Eduardo Alexandre

Fumaça sem fim

A festa era em torno de Dália, que havia chegado dos Estados Unidos, e de Ceiça, que vinha da Holanda. A mesa era grande e a alegria era total. Os assuntos giravam em torno da polêmica da entrevista de Chico Ivan para a Bruhaha e da peleja de dois becodalamenses em torno de algumas poucas fotos que foram enviadas para o grupo de discussão e brigas do Beco da Lama e das Adjacências.

Dália trouxe o seu caderno do tempo de colegial, onde ela faz anotações importantes de eventos vividos. Lá tem aquele festival de uodistoque, vários eventos políticos, festa dos 15 anos – organizada por Jota Epifânio -, uma ruma de coisas. Tem até charges de LeoSodré e poemas de Eduardo Alexandre.

A conversa girava solta, leve e plácida. Até que Chagas Lourenço resolveu fumar um charuto enorme, de fumaça azulada, densa e cheirosa. Daqueles que mesmo sem tragar dão uma lombra danada.

Cabrito encostou incólume, faceiro. Os olhos brilhavam em direção aos movimentos requintados que Chagas faz quando fuma um cubano de quase 60 dólares a unidade. Olhava para as mãos do poeta e seguia a fumaça com o nariz. Só não arrebitava mais as ventas porque choveu e ele teve medo de se afogar.

Do outro lado da mesa, Dália fazia sinais para mim. Ininteligíveis. Balançava o seu caderno preto e apontava para Chagas, que, calmo olhava a lua e tomava cerveja. Nem parecia o bebedor de aguardente das boas dos tempos do Beleléu, de Paulinho Sarkis, quando aparecia por lá para ver a garçonete Simone e tomar duas ou três. “Tomar uma é para amador”, sempre disse.

Os sinais de Dália não paravam. E eu não entendia nada.

Aos olhares cobiçosos de Cabrito, juntaram-se os de Franklin Serrão. Sandrinha, perspicaz, mandou o recado:

- Se der um trago nesse charuto babado, vai ficar um mês sem me beijar. Vou logo avisando.

Depois de quase duas horas, após o inevitável poema-música “Bobo da Corte”, Chagas resolve entregar o cotoco do charuto para Cabrito. Serrão ofereceu-se para mediar a entrega e aproveitou para dar um trago enorme. Tão grande, que caiu para trás na cadeira onde segundos antes o poeta Hugo Tavares estava sentado. Sandrinha afastou-se repugnada quando viu o estado da boca e dos olhos de Serrão, que, lombrado e tonto, olhava as estrelas e um pedaço de uma lua inexistente.

Cabrito fez pose de Cascudo para fumar o charuto. E, finalmente, Dália conseguiu me dizer o que queria com o caderno preto. Segui suas ordens. Não contei conversa, aprisionei a fumaça e a depositei no caderno, que, imediatamente, ficou lindo como um céu escuro. Cheiroso como uma penteadeira.

Leonardo Sodré



Orf

por Alma do Beco | 8:32 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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A imagem de fundo é do artista plástico e poeta Eduardo Alexandre©

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